diálogo
Um Homem.
Uma Mulher.
dizem que não se falam, não se olham, não se ouvem.
mas dizem o mesmo.
diz ele
confia
ouve-me
acredita
amo-te.
ela diz
não sei.
não acredito.
mágoa.
lembras-te?
vem, não, não posso, és um pássaro, voarás por cima das minhas raízes de árvore. eu ficarei e tu não.
sozinha.
esquece o frio, despe a malha e sente o abraço.
serei teu, minha tu, no diálogo mudo dos corpos.
Peço-to!
Jura-me.
Não quero pássaros na nossa janela, brisa primaveril acordando as cortinas, cheiro a torradas sobressaltando as minhas narinas ou cheiro a café lembrando-me que as férias terão um fim.
Promete-me.
A tua mão nas minhas ancas.
A tua boca na minha espinha.
[só aqui consigo a metáfora]
A chuva que não temo jaz vencida, engolida pela terra, sedenta.
No exterior, a humidade procura asilo no bolor que agora invade a casa observando o chapéu abandonado dispensado no caminho sem destino.
Saltitante, desnorteado, arrasta-se, suja-se, salta, na esperança de encontrar outra mão.
Enganoso.
De rosto colado às nuvens, procuro a água que agora rega os meus lábios, alimentando as raízes dos sorrisos que semeaste.
Acariciadora e faminta.
Como Esperança.
Os pés seguem porque seguem
Sei que é em frente.
Sempre.
Ordena-o o calendário.
Sem pássaros.
Sem voz.
Algumas palavras.
Perguntaste mas eu não podia responder-te.
Tinhas de acreditar e fazer-me acreditar.
quero-te meu
Quero-te meu.
Do mundo mas meu.
não é sede.
não é fome.
é apenas desejo
desejo de eternidade.
vejo nos olhares paixões perdidas, formas de eternidade antigas nos braços que se oferecem, nas rugas dos sorrisos.
e acredito que poderemos ser
um dia
eternos
sem idade.
Os mudos nunca incomodam
Não te compreendo tanta raiva, tanto desprezo.
A minha voz, calada, sempre observou sem penalizar.
Tentando descortinar razões, mal-entendidos, recriminações, sem julgar. Por isso, não entendo.
Talvez, por isso, parta.
Mostraste-me tantas vezes a porta de saída que me convenceste. E sei que não darás pela minha ausência.
São as vantagens do hábito em silêncio.
Ah!
Naturalmente,podes continuar a ouvir-te a ti próprio e só, como sempre.
Baloiço.
Rangentes,
as cordas suspendem pelo meio
a tábua
indiferente
como os pés ao solo.
Tangentes
ameaçam tocar-lhe
mas é o voo
que puxa o corpo
[a Alma]
para o alto.
Não me agarres
que eu fujo.
Conclusivo
Como se quisesse deixar um ponto de final com tom exclamativo
disse
Não consigo esquecer a mentira que nunca me disseste e que eu senti desde sempre.
Não é o sentir que me afasta mas a suspeita.
Sempre disse que aceitava a mais dura das verdades, a confissão de uma mentira mas o silêncio, não.
Quando te perguntava, não me convenciam as respostas hesitantes, as perguntas ignoradas. Quando te criei espaço, te pedi... eram sempre as mesmas desculpas em fuga, evitando mais mentiras.
Apenas queria conhecer-te.
O maior erro
O seu maior erro foi ter trazido o vento sem lhe ter mudado a direção.
Não estava preparada.
Sopra
Sopra-me suavemente.
Deixa-me respirar.