Poemas, frases e mensagens de Bruno Miguel Resende

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Bruno Miguel Resende

araneomorphae vulcanus

 
esvai o perfume nas veias
tutanas ao gládio trespassado
exalei as índoles
desagregados em depositados
e
o rubor britado que se lascava
em caudal de fendas
enxurrou-me de sumos florais

aprofundei-me

a coalescência abismava
erguida pelas raízes intravenosas
bastidores do cósmico
e
aracnídeos pendiam estrelares
iluminavam-me de negrumes
teias de sombras que salpicavam
onduladas na cascata gemida ao silêncio

impérvio sentido sentido

o espúmeo coagulava graníticos
venéreos de indómitos excídios
pulsadas ondas ao arenoso
tatuadas no osso
bruniam-me ao ímpeto
e
vulcanizavam-se tegumentos do cartilagíneo
sangues de rochedo colérico
adjudiquei-me ao magma
o manar pulverizava-se ramificado

vulcanizei-me araneídeo

© Bruno Miguel Resende
 
araneomorphae vulcanus

Voos da Fénix

 
O som das tuas asas a bater nas brisas aumentava,
sonoridade solitária na noite aclamada pela lua cheia,
luxúria pelas aromatizações opiáceas instigada,
sumptuosas sensações de aproximação de uma epopeia,
aragens libidinosas e entusiásticas que me trespassavam o corpo,
reluzias o vermelho em ti,
tão intenso o senti,
abeiraste-te de mim de olhos resplandecentes em paixão,
no meu âmago brotou a sensação de um turbilhão,
sussurraste-me os teus anseios, os teus desejos,
enlaçaste-te em mim, beijaste-me em afectividades,
mesclaste-me nas tuas primorosas feminidades,
homogeneizaste-me nas tuas sensualidades,
gemi perante os teus gemidos,
senti exponenciar os meus sentidos,
teus olhos intensificavam-se em sensações,
sublime envolvência dos mistérios das tuas contracções,
formosa e majestosa te homogeneizavas em mim,
excelsidades das consciências em desejos libidinosos,
envolvências dos corpos e sentidos voluptuosos,
deleites que se extravasavam nas brisas nocturnas,
revolvias os cabelos em formosos movimentos,
induzias em mim os mais desejosos intentos,
consonâncias de êxtases,
libidinosos ênfases,
orgasmo majestoso que senti em ti,
nirvana das plenitudes quando debaixo de ti me contorci,
vigorosos preenchimentos dos devaneios,
conclusões sublimes dos nossos anseios,
mentes plenas de satisfação,
corpos em reflexão,
abraçado em ti,
adormeci.

Publicado originalmente em: www.liverdades.wordpress.com
 
Voos da Fénix

Semblantes

 
Alguns semblantes indiscerníveis passavam pelo nevoeiro,
negrumes de vultos atarefados com as entediações,
soturnos raios obscuros que extravasavam as suas sujeições,
lestos e rectilíneos,
subservientes melancólicos dos seus desígnios.

Encontros do desencontro,
diálogos de insonoridades atemorizadas,
reflexos involuntários de almas desoladas,
vislumbres de vacuidade da eterna saudade,
de nada se lembrar,
de tudo atormentar,
silhuetas moribundas que arrastam vidas soturnas,
pregadas na uniformidade,
agrilhoadas pela conformidade.

As chamas nunca haviam nascido…
Espírito para sempre sucumbido…

Também publicado em: www.liverdades.wordpress.com
 
Semblantes

anjeofagia

 
penas que não sabem voar
quedam
em procissão ao almofadado
núveo tingido ao sangue
com aperitivo da degola

a cabidela de anjos virgens
ascende felinos aos telhados
ronronam orgasmos gástricos
cânticos báquicos do manjar

sexualidades angélicas pavoneiam
na ponta do garfo
porque as coxas se apalpam
no dente
lascados nacos do apetite
salivam aguaceiros
porque as harpas se tocam
de faca afiada

fatiam-se nádegas na garra
estalam sem palmada
crepitam na ignição
da miada churrasqueira
eterna giratória de espetos
e
as penas descansam na almofada

