Às vezes, o mundo não se mostra como ele é,
Mas como estamos prontos para enxergá-lo.
O olhar escolhe antes mesmo da luz chegar:
Há quem veja ameaça onde só existe silêncio,
Há quem veja promessa mesmo em ruínas.
O que você vê
É o desejo disfarçado de paisagem.
É a fome que pinta o pão,
O medo que alonga as sombras,
O amor que transforma o comum em milagre.
Os olhos não são janelas,
São espelhos
Cansados de refletir verdades inteiras.
Eles recortam, filtram, inventam.
Protegem o coração
Daquilo que ele ainda não suporta.
Por isso,
Dois olhares nunca dividem o mesmo mundo.
Cada um carrega sua própria versão do real,
Feita de lembranças, ausências
E daquilo que secretamente espera encontrar.
Ver é um ato de vontade.
E, muitas vezes,
O que chamamos de realidade
É apenas o nome bonito que damos
Ao que precisamos acreditar.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense