Poemas, frases e mensagens de rody

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de rody

Sou apenas mais um tentando reescrever a minha história.

Teu Colo

 
Hoje, eu quero colo. Quero recostar-me em teu peito, fechar os olhos, e, sentir que nada disso é só um sonho. Quero me cobrir com o edredom macio, abraçar-te bem forte, fazer-te carinhos, falar bem baixinho, que sem ti não há caminho, não há um mote. Quero ver filme em plena tarde, quero rir de um canto a outro, quero dizer ao mundo inteiro, em alto e claro som, o quanto teu amor me deixa completamente louco. Quero me esquecer de tudo, quero respirar você, mas nunca mais, amor meu, quero te fazer sofrer. E se eu hoje quero e peço teu colo, é porque sei o quanto você é de mim, e, eu só de você.
 
Teu Colo

Carta 1

 
Do topo da macieira, num dia qualquer, num tempo qualquer.

Minha linda,

Escrevo-te agora palavras mudas que não podem chegar aos teus ouvidos. Esquivo-me em meus pensamentos, e, todos eles em um valsar inconstante, memoram-me cada instante de tua presença. Tu que nem ao menos sabes quem eu sou, que ignoras a minha existência, tu não imaginas que são para ti todas essas minhas palavras de agora, palavras de encanto que abandonam o meu peito, para repousar em teu olhar. E eu fiquei assim, à penumbra, a observar-te, roubando-te minutos preciosos para retê-los em meus pensamentos. Talvez tenha sido egoísta, talvez esteja sendo insano e pretensioso ao pensar que serei merecedor de teus olhos por essa minha febril escrita. Mas, o que posso fazer se tu me remetes a loucura? O que posso eu fazer se tu me tomaste a razão para só viver deste amor que sinto por ti? Não sei mais escrever se não for para ti, anjo meu.

Perdoa-me, mas hoje, como em todas as outras tardes desde que a ti conheci, segui-te até a biblioteca. Tu tomaste o mesmo livro, e, percorrestes com estes teus dedos suaves e macios aquelas páginas amarelecidas. Quantas vezes, eu fiquei a olhar-te furtivamente, assim, por cima de um livro! Os teus dedos, os teus olhos, o teu sorriso doce, as tuas mãos derradeiras sobre um bloco de anotações, tudo, absolutamente tudo me é fascinante, essencial a todas as minhas tardes. Fiquei sabendo após uma breve e discreta investigação, que tu estás imbuída de uma pesquisa minuciosa, e, que vens aqui todas as tardes tomar deste mesmo livro as informações necessárias. Tanto assim, que este livro já foi a ti reservado, e, não mais cobiça os interesses de outrem. Só os meus agora.

Aproveito o descanso que por hoje tu ofereceste a esse exemplar, e, tento refazer o delicado movimento de tua mão por aquelas páginas. Toco com as pontas dos meus dedos aquelas palavras, numa tentativa frustra de sentir o carinho que tu depositaste em cada uma delas. O amor que sinto por ti subleva-me o espírito e me faz corajoso de uma ventura arriscada. Deixo-te aqui, por essas tão preciosas páginas, esta carta, na espera que tu possas me reter contigo, das palavras que agora não ouso dizer-te. E se tudo te levares a um mais completo nada, que sejam os teus olhos a minha alvorada, para dizer-te nem sei quantas vezes, que eu amo você.

Voluptuosos carinhos meus,

Do teu,

Secret Passionné
 
Carta 1

Eu, Tu e Neruda

 
Eu podia sentir a tua presença. Os teus passos. O teu perfume, queimando as minhas narinas. Quando estavas ali, perto de mim, eu conseguia perder-me nas palavras, e, nos sentidos. Não via mais nada. Tudo paralisava e eu só conseguia ver a ti. Não importa onde estivéssemos, sempre foi assim.

Feche os olhos. Deixe-me conduzir nesta dança de emoções. Venha comigo. Estou aqui, e, estarei sempre que quiseres. Não percebes? Ignoro os medos, assim como ignoro os dissabores de um dia, toda vez que os meus olhos podem te ver. Ao teu lado sou o mais tenaz cavaleiro, e, a criança mais melindre. Isso não me importa agora. Venha, deixe, siga-me, ama-me.

Quando tu entraste naquele elevador, não foi só a luz que desligou. Eu me desliguei do mundo, consumindo avidamente da tua presença. A razão foi embora. O sentimento, em sua dominante genética, queimava-me. Podia sentir o calor emanado do teu corpo. Por hora, o que eu poderia fazer?...

Tomar-te, torna-te minha! Em um movimento rápido, inconsciente e instintivo, coloquei-a contra a parede. Com o meu corpo intimamente encostado ao teu, absorvia o teu calor, para dele me fomentar. Tua respiração assoprava constantemente a minha face, mas tu não tinhas mais o controle sobre ela. Nem eu sobre a minha. Tu não podias ver meus olhos, mas podia sentir a minha boca. E com a boca, bem próxima a tua, eu comecei a brincar com os teus lábios... “Ama-me, enfim?”... “Nunca deixei de te amar”...

Meus braços envolveram o teu corpo... Minhas mãos percorriam teus braços, com a ponta de meus dedos... Minha cabeça se acolheu ao teu colo, como se colocasse o ouvido em teu peito, para sentir teu coração... Tu levantaste a minha cabeça, me obrigando a abandonar teu colo... queria que eu a contemplasse, a penumbra... Aproximou tua boca da minha... “Feche os olhos...”

Obedeci... Tu me dominavas, e, eu gostava imensamente disso... Aproximou a boca de meu ouvido e disse lentamente, em tom languido... “Não te amo...”

Estremeci. Eu ali, dominado por ti, envolvido pelo sentimento, enfraqueci diante tuas palavras. Quis afastar-me, por fim a tudo aquilo, mas ao mínimo movimento, tu me retiveste. Retornaste ao meu ouvido, e, com o calor quente de tua boca completou o que havia iniciado... “Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio ou flecha de cravos que propagam o fogo: te amo como se amam certas coisas obscuras, secretamente, entre a sombra e a alma...”

Retornei-me a condição de dominado. Passei a mão, delicadamente sobre teus cabelos, como se os tirasse do teu rosto, descobrindo o teu pescoço, e, repousei meus lábios sobre ele... e a cada toque de meus lábios sobre a tua pele macia, eu sentia o tremor fino e doce do teu corpo... “Te amo como a planta que não floresce e leva dentro de si, oculta, a luz daquelas flores, e a teu amor vive escuro em meu corpo o apertado aroma que ascendeu da terra.”...

Tombaste a cabeça, como a suplicar por mais... teus braços envolveram o meu corpo, trazendo-o a um colóquio intimista... Tuas mãos percorreram as minhas costas, e, pude sentir as tuas unhas cravadas, crivando-me, marcando-me como teu... “Te amo sem saber como, nem quando, nem onde, te amo diretamente, sem problemas, sem orgulho: assim te amo porque não sei amar de outra maneira...”

Percorri as minhas mãos pelo teu corpo... fiz carinhos demorados, exaltados, amorosos, reservados... Subi por ele, lentamente, e, ao tocar os teus lábios com a ponta dos dedos, calei-te... senti o completo descompasso de tua respiração. De dominadora, passaste a dominada, e, já não oferecia mais nenhuma resistência... Tuas mãos seguraram a minha cabeça, teus dedos perfuraram os meus cabelos, e, meus lábios, tocando os teus, enfim... “senão assim deste modo em que não sou nem és, tão perto que tua mão sobre o meu peito é minha, tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho...”

... Beijei-te... intensamente, numa mistura homogênea de sentimentos, desejos, loucura, entrega... Tanto, que quando a luz voltou, e, o elevador se pôs a funcionar inadvertidamente, fomos, jogados ao chão, como se voltássemos a Terra, depois de um transe celestial...
 
Eu, Tu e Neruda

Irrelevância

 
Lágrima errante que recobre minhas faces. Molha-me o peito, não alivia a dor em desatino. Força-me a cabeça contra a folha agora. Minha irrelevância é cor que sobre teus olhos se reflete e cora. Chora palavra minha, escorra nesta fâmula mão vertida em sentimento! Expulsa a dor que te enrosca lasciva, alforrie o peito deste insensato tormento! Percorra estas linhas, desfaleça em tua fronte de lacunas amarelecidas. Corteja-me os olhos, beija-me nos lábios, adormeça-me ao teu lado, abandona-me nas saudades jamais dantes sentidas.

Confina-me o silêncio em tua memória. Basta-me destas linhas desmedidas minhas!
 
Irrelevância

Carta 5

 
Do alto da macieira, num instante qualquer, em um tempo qualquer.

