Domingo, 25 de novembro
Quase meio-dia. Os meninos começam a guardar as mercadorias expostas nas calçadas e no outro lado da rua, na parede do Adolescentro. Seu Julio, um robusto segurança do dia fazendo seu bico me perturba, depois de ser chamado por uma das simpáticas vendedoras da Loja Maycar.
- Poeta, diz uma poesia para mim - Insiste com uma sacola na mão que a mocinha lhe deu.
- Batatinha quando nasce, se esparrama pelo chão - declamo para sacaneá-lo.
- Essa não... - afasta-se e caminha em direção a sua moto. - Esse poeta não está com nada.
Dona Gracinha tal qual uma formiguinha carrega sobre a cabeça uma armação de metalon e desaparece no portão do mercado.
O SR. K. com seu vistoso rabo de cavalo fecha a lojinha, depois de atender a última cliente, deixando sua tia um pouco arreliada. Dá-me uma sugesta, mostra-me uma cédula de cinquenta reais e depois volta a guardá-la no bolso da bermuda. Nos despedimos e entro no mercado. Vou ao banheiro, urino e sigo para o finado Bispo e compro uma lata e deixo duas pagas para apanha-las mais tarde quando eu for para a pensão.
Venho para o box das galinhas, do amigo de seu Lucas, o peixeiro. Sento-me num banco alto. Seu Lucas, o peixeiro faxina a sua banca e começa acondicionar as sobras numa caixa de isopor que descansa sobre o balcão azulejado. Um cãozinho abandonado briga com um osso, a barriga dar impressão que vai estourar de tão cheia. O rádio de Seu Bereta, vizinho de Lucas toca uma música brega dos velhos tempos e a galera dos camelôs bebem em pé umas cervejas próximas a banca de Seu Lucas, eles trabalham na entrada vendendo produtos eletrônicos chineses.
- Pensei que ele tivesse bonzinho, mas já está é chilado - comenta o camelô da cara vermelha a respeito do colega Junior que chega trôpego.
E o cãozinho da barriga estufada deitado no chão de cimento rola de costa de um lado para outro, coçando-se das pulgas - Seu Vavá voltou e deu-me os trinta reais. Emprestei dez para Jean Gaspar que comprou umas latas de Kaiser para bebermos após a primeira aula pratica de solda e agora gasto mais dez e guardo o resto para comprar o ferro amanhã.
- Oh! Lucas ele tá copiando - Grita Seu Riba, o camaroeiro, adora tirar um sarro da minha cara - Copia ai, vinte e cinco de novembro, Bereta chegou as nove horas da manhã.
Estou quase ébrio, levanto-me, despeço-me da galera e vou apanhara as duas latas de Glacial e de lá seguirei para a pensão.
25/11
tarde de domingo - Venho para a pensão, trouxe duas latas de Glacial e as c guardo no congelador da Senhora Vince e vou para o desk-top. Acesso o face, converso um pouco com Doutora Lia de São Paulo. e o Economista Arqui do Paraná. Deixo tudo, entrego-o para a pequena Clara que esta avida para usa-lo. Venho para os meus aposentos e mamo a ultima lata lendo Martin antes de almoçar.
Noite - O corpo pediu descanso, dormir depois do saboroso e lauto rango e embalado pelo álcool das cervas que degustei - comecei na oficina onde cada um bebeu duas latas de Kaiser - eu, Jean Gaspar e Samuca - após a aula pratica de solda e como sempre planejamos um novo projeto para ficar 'rico' - fabricar bloquetes de cimentos - é viável basta querermos - Gordinho será o tesoureiro. Depois fui para o mercado e lá me empanturrei de cevada.
Acordei ainda mareado e resolvi visitar o meu amado filho, mas quem atendeu-me foi a grande dama do meu coração, havia chegado de viagem e banhado, estava toda molhada - Meu Deus! Me deu um tesão, quase enlouqueci, essa poetisa ainda mexe muito comigo. Sonho constantemente com a mesma. Fico imaginando, já pensou se a distinta me convidasse para entrar, beber uma gelada, dançarmos um tango argentino ouvido Carlos Gardel e depois uma rapidinha como nos bons tempos, quando nos amávamos loucamente. Seria um homem feliz, muito feliz, mas agora estou aqui deitado na solidão do meu humilde quarto, ouvindo as miadeiras dos gatos no cio e um grilo filha da puta.
Jean Gaspar emprestou-me um livro do poeta muito meu amigo, aliás foi o segundo poeta que travei amizade, Jose Maria Nascimento - nos conhecemos em 1977, quando eu iniciava a minha vida literária e ele vivendo seu inferno particular, dormindo no chão do Jornal Pequeno, junto com o loucão do irmão também um gênio Jorge Nascimento, bebendo todos os dias, sem se alimentar. Uma vida pior que a de um cão. Mas graças a Deus deu a volta por cima, além de poeta é um genial fotógrafos e abstêmio.
Segunda, 26 de novembro
Mais um inicio de semana numa manhã tépida na vida de um guerreiro cansado de guerra e de sofrimento. O cheiro saboroso de um assado de panela excita as minhas papilas degustativas em plena seis e pouca dessa manhã sem esperança. Seu Obina na sua cadeira, levanta-se e acende um 'careta' e caminha pela calçada.
Luto para lembrar-me do nome do personagem principal de Berlim- Alexander Platz do médico berlinense Alfred Döblin. O cheirinho peculiar exala da minha camisa, aguardo Jean Gaspar para comprarmos os ferros na Aço Maranhão para fazermos a fôrma dos bloquetes. - Enquanto não chega desço para os Sete Reinos - George R.R. Martins é genial
Do mercado
• Vamos conversar mais, enquanto o caminhão passa - Disse Seu Cesar Bude para o Sr. K. Eu bebia a primeira do dia.