eu
que já sei miar
ensalivo salivas
por ti
meu querido anjo

© Bruno Miguel Resende
 
anjeofagia

sistro da embriaguez perfumada

 
entranhados odores
nas pálpebras
cerradas ao caleidoscópio
fluorescem florais exalados

espiralado tegumento rosáceo
multiplica-se no luminoso
refracção da pétala implodida
odor carnal que se espelha
metalizados convénios
repartidos no sol aceso ao pavio

interlúdio ao deslize
epidermes serpenteiam no diviso
selado mágico que rege
dos confins sobre estrelares
triangulados à geodesia do combusto
friccionado

indumentária ungida
ablução tingida aos seminais
flutuado penetrativo do elixir
em postremo albergue estelar
cerúleo fecundado ao reflexo
germinado
com emanados epidérmicos

fulgurante balanceada panaceia
gazebo crepuscular
remada falésia à embriaguez
cadência ao dançável arrítmico

chifres plumados protegem
sistros de matrizes solares

© Bruno Miguel Resende
 
sistro da embriaguez perfumada

hidromorfose IV – zumbidos da diástole

 
ramificado coração zumbido
em vagido ondulado
de galhos ímpetos na bebericagem
barrada no deslize da diástole

montam rochas coachantes
de nenúfares descaídos
profundezas da apoplexia
derramada triunfal

o rupestre pinta-se de moscardo
tingido à frieza de sangue
distorcido na serena alva
quebra-se nos fluidos

destarte arremessado à margem
das pegadas dos peixes
a fúria pulsada faz ondular
um lago alagado de sangue
 
hidromorfose IV – zumbidos da diástole

Bacanal

 
Deixei terras longínquas,
adornadas de cordilheiras,
apresso-me a derivar,
para cânticos do báquico.

Vultos pelas veredas,
recolhem-se aos telheiros,
desejando límpida língua.

Aventurados ditosos,
sapientes em mistérios,
emancipam-se no tíaso.

Fazemos bacanais,
em montanhas purificadas,
bradando tirsos,
em pinhas coroados.

Ide bacantes,
por brotados verdes prados,
vistosos em frondosas bagas.

Celebrem,
ramos de carvalho,
trovões alados,
fulminem raios.

Coroem chifres de touro,
em serpentes,
delas se cingem cabelos,
ménades de caça selvagem.

Ide bacantes,
bordar vestes de gamo,
mosqueadas em anéis,
brancas pelagens.

E a terra dança,
conduzida ao tirso,
com multidões femininas,
oreibasia,
afastadas de teares,
por aguilhão dionisíaco.

Ide bacantes,
criar círculos,
forrados a couros,
misturados às forças,
por sopro das flautas,
ecoem gritos.

Evoquem sátiros,
tomados em exaltação,
lançados às danças.

Ide bacantes,
por prazeres de correrias,
prostrações ao solo,
sobre trajes húmidos.

Cacem o sangue,
do bode imolado,
sparagmos,
para delícia omofágica.

E do solo as cascatas,
de leite,
de vinho,
de néctar.

Segurem fumos de incenso,
chamas incandescentes,
em tochas de abetos,
clamem frementes.

Ide bacantes,
em esplendores de áureos cursos,
cantem,
no surdo rufar de tamboris,
na flauta sonora,
desvairem-se em risos.

Por ágeis membros,
saltem,
exclamem em bramido estridente,
evoé!

© BM Resende
 
Bacanal

enxertia ao cadavérico em semiótica descontaminante

 
o norte é rarefeito ao desnorteio
as halitoses desmumificam-se
do prego
são soníferos penhores à fragrância
libertados da algema prometeica
porque a flama é hipodérmica
as narinas são prostradas
ao depresso

o incensário do nilo sobeja a escassez
mas adorno aos braços
caudaloso sul ao texto das leituras
geológicas piramidais
floresce a pedra
sinapses ao vale do regicídio
enxerto ao cadavérico crucifixo
do fontanário de cinzas decepadas
à areia
alva descontaminante de lanífero

mas a ferrugem da vinícola apostolada
pulsa o magnetismo
estúpido lógico
os comboios pastam nas sepulturas
feridas gastronómicas com oxidado
mas nadar no deserto não afoga
as areias são escorridas de trilhos
grão a grão