Ma Sucrerie Jolie,

As linhas tuas de agora não poderiam trazer-me outro esboço a este meu semblante senão o deste meu sorrir, que sorrateiramente abandona-me a alma, para então cantar voluptuosamente estes teus traços marcados em meus olhos tão sucumbentes de ti. Se a ti sou anjo ou nada, que seja este meu peito a tua sempre morada, o expressar mais firme e doce do que assim te desejo ser.

Entendo-te em todas as tuas arestas, anjo meu, até mesmo em tuas lacunas outrora omissas à realidade que a mim não remetia. Mas, responda-me ma Jolie, como eu poderia não entender a quem eu mais amo em vida? Tua história me é desconhecida factualmente, mas cá em mim, guardo em tuas palavras feições convictas que me permitem reconhecer-me em tuas dores infindas. Não desejo, nem por um momento inequívoco deste meu desmedido amor, impor-te palavras minhas, nem tão pouco julgar as tuas. Peço-te, contudo, que não me afaste os olhos, que não te esmoreças diante as incertezas de um futuro por nós ignorado. Não venho por essas e por nenhuma outra alínea cantar-te o futuro, nem tuas misteriosas cores. Canto-te o que há em mim de mais casto, pleno e inconteste; canto-te o meu amor, e, sobre ele não lanço incertezas, dúvidas ou tristes vaidades de uma vida subumana e infecunda a que muitos se subjugam. Ao contrário, lanço-me nele, com os meus olhos vendados pelas tuas suaves e delicadas mãos, sobre estas tuas linhas que me queimam o peito, fazendo-me e desfazendo-me, continuamente, tantas e outras vezes mais forem preciso para que tu não venhas a esquecer-me em ti.

E se em cada alvorada, eu te recobrir assim de beijos, saibas que serão estes os meus mais secretos desejos, a trazer-te de volta os sorrisos que um dia ousaram abandonar os lábios de minha mais doce amada.

Delicados Carinhos.

Simplesmente teu,

Secret Passionné

Essas cartas são frutos de um ambicioso projeto literário que desenvolvo conjuntamente com uma minha amiga literata Jey. As personagens (Secret Passionné e Jolie) foram criadas para instigar a curiosidade das pessoas, e, permitir com que elas mesmas definam o desfecho da história, mostrando a pura singeleza de um amor vivente nos dias atuais. Não existe uma pessoa a quem escrevo. Escrevo o amor de todas as linhas, a todas as pessoas, pq o amor não faz distinção de raças, sexos, idades. O amor é soberano e o mais universal de todos os sentimentos. Declará-lo é propagá-lo, é se permitir a ele intensamente, nem que seja por um momento apenas. Amar sempre vale a pena. Boa leitura!
 
Carta 5

Esmerilhando o Amor em Paixão e Desejo

 
A tirania do frio não tinha lá o mesmo efeito. A mim, arrepiava-me o corpo, fazendo contrair os músculos involuntariamente. A ti, conduzia a algum lampejo de insanidade, força motriz de tuas mais incrédulas arrebatações. Era noite de mais alto inverno, e, os minutos gastos pela tempestade, que se alvitrava lá fora, escorriam lentamente pelas lâminas orvalhadas das folhas, tão alheias às selvagens investidas do vento. Encontrei-te reverenciando a ventania, tirando-a para dançar, logo às primeiras valsas da noite, numa sonata a mim ignorada, mas, que se fazia agir em teu coração. Teu sorriso aquecia-te, e, teus olhos abrilhantavam as idéias que jamais te abandonaram desde a tenra idade. Tinhas lá a tua viagem marcada, e, nem sei mais o quanto havia ali de encantamento pela gélida noite, e, do quanto do teu bater de asas que se avistava.

Contemplei-te ao cabo de um quarto do relógio, e, tu a mim não notaste. Eu bem que o quis assim. Não me recordava haver-te visto tão leve, nem tão feliz. Quis olhar-te de longe, silente, emudecido, decorando cada movimento do teu compasso, cada gesto esboçado ao vento, que pudesse ser reproduzido com qual exatidão e fidelidade, em um daqueles borrões que eu ousava derramar sobre aquelas telas que nunca te deixei ver. Tu bem que tentaste. E em uma dessas tantas noites, descobri-te com teus pés furtivos, em pisadelas almofadadas, a farejar em meu ateliê, alguns vestígios desses meus regalos. Inútil! Tal ato movido à curiosidade e inquietude, só serviram para ganhar o teu semblante, encandeado pela chama de minha vela, a imortalidade das minhas pinceladas. Um dia, mostro-te todas! Mas, não agora. Agora quero apenas me inebriar desse teu gracioso borboletear.

Mas, quando os ponteiros já estavam quase a se beijar, tu viraste os olhos em minha direção, e, o sorriso que antes te cobria as faces, deu lugar ao enrubescer de tuas maçãs. Quedaste os olhos, não sem antes interrogares os meus, como a imaginar quais palavras estariam por vir, aquelas que minha boca ousaria proferir. Mas, palavras minhas não tiveste. Apenas um leve levantar de sobrancelhas, que logo se fez acompanhar do meu movimento de mão, pedindo-te para entrar. Ao todo, a razão começava a dar o desponte e como os termômetros já haviam zerado há algumas horas, tu achaste melhor não ignorar o meu silente pedido, e, foi ter comigo em ambiente interno.

Foi só quando cá dentro estiveste, que os músculos teus cederam ao frio da noite, e, um tremor de queixos impedia-te de me dar as desculpas a que eu já havia me acostumado a ouvir. Peguei do meu edredom, e, cobri-te o corpo, abraçando-te por alguns instantes que não me foram assim tão delongados quanto os meus desejos suplicavam. Quis abandonar-te por alguns poucos minutos sob argumentações sinceras de jogar ao fogo, mais algumas toras de madeira. Mas, ao ínfimo movimento meu, tu me retiveste. Tua mão estava fria, e, teus lábios purpúreos. Fechaste os olhos, deixaste teu corpo desfalecer em meus braços, fazendo-me tomar-te no colo, conduzindo à lareira.

Fomento da lareira, chamas que se alardeam por completo! Lanço-te um olhar, compadecido de tuas loucuras. Afasto-te os cabelos dos olhos, teus lábios se estremecem quase sem força, numa tentativa esvaída de murmurar alguma palavra. Foi então que peguei daquela garrafa do Porto, arranquei-lhe a rolha, e, alforriei o fâmulo vinho. Mergulhei meus dedos naquele rubro tinto para aproximá-los, assim, molhados, de teus lábios ressequidos, contornando-os em trajetos nada rotulados, algumas vezes, resvalados para o interior da tua boca. Tornei teu corpo ainda mais íntimo ao meu, e, quando dos teus sentidos tu te recobraste, foram os meus que por completo se perderam de mim.

Tu me olhaste ainda tendo dos meus braços, o teu leito. Sorriste de me queimar as pupilas. Retiraste a mão que tinhas acolhida sob o edredom, e, tocaste meu rosto. Nunca a ti havia revelado, nem por um olhar furtivamente lançado, o que só o meu peito conhecia. Mas, ali, diante de tua tão entregue insensatez, quis tomar de todas as palavras, dizendo-te ao menos desta vez, o quão amor ali eu tinha. Foi, então, a minha vez de fechar os olhos, e, de me deixar consumir pelas minhas chamas. Tomei da taça, provei do vinho, quando eu mais pensava tomar de tua boca. Era-me impossível abandonar tais pensamentos. E quando fui me valer de mais um gole, tuas mãos me impediram de dar fim ao feito, fazendo-me pensar que do teu jeito, tu o querias só para ti.

Mas, de teu lânguido estado, tu arrebadatoramente levantaste, e, foi tomando de meus braços, envolvendo-me como teu. Tomaste de minhas mãos a taça de outrora, e, a elevaste à altura dos olhos. Os clarões vindos da lareira relfetiam sobre aquele vidro esmerilhado, para só então, revelar-me os delicados traços de teu rosto. Aproximaste a taça dos lábios, e, ao fazer o leve movimento, como quem toma do impuro cálice sagrado, derramaste por todo o colo o líquido ali confinado. O que me fizera o contato de tua pele levemente febril ao receber o derrame doce do vinho, não ouso revelar. Levantaste o olhar a mim, e, laçando-me pelos cabelos arrasta-me ao teu colo. Respirei do calor de tua pele desnudada, alva e delicada, suave e macia, por mim tanto desejada. E como não mais controlar a razão, bebi de todo vinho sobre o talhe de teu corpo.

Tomo do vinho derramado, ascendendo-me do colo ao pescoço. E bem próximo às intensas labaredas de teus lábios, nossas bocas se fundem num só beijo. Fagulhando-nos o peito deste jeito, não importa que haja uma tempestade lá fora, se cá dentro houver um braseiro amor vitimando-nos de paixão e desejo.

