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Carta 02

 
Meu caro amigo(a)

Tenho de fato muitas dúvidas sobre o amor, o que parece contaminar o mundo e as mentes, não me parece nada bom, é mais uma carência viciada, emocionalismos demasiados e sensualidade depravada (ou santa) e a pretensão de se possuir alguém e na visão mais “altruísta” deixar se possuir ou ser contemplado, enfim, de qualquer forma isso que as palavras hoje definem como o sentimento amor se tomasse forma de um animal qualquer se pareceria com um porco adornado com uma imensa argola de ouro no nariz.

Tenho dúvidas sobre o que hoje se entende como a palavra amor, tão mal usada quanto uma meretriz, reflete uma falta de paz de quem o tem, o inconformismo, veneração doente, mágoas e ressentimentos mesquinhos que enrolam as línguas de seus afetados numa fala esquizofrênica que não se compreende mais, mas que se fala em qualquer esquina.

Tenho dúvidas sobre como o amor deveria realmente parecer, se esse amor não for nada parecido com seu retrato falado, deve passar por todos despercebidamente sem nenhuma possibilidade de o reconhecer. Penso as vezes que o amor um dia foi uma taça frágil partida em mil pedaços e tenho a impressão de vê-lo aos cacos na mão de poucos, fragmentos em poesias, músicas, ações sem nunca distinguir como é sua “face”, outras vezes o amor parece evaporar e reaparecer de um outro lado como uma miragem.

Tenho dúvidas se amei um dia, porque o posto em prática foi o que me foi apresentado pela vida, uma versão doente conflitante que permeia os muros do mundo com o medo constante e a reafirmação de que há algo a ser preenchido, cultivado e praticado, gostava mais que não fosse um sentimento, queria que fosse como a respiração talvez, mas não o fiz assim, achava que devia ser um algo que trouxesse homeostase ao meu organismo e tão importante que eu simplesmente esquecesse que está ali.

Tenho dúvidas quando alguém me afirma que já amou com seus alardes, quase tudo que se vê é uma fantasia tão demente, ares de uma religiosidade autoindulgente pronta a demonizar quem duvidou ou invejou seu tesouro sagrado, penso as vezes que estou entre muitos zumbis que nunca se contestarão, todos certos das absolutas certezas que sempre impulsiona as massas, desta vez a de que se nunca amaram um dia amarão seja lá o que amar signifique.


 
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Creep
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Enviado por Tópico
Luizfeliperezende
Publicado: 20/06/2018 17:54  Atualizado: 20/06/2018 17:54
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 Re: Carta 02
Incisivo texto, belo questionamento.
" Penso as vezes que o amor um dia foi uma taça frágil partida em mil pedaços e tenho a impressão de vê-lo aos cacos na mão de poucos, fragmentos em poesias, músicas, ações sem nunca distinguir como é sua “face”, outras vezes o amor parece evaporar e reaparecer de um outro lado como uma miragem.". Textos assim estão fazendo falta.