Poemas : 

Naufrágio

 
Prisioneiro dos teus olhos
Sem ninguém pra me salvar
Naufraguei no oceano
Bem no fundo deste olhar.

Minha frágil embarcação
Não seguia a linha mestra
Foi em águas tão profundas
Que pousei meu coração.

E sem sol faz tanto frio
Tanto frio em noite escura
Morto naquela fundura
Infeliz daquele rio.

Vendo a morte que aproxima
Vejo um corvo nos umbrais
Repetido um "never more"
Repetindo um "nunca mais".

Lembro Laura em Negromonte
Monte Alverne em oratória
Dois sóis no olhar de Anarda
De Vieira os mil Sermões

E recordo Castro Alves,
Casimiro de Abreu
Recordo do suicídio
De Pompéia, do "Ateneu".

Quem me dera eu tivesse
Um mastro que me amarrasse
Cera para os meus ouvidos
Para que eu jamais penasse!

Eu não juro e não quero
Solidão acompanhada
Ou amor de invernada
Tampouco de primavera.

Parto triste e parto forte
Despedida desta vida
Já me é risonha a morte
No momento da partida.

Voa corvo de Alan!
Me recolha, por favor!
Só não leve minha paz
Que deixei ao meu amor!

Se existisse um deus Tupã
Pediria aos meus iguais
Que eu entrasse em Nirvana...
Não voltasse nunca mais!



Gyl Ferrys

 
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Gyl
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Enviado por Tópico
Transversal
Publicado: 13/06/2020 17:18  Atualizado: 13/06/2020 17:18
Membro de honra
Usuário desde: 02/01/2011
Localidade: Lisboa (a bombordo do Rio Tejo)
Mensagens: 3755
 Re: Naufrágio
Passaram aqui pelo Luso alguns dos melhores sonetistas que a língua nos deu. Não, não estou a exagerar, basta relembrar dois que já não estão connosco, o enorme Júlio Saraiva, o não menos enorme Luis Santos (Aquazulis), entre outros.
mas..... como um Naufrágio
"Prisioneiro dos teus olhos
Sem ninguém pra me salvar
Naufraguei no oceano
Bem no fundo deste olhar."
faz com que em soneto contes e nos faças refletir na poesia, iluminados (não digo que sejam os Maiores, pois aqui existe a nossa compreensão, entendimento, preferencia e escrita), escrita entre outras coisas.
Hoje sem dúvida, em minha modesta opinião, és um dos sonetistas Maiores por aqui (e quiçá se por ali), sem prejuízo de outros que ainda por aqui andam também.
"Se existisse um deus Tupã
Pediria aos meus iguais
Que eu entrasse em Nirvana...
Não voltasse nunca mais!", (Os indígenas rezam a Nhanderuvuçu e seu mensageiro Tupã). Passando por Chico Xavier, Padre António Vieira, Castro Alves, Casimiro, Homero, Edgar Alan Poe, mostras que o teu soneto vai mais além, é parte do universo das escritas.
"Parto triste e parto forte
Despedida desta vida
Já me é risonha a morte
No momento da partida.". Parabéns
Obrigado Gyl
Abraço