Quartel dos (des)CONTENTES
Não consigo demonstrar a toda a beleza de um mundo
que não me distrai
mas lhe asseguro de que já tentei sonhar
talvez seja fato que meus ouvidos surdos pelo
tempo não ouçam a magnitude do suprassumo agradável
pertencente a quem verdadeiramente sabe sonhar
tristes são os pobres que não sabem
e não podem
como eu
talvez eu venha buscado sinônimos no dicionário errado
sinto apenas a falta que me fazem as palavras
para descrever o esplendor onipresente
que para mim até agora é inexistente
enfatizo que de fato me falta
palavras para descrever tudo que não vivi
e como poderia sem antes partir?
sei que não consigo mas deveria poder
ouvir o som do vento a me dizer
não se culpe
por não ouvir
talvez eu venha a sentir falta
da falta do brilho do magma explosivo de ser
ou não ser
feliz
talvez a libélula aprisionada batendo as asas embriagada
pela estricnina venha a morrer
de dentro de meu ser
sem saber
desculpa mas não consigo dizer o quanto
eu amo sonhar
mesmo não sabendo
nem podendo
fazer rimas que desatinam
mostrando tudo aquilo que não sou
prefiro apenas o não pensar
que ainda detesto toda a felicidade fabricada
posso até fazer parte da união dos soldados descontentes
mas não admito
a ideia de que meus inimigos internos
digam-me como devo viver
e como devo me sentir
desculpa caro amigo mas cansei de mentir
thess
Senhor Coelho
não se leve senhor coelho
não me leve
a Alice é apenas um
espectro minimalista de centelhas inertes e inexistentes
buscando encontrar açoites no assoalho descalço
denegrindo a obscura imagem de redenção
Não se deixe levar senhor coelho
não me deixe levar
pois os pares dos pajes do castelo me confortam
não seria imaturo por pensar
que do páreo alado o alazão
busca incansavelmente a ilusão
de ser de fato o coelho da imaginação.
thess
inferno no inverno
O céu cinzento do outono mostrando sua graça
os ares esperançosos a sorrir e imaginar
o ofuscante brilho do inferno a sonhar
pela neve de março a incriminar o pecante criminoso
a morar por onde haveria por estar
e sonhar
Sonhando estavam os risonhos tristes a ver
as rosas brancas do congelante verão interno
do inverno de suas calorosas e dolorosas almas
prevendo o inferno no colo das peças outra vez
Ao relento vendo as cordas, as colas juntos desta vez
refletindo as falhas, as marcas e a insensatez
escutando no escuro o som do escudo do prologo que reluz o caçador
Estampados prevejo,
almejo e praguejo os sonhos do inferno no inverno
intrépidos caçando o almirante no mirante do pescador
thess
Mera ficção - de mim
o suor do corpo ardente em chamas gélidas
o calafrio do pífio e intransigente ser
a escassez das frases formadas em mim
e a mim por me permitir viver assim
escondida sob as colinas longínquas e
despercebida por entre as árvores secas
florescendo no inverno árido
de minhas escolhas
venerando, amando e odiando
o medo da doce e sólida
simultaneamente sórdida solidão abrangente
que possui maior querer que a mim
por querer ser assim
e estar aqui
distante de tudo
inclusive de mim
perseguindo as borboletas por esse caminho
sem medo das escadas tortas e do vazio
me encontro no escuro e continuo
vivendo assim
feliz (?)
Amor retórico inexistente
Seria assim o amor?
Palavras vazias sem nexo em um contexto imperfeito
Ou seria ânsia, misturada á agonia
o medo se apoderando de um sub consciente turvo, limpando os padrões da escrita formando assim uma poesia a ser entendida?
Seria assim?
O amor misturado á raiva e ao ódio que parte da mais bela e perfeita sinfonia?
