Poemas -> Surrealistas : 

Alice no país da poesia em 3 atos.

 
I
Arco-íris, diante dos olhos, pulsantes e a via-láctea na bainha
Magnitudes indistintas, meu sangue irriga a venturosa árvore
Na parte da noite que não brilha, o opaco a tingir suas águas
Um olho de luxo, outro simples, a água, o universo e este sol
Não é meu sol é o verde. O segredo da vida é o seu não estar
Estas meninas e seus corpos, teus copos, teu corpo cascavel
Folhas, ramos, flores, frutos de ouro essa é a nossa mortalha
Piam pássaros vermelhos, o cio em teus olhos vermelhos, zelo
Douradas prímulas, plúmbeas plúmulas mesclam luzes e olhos
Nestes traços que surgem no livro, à espreita atrás da cortina
II
Deixamos a raposa, as uvas e o lince voluptuoso, zooteca zero
Nos querem nus, a desatar os nós, um oásis ao pobre escriba
Signos ígneos negros, ocas marcas, ouriços, ouro, opacidade
Alegram-se com a letra que mancha o poema monogramático
Tudo de que te desfazes e dissipa no escândalo nu do sonho
Às vezes um rosto apagado, boquiaberto, um pássaro súbito
À noite na casa vazia sou o sapo que espera o beijo salvador
O dormir que não se dorme, mas esvoaça em ritmos ocultos
Despido de pé no chuveiro, meu permanente e ácido humor
Minha expressão imprecisa para um gorjeio mais prolongado
III
Há que se conhecer a morte e seu desejo de dureza infinita
Em plena alvorada, o que possa ter de consciência culpável
Olhamos a obra, tal algo incontido na erudição dos saberes
O livro, esse objeto apaixonado, se amplia se impõe e reduz
O que há de confuso em um breve caos não é amordaçável
A liberdade viva é um déjà vu, o recorte de cenas obscuras
A serpente que acena ao falcão lá acima um pacto de viver
Devemos permanecer sempre crianças e mais que um sonho
Quando se decline o nome do gato, o gato salte sobre o muro
Despido ao chuveiro, vou desdobrar meu punhado de sílabas
Tecer à mesa do café encantadas imagens, dar início à manhã


"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)


 
Autor
Sergius Dizioli
 
Texto
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Enviado por Tópico
Alpha
Publicado: 25/05/2023 19:44  Atualizado: 25/05/2023 19:44
Membro de honra
Usuário desde: 14/04/2015
Localidade:
Mensagens: 1905
 Re: Alice no país da poesia em 3 atos.
Apanhei a carruagem no apeadeiro
Todos os “atos “me acompanharam
Enquanto lia sentia o sabor e o cheiro
E todos ao fim da viagem chegaram!

No surrealismo que todos os “atos” me mereceram para além do sabor e do cheiro!


Enviado por Tópico
lsterreza
Publicado: 01/06/2023 01:24  Atualizado: 01/06/2023 01:24
Membro de honra
Usuário desde: 09/02/2017
Localidade: Brasil___Natal RN
Mensagens: 229
 Re: Alice no país da poesia em 3 atos.
Me parece uma tentativa de aceitação, que no íntimo rejeita a evolução da fêmea, que no íntimo desejas.posso estar enganada, te leio agora, ainda não é possível assemelhar o íntimo com o poema, ou seja..
O Poeta.seu poema é introspectivo, porém entendo e gosto do seu estilo.obgda pela leitura, onde analiso e aprendo.gratidão Sr.🌺