dilatação na soma arcana
como ampulheta do espaço
das bacantes molduras timbrada embriaguez
os tirsos descalços são risos satânicos
cânticos negros ao palato
as salivas espumam-se de maresia

se os vagidos se circunfundem no recto
é elevado primado do secundário
o cume da falésia já se afogou

com destino plumado fluorescente
o dissonante é pendular
cortado fio da navalha
a furna platónica de lavoura vetusta
descarrila ao emparedamento
zaratustra é cume de pedreira
tauxiada flama ao interstício do real
vibra à laminação do messiânico
porque se escorrem sanguíneos ao cálice
graal menstruado ao nocturno
se os filtros são metalúrgicos

os vindícias são paraíso
nas carruagens de negrumes
a viperina desliza para atropelamento

com ígnea papirização de turim
o estanque implode nas areias
a cruz cadavérica é cadáver crucificado
à cinza
sepultadas epístolas nos carris
e repastam os comboios

© Bruno Miguel Resende
 
enxertia ao cadavérico em semiótica descontaminante

do cinzento ao planalto do infinito

 
um dia que acorda tísico
estremunhado de erógenas estrelas
escorridas
de dois bálsamos cadentes
e os horizontes que sorvem
o leão

os sucumbidos após três túmulos
são ensaios do luminoso timbrado
no cinza

e as quatro pétalas
rarefeitas
o sombreado que se fractura

os papiros deslocados ao quinto subterrâneo
inspiram a descoloração
que condensa

e do agrilhoamento sarnento
azul
denso desfoque na estrada
incessante descontorno

e as sirenes badaladas em digital
deglutem as seis cruzes
plurificam evangélicos ruídos

sete chamas que se invertem
sokar já geme
aponta ao pentagrama
no intransmissível
no inverso
da trepidação de babel
deslocação ao oito

© Bruno Miguel Resende
 
do cinzento ao planalto do infinito

epistemologias das merdilheiras

 
Merdilheiras são tecidos farpados que revestem as exterioridades das madrigueiras fornecendo-lhes as óbvias áreas rupestres de ocorrências multiplicadas de batalhas de rabos de raposas. No decorrer das melífluas ingestões rutilantes do vinho as percepções reticulares incandescem felinamente afiadas até à ponta dos bigodes, a indolência embala-se por motricidade emotiva escrevinhada pelas salivas tingidas de uva. O vapor horizontaliza-se por fumeiros regougados. Já as trinchas entrincheiradas entram em autocombustão fazendo rir os farrapos do vinho. Da zona exterior uma panóplia de campos de concentração sem centralidade, sem concêntricos. Todavia as vagas de manchas cinzentas eram invisíveis ao toque, mas escorriam-se em catadupa pelas vitrinas farpadas. Sem contaminar, mas com existência persistem no silêncio que se desfaz à crepitação de pedaços de arfagem. Os excrementos das labaredas ejaculam-se pelas chaminés do catarro libertário metamorfoseando-se na massa cinzenta da descerebrização ambulante que se trincha, que se penetra à trincheira da inocorrência, e assim ocorrem como se fossem. Merdilham. E vomitam pelos olhos como túmulos negros que falecem todos os dias ao tempo certo de outro relojoeiro que tudo tem excepto a pilha. E empilham-se como corpos cénicos de uma guerra que explode dentro de cada transmissão de ordenamento de território sináptico. O terrortório. Lambem os parapeitos suicidados. E sem quebrar. Mas na representação madrigueiral as molduras reinventam os moldes. São despimentos de uma pulsão que impulsiona por não se sair. Por não se romper. Por não se aspirar à chaminé. Por desejar o facto de facto. E entre a enclausura forçada pela força de desejos cantados à garrafa meia-vazia a aspersão meia-cheia de gorgolejos próprios de quem está a arder. A simetria verde deriva a simetria azul e o cinzento colapsa por não ter desfarpado tecidos. Que caem. Entre salivas temperadas à rutilância vínica. As faúlhas atestam a potência da madrigueira. Ascendem segundo o princípio irredutível da gravidade invertida. É a agudeza do gemido timbrado à extasiação pelo suave adorno do corpo moldável a si mesmo. Dizem-se as flores rubras da excrescência incendiária. Até as pálpebras decidirem o rumo final das epistemologias beijadas.

por bruno miguel resende
 
epistemologias das merdilheiras

Dilacerações

 
O meu âmago corrói-se em dilacerações,
Defraudado,
Atormentado,
Pelo apogeu que deixou de ser meu,
Acérrima atroz enclausura,
Contracções do sofrimento que perdura.