"A felicidade vai subir no teu céu."
 
Esmerilhando o Amor em Paixão e Desejo

Carta 14

 
Aos pés do nosso Jacarandá, neste minuto sofrível, de um tempo em que não posso te ter.

Ma Jolie,

Dias terríveis vivi, pensando imensuráveis vezes que tu não mais me querias, que me odiavas até, que não acreditavas em meu amor declamado às penas desta minha delirante paixão. Mas, ao ler estas linhas, linhas tão tuas, meu coração transborda a alegria, e, as lágrimas de outrora retornam com força a este leito já tão conhecido de minhas faces. Não, meu amor. Não choro tristezas. Elas abandonaram o claustro exílio dessas minhas aurículas, para se arrefecerem das impiedosas chamas deste amor que é só teu. Não, amor meu, meus olhos se orvalham das lágrimas agora, lágrimas do peito, lágrimas do alívio, lágrimas de saudades. Saudades de ti.

Mas, agora cá deixo Narciso de lado, para voltar-me a ti. O que tu tens, ma Jolie? Quem ousou prender a ti, aos laços insanos desses males do corpo? Tu dizes ser acometida por esta maldita pneumonia, e, requeres ao nosso amor da cura definitiva. Quero, então, contar-te um furtivo segredo. Revelo-te agora com estes lábios molhados, que só tu tens do meu amor de que tanto precisas. Por que razão outra, então, haveria eu de existir? Não te peço, agora, nenhuma resposta. Recolha em meu peito todas as palavras que teimam escorregar pela tua boca, para te revelares diante de mim.

Pudera eu calar-te agora, tomar-te em meus braços, fazer quedar cada grau de tua febril temperatura, mesmo que a ti pareça loucura, ser possível um simples toque roubar todas as mais profundas profusões do corpo. Pudera eu segurar-te nas mãos, que trêmulas, minhas e tuas, definiriam, num simples dueto, todos os delicados acordes da mais linda ode dessas nossas desejosas bocas. Pudera eu olhar-te nos olhos, ma Jolie, mais uma vez, por um segundo que fosse, enquanto meus lábios, sucumbentes aos teus, deleitassem os versos que moram em meu peito, arrancando-te fora, as dores de outrora, fazendo-te minha, como nos mais secretos sonhos meus.

Olho este Jacarandá agora, e, sinto o carinho que tu tens a ele. Percorro-lhe com meus dedos, teus amiúdes detalhes, fecho os meus olhos, e, sinto todo o carinho que tu depositas nesta soberana forma de vida, tão arraigada a terra, personificação máxima da existência de um Deus. A chuva acompanha, silenciosamente, todas as fases desta minha corte, testemunha natural deste meu íntimo colóquio, lava-me, agora, o rosto das tristezas de outrora que prefiguraram aqui em meu peito algum dia. Tão importante é a ti, este nosso Jacarandá, meu amor! Devo a ele também reverenciar? Deixo-te aqui dentro, nesta fenda oportuna, minhas palavras de agora, de um tempo qualquer, para que tu possas, em horários alternados, saber que te amo, como minha mulher.

George Sand disse um dia, que “A recordação é o perfume da alma. É a parte mais delicada e suave do coração, que se desprende para abraçar outro coração e segui-lo por toda a parte”. E são a essas palavras que, agora, recorro para te fazer entender do perfume que embriaga estas linhas, esculpidas às chamas desta minha paixão, para te dizer que és minha, e, que sem ti, eu perco todo o meu chão.

Que de mim, tu nunca te esqueças!

Para sempre estarei amando você.

Beijos do teu,

Secret Passionné.
 
Carta 14

Carta 23

 
Do canto escuro do meu quarto de leitura, com a alma sofrida e o coração partido, por não ter a ti comigo,

Jolie,

Eu não sei como essas linhas minhas de agora chegarão ao teu peito quando as leres. Estas, Ma Jolie de sempre, serão as últimas linhas minhas dirigidas a ti. Não te penses antecipadamente, que essas minhas derradeiras alíneas de agora, se devem a algum desaponto ou desagrado de nosso encontro. Encontrar-me contigo, assim, como o teu Secret Passionné, foi um dos momentos que guardarei comigo como sendo um dos mais importantes e significantes de toda minha vida. Só não te digo ter sido este o mais importante, pois outros momentos contigo me foram igualmente significantes e dignos de menção e lembrança por mim.

Fico cá a imaginar a inquietude dos teus olhos perpassados a desespero e não mais a entrega, por essas minhas palavras de agora, e, confesso a ti, com o mais intenso e casto clamor que há em meu peito, que escrevo cada palavra a gosto de fel, e, a lágrimas de sangue. Não desejaria nunca traçar-te tais vocábulos; eu derramaria sobre as nuvens, os mais lindos e angelicais acordes que pudessem agora, acalmar-te em tuas lágrimas compassivas. Não penses, nem por um só segundo, que eu não te amo. Não duvides do meu amor por ti. Não te sintas também enganada, nem tão pouco usada, pois aqui, neste mundo, só nosso, não há espaços para tais dolências mundanas, desumanas. Mas, nas imperfeições dos áridos terrenos deste mundo subversivo, uma singela e arraigada flor da terra despojou os mais sublimes sentimentos que poderiam fazer surgir em nossos corações. Jolie, eu a amo. Amo-a loucamente, amo-a com a insanidade do poeta a se descobrir diante os primeiros versos que compõem um soneto. Amo-te tanto, que nunca me dei conta do que tudo isso fazia em mim. Não me dei, até sentir-te inteiramente minha, entregue aos meus braços, a estremecer sob cada sussurro que fiz vibrar aos teus ouvidos.

“Da segunda, serei a lettre a ser jogada ao vento pela tua boca, nessas tardes de minhas mais infindas emoções.” Esta foi a primeira pista que lhe dei, ma Jolie, na tentativa imensurada de te fazer descobrir a torpe verdade que existe sobre mim, e, te afastares em definitivo, quando eu já não mais podia fazer. Mas, confesso que ainda era muito primitivo, apenas uma letra, e, com isso muito pouco para te fazer suspeitar de minhas reais e inseguras intenções. Não vistes na fragilidade da letra “V”, o desenrolar fatal que havíamos de ter em nossos corações.

“Da oitava, seremos juntos as palavras e as letras, contadas nesse idílio meu.” Veio então com imenso pesar a segunda pista, que deveria abrir os teus olhos para o perigo a que corríamos. Minha mão febril descompassada esboçou incontáveis vezes esta singela sentença. Que não fosse ela a sentença definitiva ao nosso amor, assim, subjugado a incredulidade humana e ao anti-ético olhar da sociedade. O mártir de meus sentimentos mais pueris estava na tua sapiência da existência de uma letra “I”. E já com isso, tu tinhas lá em tua frondosa mente, uma sílaba que poderia fazer-me a máscara cair.

“Dimunindo la raison da humanidade, ficam em teus lábios a mais sucrerie saudade, da certeza deste amor meu.” E assim, dei por encerrada todas as pistas que um dia imaginei fornecer aos teus lindos olhos perolados. Imaginei ser esta a derradeira pista que a fizesse conduzir a quem eu realmente sou. Sim, ma Jolie, tu me conheces. Tu me conheces não de agora, dessas linhas. Mas, de outras, que tu me traças freqüentemente sem ao menos suspeitar que chegam aos meus olhos. Aos olhos do teu Secret Passionné. A derradeira letra, um “C”, que fez custoso de escrever. Ali, tive, então, a certeza de que nossos destinos haviam sido traçados. E não tinham sido as minhas mãos a traçá-los. Nem tão pouco as tuas.

Tu caíste doente, e, eu padeci contigo cada dia de tua ausência. Tuas cartas, com tuas escritas lânguidas, consumidas pela febre e fragilidade do corpo foram um bálsamo ao meu coração desgarrado do teu às brutas intempestividades. Não desejei nem por um só segundo, que te sentisses sozinha, abandonada de mim. Por isso, deixei-te não só o meu perfume, como também meu precioso camafeu. Espero que tu ainda o tenhas. Eu ainda guardo aqui as lembranças daquele dia. Dei-te algo meu. Algo que tem em mim intensa simbologia. Não é nada de grande apreço, ou, de valor aos olhos de outrem. Mas, eu sabia, tinha cá a mais indefinível certeza, de que a ti faria bem ter-me por perto. Mais do que meu exalo. Meu camafeu.

Então, veio o nosso encontro. E com ele toda a magia e entrega por nós esperadas. Fui teu assim como tu foste minha. Naquele tempo a nós pertencente, não me acordei dos problemas de outrora, dos mártires da vida que me faziam tão longe de ti, por razões tão fúteis ao meu coração. Necessitava sentir-me teu, necessitava entregar-me a ti, por inteiro, por completo, e, não somente por linhas traçadas e entregues a refugo. E assim me foi. Assim, senti-me completo. Pela primeira vez em toda a minha vida.

