bati com a cabeça, vou cuzinhar
eu quero a prova, para provar
o que está provado e aprovado
eu quero a prova para enxaguar
as nossas vidas e as doirar
o que disse em troca do teu lado
eu assumo tudo o que se provar
eu sou a prova do propalado
porque eu pintei no meu prado
o que falei de ti por escusado.
escolhe, eu ordeno, fala agora
para que se prove esta razão
que sem sentido vai provar
da tua boca a alucinação.
eu sou a vítima, tu a maldade
tens a língua colada à minha
sem querer só dizes a verdade
e eu empurrada falo sózinha.
não me difames, ó veneno puro
não me provoques os joanetes
que eu sofro e já grito ao escuro
- no tribunal farão eco as retretes.
eu ainda tenho o alfinete
por isso faz tudo o que digo
se me difamas, cais-me a jeito
e eu do meu trauma faço-te um figo.
repito, escolhe pois esta novela
que eu meto tudo ao barulho
misturo todas vós numa panela
cuzinho-as bem e depois embrulho.
eu quero ir de nu
quando eu morrer
atirem chapéus ao ar
dancem no passo que der
a música do mar.
eu quero ir de nu
no meu corpo mudo
tão belo, esticado
entesado e tudo.
venham sem esquecer
que o morto sou eu
o herói janota
mais pobre do céu
venham de mota
buzinem a fundo
avisem os vivos
de todo o mundo
não quero gritos
nem cara escura
esgares aflitos
ou jeitos contritos
e se a dor for dura
podem até vir
uns pontapés na amargura
para esta se rir.
declamem-me o amor
que chorar não posso
quero por favor
o poema erótico
todo feito de osso
vestido de gótico.
e no fim da festa
vejam se estou frio
quieto e sem pio
chamem-me de besta
se eu não me zangar
atirem-me ao mar.
vinho d'alma
colhi um pingo de chuva
e pousei-o no teu rosto
desceu à boca era uva
gosto de ternura posto
deste-me tão doce beijo
vinho d'alma, rubro encanto
que hoje no teu ver me vejo
e muda a boca diz tanto
girassol ouvi-o
sonetilho em redondilha menor (5 sílabas)
girassol pequeno
tão murcho sem cor
sorriso veneno
raiz de rancor
ouvi-o berrar
neste prado ouvi-o
o ventre a inchar
de tanto vazio
apareceu na hora
roxinho de frio
a cabeça à nora
em azio pavio.
rebentou agora
e agora me rio.
poema pimba de mandar à merda
vejo-te
despejo-te
no teu marasmo
hoje, meu sarcasmo
porque não sabes
nem das metades
desse beijo vingado
que te fiei no passado.
amanhã serei ausência
e tu a impaciência
no fundo do poço.
daqui não te ouço
tal quando te querias
surdo e me dizias
que lágrima é fastio,
tu bandido frio.
tudo se aprende
no tempo que pende
e agora, nesta hora
não sei de quem chora.
eu sou ponta solta
que vai e não volta.
Tema
"A EMPÁFIA"
sabes amar?
os que mais precisam de amor e calor humano(e têm amor para dar) são muitas vezes aqueles que menos se sabem fazer amar:os desinseridos, os estranhos, os marginais, os ariscos, os solitários...
este pensamento veio-me ao reparar numa atitude bonita de um casal lindo neste site (dan e sommer)
convido a continuar aqui com mais exemplos.
a merda é uma merda
que merda esta merda ser merda, é a merda, mais merda que eu já vi.
escorre merda entre a merda desta merda e não há balde de merda que apanhe a merda solta da merda a crescer na boca de merda que a merda tem.
a merda da censura é a maior merda que já nasceu da merda, e nem o cheiro da merda da rosa cheira menos a merda que a merda que a rosa tem.
bolas de merdas a rolar entre merdas de bolas, engatilham merda no merdieiro mor, morto pela merda que só atira no que não é merda.
eu sou a merda da gabrielas e quero a merda de uma desculpa de merda. mas quero.
quero a merda de uma consequência, nem que seja de merda.
mas quero.
à vítima que se faz
Tu és a que grita antes da dor
tu és a que fala antes de ouvir
tu és a que pensa antes de saber
tu és a vítima de quem vai nascer
tu és a casta toda conspurcada
tu és a lama toda desamada
tu és a garganta agrilhoada
tu és a palavra regurgitada
tu és a gangrena do beijo
tu és o uivo crucificado
tu és o aborto do moribundo
tu és o poema amaldiçoado
tu és um lobo lubrificado
com dentes de anho ofertado
empiscar com força
há uma força que é tão minha
talvez por eu ser caipira
quando essa força se aninha
sai um cheiro que admira
com ela, ah, eu sou alguém
não há quem me chegue aos pés
faço sombra, chego ao além
com ela eu voo através
levanto os mortos da terra
todos me seguem num bonde
como sardinhas para a guerra
e de mim nenhum se esconde
todos pensam que morri
tal é a força emitida
o aroma eu nunca o vi,
mas é toda a minha vida.
ai, mas que bela viagem
esta força que me enfeita
mais um poema na margem.
pisco à esquerda ou à direita?
aviso: dedo no cu
aviso:
aqui
descasca
s’ todo
e rói
s’nas unhas.
se calha
repete
s’ mudo
não falha
e contudo
não liga
ao que nega.
desfaz
s’desliga
aviso
de novo:
o povo
vai nu
o dedo no cu.