O meu anseio desfez-se em nulidade,
Magnificente relampejo ténue da felicidade,
Agora afogado pelas intempéries da saudade,
As lágrimas secaram,
Sorrisos dementes me deixaram,
Tédio infinito do sofrimento,
Enclausura perpétua nas grades do tormento.

Sinto-me encolhido,
Torpe dilacerante gemido,
Soturna inquietação de uma prostração,
Corpo fustigado em contracção,
Débil quietude,
Sofrimento beligerante sem voz,
Em mim se entranha a corrosão atroz,
Tremo em ansiedade,
Quando sinto o corpo a sucumbir,
Flagelo-me em torpor,
Quando a mente deseja explodir,
Beligerante e ácida incursão,
Pela mórbida irreversível degradação.

Senil,
Entranhada em mim a desilusão,
Vil,
Amarga putrefacção de uma existência,
Em demência,
Na penumbra do silêncio inexisto,
Contínua degeneração a que assisto.
Na desistência,
Na conformação de uma incumbência,
Deixar-me possuir pela inexistência.

Se já nada me apraz,
Me totalizo na nulidade, na vacuidade,
Lamento eterno de apenas querer morrer em paz…
 
Dilacerações

Revolutione

 
Eram os núncios das utopias,
clandestinas e irreverentes,
caóticos pensamentos durante as acalmias,
mesclações em insonoras sintonias,
glamorosas e libertárias rebeldias,
inquietudes das existências,
emanavam ousadas clarividências.

Eram os propensos das revoluções,
exasperados âmagos em turbilhões,
ruborizados espíritos esperavam,
desesperavam,
arbítrios indefinidos os sustentavam,
suportavam,
solitudes que se abraçavam,
clamavam,
apogeus que se padronizavam.

Eram as congeminações das emancipações,
oprimidas e contidas nas selvajarias,
esperanças ténues mas luzidias,
almejadas e ansiadas consagrações,
superficialidades para enterrar,
complexidades para contagiar,
intuitos de morte à decadência,
ao comprazimento com o insuportável,
à familiaridade com o execrável,
em expansão se encontrava a paixão,
intolerável o era o mundo da desilusão.

Eram as hegemonias das individualidades,
que trespassavam as consciências,
as deserções das vidas meramente assimiláveis,
dos actos se emanavam as consequências,
dizimação das mentiras imensuráveis,
molestos paradigmas estigmatizados,
doidivanas alusões de hipocrisia dos insanos,
tão eloquentemente da fraternidade profanos.

Os soturnos refúgios foram abandonados,
quantos espíritos humanos se tornaram elevados…

Publicado originalmente em: www.liverdades.wordpress.com
 
Revolutione

Instabilidades Contestáveis

 
O que seria contestável se não fosse instável?

Entediantes dissertações de erróneas alusões.

Simbologias da vacuidade em perfeita humana unanimidade.

Aquiescências intemporais perante devaneios irracionais.

Mensageiros de deturpação recebidos em atroz submissão.

Privações de excelsidade intelectual em hipocrisia demencial.

Renovações das uniformidades perante o declínio das intelectualidades.

Arbítrios pré-definidos que reduzem os sentidos.

Consonâncias inverosímeis de diversidades incognoscíveis.

Veracidades arredadas da mente que nunca foi independente.

Soturno afrontamento de estigmatizações em ignóbeis putrefacções.

Relampejos de criatividade que se formam na memória da saudade.

Sentimentos exacerbados que permanecem nos corpos dos desolados.

Fraternidades clandestinas que perpetuam desmedidas sinas.

Ditirambos das sensações que se manifestam como ilusões.

Receios de enaltecimentos que se propalam em esquecimentos.

Solidões de exponenciações decretadas como desilusões.

Emergências das diversidades abafadas pelas falsidades.

