A Luz
Dei, minha mão perdida ao desconhecido.
Passos sem rumo no lamaçal da vida.
Palavras simples enxugam lágrimas rebeldes.
Sou eu ?
Não sei!
Não sei!
É azedume o sabor da minha pele
Não encontro a minha porta aberta
Meus sorrisos são pedidos de paz.
Sou eu ?
Não sei!
Não sei!
Sei,
Que o mundo não pode esperar.
José
Almas Nas Trevas
Uivo cortante ecoa na noite.
Começa a dança triste.
Corpos em movimento.
Lançam olhares sedentos.
Mentes em ejaculação.
Veneno de mão em mão.
Sentir sexos desconhecidos.
A flamejar penetrando sem medo.
Sentado á entrada do inferno.
A reclamar a grama do paraíso.
Faca que penetra no incauto.
Sangue que lava a insaciável loucura.
Predadores e presas sentem o terror.
Nos primeiros raios de luz.
Regressam ás suas tocas vazios de tudo.
Assumindo o fardo do triste fado.
José
Sem Culpa
Peço-te perdão.
Entrei sem pedir
no sossego do teu
jardim deserto.
Peço-te perdão.
Despertar em ti
desejos escondidos
do teu íntimo.
Peço-te perdão.
Em sonhar um dia
bailar contigo
a valsa da sedução.
Peço-te perdão.
Mas não vou perdoar-te
se me pedires um dia
parar esta penitência.
José
O Guardião
Guardei !
Em segredo
Teu sonho
De menina
Atrevida.
Guardei !
O cheiro
Do teu corpo
Entranhado
Na minha pele.
Guardei !
Em silêncio
Teus gritos
De orgasmos
Orfãos de amor.
Guardei !
Frases tuas
Sem tempo
No interior
Do meu tempo.
Não guardei !
Meu sonho
Cheiro do meu corpo
Meus orgasmos
Frases sem tempo.
José
O... Frio
Sou canalha !
Sim sou um canalha !
Cravei bem fundo em ti.
Minha adaga da sedução.
Bebi num ápice teus sonhos.
Só resta de ti meu corpo sem vida.
José
Santa Nocturna
Mulher.
Mais uma noite de viagem
alucinante por corpos
desconhecidos.
Mulher.
Sorris nas esquinas
lanças olhares sedutores
cheios de dor por uma vida
que nunca foi tua.
Mulher.
Cães raivosos insultam
a tua sina e gemem
de prazer sobre teu corpo.
Mulher.
No limite da tua paciência
é mais uma noite perdida
na crueldade da tua existência.
Mulher.
Regressas ao nascer do dia
suja,imunda, sentes nojo de ti
mas pura na alma que estará
á venda nas esquinas do sofrimento.
Jose
Amanhâ á Mesma Hora
Intenso!
Quando o teu olhar se cruza com o meu,
sinto-me prisioneiro, sei que dizes milhões
de palavras que não consigo decifrar.
Intenso!
Quando o desejo lascivo do teu olhar,
poisado no meu incomoda,
tua paz aparente.
Intenso!
Quando o silêncio do teu olhar,
pede que eu avance sem as amarras
do preconceito e pudor.
Intenso!
Quando levas aos lábios os café matinal
e pelos espelhos do espaço envolvente,
desnudas-me violentamente.
Intenso!
Quando sais, olhas como se eu fosse
uma questão de tempo no teu
museu de troféus.
Intenso!
Quando olho para mim
e um sorriso malandro baila
no meu próprio olhar.
Será que consegui seduzir-te?
José
Eu em Devaneio
A chuva vai abraçando aos poucos meu corpo
meus dedos tremem, é demasiado fardo de espinhos
que flagelam esta carne de sangue sem cor.
Não sei o caminho das palavras, à palavras que nos matam
outras que nos salvam, não passam de atalhos sem fim.
A paixão da mulher é como as ondas do mar
que arremessam pedaços de agonia por
corpos perdidos nas tábuas da perdição.
Nunca consigo entender este lápis !
Descreve pensamentos meus, navegantes
em águas de calmaria envolto em tormentos.
Consegue um homem amar a fantasia da sua escrita ?
José
Doce Abismo
Amei-vos na escuridão
da minha agonia.
Renasci das cinzas
numa hora sôfrega.
Não sou contenção.
Sou excesso !
Com medo da morte
não parei no limite
dos vossos sedentos
e desejos mordazes.
Não sou contenção.
Sou excesso !
Vou esconder minha alma
no segredo dos vossos seios.
Quero enganar a bela morte
com o sorriso dos vossos sexos.
Não sou contenção.
Sou excesso !
José
Dois Dedos de Conversa
Cai como uma árvore quando abatida.
Almas desconhecidas em pânico, quando eu só pedia silêncio.
Soltei-me daquele corpo, sento-me aliviado na berma do passeio assistindo ao espectáculo que é o fim da vida.
Ele sentou-se ao meu lado, sorriu, vestido de negro e acendeu um cigarro negro soltou no ar uma imensidão de fumo também negro.
-Chegou a minha hora ? Perguntei sem desviar o olhar daquele corpo inerte e frio.
Ele sorriu novamente, olhou para aqueles rostos de pânico e disse.
-Pobres de espirito! Tanto medo da paz eterna.
É favor de sair da frente eu sou médica.
Desapertou-me a gravata e também a camisa, colocou dois dedos no pescoço daquele corpo que eu já sentia não ser meu.
Começou uma dura luta com respiração boca a boca, com as mãos forçando o peito em movimentos perfeitos.
Estava a gostar de todo o seu desempenho, sua boca encaixava na perfeição na minha, seus cabelos soltos sobre meu rosto eram como sopros de vida.
Estremeci!
Olhei para ele, concentrado na luta que a médica tratava com o meu corpo, algo não estava certo.
Sem desviar o olhar, e com um ar de compreenção disse.
-A tua hora ainda não chegou, vais voltar porque nasceu aqui uma nova oportunidade para a vida miserável que sempre levaste.
-Não entendo o que quer dizer1 Sentia um misto de querer ficar e também voltar.
-Ela está a salvar-te porque precisa de ti, eu posso esperar mais uns bons anos, mas ficamos com encontro marcado, agora vai e vive esta paixão até ao limite que garanto que é a última.
De volta abri os olhos ao mundo, o olhar dela cor de mel deram-me as boas vindas, seu sorriso fechou a porta da minha escuridão, pelo seu nariz de Cleópatra senti o sopro de uma nova vida,lábios esses ainda sentia o sabor nos meus.
Doutora quer jantar comigo ?
José