Chris Fonte Katz - Teimosia
Preto, tu viu a casinha?
É no térreo
daqui a gente não vê o mar
mas sonha
Preto, tu viu que da janela,
a gente vê um monte de árvore?
Mas, nenhuma delas dão fruto
Preto, tu viu a rua?
A gente da janela vê todas
as cheganças
Preto, tu já perguntou pro
Menino Jesus porque a gente
está aqui?
Preta, a gente está aqui de
teimoso, a gente vive de pura
teimosia.
Chris Fonte Katz - Teimosia
Mangue - Katz
Mangue
Eu suplico aos que dormem
Ao menino Jesus, falo
Obedeço e rezo
perto do mangue com os pés no lodo
Onde,
Não vejo nem veias ou tornozelos
Quem eu sou menino Jesus?
Serei eu como palmeiras que se suicidam em frente ao mar?
Ou serei como as lágrimas do cavaquinho ou do pandeiro que choram?
Sofro o desgosto de ser Mulher
Então obedeço
Rezo e mais nada faço
Vivo como um reco-reco
no fundo, ao fundo
Feito meretriz no mangue
Com caranguejos aos meu pés
Onde vejo o luar
a tornar-se uma coisa só
no meu dorso nu
feito ponta de faca que suando
vaga meu corpo adentro...
Por Chris Fonte Katz, Donzela do Gelo.
Sede
O Dia Foi duro.
Ardido.
Acredito em mágica. Ou em páginas em branco?
Choveu e não houve café.
Nem cafuné.
Tão pouco sorrisos.
Apenas escureceu.
E nublou toda uma busca.
Feito o rio diante da moça.
Que seca e a deixa com sede.
Por Chris Fonte - Donzela do Gelo
Copacabana - Donzela do Gelo
Copacabana - Por Donzela do Gelo
Em Copacabana as ondas
se abrem em esquinas infinitas
das ruas que em mim, habitam,
ondulando sinais de chegadas
e partidas
quando ando nessa areia
nessas ruas de espumas,
grito, até abalar as entranhas
lugares que em mim,
antes, nem conhecia
em Copacabana o mar se torna véspera
e banho-me em espumas diante da multidão
neste banho mordo-me salgada
na beira dos morros que me cercam
e em risadas ébrias e vãs afundo
nestas águas de Copacabana que
agora habito e tento com afinco
no sal, e na espuma me livrar
da minha dor
quem sabe nas nadadeiras de algum
peixe, encontre leitos
e descanse do verão
pois, na verdade,
não há descanso em mim
mas sim multidões de ondas de marfim
e eu talvez junto a um cardume de tainhas
fique presa a uma rede e vá parar num
aquário
ou apenas
vire sereia, de um verão só
fantasma sem nome, em Copacabana
de ondas e esquinas infinitas
Almas
Cada rua
beco ou viela
era tudo das almas
tudo que vaga
é espetáculo
pedaços de histórias
E haveria de pasmar
se no seu olhar
contemplasse
pinturas,
fisionomia,
amor
e gozo
Porque as almas
não tem segredos
Tão pouco travam
diálogos surdos
na contramão do frio
São suspiros no
contrafluxo
dançando no sereno
vazio
Donzela do Gelo - Chris Fonte
Distância - Por Donzela do Gelo
Distância - Por Donzela do Gelo
Quando mundo a fora
tu eras rio
inesgotável
como adolescente
Não havia ilha
nem fim de trilha
nem medo, tão pouco
vida proibida
Era cidades e multidões
mas eu não lhe pertencia
pois eu era só a travessia
Anônima entre os anônimos
entre os becos e avenidas
ou esquinas infinitas
Onde em mim toda a cidade existia
lugares que nem eu conhecia
Em tuas mãos rio a fora, vejo
nossa distância em fim, definha
Donzela do Gelo
Caminhar de Estrelas
Das estrelas aos teus pés
divinos,
divido
hinos de louvor!
De tuas buscas,
de tuas falas de amor.
Em altas torres onde te inclinas
para ver estrelas,
e trazê-las para perto de ti
e jogá-las ao chão,
e com elas fazer um caminho
onde o brilho te seguirá
eterno.
Ah! Quem poderia inventar um caminhar entre estrelas se não tu?
Pois ali nada se perde,
nem a luz das estrelas
quando se apaga.
E ainda assim
neste campo onde trilhas,
mesmo quando a luz morre
na retina,
ainda mil anos luz brilham!
E tu e Eu…
Caminhamos.
Tu caminhas
e eu na tua luz sigo.
Caminhar de estrelas por Chris
Em S - Tautograma
Sabia sentir, suaves sentimentos.
Sempre sutil, serena, simples.
Suas sensações, sutilezas servis, sabia sobreviver.
Sorria sentimentalidades.
Sedutora, sonhava sementes;
Silenciosamente.
Por Chris - Donzela do Gelo
Lapa por Chris Fonte
Na sombra desta outra cidade
Sou essas vozes cortantes
Elas são como escombros que me atravessam
dividindo-me ao meio
Parto no bonde e canto com boca rasteira
A solidão das horas
Entre um gole e outro, meus olhos se abrem
Minhas pupilas dilatam
E neste bonde, num som passageiro
Escuto um samba na Lapa
Um samba que arde e que chama o
Bêbado, o sóbrio e o ladrão
E as vozes saem dos becos
Das casas e dos casarões
A noite se ergue nos bordéis
E no corpo da fulana que tece sonhos nos arcos
Que busca no ombro, na boca do outro
A água ardente que perdura
Onde o tempo não passa dentro ou fora
Do bonde nas noites vendidas
Dos perdidos e achados, dentro dos bordéis
Que triunfantes brilham seus néons
Feito uma grande boca enorme e impulsiva
Ecoando entre as madrugadas
Na sombra desta outra cidade
Sou também essas vozes cortantes
Por Chris Fonte
Silêncio
Há tanto silêncio no "depois"...
Por Donzela do Gelo