Subterfúgios de resplandescimentos destinados aos desconhecimentos.

Elevações de consciências obstruídas pelas hipócritas obediências.

Luxúrias consumadas externas às mentes depravadas.

Frigidez abjecta da consciência reduzida mais concreta.

Espasmos de elevações sexuais por entre as friezas ideológicas demenciais.

Concretude dos virtuosismos indignados perante os metamorfosismos.

Círculos de abstracções de vivências perante as mais torpes complacências.

Rotações eternas de ambiguidades hostis perpetuadas pelas mentes senis.

Decrépita envolvência que flagela a mais dócil consciência.

Concentrações de debilidades que dissimulam as racionalidades.

A concretude das naturezas nos indica as nossas mais exacerbadas destrezas...

Publicado originalmente em: www.liverdades.wordpress.com
 
Instabilidades Contestáveis

da noite em que o amor se eternizou

 
rasguei os teus nomes na areia
com ejaculação sanguínea
dos grãos

as cicatrizes das formas marulhadas
eram rosto do bramido
agrilhoado

verti temporizadores de inversão
e
a maresia que encolhia
no fetal
implodia-se com vagas de negrume

lacrimejaram lunares no tórrido
congelado desértico
correntes do inaudível
com dispêndio dos ausentes
e
escorreram-se de salinas
da viagem que sana
o purificado
vazio

fiz-me inerte com esquecidos
colapsada memória
no espúmeo
que se reflecte

perdi-te as formas
no irreversível
mas
do cadáver de eterno retorno
não se decompõe

arrastei-te ao cume
da fenda do abismo
e
laminei os estrelados
marquei-te as seivas
nos rochedos

porque pingavam ao celeste
inverti o espelho inverso
da ampulheta do amor

arranquei olhos
com ferros que enferrujam

furei tímpanos
com unhas lascadas de carne

empalei narinas
com almofadas de derrames orgásticos

crivei lábios
com cordas que suspendem astros

decepei membros
com brisas dos amantes de amanhã

e no tumular sem flores
me enterrei contigo

© Bruno Miguel Resende
 
da noite em que o amor se eternizou

Teorema de Brunágoras

 
O redondo da hipnose nua é diferente da toma de opiáceos por cateteres.
 
Teorema de Brunágoras

Requiem do Esquecido

 
Exasperação de um abandonado,
agora reciclado,
perscrutação desmedida das realidades,
em saudades,
esfolamento desmedido e calamitoso,
Presente reles caminhada pelo infortúnio sinuoso.

Ninguém o ouviu,
a sua presença sucumbiu…

Sina voraz que o corrói,
destrói,
Insaciável iniquidade que o possui,
abismo doentio que se revela em sofreguidão,
imensurável destreza para a propensão,
plenitude da indesejável solidão.

Tão elevado bramido,
por ninguém sentido…

Publicado em: www.liverdades.wordpress.com
 
Requiem do Esquecido

retrocessos suicidas

 
rodei a porta de chave
rangido por cumplicidade
encaixilhei vidros
de vedadas dinâmicas
e
tranquei-me no estanque

emoldurei-me ao arco-íris
cinzento
da nébula opiácea
flutuado
e da cinza que jazia
envolvido

banhei-me do corpo despido
afogado no desconceito
e
da ténue permanência em catapulta
densidade
elixir de colapso temporal

da inutilidade diária
branco escuro
com futilidade noctívaga
negro claro
e
a palidez complacente de cernes
tingia-se na incrustação
o lençol do extenuado

do horizonte entalhado
confundi-me no espelho
fui liso rachado
mas
arredondei-me
à dimensão terceira
e quarta divisão
de quarto

das fumadas cinzas
se germinavam plantas
com perpetuação do desciclo

asfixiei-me dos instantes
e dos seguintes
da mão que se masturbava
presa ao pescoço
gemi ao prazer do doloroso
dissolvido de esperma
insolúvel
triangulação no paralelo
e
contorci-me no transversal
extasiado
arrepiado de carbonos
que penetravam
de crivagem às vísceras
inalei húmidos do escorrido

entreguei-me à vagarosa alcatifa
de viajem ao caixilho
e
da nudez da janela
estilhacei-me bramido

