Arte
A arte se manifesta de várias formas possíveis e inimagináveis. Geniosidades em campos nunca dantes navegados se despontam em artes. Gênios! Por fazerem coisas excepcionalmente únicas e inatas, como que se já soubessem daquilo mesmo antes de sabê-lo. Dom! Mas, e todo o resto? Esforço, dedicação, estudo, cultura, saberes, antepassados, ícones, símbolos, referências? Será que já se nasce com isso tudo também? – Ora, pois, somos frutos do meio, e o meio de hoje já nos foi o início de algo.
O que meu português quer dizer é que, se a experiência vivida é repassada através dos tempos e dos meios, somos sempre o final, a conseqüência, o reflexo, o resto, a criatura órfã. Somos, em arte, tudo que já se foi até agora, até a última arte. Não a última produzida, mas a última vista, a última que se parou pra refletir. Isto é o que nos falta: parar pra refletir. Não só sobre aquela arte, mas, sobre a Arte: fonte e expressão cultural, indelevelmente perpétua, aglutinadora e remodeladora de pré-conceitos, preceitos e conceitos, mas, sem preconceitos.
Por isso e por tudo é que devemos ser instigados, desde sempre, e cobrados, para sempre, a sermos arteiros e, assim, quiçá nos tornarmos artista. Faça arte.
Acabo aqui e vos deixo: A arte é a fuga da realidade, para que voltemos à realidade através do sonho; ou, segundo Gandhi, “A arte da vida consiste em fazer da vida uma obra de arte”.
Janaína
Beleza nua de contornos tão leves, imperfeitos e lindos
Assim como a areia fina imita a cor da tua pele
Céu e mar se confundem em um único azul da cor dos teus olhos
A brisa tem o frescor do teu hálito úmido e quente
Como os cumes altos da serra no horizonte deste cenário
Tuas protuberâncias vistosas ascendem ao infinito
Personificação da beleza moldada em carne e osso
Tua voz se faz como o som de tuas águas
Variando entre cristas e vales de uma mesma onda mansa
Teu canto, sereia, chega às minhas conchas e me perco
Confuso entre as correntes: ora frias, ora quentes de teu amor
Navego sem bússola em tua direção, meu Cruzeiro do Sul
Tu és, como somos, fruto do teu lugar
Não poderias vir de outro lugar senão daqui
Deste remanso pitoresco, marejado e salgado
Destas águas ondeantemente turvas e calmas
Onde repouso e amanheço embalado por teu vai-e-vem
Onde nasço e morro a cada reencontro
Eu me entrego em oferenda a ti, ó iemanjá
Ou me carregue para suas profundezas,
Ou me deixe padecer em tua praia
Mas me afogue
Pois não suporto a idéia de não seres minha
Tu és praiana
Amor Vicejo
Sempre que me vejo
Penso o quanto me desejo
A sorte de um doce beijo
Goiabada, assim, com queijo
Só me falta um cortejo
Que ponha em prosa o que almejo
Eu, você, num só festejo
Timidez é meu manquejo
A qual desfaço com gracejo
E nossa vida já planejo
Sonho até com o lugarejo
E a cor azul do azulejo
E é por isto que antevejo
Que uso todo o meu traquejo
Toco até o realejo
Ou em cordas um arpejo
Danço e mostro meu molejo
Se é de antes que te elejo
Inspiração do meu versejo
No meu peito te protejo
Te embalo e até bocejo
Ou me acendo em relampejo
Não adianta seu boquejo
Se te amo e lacrimejo
Assim, por esse amor vicejo
Tanto quanto pude
Tanto tempo
Quanto amor
Pude esperar
Tanto sentimento
Quanto desejo
Pude sonhar
Tanto...
Tanto quanto...
Tanto quanto pude
Quanto?
Quanto pude?
Quanto pude tanto
Pude!
Pude tanto...
Pude tanto quanto pude!
Pátria que te pariu!
Raios!!! A vontade é de ir à casa de cada um dos 46 filhos da pátria que absolveram o Renan e socar-lhes as fuças. Isso se soubesse quais foram, pois, francamente, sessão secreta... só podia dar nisso.
