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Sangria

 
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Cada gota guardava
A satisfação fúnebre do último ato,
Do ápice poético da minha teatral
Rotina de sobrevivência.

Cada gota limpava as marcas sujas
E malevolamente prazerosas
Das minhas egoístas sensações.
Levava de mim
As lembranças mesquinhas
Da minha bondade dissimulada.

Lentamente eu via meu pulso
A expulsar o meu espírito da carne.
Tomado de júbilo
Presenciava o fim das dores
Naquele rio vermelho que inundava o piso.

Meu corpo gritava incessantemente
Ao meu espírito:
Volta!
E a Razão sufocava os espasmos deste louco
Falando sussurrante:
“Este é o curso, não há saída
Todos sabem disso.”

Neste momento o rio virou mar
E eu não continha mais a repugna
Daquele sóbrio ato.

Presenciava a mão que apunhalava
Naquela nobre sentença de salvação -
Cristo deu a vida por todos
E eu o faria por mim mesmo.

Já atingi a minha cota de desilusões,
O aprendizado dessa existência.
Não nasci para o torpe
Mas fui aviltado por ele.
Sem escolha,
Preso ao meu estúpido “livre-arbítrio”,
Escolhi a saída mais simples -
Não errar mais.


"A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito." Manoel de Barros

 
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Cleber
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 03/02/2009 18:05  Atualizado: 03/02/2009 18:05
 Re: Sangria
Uma bela peça que explica muito bem o que sentem as pessoas de "lua triste"!!!

Abs!!!

Enviado por Tópico
PAULOMONTEIRO
Publicado: 08/02/2009 03:50  Atualizado: 08/02/2009 03:50
Muito Participativo
Usuário desde: 23/07/2008
Localidade:
Mensagens: 92
 Re: Sangria
prezado cleber
não errar é a saída mais complexa
a mais simples é continuar poetando
procurar acertar
eis a questão
um grande e fraterno abraço do
paulo monteiro


Enviado por Tópico
adelaidemonteiro
Publicado: 08/02/2009 09:53  Atualizado: 08/02/2009 09:53
Colaborador
Usuário desde: 01/01/2009
Localidade: miranda do douro/Sintra
Mensagens: 733
 Re: Sangria
Cleber,
O teu poema é sublime mas triste.
Não errar mais é impossível.
Aprendemos com os erros e ainda assim, continuamos a errar.
Liberta o teu espírito do teu corpo através da escrita e isso, estás já a fazê-lo e muito bem.
Parabéns!
Adelaide