
Despertar do Absurdo
Desperto: sou apenas aquilo
que o tempo, paciente, esculpiu.
Não são marcas — são perguntas
e respostas que o meu ser
ainda não ouviu.
E tudo o que havia em mim
transformou-se em formas do mundo;
tantas boas, mas a maioria ruins,
tantas, que a verdade se dissolve
e se refaz a cada segundo.
O mundo — este espelho rachado —
multiplica por mil, minha identidade
e me devolve fragmentos
que chamo, sem certeza, de verdade.
Uma verdade que nasce como um ser disforme,
como surge o meu próprio pensamento.
emerge como um dejeto de homem
E percebo, num lampejo, que sou eu
quem cria o próprio sofrimento.
Oh Deus — sob o silêncio do universo —
eu grito por piedade
ilumine meu saber doentio:
eu sou o artesão da minha queda
e também o autor secreto deste meu vazio.
Alexandre Montalvan
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