Prosas Poéticas : 

Mães a contra-tempo

 
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Neste velho tempo,
Já não se vai ao rio
Pelos atalhos da vida madura.
Mal nasce o dia,
Já se banha
Nas águas destemperadas do tempo,
Que o tempo doutrora isenta.
Pelos atalhos do tempo
Já não se vai ao rio,
Tudo se madruga no tempo,
E o maturo se confunde
Com o verdolengo.
A precocidade
Se tornou na magna lei da vida.
Neste tempo moderno,
Poliniza-se verdes flores, sem esperar
Que amadureça a vida
À sombra do tempo.
Maldita civilização dos homens,
Todos passam à frente do tempo,
Em nome do cego cultismo,
Onde é comido precocemente o verde,
Pelas abelhas madrugadoras
E pelos velhos abutres,
Que esquecem caducidade
Do tempo vivido
Nas curvas dos seus gastos cotovelos.
É hora de questionar o tempo…
E voltar atrás no tempo
Pra que tudo passe a ser comido a tempo.
Quantas árvores de luz
São obrigadas
A antecipar as madrugadas?!
Quantos rebentos
Choram a sua própria morte?!
São tantos, e ainda, há muita lágrima
À sombra das árvores desfloradas
Antes do tempo.

Adelino Gomes-nhaca


Adelino Gomes

 
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Upanhaca
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Enviado por Tópico
Upanhaca
Publicado: 23/06/2022 16:44  Atualizado: 23/06/2022 17:05
Usuário desde: 21/01/2015
Localidade: Lisboa/loures
Mensagens: 8305
 Re: Mães a contra-tempo
É muita pena, que hoje
já não se come da fruta madura,
mal floresce a árvore da luz,
já se rondam malditos abutres
com seus malditas intenções.
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