Então, eis que recebo aquele maldito telegrama. Estava eu em minha sala quando te vi passar de longe, vaporosa e alegre como a borboleta em plena primavera. Sorri-me de expor os molares, e, nem mais me lembrava que aquele frio papel estava em minhas mãos. Tu já ias para sala, mas estavas diferente. Eu ao menos te sentia assim. Não era mais a Jolie triste e cabisbaixa das outras aulas. Tu estavas ali, e, teus olhos, teu jeito, teu corpo desmitificavam toda a falta de vida que muitos pensavam não existir ali. Tu estavas ainda mais bela do que nunca. Estava linda. Estava simplesmente Jolie.

Acabei-me esquecendo do maldito telegrama. Guardei-o no livro de Sartre, e, fui mais uma vez ter contigo. Mas, agora eu já não mais era Secret Passionné. Ou, pelo menos, não poderia ser. Eu era apenas Pierre, como todos me conheciam. Victorio Pierre, teu professor de Literatura. Mal dos ensinos tradicionais. Afastam os alunos dos seus mestres, fazendo com que aqueles os chamem pelo sobrenome e nunca pelo nome de batismo. Muito não me espantou que tu não entendesses as pistas que deixei a ti. Afinal, as pistas levavam a “VIC”, de “Victorio” e não havia nada de Pierre ali. Interroguei-te com os olhos a aula inteira, e, tu alheia a quaisquer de minhas incertas indagações, continuou a suspirar pelos versos que te fiz ler em voz alta. Os mais lindos versos que já ouvi em toda a minha vida.

A aula terminara e tu já te recolheste à biblioteca. Tinhas de terminar o trabalho. Era o que lhe garantiria o título máximo de conclusão de curso. Eu não pude acompanhá-la nisso, mas sei que ficaste, desta vez, pouco tempo na biblioteca. Talvez, somente o tempo necessário, para te certificares de que nada havia meu naquele nosso livro secreto. Eu passei a tarde inteira numa daquelas intermináveis e inúteis reuniões de coordenadores de áreas. E lá pelas 17 horas, minha cabeça doía tanto, que o mínimo ruflar do virar de uma página, incomodava-me inteiramente. Dei-me por mim, enfim, no carro, dirigindo em direção a minha casa, onde eu pudesse ter um pouco de paz e muitas lembranças de ti.

Tomei um banho e me recolhi ao quarto. Peguei do livro de Sartre instintivamente, apenas para ter ainda mais motivos para me lembrar de ti. Foi então que aquele telegrama caiu ao chão. Eu já não me recordava dele. Tanto tinha ocorrido que eu, um homem de 34 anos não tinha parado um só segundo para me recordar daquele telegrama. Abri aquela mensagem, e, brevemente empalideci.

Deixei meu corpo cair sobre a cama. Por instantes delongados, retive aquela folha de papel em minhas mãos, e, a levei incontáveis vezes aos olhos, para me certificar de que de fato havia lido corretamente. Sim, estava tudo claro. Categórico. Não havia nada a ser esclarecido, nenhum erro. Tudo estava ali, escrito em palavras firmes e sucintas. E eu já nem podia fazer nada por hora. Nada.

Há algum tempo o reitor de nossa universidade havia me selecionado entre os diversos mestres para representar a nossa universidade numa instituição equiparada na França. Na ocasião, questionou-me por diversas vezes se era de fato do meu interesse, pois haveria grandes chances de eu ter o meu doutorado lá, além de uma bolsa de incentivos a que eu poderia receber. O fato de eu ser o único professor solteiro e com total desprendimento familiar, levou o meu nome ao topo da lista. O restante se deu pelas minhas próprias habilidades. Fui inquirido por incontáveis vezes ainda este ano, a ratificar a minha inteira aprovação quanto a minha ida, que deveria ser feita no cabo de 6 meses, para ficar em terras francesas por um período de quatro anos. Tu ainda não tinhas aparecido em minhas aulas, não era minha aluna, e, creio que o teu nome foi um dos últimos a serem, por fim, agregados a lista de meus alunos. Não havia razões para eu ficar. Até tu apareceres e me dominares por completo.

Antes de escrever-te essas minhas linhas de agora, tentei demover o reitor da idéia de mandar-me a França. Mas, já nada poderia ser feito. O meu nome já havia sido aprovado em todas as instâncias, e, eles não poderiam surgir com um novo nome a tempo. Sim, a tempo. Isso porque a minha partida está confirmada para amanhã, bem cedo. Nem mesmo terei tempo de ir a Universidade. Por isso, deixo-te essa carta, a mais dolorosa de todas embaixo de tua porta. O reitor me deu créditos que iria tentar uma substituição, um novo nome, ao cabo de 2 anos. Meu amor será eternamente teu. Mas, não tens de ficar presa a mim.

Saibas que tu foste o que de melhor aconteceu em minha vida. E que levo comigo o teu amor, que ficará aqui, eternamente registrado por essas minhas e tão nossas escritas.

Eu te amo muito, Jolie.

Do teu eterno Secret Passionné,

Victorio Pierre.
 
Carta 23

Camiseta Molhada

 
Acordei no meio da noite com a camiseta molhada, grudada ao corpo. Levantei e passei os olhos no relógio do lado da cama. Cedo demais, para ir ter contigo. Os ponteiros há pouco haviam zerado. Tu estarias dormindo. Sentei à cama, tirei a camisa. Senti o vento beijar as minhas costas, fechei os olhos, e, estremeci. Parecia que podia sentir teus lábios se embebendo de minha pele, ali, tão molhada, tão macia ao toque de tua boca. Passei a mão pelas costas, cravei as unhas a alguma altura, e, arranhei-me, imaginando ser tua mão a me marcar como teu.

E tu ainda te rias quando eu te confessei ao pé do ouvido, que estavas me transformando em um viciado. Era pouco mais da meia noite, e, já não fazia tanto tempo que tu havias seguido ao teu apartamento, e, eu aqui, retendo os pensamentos que me memoram a ti. Estarias tu realmente adormecida, naquele momento? Pensarias em mim, caso estivesse tão insone, como eu? Desejarias tomar-me como teu, como eu assim desejo sentir o fomento de teus beijos? Como os anjos dormem?

Levantei da cama, dei alguns passos. Passei a mão no telefone, disquei teus primeiros dígitos. “Não! Tu ainda dormes, e, eu deveria estar fazendo o mesmo!” Mas, o que fazer quando me tomas os pensamentos, e, dominas assim todos os meus desejos? Não, não posso comigo, não agüento tão delongada espera! Preciso de um alento, ainda que egoísta, preciso de um cálice de tua voz em meus ouvidos, um aporte em teus carinhos, preciso sentir teu amor em mim.

O que me importa como me julguem? Apenas dos teus lábios recebo a sentença sem recorrer. Abri as portas do guarda-roupas, peguei da primeira calça que vi pendurada, uma calça jeans surrada, e, uma camiseta branca. Entreguei-me a um banho, borrifei perfume por todo o corpo. Vesti-me da calça, calcei um tênis um tanto apertado, passei a camiseta pelo ombro, e, fui em busca das chaves do carro. Olhei pela janela da sala, os relâmpagos se misturavam a chuva. As gotas que caíam dos meus cabelos molhados escorregavam-se pelo meu rosto, ao lado, indo de encontro ao meu peito. Quando coloquei a chave na porta, com a intenção de abri-la, tu me surpreendes de ato, descerrando a porta primeiro, para, depois, cerrá-la mais uma vez.

Minha surpresa não foi por ti ignorada. Tu trazias os cabelos molhados, mas, as gotas caíam sobre a tua blusa quase que translúcida àquela altura de minha inconveniente sobriedade. Eu olhava fixamente os teus olhos, mas os teus se prendiam somente de minha boca. Quando minha língua se adornou dos lábios, percorrendo-os lentamente, tu me tomas em um só beijo, fazendo-me cair chaves e pudores ao chão. Tu me empurras o peito com força, joga-me no sofá da sala. Derramas-te sobre mim o teu corpo, beijas-me inteiro, mordes-me, confessas-me teus desejos. Chamas-me ao ouvido pelo nome, consomes-te de meus carinhos, sussurras a ode de nosso incontrolável amor.

Desces as mãos pelo meu peito. Arranhas-me de leve, com as tuas unhas. Beijas-me a boca, sente meu cheiro atrás do ouvido ao meu pescoço. Confessa-me enfim, o quanto eu te deixo louca. Com os lábios aterrados aos pés de meu ouvido, tu continuas dizendo que queres ficar só comigo, enquanto tuas mãos desabotoam toda a minha roupa.

