CONQUISTANDO O MITO
CONQUISTANDO O MITO
Cortando o fumo da madrugada
o cheiro de tudo e de nada
entre gestos de giestas
gritos andantes ambulantes vagantes
por entre pensamentos espessos
sons de silêncio e de plantas
neste celeiro de povo sempre novo
certo e incerto na penunbra do gesto
ergo um grito e meu lamento
minha arma de gume sem fronteiras
acerto o passo tomo o traço
lanço a lança directa ao alvo
construo-me construindo o abraço
digo sim e talvez e talvez não
entre a construção de um Amigo de sempre
na força viva de um Amigo que nunca vi.
FERNANDO MANUEL PEREIRA
sempreemluta.nireblog.com
PARTE, NÃO VOLTA
PARTE, NÃO VOLTA
1
suave brisa amamentando
breves murmúrios
a tarde a descer
até tocar o rio
na praia de algas
adormecem leves suspiros.
2
constelação
a arder evasão efémera
essencial solidão massacre
imprecaução catástrofe
folga de dia santo
café ao pequeno almoço.
3
dilatada estranheza
flutuava
completamente só
alheia ao tempo
amores esquecidos
nos amores que começam.
Fernando Manuel Pereira
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AMOR OCULTO AMOR
AMOR OCULTO AMOR
Abriste-me a janela do teu sorriso
e revejo todo o silêncio do mundo
dissimulando as palavras
e os espaços convocados
porque te sei raízes de fogo e d'água.
Dor íntima, extrema, a cortar,
numa quase primavera,
muro de heras, campo trazido, articulado,
caderno onde as escritas ainda frescas
pintam em azulejos, memórias.
Se ouvissem a beleza patética da noite,
saberiam das lágrimas uma canção,
como sonho agitado, assombrado
de saudades quentes,
numa moldura antiga, talhada.
O coração nas mãos, sempre...
Fernando Manuel Pereira
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NOVA FAINA
NOVA FAINA
Alcateia de ruas
nas fugidias noites dos sentidos
os velhos mareantes amigos
bulindo sons de velas puras
na mesa do vento lento
a deusa nua está perto
sereia urbana em rio desperto
ri e chora no meu lamento
percorro sem saber da seiva matinal
o ruído curvo do céu desfeito
da deusa o quente ventre inicial
no lençol abrasante do meu leito
mulheres amantes de deuses não pensados
outrora luas agitando guitarras
dedilho o som longo ao longo das amarras
cimitaras de guerras em olhos amados
e os lobos percorrem as vielas da noite
já sem ruas e mareantes
a sereia fugidia abraça o rio
e queda no bulício dos amantes
deixando-me liberto de sentidos.
É tempo de nova faina...
FERNANDO MANUEL PEREIRA
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etcetal.blogs.sapo.pt
SÓ EXISTE, SUBVERTE
SÓ EXISTE, SUBVERTE
Paisagem transbordando como uma ilha
pontilhada de lugares cheiros contido olhar
labirinto na pele como tatuagem em osso de baleia
correndo atrás de um desejo moribundo
talvez para que só esta noite exista
pintor sem lugares preenchidos fragilidades
tela oceânica de passos apressados
salientes nos nossos olhos riscam poços do mar
fora do alcance das explosões invisíveis
quebram caminhos diferentes estímulos nas nuvens
ilha atlântica em manifesto de fogo contido
fruição nítida soprando erguendo estrelas anãs
seres errantes seculares fixos às pedras nascidas
enraizadas nas areias rugosas do mundo submerso
buscam o que não existe ou se existe não sonhei.
Fernando Manuel Pereira
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NAS CATACUMBAS PÁSSAROS LIVRES
NAS CATACUMBAS PÁSSAROS LIVRES
Nas catacumbas dos gestos
desconhecidos vivem
nas paredes
os ninhos
dos pássaros
de voos largos e mansos
embriago-me todas as noites
e canso-me de andar
falar
estar
porque descobri a tristeza
de todos os prisioneiros mortos e vivos
nos voos dos pássaros livres.
FERNANDO MANUEL PEREIRA
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