era um disforme vermelho
cimentado no profundo
que se integrou
desgravitou
precipitou à abertura
e
de me subir aos pés
os lambidos de sôfrego tormento
e do implorado
não mais retrocesso
sabia-lhe eternidades do ser
sorri
ao suicídio desfeito

mas porque queria rasgos
do laivo
no sempre após sempre
e da lágrima borratada
e do prazer de morte
porque medo
vivifica-se
e
dos sorvidos sofrimentos
saciada escravidão
entre riso que eriçava

libertado do jugo
o estilhaçado ao mesmo
no instante da potência
à mancha cimentada

renovaria os retrocessos
sempre
pelo sempre

© Bruno Miguel Resende
 
retrocessos suicidas

frascos de sementeiras em morgue universal

 
cadáveres que inchavam a terra
putrefacta de leitos montanhosos
no cume do zumbido sôfrego
enfermeiras falecidas lavavam moscardos de rapina
eram escorridas sanguíneas mandíbulas

bisturis fendiam-se às linfas
a cirurgia era bicada emplumada
no palato se degolavam as línguas
as cicatrizes apalpavam os ossos
rasgados costurados à agulha
indolor saciedade da consistência
das aparas do ontem
o plasma fecundava o cultivável

semeados olhos germinados à órbita
cérebro torácico com urtigas
testiculares brotados em ramalhetes
frondosa planície epidermal
clitóricos preenchidos de suco
relva penugem com genital orvalho
línguas ramificadas de ciprestes
instigado insaciado adubo
e
os esvoaçados deglutiam as iguarias

frascos de sementeiras
jazidos aconchegados nos ninhos
futurologia germinativa à gula
e
os cadavéricos esventrados de sementes
eram morgue universal

© Bruno Miguel Resende
 
frascos de sementeiras em morgue universal

tutuguri

 
em glória ao sol negro
são aspergidos do terreno
mascada mescalina intravenosa
em círculos de fogo
e gemem corpos hermafroditas

são inalados sopros do inato
totalizados melódicos
contorcidos de dançáveis coiotes

deglutidos palpitantes lunares
eternizam o refulgente espírito
e da chama cega
nunca mais

iluminado entrave da vereda
com sombras
projectadas do negro ao negro
ejaculadas das palavras do pensamento

os gritos ensalivam
e escarram
cruzes subterrâneas

do centro ponteado nos cardiais
a translação
para a aparição que se fulmina

fixadas consciências
que vivem do intangível
e
os bailados nas lufadas de noite
que açoitam
brotam celestes

as peles arrastam esqueletos
ressuscitados
clamadores do metal e do corno

a trovoada de ventre aberto
é sorvida pelo gládio
entre baço e coração
até à última gota
de sangue

do ígneo pairado sobre negrume
golfada sulfurosa
que jorra
intrínsecos géneses de caos
e
o incandescente interior é crepúsculo
implantado em fervor

chama sombria que vive
dos obscuros vapores
noite que caminha sobre a noite
o concreto sinestésico encarnado

© Bruno Miguel Resende
 
tutuguri

Evangelho Hiperbóreo

 
Em venenosas incongruências,
se tecem as consequências.

No feitiço das afectividades,
se exponenciam as vontades.

No resquício da existência,
se estrangula a decadência.

Célere de vivências explosivas,
em sociedades inactivas.

Âmagos de sentimentos turbulentos,
em contextos de niilismo sem intentos.

Ira das fogosidades,
em selvas humanas sem vontades.

Esplendorosas seduções,
que aniquilam religiosas castrações.

Contorções emancipantes dos intelectos,
fulminantes de sagrados dejectos.

Suores estridentes de lascividades,
degoladoras de inactividades.

Diatribes emotivas da consciência,
avassaladora da inconsequência.

Rumos artísticos sem destino final,
no esgoto pérfido da vacuidade abismal.

Perfeccionismos de corpos e mentes,
em entulhos sociais decadentes.

Profanações recorrentes da ignorância,
em relampejos abissais da extravagância.

Moldam-se e adornam-se corpos hiperbóreos,
enterrando infantilismos mentais inglórios.

Somos.
Vivemos.
Acontecemos.
 
Evangelho Hiperbóreo