Catete - Por Katz
O Fogo
Estava no silencio dela
no rigoroso comércio
do seu corpo
no meu quarto de rapaz
solitário
ou no carro
a descer
nossa senhora de Copacabana
e findar talvez nas laranjeiras
em ruas residenciais
mas o que eu desejava sempre
era lev-a-la para a nascente
ali do lavradio
em vez disso
ela queria mesmo era subir o catete!
Chris Fonte Katz
Entrega - Chris Fonte
Hoje a 1 hora da tarde
Te mandei flores
Elas foram nas mão dum menino
Entre as primeiras horas da manhã
O menino tinha os pés sujos
E as mãos puras
Tinha sol no olhar
E as flores eram tuas
Disse-lhe:
Se tens asas voa!
Pois todo meu amor está nas tuas mãos.
Sou passarinho, ele disse.
Sorri.
Reza
Reza
As chagas que tu
agora enxerga
minha vida nua
e tua boca crua
enraivecida rasga
as fotografias
e as joga em
profunda cova
retira os olhos de mim
queima meus livros e dores
adormece
testemunha o mundo
o profundo golpe
reza por mim
e glorifica os dias
em que purifiquei tuas mãos
e te jurei com dedos cruzados
amor.
Chris Fonte - Donzela do Gelo
Sagração - Por Donzela do Gelo
Na terra arrastada e vermelha
na sagração do pó
entoava rios e avançava
era noite sim,
noite não, quase um rito
ele cantava com uma boca
impossível e ficava a espera
duma brecha
duma aparição
visão dum anjo
na noite que caia
madrugada a dentro
perdido forjado de cinzas
mais alto cantava
pois queria a moça
então ela, na madrugada
escarrava seu arsenal de zinco
em risadas paralelas
e cerrava sua janela
a espera do silêncio
daquele vício
e nada mais lhe dava
além dos risos
E ria, risos e ritos
que ecoavam na terra vermelha
baldia
Na terra vermelha
vazia do cantar dele,
no grande terreiro,
na terra vermelha
vasta e silenciosa
Por Chris Fonte - Donzela do Gelo
Eu e o Gafanhoto - Por Chris Katz
Profetizei mil séculos
diante de um gafanhoto que dançava
o amarrei em meu destino
levantando poeira a beira do caminho
E mesmo assim, ele me olhava como mil raios de luz a cortar-me em fatias de vaidade
A cada dia e noite juntos
Eu e o gafanhoto seguíamos
na mesma trilha dividindo
a mesma mesa invisível e faminta
A cada salto que sobre mim ele dava
me fazia lembrar da boa graça
de sua companhia, dei-me conta então, que eu era seu campo e seu plantio era seu alimento
e sua hortaliça
No olhar do gafanhoto havia fome
e no meu olhar o passado a me assombrar, já estamos cansados,
eu e ele estamos, o futuro é agora ergo a mão rapidamente de forma harmônica mato o gafanhoto, coloco-o na mesa invisível e me sento, olho para ele imóvel e penso, que no vento seguem as suas asas num traço do nada iluminado, e que nesta trilha vã ou vazia, são meus pés que seguem, agora sozinhos nesta trilha chamada vida.
Eu e o Gafanhoto - Por Chris Katz
Separação - Chris Katz - Donzela do Gelo
Separação - Chris Katz
depois de tantos episódios pagãos
sonho almas e mãos celestes
não exala minh’alma pouso nem calma
tão pouco afeição de estrelas alvas
nas ruas o exílio medonho encontro
da visão casta que tenho de tua casa
entre adivinhos, senhores e torpezas
não vago sozinha neste rito
E por isto debaixo deste céu infinito
eu grito
E Te maldigo!
Íris - Por Donzela do Gelo
No peito, vão escuro
a agulha vaga
noturna em seu poder,
costurando pálpebras
a agulha de prata
a linha transpassa
a pele pálida
aberta entre o cinza
do peito onde
a luz fora apagada
olhos de flores
mínimas rosas
bordadas entre as íris
indo pesar alhures
onde sangra
e depois coagula.
Chris Fonte - Donzela do Gelo
Separação 2
Oi.
Você vai voltar?
Não.
E suas coisas? Farei o quê com elas?
Vc pode ficar com tudo.
O que eu farei com elas?
Faz um bazar, de ausências.
Por Chris Katz
Distância - Por Donzela do Gelo
Distância - Por Donzela do Gelo
Quando mundo a fora
tu eras rio
inesgotável
como adolescente
Não havia ilha
nem fim de trilha
nem medo, tão pouco
vida proibida
Era cidades e multidões
mas eu não lhe pertencia
pois eu era só a travessia
Anônima entre os anônimos
entre os becos e avenidas
ou esquinas infinitas
Onde em mim toda a cidade existia
lugares que nem eu conhecia
Em tuas mãos rio a fora, vejo
nossa distância em fim, definha
Donzela do Gelo
Viola - Por Katz
Ontem eu vi!
Há macumba no asfalto
E cartomantes de ruas
Eu vi!
No torso esguio li!
“Minha fé me salva”
E aquele corpo estava nu
Eu li!
Entre teus olhos e os meus
Morreram todos os romances
E nos carnavais se suicidaram
Todos os nossos sonhos
Lá no terreiro onde chamei teu nome
Enterrei teu samba ao som tambor
Lembrei do cavaquinho
Da Meretriz
E de Nossa Senhora
Voltei pro meu barraco
Ao som da viola, dormi.
Por Chris Katz