Que filhos da pátria! E o filho mor, o presidente do Senado? Com tantas provas de fatos apresentadas contra ele, teve a audácia de dizer no plenário que elas não existiam. Vai se... fundir àquela corja!
Até ontem não podíamos – se é que ainda não podíamos – generalizar dizendo que todo político é safado, corrupto. Mas, e quando a maioria o é? Numa democracia, o que vale é a maioria, não é?
Então, desnaturados senadores, só quero saber uma coisa:
– Quem foi a Pátria que te pariu?
Amor à distância eu mato
Esperei e recebi o seu cartão postal.
Pois tal cartão-rascunho chega e não alivia.
Via ali você, talvez, noutro Natal.
Tal na festa que outrora, ou nunca, não havia.
Há via de ida e via de contramão,
Mão contrária ao lápis, mão contra o cartão,
O cartão contra mim e eu contrário a tudo.
Doto-me com um manto molhado de choro.
Roxo está meu rosto e quase que me mato.
Toma o que lhe cabe – o rumo – e se alinha.
Linha e agulha à mão, um olho ao outro olha.
Alho, dente, e cebola até que me protegem:
De gente que promete, voz mansa que soa,
Aço que enverga então padre abençoa.
Soa boa palavra, embora bem mal dita.
Dita mal a regra do jogo que joga.
Gajo, para entender, demoro um pouco, custo.
Tosco, em meus pensamentos, grotesco, concluo:
Amor,
Morra!
Pedra Preciosa
Não sei se quero a paz de um sono,
Ou se quero o sono-da-paz;
Só, quero ser sem-dono,
Um volátil viageiro fugaz.
Percorrendo as trilhas do destino,
Meu engano se desfez em verdade;
Relutei, meu cruel desatino,
Em extirpá-la da minha saudade.
Hoje, é rúbea a pedra que trago,
No peito, e que um dia foi bruta;
Segui o conselho de um mago:
O que lapida é o que não se refuta.
Verdades se fazem em mim,
Exagero o tudo que sou;
Enalteço o Ser sem fim
Derramando nos outros que estou.
Me liberto deste mundo
Me prendendo a você,
Mergulhando no cosmos profundo
Da interioridade do teu por quê.
Minha veia – minha Láctea –,
Minha verdade forense,
Em meu escuro és minha réstia.
Rubi, a mim você pertence.
Reminiscência
Quero ser lembrado como um todo:
Por cada passo certo,
Por chegar, talvez, tão perto
Do ápice ou do lodo.
Meu espasmo de sensatez –
Minha loucura sensata,
Ou minha qualidade inata –,
Só quero que ecoe cortês.
Pois, agora, vos digo e me desfaço em féculas:
Aos que viram meu parto,
Aos que choram agora que parto,
Me parto em moléculas:
Do barro, o grão;
Do ar, o oxigênio;
Mas que eu dure mais de um milênio,
Provando que nada foi em vão.
Amável Luar
Lá sob as estrelas o sereno umedece a gente,
Uma lua ilumina toda escuridão inocente
Atraindo silêncio quebrado pela mente,
Razão e devaneio jaz ambivalente
Lúgubre satélite que nos presencia –
Um amor, a morte, trabalho, a boemia;
Amar em plenilúnio é amar em demasia –
Revela aos amantes quão grande é sua magia.
Os mesmos
O que seria de mim sem eu mesmo
Com todos meus defeitos e qualidades
Com todas minhas crenças e ceticismos
Com todas as minhas loucuras e sanidades
O que seria de mim sem você mesmo
Com toda a sua doçura e delicadeza
Com todas as suas virtudes e trejeitos
Com toda sua humildade e grandeza
O que seria de nós sem eu e você mesmo
Com todas as nossas concordâncias e divergências
Com toda nossa individualidade e união
Com todos os nossos carinhos e carências
Sinto falta de mim
Sinto falta de você
Sinto falta de nós
Mesmo!
Vêm, pra eu voltar a ser eu mesmo
Pra eu te fazer ser você mesmo
Pra voltar a existir o nós mesmos