E quando eu te tomo nos braços, segurando-te pelo rosto, afastando-te os cabelos, o relógio do quarto dispara, anunciando mais uma alvorada, despertando-me do sonho que me consumiu por toda a madrugada, e, que me fez acordar com a minha camiseta molhada.
 
Camiseta Molhada

Carta 35

 
Da janela de um quarto de tormentos, de um coração que não esquece a quem pertence.

Jolie,

Não posso ocultar em palavras lapidadas, o que teus olhos não podem presenciar. Estreito-me na narrativa dos fatos, pois não desejo privar-te do que aqui acontece, me acomete, e, me faz padecer de ainda mais saudades de ti. Conto-te agora sobre Marie. Ainda hoje, pela manhã, estive com ela na Universidade, e, percebi em seus lábios pálidos, outrora tão vívidos e adornados, algum sofrimento oculto, a que meus olhos não permitiram escapar. Questionei-a sobre algum mal estar passageiro, mas, com o sorriso fugaz e amortalhado, negou-me cada uma de minhas incipientes impressões. Tão logo deu dois passos, deixou o corpo pender em direção ao gramado, e, êxito total ela teria, se eu não estivesse tão próximo a ponto de acolher seu frágil corpo em meus braços, obrigando-a a sentar sob aqueles arvoredos, refrescando-lhe as faces levemente enrubescidas com o tanger de meu corpo junto ao seu. Interroguei-a agora junto aos olhos, qual o mal que lhe afligia, e, ela confessou de suas febres e de todo o entregue do corpo a que vinha sofrendo nos últimos dias. Tentou mostrar-se forte, inerente ao que acontecia a ela, e, quando de pé se fez mais uma vez, vertiginosamente o corpo resolveu dar-lhe o último aviso, de que não mais perdoaria tais atitudes intempestivas. Não tendo a quem recorresse, pediu-me que a acompanhasse até sua casa. Concordei, e, assim partimos.

Levou-me ao seu quarto, queixava-se de tonturas. O lânguido estado de seu corpo, me fez temer por sua saúde. Sua mão quente tremulava arritmada pelos calafrios que lhe subiam pela espinha. Fez com que eu a pusesse na cama. A febre lhe queimava os olhos, e, aos brancos se atearam fogo, ao passo que me retinha a mão presa a dela. O delírio não tardou. Olhou-me sem que eu nada entendesse, sorriu-se de minhas fragilidades. As cores que a febre lhe pintavam enalteciam os delicados e jovens traços de Marie. Levou a minha mão a sua boca, desposando um beijo, esvaindo-se em suas últimas forças. Desfalecera. Atordoado, tratei de umedecer uma tolha e colocar acostada a sua testa. A febre a vitimava. Aproximei-me para sentir que ainda a tinha, temeroso de que mal maior pudesse tê-la acometido. Sua respiração fresca banhou-me as faces, e, quando abrindo os olhos sorriu-me novamente, senti o abismo devorando-me a razão.

Afastei-me de seu leito. Tratei de chamar um médico, ou, qualquer outro a quem pudesse recorrer algum sábio juízo. Abri as janelas, permiti que o ar gelado da noite arrefecesse toda alcova. Tão logo anunciada à campainha da chegada do médico, esquivei-me dali. Meti-me por becos escuros, ruas entrelaçadas e desconhecidas, aportei-me aos pés de uma velha taberna do lado norte. O lugar era úmido e cheirava a ratos, mas aquilo não me saltou aos olhos, nem tão pouco às narinas. Sentei-me ao fundo, próximo a um palco improvisado, onde um senhor de longas suíças dedilhava algo musicado, que a primeiro momento pareceu-me Ronsard, mas que ao cabo de alguns goles de vinho apropriou-se mais a Baudelaire. Agarrei-me a ti, fiquei a recordar de tuas últimas linhas. Uma estranha sensação, que não denomino em nada, acompanhou-me por toda a madrugada, crispando-me a garganta, flamejando-me os dedos, até que, por fim, abandonei sensação, bar, vinho e poesia, e, fui ter contigo através dessas minhas linhas, ponderação máxima do meu amor único e indevassável por ti.

Arranco de meu coração os mais sinceros sentimentos que tenho, e, por ti já não mais duvido viver tudo isso que sinto em meu peito. Todo amor que nasceu em mim, só tem sentido se for para ser e sobreviver unicamente de e em ti.

Beijo de quem te ama sem arrependimentos,

Victorio Pierre.
 
Carta 35

O começo e o Fim

 
Já estou tão a ti incorporado, que não sei mais onde termino, e, onde tu começas em mim...
 
O começo e o Fim

Carta 3

 
Do alto da macieira, num instante qualquer, de um tempo qualquer.

Ma Jolie,

que futur nous aurons autrement celui-ci révélé par les mots d'un poète lequel il aime intensement ?

Espreito-te com meus olhos viventes, e, a tua presença me é constante a que não ouso fugir. Recebo com imenso apreço as tuas linhas, finos e delicados esboços de tua alma. Reparo-te os olhos amiúde, e, venho cá de muito tempo esta minha percepção arisca de um sofrimento irreparável a alma. Mas, tu te enxergas em teus olhos, minha Jolie? Tu consegues ver a vivacidade reprimida, a espera que possa intensamente se rebelar contra o que tu pões hoje como máximas contextualizações? Não te esquives de ti, de olhar-te nos olhos, reflexos densos e verídicos daquilo que tu verdadeiramente és, e, não do que tu te tornaste, às forças das leis insanas dos homens. Tuas cores vão além destas tuas olheiras, destes teus olhos cansados; tuas cores, quero vivê-las, senão de perto, como é contento de meu coração, ao menos de longe, por essas minhas esguias linhas escritas proibitivamente destinadas a ti, a quem amo verdadeiramente.

Não, não te penses que do amor só o sofrimento impera. Não te penses que o coração de um homem é infértil terreno aos mais puros sentimentos. Não te entregues às sombras que pintaram em tua face. Se minhas linhas trazem a ti algum contentamento, revivo-as a cada instante, pois motivos não há para que elas se cessem. Agora que pude encontrar teus olhos, não desejo que eles se desprendam de mim, nem a tua forçosa sorte. Escrevo-te com fúria, com a intensidade que domina a mão de um poeta a ser surpreendido pelos primeiros frescores do amor renascente. E aqui, não há erratas a serem feitas. Do amor resgatam-se todas as palavras, para te fazer entender que ainda assim, eu amo você.

Jean Paul Sartre é um sábio provedor da verdade. Mas, as únicas verdades que a mim interessam são as que saem do teu peito, dos teus lábios, recobrindo de vida, esta casta folha de papel. Tu não podes me ver, não sei se a mim verás um dia, mas eu cá estarei todas as vezes a te acompanhar, ainda que à penumbra, à distância, ainda que com os olhos vendados para o meu amor, sentirás as minhas mãos sobre as tuas, guiando-te incansavelmente. Minha vida agora ganha um sentido inigualável, e, não permitirei, nem por um frustro segundo, que as chamas do meu amor se apaguem pelas lágrimas de tuas tristezas.

E a cada lágrima derramada por ti, um verso meu para te fazer sorrir.

Singelos Beijos.

Do teu,

Secret Passionné
 
Carta 3

Carta 7

 
Do alto da macieira, no instante em que te vi para nunca mais te esquecer.

Ma Plus Aimmée Jolie,

Corri a biblioteca esta tarde, e, muito fiquei a lamentar não poder te ver por hoje. Sinto saudades de ti, minha doce Jolie. Atirei palavras de desapreço a todos os infortúnios a mim acometidos esta tarde, e, que me puseram, por alguns instantes, afastado de ti. Mas, os instantes mundanos, tão insanos, já não mais habitam o meu peito neste momento. Eles se dissiparam com a mesma intensidade que tuas palavras tocam o meu coração agora. E os meus olhos já não trazem mais o transluzir da desesperança, apenas agora se vestem das cores dignas e feitas a este amor, assim tão entregue em tuas mãos, destinado a ser inteiramente teu.

Sinto paixão em tuas palavras. Sinto o queimar de cada uma delas em mim. Não é certo dizer-te agora, minha mais amada Jolie, que estas tuas palavras são a mim reflexos de minha alma nessas noites infindas de saudade, quando eu não tenho a ti? Cuido-te, anjo meu. Cuido-te como quem guarda a um segredo. Retenho-te em meu peito, para desfazer cada laço de tristeza, para desatar cada argola dessas correntes a que outrora te reportaste, e, que não fulguram na essência destes carinhos meus. Não ouso prender-te a mim, minha Jolie. Não há escravatura no amor, e, os que assim pensam e seguem, regorjizam nas tristes sarjetas da vida por eles escolhida. Amo-te tanto, que mesmo se deleitasse as mais doces e intensas palavras aos pés de teus ouvidos agora, ainda assim, não saberia dizer-te o quanto tu és importante a mim.

