Deste lado, remansa o rio e grita o
grito do homem afogado no dia
de todos os santos de 1984 (pouco passaria
das três manhã, eis o que dizem, embora
ninguém o saiba por certo). Do outro lado, um
nu descampado, antes pertença do Joaquim
da Maia. Veio a Junta e uns quantos homens e mulheres
acenando com o papel dos baldios e
roubaram-lhe a propriedade, justificando-se
com não sei quê das leis. Tão descampado
como dantes permaneceu, apenas o dono mudou - o que
não lhe importou assim tanto.
É agosto e observo as minhas netas e as minhas
sobrinhas-netas correndo aflitas
- fingindo-se aflitas - pela água. A meus tornozelos
remansa o rio e quase ouço o grito do homem
afogado. Mas nada me apoquenta, tenho o descampado da
Junta desinteressado de lhe terem mudado a senhoria
e crianças felizes chapinando na água. Haverá
agostino quadro assim?