Não interessa o que sou, interessa que existo p/ Carlos F.R.
Não interessa o que sou, interessa que existo p/ Carlos F. R.
Não estou bem, não estou correcto, não estou são, não estou certo.
Entendo agora que procuro nos outros a minha paz, escondo neles o meu desconforto,
É como que tentar esquecer o mal que ficou para trás, como quem esquece um aborto.
Desejar que aquilo que sabe bem agora, seja esquecido amanha por estar mal,
Aquele momento que se goza sem consciência, sem sentido, sem o essencial.
Mas é entre copos, filmes, mais copos, almofadas e mais copos que toda essa merda se prolonga e se esquece, e se prolonga e apodrece como num conto de fadas.
Esses contos…que seja a verdade que tudo no fim acaba bem e com um sorriso estampado, que não é como o fim de uma noite de discussões, no terraço pedrado.
Não tenho desculpas, não peço desculpas, não sou desculpa…tenho a culpa, sim sou culpado, assumo os meus erros mesmo sendo cada um deles pecado.
O mais estúpido de tudo é que quando tento ser certo, me agarro a algo com aquela força que surge sabe-se lá de onde mas que nos agarra a alguém de um modo tão forte mas tão fácil, de um modo tão bom, onde sei que sou hábil.
Mas e se afinal não sou? Se dou mais do que aquilo que alguém realmente deseja, se dou mais do que alguém merece? Se calhar nem sou quem penso que seja, se calhar sou do tipo “de identidade ele padece”.
Pouco importa, tenho de aprender a lidar com aquilo que sou, ou naquilo que me quero tornar. Se tudo à minha volta não mudou porque serei eu a ter de me sacrificar?
Pensando agora em tudo isto, em todo o bem e todo o mal, apesar de antes não o ter visto, esta é a minha conclusão final:
Agora estou bem, agora estou correcto, agora estou são, agora estou certo.
Tudo por Nada
Tudo por Nada p/ Carlos F. R.Parece tudo correr bem,
Tudo como simplesmente desejo e espero,
Nada me incomoda nem ninguém,
Nada é ruim nem sequer severo.
Parece que estou com sorte,
Nada me corre mal,
Tudo é bom quando o amor é forte,
E tudo o que era inútil parece agora especial.
Mas de tudo o que parece nada é especifico,
E nada do que contém parece verdadeiro,
Foi apenas irreal o sacrifício,
Foi apenas a realidade de um sonho momentâneo.
Esquecer-te talvez seja o mais apropriado,
Lembrar-te será mais uma tortura,
Querer-te torna-se agora errado,
E não te querer longe, uma loucura.
De tudo tentei e nada consegui,
E por nada conseguir vi que por nada lutei,
Em nenhuma etapa deste sentimento venci,
Apenas me magoei, me perdi.
Quero que tudo se esqueça,
Desejo apagar tudo aquilo que na minha memoria ainda está,
Afinal só tenho que te tirar da cabeça,
Impossível de fazê-lo não será.
Possível é dizer-te isto com certeza,
Que um dia este coração e corpo a terra comerá,
Levará nele o teu nome, a minha tristeza,
O amor de alguém que ficou por cá.
Restam partes de ti
Restam marcas gráceis no chão daquele som que outrora era o do teu andar
Resta uma brisa amena daquele cheiro que outrora era o do teu perfume.
Resta um reflexo ténue daquele contemplo que outrora era o teu olhar
Resta uma impotência penosa daquele sentimento que outrora era ciúme.
Resta um arrepio desalentado daquele que outrora era o teu toque
Resta uma saudade espinhosa daquela nostalgia que outrora era a tua presença.
Resta uma pobreza desmesurada daquele tesouro que outrora era a tua posse
Resta uma lágrima insuprível daquela verdade que agora é minha sentença.
Resto-me a mim daquele que outrora era eu, que outrora era teu.
Carlos Félix Rodrigues
Melhor que tu, que eu, que alguém
Melhor que tu, que eu, que alguém
E aqui estou como tu também estás,
De modos diferentes mas ambos existimos.
Claro que agora se lembra o que ficou para trás,
Todos os carinhos ou vezes que discutimos.
Andei que nem um cão perdido,
Aceitando tudo aquilo que me davas ou não,
Até por vezes era esquecido
Sempre a dar-me desculpas, sempre um senão.
Foi pena ter aberto os olhos um pouco tarde,
Não perceber que se calhar entendemos o amor de forma diferente,
Eu nunca cedi sem ser por ti nem fiz de ti cobarde,
Não mudo nem mudarei de atitude para ser aceite simplesmente.
Muita coisa já se passou,
Também muitas coisas boas não o escondo,
Lembrança que na secundaria e verão ficou,
Que com o tempo sofreu um negativo tombo.
Escolheste a tua dor, a tua solidão e tristeza,
Acabou por ser tudo isso meu também.