Sentes meu carinho, ma Jolie? Se assim não te fores o bastante, desejo-me ser sol, chuva, delírio errante, para fazer-te entender por essas coisas loucas, que são os beijos desta tua boca que ouso pedir-te por um só instante.

Sorrisos meus.

Do teu, unicamente teu,

Secret Passionné

P.S.: “Da segunda, serei a lettre a ser jogada ao vento pela tua boca, nessas tardes de minhas mais infindas emoções.”

Essas cartas são frutos de um ambicioso projeto literário que desenvolvo conjuntamente com uma minha amiga literata Jey. As personagens (Secret Passionné e Jolie) foram criadas para instigar a curiosidade das pessoas, e, permitir com que elas mesmas definam o desfecho da história, mostrando a pura singeleza de um amor vivente nos dias atuais. Não existe uma pessoa a quem escrevo. Escrevo o amor de todas as linhas, a todas as pessoas, pq o amor não faz distinção de raças, sexos, idades. O amor é soberano e o mais universal de todos os sentimentos. Declará-lo é propagá-lo, é se permitir a ele intensamente, nem que seja por um momento apenas. Amar sempre vale a pena. Boa leitura!
 
Carta 7

Carta 22: Rencontre aux foncées

 
Na biblioteca, onde o amor se fez em toda a sua plenitude.

Faz algum tempo que cá estou às escuras, ma Jolie, ouvindo amiúde cada passo que ressoa da porta principal, desejando que o próximo ruflar seja o dos teus pés. Confesso a ti o quão esperei por esse momento, a semana foi deveras delongada, e, eu já não podia conter em meu peito a vontade que eu tinha de estar aqui. Percorri-a, esta biblioteca, incontáveis vezes, tentando refazer os teus possíveis passos em meio à escuridão, guiados a luz das velas e pelos acordes de nosso amor.

Dedilhei cada exemplar da estante que enamora os meus mais infindos desejos, como se estivesse tocando-te os lábios, guardando-me em carinhos que seriam, por fim, revelados a ti, ainda que por este instante, tu não me possas ver. A vida é cheia de incoerências, mas ainda que sobre um mosaico indefinível, esta noite eu serei teu e tu serás minha, e, esta será a certeza mais segura que terei em toda a minha vida.

[...]

Estou à porta, inquieta, ma Secret Passionné, tendo a lua como testemunha do quanto espero por este momento. Diversas vezes, recolho a mão à fechadura e sinto que estão frias, porém, meu peito arde em chamas, renovando o desejo de ver-te, dando-me forças para romper esta minha falta de coragem. E assim, ao abrir a porta, sigo o caminho iluminado a velas, e, desde já, o aroma das cartas inebria-me. É o teu perfume. Tira-me a paz e faz-me inteira de suspiros delongados. Estou aqui, perante toda essa mágica sensação de ser rondada por ti, espreitando-me e cuidando meus passos ao teu encontro. [...]

A chama das velas que encandeiam esse lugar revela-me, ainda que sobre à penumbra, os harmônicos e poéticos contornos de teu corpo. Meu coração se apressa a um ritmo descompassado, meus lábios memoram a secura adolescente, minha respiração absorve-te por inteiro, ao passo que tu te aproximas de mim.

Tu ganhas o corredor de Quintana. Percebo a inquietude de tua alma, de teus passos faceiros. As cores do amor vestem a ti de forma única, inigualável, encantando os meus olhos, como se estivessem a brincar de gracejar com a ponta de teus cabelos sobre os meus lábios. Sorrio. Tu te sentas na cadeira disposta como eu lho disse que o faria. Ali, no meio do corredor, teu corpo repousa sobre a prometida cadeira. Coloca-te a mão sobre o teu colo e se dispõe a pacientemente a me esperar. Eu não tardo. Meu perfume torna-te ciente de que cá estou, atrás de ti. Mas, ainda me é pouco. Necessito aspirar um tanto de ti. Aproximo os meus lábios de teus ouvidos. Percebo, mesmo sem tocar, o tremor que percorre o teu corpo. Fecho os olhos, e, rogo-te, em sussurros e suspiros, que me acompanhe neste meu feito: “Fermez Le Yeux, Ma Jolie”.

[...]

Dividimos a mesma respiração, ofegante, contida, desejosa... Sinto um leve tecido que toca meu rosto e que tu tão delicadamente usas em mim como uma venda. Nesse instante, percorre em mim um arrepio que faz meu coração que já bate desconforme, acelerar-se num ritmo ainda mais frenético. O perfume que vem de ti, envolve-me em um fascínio que traz-me de volta a inquietude dos dias de infância.

Ouço agora, tua voz sussurrada, macia e envolvente, queimando-me como brasa infinita. Cada arrepio que percorre meu corpo fervilha-me sangue e deixa-me entregue totalmente há este instante só nosso. Tua voz rouba-me toda a razão, ouço em êxtase dizeres baixinho: Má sucré Jolie...Má sucré Jolie... Sinto agora tua mão na minha, segurando forte, fico de pé, frente a frente contigo, sinto o calor que emana de teu corpo e a perfumada essência de tua alma.

Sinto o toque dos teus dedos em meus lábios, pedindo que eu me aquiete. Tua mão suave no meu ombro segura-me e traz-me junto ao teu peito, encostada em ti, para juntos dividimos a mesma sensação delirante, intensa e única. Abraça-me como se fôssemos um só. Faz-me agora percorrer as linhas do teu rosto, identificando teu sorriso, tua graça e teu encanto. Estamos nós aqui, em cândidos suspiros, transbordados do desejo de um beijo. Sinto-o ainda mais próximo.
[...]

Estou diante de ti. Posso tocar-te com as pontas de meus dedos rudes, e, sinto o calor de tuas mãos. Tua respiração assopra-me os temores de outrora, e, me remete ainda mais a esta cadeia única que nos prende, que nos faz tão um do outro, como se nada mais importasse em todo mundo. Faço-te sentir-me de perto, ter-me contigo ainda que sob a escuridão imposta, tocar-me o rosto, a resvalar-me os dedos pelos meus lábios. Um sorriso colore a tua face, e, ilumina-me na escuridão. Teus lábios torneados, intrigantes, tão delicados hipnotizam-me por completo. Já não posso mais em meus mais íntimos sentidos do corpo, nem dos da mente.

Sinto o calor que eclode de tua boca e o frescor de teu hálito, embebendo-me numa áurea de loucuras, paixão e desejo. Desprendo-me da tua mão, e, coloco-me a fazer-te carinhos suaves e delicados sobre todo o teu semblante. Tu escondes os teus perolados olhos, em tuas preciosas pálpebras, como quem guarda o mais valioso tesouro de toda uma vida. Aproximo meu rosto do teu, continuo o trajeto de meus dedos sobre o teu angelical rosto.

Sinto o enrubescer de tuas faces, e, o descompasso de nossas respirações. O desejo e a loucura eram indissociáveis. A razão abandonara, por completo, a nós dois. Meus lábios se aproximam ainda mais dos teus, a percorrê-los sem qualquer sombra de pressa. O tempo escorre a nosso favor, e, as preces que chegam ao meu coração me fazem ter a certeza de que de tua boca quero provar. Beijo-te, delicadamente. Um tanto temeroso de que tu possas, em algum instante, rejeitar-me.

Mas, ao corresponder de nossas bocas, que se entregam sem pudor ou malícia, percebo que o medo fora de todo extinto, e, que era o nosso amor quem comandava naquele momento. E por aquele momento, eu desejei aos céus, com toda a fé que eu tinha em meu peito, que este beijo jamais se findasse.

[...]

Somos agora, somente nós. Não há outro sentimento mais doce, nem outra sensação tão perfeita quanto essa. Amo-te secret passionné, pois tu me fazes adormecer nas flores, leva-me aos caminhos do céu. Beijar-te é como contemplar toda a face do encantamento. A doçura do teu beijo aliada ao calor eminente de teu corpo, faz-me viajar por desconhecidos mundos.

Fecho os olhos e sinto toda a minha alma esvair-se por entre volúpias avassaladoras, desejos contidos, respiração ofegante e o estremecer de um corpo totalmente entregue. E em tuas mãos, sou criatura amada e desejada. Condiciono-me ao delírio desse nosso beijo, tão carregado de um fulgor incendido. Somos agora, os versos unidos à poesia perfeita.