A plenitude da imperfeição, a magnitude da aceitação
de ser imperfeito
Mas sei que as rosas, os vinhos e as velas não passam de mera ficção - ou alucinação.
de ser entendido
compreendido
De estar desprovido de certezas
de ser iludido
Mas ei Deus, onde estás a minha sinfonia?
thess
sonhos amargos
As noites estreladas junto a madrugada
clareada pelas mesões dos tolos a me
perguntar se seria eu mais um a torturar
os seres doentes de magia e agonia por amar
Perdoada seria se o embaraço fizesse poesia
dentre as lamentações descritas nos muros da amargura
postada nas labaredas escuras do mar de luxuria
contendo as melhores intenções por odiar
Se o abraço caloroso não fosse tão frio ousaria
novamente sentir a nostalgia dos beijos perdidos
na estação lamentada que relutou chegar com empatia
Junto aos sonhos perdidos que o vento traído levou
as anotações manchadas por lagrimas caídas que
mostravam apenas o medo por alguém lhe conhecer e amar
thess
amor só pra mim
mesmo egoísta o quero
de forma exclusiva
sem testemunhas
sem perjuras
sem injúrias
quero sentir medo
fazer planos
sem planos
me entregar
e amar
como ninguém
jamais fez
quero sofrer
com a distância
me descabelar
para amar
me abalar
pela demora
de relapso
me encontrar
quero as promessas
mais bonitas
o encanto do presente
e o desapego do passado
o quero só pra mim
para poder sentir
o querer
de poder amar
eu o quero
como o quero
só pra mim
thess
Ressaca moral
a imoralidade da deformidade indiferente e
não condizente com as ameaças onipresentes de
ser ou não quem de fato nunca seria
normal eram as palavras ébrias do ardor da agave
misturada as pobres garrafas de palavras vazias
desconexas ao mundo real
solitário seria amar seus monstros de estimação
trancados no armário desabitado tentando sair
sem ser amados
retardando-os com a tampa da lembrança da
solitária criança brincando sem saber
o que haveria de acontecer com sua vida
perdida tentava encontrar um caminho
no escuro para poder dizer que de fato sabia
que tudo era normal
até mesmo o rugido dos seres do escuro
tristes pela solidão dos olhos tentando esconder a
dor da perfeita normalidade
ilusória era a alegação da coação psicológica
idealizada pelas pilhas de copos vazios a chorar
por conseguir comprimir seus sentimentos
via comprimidos que não reprimam sua dor
apenas açoitavam sua alegria sem sabor
thess
coração enraivado
tristes eram as palavras de um louco coração enraivado
pela angustia de odiar a si por não amar
e se culpar por triste ser a pensar
melancolia invadia o pobre ser despercebido
a fazer de sua saga e triste sina contos sem sentido
incompletos e incompreendidos
harmônica harmonia aflita consumia sua desconexa
e perplexa sinfonia sem promessas de que o melhor ainda viria
junto a tristeza da graça da desgraça encantada
beleza se via mesmo da morbidade poesia
do morboso alvoroço que se via em sua sintonia
então esperava a aclamada beleza que consumia
a ilusória normalidade desconexa
que a esperança um dia lhe traria
thess
Minha Máxima Culpa
Em uma tarde ensolarada
com as mãos amarradas
foi jogada em uma estrada abandonada
deixada para morrer
Mea Culpa
Tentou se defender até que o cansaço
fracassou suas tentativas
de não sentir dor
Mea Culpa
a cada grito um gemido
a cada grito um osso se quebrava
a cada grito sua vida suprimia
e o ódio aumentava
Mea Culpa
Nem por toda eternidade
esqueceria os gritos silenciosos
suplicando a morte para leva-la
Mea Culpa
O constrangimento de ser quem era
consumia sua existência
nem a dor, nem o sangue,
ou os hematomas em seu corpo
afastavam a sensação
de humilhação, de asco, de repudio e
de culpa
Mea Culpa
Disseram-lhe que em uma humanidade desumana
coisas ruins aconteciam
Ainda sim não conseguia
deixar de sentir culpa
por não ter morrido
por ter se permitido
sobreviver
Mea Culpa, Mea Maxima Culpa
thess