Sagração - Por Donzela do Gelo
Na terra arrastada e vermelha
na sagração do pó
entoava rios e avançava
era noite sim,
noite não, quase um rito
ele cantava com uma boca
impossível e ficava a espera
duma brecha
duma aparição
visão dum anjo
na noite que caia
madrugada a dentro
perdido forjado de cinzas
mais alto cantava
pois queria a moça
então ela, na madrugada
escarrava seu arsenal de zinco
em risadas paralelas
e cerrava sua janela
a espera do silêncio
daquele vício
e nada mais lhe dava
além dos risos
E ria, risos e ritos
que ecoavam na terra vermelha
baldia
Na terra vermelha
vazia do cantar dele,
no grande terreiro,
na terra vermelha
vasta e silenciosa
Por Chris Fonte - Donzela do Gelo
Copacabana - Donzela do Gelo
Copacabana - Por Donzela do Gelo
Em Copacabana as ondas
se abrem em esquinas infinitas
das ruas que em mim, habitam,
ondulando sinais de chegadas
e partidas
quando ando nessa areia
nessas ruas de espumas,
grito, até abalar as entranhas
lugares que em mim,
antes, nem conhecia
em Copacabana o mar se torna véspera
e banho-me em espumas diante da multidão
neste banho mordo-me salgada
na beira dos morros que me cercam
e em risadas ébrias e vãs afundo
nestas águas de Copacabana que
agora habito e tento com afinco
no sal, e na espuma me livrar
da minha dor
quem sabe nas nadadeiras de algum
peixe, encontre leitos
e descanse do verão
pois, na verdade,
não há descanso em mim
mas sim multidões de ondas de marfim
e eu talvez junto a um cardume de tainhas
fique presa a uma rede e vá parar num
aquário
ou apenas
vire sereia, de um verão só
fantasma sem nome, em Copacabana
de ondas e esquinas infinitas
Caminhar de Estrelas
Das estrelas aos teus pés
divinos,
divido
hinos de louvor!
De tuas buscas,
de tuas falas de amor.
Em altas torres onde te inclinas
para ver estrelas,
e trazê-las para perto de ti
e jogá-las ao chão,
e com elas fazer um caminho
onde o brilho te seguirá
eterno.
Ah! Quem poderia inventar um caminhar entre estrelas se não tu?
Pois ali nada se perde,
nem a luz das estrelas
quando se apaga.
E ainda assim
neste campo onde trilhas,
mesmo quando a luz morre
na retina,
ainda mil anos luz brilham!
E tu e Eu…
Caminhamos.
Tu caminhas
e eu na tua luz sigo.
Caminhar de estrelas por Chris
Em S - Tautograma
Sabia sentir, suaves sentimentos.
Sempre sutil, serena, simples.
Suas sensações, sutilezas servis, sabia sobreviver.
Sorria sentimentalidades.
Sedutora, sonhava sementes;
Silenciosamente.
Por Chris - Donzela do Gelo
Lapa por Chris Fonte
Na sombra desta outra cidade
Sou essas vozes cortantes
Elas são como escombros que me atravessam
dividindo-me ao meio
Parto no bonde e canto com boca rasteira
A solidão das horas
Entre um gole e outro, meus olhos se abrem
Minhas pupilas dilatam
E neste bonde, num som passageiro
Escuto um samba na Lapa
Um samba que arde e que chama o
Bêbado, o sóbrio e o ladrão
E as vozes saem dos becos
Das casas e dos casarões
A noite se ergue nos bordéis
E no corpo da fulana que tece sonhos nos arcos
Que busca no ombro, na boca do outro
A água ardente que perdura
Onde o tempo não passa dentro ou fora
Do bonde nas noites vendidas
Dos perdidos e achados, dentro dos bordéis
Que triunfantes brilham seus néons
Feito uma grande boca enorme e impulsiva
Ecoando entre as madrugadas
Na sombra desta outra cidade
Sou também essas vozes cortantes
Por Chris Fonte
Casa de Rua - Por Donzela do Gelo
não sou casa de rua
nem sou abrigo miserável
curvo-me ao chão
diante de ti para que não entres
sinto demais, mas não te perdoo
se te faço isto,
seremos dois novamente
não tenho coração
ou será que o som que escuto
em meu peito, é meu coração
atado a corda que ainda vibra?
distância, é o que meu coração vibra
tudo acabou, até o sofrer
não há casa, é pura verdade
rebentei em pranto, e penso ainda
não sou casa de rua
ou talvez,
nunca tenha sido
amor
Oceano
Pensamentos sinuosos
Mares, marés ondas
e o poema
oceanando
Por Chris Fonte
Trama
Trama
Trama
a dívida do viciado
como um grande navio
traficante
Paralisa a sede
no pulsar destas veias
neste vício
No movimento das têmporas
ouço a velha canção
que não me geram ação alguma
Apenas tenho um fardo
e joelhos
que se dobram machucados
Por Donzela do Gelo - Chris Fonte
Pássaro - Por Donzela do Gelo
No teu canto
Divino ser
todos os cantos do mundo
em teu poder.
E com tuas asas
pairando os mundos
cantas
infinito
Chris Fonte - Donzela do Gelo
Sol
Chegar pela manhã
sol dar-te ás mãos
vestir-se de tarde
e a noite despir-se
em breves lençóis
Por Chris Fonte - Donzela do Gelo