Assim, juntos, tu, eu e as palavras, somos o que há de melhor no amor. Nesse nosso amor, secreto e furtivo que sucumbe ao devaneio de uma noite de horas contadas, porém vividas intensamente por cada segundo decorrido. E assim, nesse tempo só nosso, deixo-me entregue aos delírios de quem ama com loucura, pois é esta a razão do que sou agora, aqui, entre os livros e o toque de tuas mãos. Faz-me, como se faz um poeta entregue as palavras.

Eu te amo assim, com tuas mãos nas minhas, tuas palavras jogadas ao meu ouvido, que divagam por entre os alicerces do meu corpo, deixando-me cair junto a ti, como devota aos pés de um santo. O que me resta agora, a não ser morrer de amor? Esse desejo se arrasta desde a primeira carta que li. És tu, que tenho , não importa se não vejo a tua face, teu sorriso desenhado, faz-me crer que desejas a mim, mais do que tudo.. Estou aqui, secret passionné, entregue aos rubores dessa minha face, que lateja às vontades contidas em meu coração amante de ti.

Esse instante seduz-me, deixa-me liberta de qualquer medo, pois agora, tenho junto a mim quem tanto desejei. Das linhas que fiz-me ler e reler, para que de ti, me fizesse sentir o amor em todas as tuas cores, formas e sentidos. És tu, anjo, que envolve-me em tuas asas, aquecendo-me e fazendo-me conhecer o céu de onde vieste. Ama-me... Ama-me... offrir tout mon amour et mon ame!!!
[...]

Ah, ma Jolie! Ma Jolie. Como tu me entregas por tuas mãos às loucuras infindas do amor que sinto por ti!

Gostaria, nesse momento, de ser o mais tirano czar de todos os tempos, para que com os febris dedos, tomados voluptuosamente por este meu amor personificado em ti, pudesse outorgar que os ponteiros do relógio seguissem o ritmo dos séculos, e, não mais às batidas do meu coração.

Sou tomado por esta atmosfera que nos circunda, por toda a intensidade de minha alma quando me encontro, enfim, em teus braços, tão subjugado a existência desse nosso amor.O toque de tua mão rouba-me, sem piedade, qualquer vestígio de uma razão. Exponho-te o peito como nunca dantes havia sentido fazer. Recubro-te de beijos e carinhos delongados, aqui, tão secretamente guardados, para serem, por fim, revelados às nossas chamas ardentes que alardeiam a existência de um “nós” como um único ser sobre as faces desta terra.

Entrego-me. Sou teu e tu és minha. E nesse íntimo ressoar de palavras aos ouvidos – meus e teus - à cadência única dos tão somente corações que se amam e se pertencem, as horas se esvaem inexoravelmente, ao passo que meu peito se impacienteia diante a realidade de devolver ao mundo.

Sou o mais avaro dos homens, por não desejar repartir ao mundo, às graças desse lindo júbilo que retenho ao toque de minhas mãos. Quis gritar ao mundo, ajoelhar-me aos teus pés, em súplicas que a fizessem, que a implorasse ficar.

Quis roubar-te de todos, e, fugir ao mundo por nós construído. Mas, ao ressoar dos sinos da igreja da praça, um ínfimo fragmento da razão desgarrada retornou ao leito interior de minhas têmporas, e, tomado assim, por esse momento, antes que dele eu me arrependesse, conduzi-te até a porta bibliotecária principal.

Tu retiveste o passo. Parecia ler o que o meu peito suplicava. Desejavas ficar, mas, ao todo sabias que não podias. Tocaste-me mais uma vez o rosto, e, retiraste do meu sorriso tateado, as forças que não tinhas para seguir sem mim. Abraçaste-me forte e delongadamente, e, quando por fim te afastava-me o corpo, puxei-a mais uma vez a mim, e, desprendi-te mais um beijo.

[...]

Maldito é o tempo! Queria eu, poder contê-lo! Queria que não existisse lá fora um mundo, que agora rouba-me de ti. Amour..amour... É poesia o que vivemos. Simples e pura poesia.. Meu amor é um delírio. Já não há razão. Não posso deixar-te! Contenho-me, porém sei, secret passionné, que assim deve ser feito, mas imploro, que não seja somente esta noite!

Sigo contigo até a porta, tu seguras minha mão, queria eu, que esse caminho não fosse da saída e sim, o mesmo trajeto que levou-me ao paraíso esta noite, para que pudesse repetir-ser incontáveis vezes os momentos de outrora. Confesso amour, que sigo arrastada, pois daqui não consigo desvencilhar-me. Acalenta-me em teus braços por mais uns instantes e deixa-me levar o traço do teu sorriso e um beijo, para que eu possa seguir esperançosa de tê-los novamente... Ah! Como é torturante a despedida!

Ma Secret Passionné, por entre os beijos de agora, deixo-te e refaço minhas esperanças de poder tê-lo junto a mim novamente. Tu me fizeste sentir a glória, a felicidade em toda a plenitude e o amor da forma mais sublime que há. Despeço-,me, sem olhar-te nos olhos, pois agora mesmo sem as vendas que tu retiraste, não o vejo, pois as velas tu apagaste. Miro apenas teus contornos, e levo junto a mim cada um dos teus carinhos, tuas palavras e tuas juras de amor infinito.

E então, ouço o bater da porta e lanço-me pela noite fria, com passos contados. Um misto de sentimentos invadiu-me a alma, que agora recobra-me o corpo, para que eu possa seguir como a mais feliz das mulheres, pois, estive junto a mais perfeita tradução do que o amor.

Já carrego em meu peito a saudade, que a cada passo faz aumentar o desejo de sentir novamente teu corpo junto ao meu, como sendo um só. Olho a lua, que de testemunha, passa a ser cúmplice de todo esse meu júbilo de felicidade. Fecho os olhos, e mais uma vez realço teus lúbricos encantos, e tenho a certeza de que és tu amour, que amarei por toda vida.

Sempre tua,

Jolie
Do teu,

Secret Passionné,

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Carta única escrita a 4 mãos por Jey e Rody, conjuntamente.

Boa leitura!
 
Carta 22: Rencontre aux foncées

Onde a Pena Morre

 
Um sorriso perdido, frio, sem sentido. Um olhar cabisbaixo, sem brilho, destituído. Mãos pálidas, gélidas, sozinhas. Cabelos em desalinho, jogados sobre os olhos envoltos de rodelas negras, sem qualquer acuro. Um coração apertado, constricto ao peito, em vazias batidas. Umas laudas jogadas de lado, folhas em branco, ausência de mote, culpa constante. Janela fechada, lua que já não mais aparece. Lágrimas companheiras de sempre, de alguém que jamais te esquece. Uma taça de vinho seco, como as palavras que ainda crispavam a garganta. Uma rosa única, despetalada, amortalhada em uma frágil caixa de madeira. Um poema inacabado, desmetrificado, ressequidos versos acorrentados a um poeta sem alma. E a dor que não abandona o corpo, morre aos poucos nos toques desta pena. Silêncio sepulcro da alma. Fim da última sentença.
 
Onde a Pena Morre

Escapulário

 
Com esta desgarrada letra, venho dizer-te mais uma vez o que o meu coração não deseja calar. Digo-te agora, através destes verbetes retos o quanto eu somente a ti quero, o quanto eu não mais consigo deixar de te amar. E se isso custa a pena até o cabo, eu serei dela solidário, deixando-te aqui meu amor em escapulário, sentimento meu que a ti entrego para nunca mais te abandonar.
 
Escapulário

Doma-me por Inteiro

 
Doma-me por Inteiro
 
Chove lá fora. As gotas ofuscam os vidros da janela da sala, e, alheias são elas ao que se passa cá dentro. Já passam das 22 horas, e, tu ainda não terminaste de se arrumar. Do jeito como a chuva devorava o tempo, os ponteiros já não mais iam recuar ao nosso encontro. Não me importava com o tardar das horas, ali tendo o valsar da chuva diante dos olhos. A mim importava tão somente ficar tanto tempo assim privado de ti. Mas, sei do quanto gostas desses teus momentos em diálogo com o espelho, e, não seria eu deveras avaro a te roubar só para mim. Embora, muita embora, a idéia me tentasse, confesso, e, não mais me parecesse de todo ruim. Levanto-me do sofá, depois, a sobrancelha. Sorriso moleque de canto.

Raios. Riscam-me o céu de um lado a outro. Em cima da mesa, uma taça de vinho tinto e doce, servida por ti, ainda antes de saíres ao teu colóquio. Estrondo. O barulho provocado pelo raio estremece, de leve, a mesa junto à janela. A taça titubeia, e, o vinho reverencia-me, beijando-me os sapatos. Molhados. Molhados como meus lábios quando se provam dos teus. Abaixo-me a altura da mesa, e, com um lenço colho as gotas derramadas em meu sapato. Novo estrondo. Mais um vibrar sobre a mesa. Desta vez, as gotas não se contentam em se rebaixar a tanto, e, se juntam a me banhar todo o peito. Manchas purpúreas sobre a branca seda.