Não preciso de uma pessoa a fazer o que tu fazes com destreza
Mereço alguém melhor que tu, melhor que ninguém.
Tão simples como ter medo
Tão simples como ter medo p/ Carlos F. R.
Tenho medo de um dia não ver,
De não falar ou de não ouvir,
De não gritar ou sequer escrever,
De não chorar ou simplesmente rir.
Tenho medo de não sentir amor ou dor,
De não me mover ou saltar.
De não sentir frio ou calor,
De não correr, de não andar.
Sim. Talvez tenha medo de isto tudo,
Mas nada posso fazer para isto tudo mudar,
E se mudar será porque os meus medos se tornaram realidade,
E eu? Já não vou cá estar para vos explicar.
Esqueci-me
Ausentei-me. Deixei-me levar pela loucura do dia-a-dia, do tempo que escasseia, de tudo ser feito à pressa, ser mal feito, mal interpretado, mal sentido, mal valorizado...pensar somente. Guardar tudo fechado no pensamento. Gritar pra dentro, ser demente. Chorar de olhos secos, fingir o sofrimento. Esqueci-me. Esqueci-me de como em tinta se transformam sensações, de como no papel se marcam sentimentos e ilusões, de como se materializam saudades em sebentas, de como se exprimem tempestades em tormentas...É simples na realidade, saber a razão de tal fatalidade.
Esqueci-me de escrever. Esqueci-me de mim.
Lembras-me
Lembras-me p/ Carlos F. R.
Estava ela deitada sobre o meu peito e perguntou-me se a lembrava quando estava longe. Eu sorri , beijei-a no rosto e disse:
“Tu lembras-me o sol e o seu calor que me aquece, a luz que me ilumina. Lembras-me a lua que de noite me protege, que enquanto durmo me observa. Lembras-me o mar que da margem vislumbro, tranquilizante o seu temperamento. Lembras-me uma festa, sentimento de alegria, de amizade, um local aprazível e que não se quer deixar. Lembras-me uma carta escrita com cuidado, com carinho, um poema de amor…Lembras-me uma vela que com tão pequena a sua chama, tão fino o seu pavio, tem a força e a luz para iluminar um quarto. Lembro-me de ti, meu sol, minha lua, meu mar…a festa que é a minha vida, a carta que é a tua metade, a vela que é o teu amor, o quarto que é o meu coração”. Depois de absorver as minhas palavras
levantou-se devagar, sorriu e beijou-me. Sou feliz.
Essa fonte, minha lembrança
Essa fonte, minha lembrança
Conheci uma velha fonte cujas lendas remontam à monarquia,
Fica perto de um belo monte
Que se estende até a pequena ria.
Velhos que lá bebem
A agua santa que dali brota,
Em cada balde cheio que erguem
Recordam mais uma derrota.
Numa vida de trabalho
Em que o descanso desconhecem,
Sem que o esforço fosse recompensado
Assim todos os reconhecem.
E já de noite todos se juntam
Numa taberna animada,
Populares bebem e cantam
Esquecendo a vida enublada.
E eu retiro-me...
Em passos lentos pela calçada gasta
Tento esquecer aquela gente que invejo,
Porque para mim nada basta
E eles apenas se contentam com o desejo.
Esse desejo de um dia voltar ao poço
E relembrar os momentos difíceis que lá passaram,
Quando eram crianças ou simples moços
Que lá se banharam e brincaram.
Quero ser como vós simples trabalhador
Soar com um sorriso no rosto,
Ter cales nas mãos e feridas sem dor
Trabalhar desde a manhã até ao sol-posto...
E de noite adormecer junto ao rebanho
Ou numa cave junto ao forno,
Pois vontade disso eu tenho
Ser um simples homem sem dono.
Sem desejos materialistas
Sem eternos sonhos ou ilusões,
Ser um simples realista,
Ser feliz com alguns tostões.
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Aos meus avós.
Teus cabelos
Teus cabelos
Senti o cheiro.
Cheirou-me a Jasmim, a pradaria
Soube-me bem, estava relaxado.
Talvez seja tambem alecrim
Que bom é, inspirar assim deitado.
Oh doce aroma neste campo...
e que textura essa que o acompanha?
Cheia de vida, de encanto
Tão sem inibições, de liberdade estranha.
Não são mais que sonhos, que reflexos dourados,
São eles preciosos, valiosos,
Teus cabelos encaraculados.
Me toma
Me toma
São palavras que me faltam
como as atitudes que não tomo.
São as frases que não escrevo
como a esperança que não tomo.
São versos que não se materializam
como a força que não tomo.
São letras que não se conjugam
como a verdade que não tomo.
São prosas que não se completam
como a sensibilidade que não tomo.
São folhas que não se marcam
como a verdade que não tomo.
São cadernos que não se guardam
como a lembrança que não tomo.
São momentos que não se apagam
como a saudade que não tomo.
São coisas.São minhas.
Sou eu, que já não sou.
Toma.