Levanto-me do chão, constato-me da vingança do vinho! Os ciúmes não foram ao acaso, e, se dos meus lábios não pode beber, como assim os teus fizeram, que seja somente seu o meu peito, beijando-me inteiro assim ao seu jeito. Desfaço-me dos botões de cada um de seus enlaces. Sobre os vidros molhados em mosaico, um clarão reflete teu corpo finamente vestido, rogando-me susto que não te distrai os olhos. Tomei a tua direção, e, tu ainda mais bela, puxa-me pela parte já entreaberta, desnuda e arranha-me o peito com o leve roçar de tuas unhas sobre minha pele.

Quedei as pálpebras, olhei fixamente o minucioso trabalho de tuas mãos. A chuva se apodera de todos lá fora, e, cá dentro, tu já me dominas por completo. Mais um raio riscando-me os céus. Mais uma unha tua marcando-me as costas. Dos raios, resulta-me a escuridão. De tua unha em minhas costas, o fim de todos os sentidos e qualquer fragmento de razão. Devorado fui por cada um de teus desejos, entreguei-me de uma vez a esta minha paixão.

Peguei-te pelos braços, joguei-te junto à parede. Prendi-te com o peso do meu corpo, apoiei meu quadril junto ao teu. A claridade dos raios invadia toda sala, mas nada se permitia passar por entre nós. Eu já não mais deixava. Tu já nem mais podias. Encosto minha testa a tua, meu peito junto ao teu. Minha mão percorre tua perna, fazendo-te carinhos, apertando-a levemente. Minha boca se embebe do teu colo, tuas mãos percorrem as minhas desnudadas espáduas, descem-me as costas, sobem-me ao pescoço, bagunçam-me, puxam-me pelos cabelos. Seguro-te inteira pela cintura, abandono teu colo, ergo a cabeça. Teu cheiro ainda me queima as narinas, e, tua boca me fomenta insistentemente. Pedes-me que não pare. Perco-me em cada um de teus detalhes. Os delicados traços dos teus lábios, a sedutora maciez de tua pele, o inebrio do cheiro do teu corpo abandonado, o teu olhar que me queima quando me queres.

Sucumbo-me aos teus beijos, entrego-me inteiro, declaro-te aos ouvidos, meu amor eterno. Dize-me que amas assim nesses nossos sussurros trocados, não me deixes lá fora, por nem mais um inverno. E se amanhã não te lembrares de nada dito ou escrito que seja, entendas apenas que é somente a ti que eu quero, cala-me a boca, corre e me beija.
 
Doma-me por Inteiro

Ninguém sabe o que temos

 
Ninguém sabe o que temos
 
O tempo havia roído as paredes. A solidão era o carrasco da alma, e, a escuridão se afrontava diante das investidas do vento. Não se ouvia mais o sorriso de teus passos. Não se sentia o passo do teu sorriso nascente das manhãs oníricas. As portas, lavadas pela força das últimas lágrimas, regiam a única sinfonia que se ouvia daquele lugar. Graves sustenidos. As peças de madeira, decoradas pelas tuas mãos tão delicadas, e, quebradas em meus descompassados acessos de fúria e lágrimas. A mim não adiantara aquele nosso último romper de acordes. Semeara apenas a amargura e a infelicidade concreta em partitura. A ti, alforriara a alma que tanto se calou e chorou. Abandonaste a última sentença ainda dependurada nas curvas da interrogação, enquanto, atrás te ti, meu coração soluçava em reentrante exclamação:

É cedo, não ouviste ainda a cotovia? Não te vás agora! Não te vás! Não te vás!

O sofrimento havia encontrado a sua clausura. Celibatária era a dor que eclodia em meu peito. Ordeno-me ao mundo como homem que ama e sofre. Perdoa-me, amor, mas sem ti não fico mais nem um segundo.

Afasto as cadeiras, os móveis da casa. Escancaro as janelas, arrombo todas as portas. Percorro as ladeiras que te tomam, agora, de mim. Tropeço nas pedras de um caminho sem fim. Avisto-te de longe, aperto meu passo junto ao teu. Alcanço-te, seguro-te pelo braço, envolvo-te inteira pela cintura. Olho-te nos olhos com expansiva ternura. Afasto-te os cabelos dos olhos. Ajeito minha mão, segurando o teu rosto. Aproximo os meus lábios dos teus sem demora. Tu respondes fechando os olhos, movimento ritmado ao meu. Desprendo-te, ao fim de tanto silêncio, este beijo de amor que sempre foi teu.

E quem achar desmedidas estas linhas de agora, não sabe do amor de quem as escreveu.
 
Ninguém sabe o que temos

Carta 12

 
De um galho da macieira, a procurar-te por todos os lados.

Ma Jolie,

Vivo agora nos mais insanos pesadelos meus quando ao abrir este livro, a minha carta de ontem encontrei. Estava aqui, na mesma página. Minhas mãos trêmulas de espanto, não conseguiram detectar se havia nela algum traço de que tinha sido acolhida por ti. Não sei por quem me tomas, se acaso lestes àquelas outras linhas, mas, por Deus, por todos os Santos, acalma-te aqui esses meus prantos, que saem da alma para me endoidecer!

Não sei o que houve, que tu não vieste. Não sei se a ti pareci um covarde. Mas, por favor, não julgues ainda, não digas que tudo não passou de inverdade. Rogo-te com a minha mais devota clemência, me mande notícias que apiede este meu coração. Se a ti não te importas o que trago comigo, que seja meu o castigo de pedir-te perdão. Ma Jolie, não me calo ainda; teu amor para mim é uma chama volátil, da qual eu nem tento desviar. Não te percebes como fico nesta tarde infinda, sem ter a ti para meus olhos amar?

Sei que deixei perguntas suspensas. Tuas respostas, dá-las-ei todas, mas, por favor, de mim não te esqueças, que dessas cores meu coração não ousa pintar. Olha-me nos teus olhos, ma Jolie, veja meu nome num incompleto esboçar, mas não me permita achar que em apenas um dia, tu assim me deixaste de amar.

Fecho agora este livro intacto, com mais uma carta secreta minha. Por favor, reconsidere todos os fatos. E, se mesmo assim achares que a ti não mereço, ignores tudo, as palavras de outrora, de agora, o doce carinho que te fiz sentir, os meus olhos que teimam em te seguir, minha mente arredia a te desejar todo dia, meus lábios que se consomem quando digo teu nome, meu sorriso inesperado, de canto, de lado, minhas lágrimas proibitivas, secretas, furtivas... Só não te esqueças nem por um frustro segundo, do quanto eu te amo, mais que tudo no mundo, e, de que para sempre será assim: não importa o que digam, o que pensem, o que falem, só o teu coração é importante para mim.

Beijos febris.

Deste teu mais completo desesperado,

Secret Passionné
 
Carta 12

Rosa, Vinho e Poesia

 
Fecho os olhos. Teu cheiro me invade as narinas, perturba o meu corpo e toma para ti todo o meu juízo. Sim, tu me conheces. E por saber assim, que assim posso ser, eu sorrio. Sinto teu sorriso também, queimando-me a fronte, abrilhantando os meus olhos, bebendo de cada palavra que rompe os meus lábios. Desconheço o que se passa, e, nem mesmo procuro entender. Quando os meus olhos se põem a acompanhar os teus, o meu peito se agita, grita surdamente aos ouvidos. E este calor que me ferve a razão, explode em meu corpo, ganha força e personificação na perfeição de teus lábios. Tão doces. Tão quentes. Tão suplicantes dos meus. E teus dedos delicados, embebidos ao vinho, contornam os meus lábios ressequidos, desejosos, sucumbentes por beijos teus. Passo a mão em um botão de rosa que tenho junto a mesa, e, desenvolve-me em carinhos pelo teu rosto, tão suaves como as pétalas que se desprendem a cada movimento sobre a tua pele. Tu te aproximas. Sinto-te intensa, envolta por uma áurea onde o desejo e a loucura não são a mim possíveis de se dissociarem. Tua respiração se apressa, a minha acompanha-te. Ignorantes a qualquer pergunta, os beijos se entregam a voluptuosa intensidade deste nosso amor.

Abro os olhos. Ainda estou aqui, mas tu não estás. Procuro-te por todos os cantos, mas tudo o que encontro são essas minhas sombras encandeadas pelas chamas do meu amor por ti. Sento-me a mesa, uma folha de papel em branco, umas poucas palavras que unidas compõem um soneto. E agora percebo que daqui tu nunca foste embora. Tu és a rosa. Eu sou o vinho. Juntos, somos a mais perfeita poesia.
 
Rosa, Vinho e Poesia

rody