Poemas, frases e mensagens de LuAres

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de LuAres

O coração da cabana

 
O coração da cabana
 
Era uma busca insana dentro da nebrina, mas caminhava sem buscar paredes ou qualquer outro ponto de apoio. Existia uma umidade refrescante doada pelo silencio, mas os olhos ardiam cansados pelo peso da interrogação nas pálpebras. A busca era pelo centro... aquele interior onde o oco se alastra atras de respostas que darão um pouco d'água para o sol sitiar o espaço néveo. Revestindo-se de coragem, pousou uma das mãos na fronte para esganar as vozes que enfeitam o medo e outros inumeros entraves que provocam desistencias, só que a tênue luz, balançando no centro da cabana, insinuava vida mais forte caso a alavanca do conhecimento fosse alcançada - era ela que determinava o rompimento da represa onde ressonavam as concretudes das quimeras rabiscadas. Decidiu prosseguir, um pouco vacilante, percebendo que as vozes silenciavam quando a respiração suavizava, o que dava para ouvir o som dos pulsos da luz invadindo ruas da consciencia. A cada investida própria percebia a luminosidade avançando, pé ante pé, enquanto as sombras se esgueiravam tomando rumo desconhecido. Brevemente, a cortina fria se dissolviria e a meia face da verdade se mostraria.
 
O coração da cabana

Silencio que faz chover

 
Silencio que faz chover
 
Faz tempo que não te escuto e busco

o céu atras de pássaros que

alegrem meus dias.

O vazio que teu silencio provoca
se aprofunda como um abismo estreito
sem dar condições à asas pra outros refúgios.
Tem momentos que me retiro pro meu peito
e lá encontro um céu acinzentado insinuando
chuva e chovo, chovo como março
ainda na infância se estufando cada
vez mais por saber que muitos dias
e chãos aguardam mais e mais aluvião.
Às vezes entrego meus olhos às minhas mãos
desamparadas de calor mas elas
não sabem o que, com eles, fazer
e saem pingando por sobre caminhos brancos
para semear palavras encorpadas de sal.
 
Silencio que faz chover

um despenhadeiro balançando

 
um despenhadeiro balançando
 
Minhas mãos agora têm os calos
do escultor...

Desde que a estrada te levou
um horizonte bambo me seduz e
é sempre noite para que meus olhos
se percam para nunca mais te achar.
Talvez por isso, nos sonhos,
fico amontoando pedras
e vou subindo em cada noite
uma pedra até um dia ser a montanha,
que, do alto, pelo menos,
reduzirá o ponto de te lembrar.
 
um despenhadeiro balançando

A casa que o tempo esqueceu

 
A casa se encontrava vazia
quando lá cheguei
mas o nada foi logo se enchendo
de nostalgia.
 
A casa que o tempo esqueceu

Dramático

 
Verso-me de dramas e brado o ardor.

São poemas costurados e as cicatrizações
nunca acontecem. Há fragilidades nas linhas.

Versos se conversam na dor e na paixão,
na realidade e na ilusão que a vida trama
e faz pulsar o soluço junto com a euforia
de algumas conquistas.

Haverá sempre o sofrer por algo que falta entranhado na fartura de posses que não encobrem o pecado da desilusão quando se percebe tudo não passar de um remendo
incolor.
 
Dramático

Sob os olhos do silencio

 
Sob os olhos do silencio
 
Sentia a multidão de silencio sobre a alma em curvas na horizontal. Detalhadamente os sentimentos das linhas sendo analisados, como seres microscópicos contorcendo-se sem receios dos observadores... E somente: sem laudos ou prognósticos de eventuais encarnação.

A alma estendida não dava mostra de incômodos pelos silêncios acachapantes, mesmo que aqui e acolá brotassem na pálida exposição algumas urticárias pelo desejo de saber se agradava sua serpentuosidade dentro das linhas que mais pareciam estórias traçadas por anjos.

Não bastasse a mudez do tempo sisudo em seu antigo terno sempre novo nas horas, a rabiscar mapa de idades no semblante especulativo de céu adocicado de estrelas e grávido de cores cerúleas, um querer de arco-íris sem receio de doar sem receber, no horizonte havia a guerra de pássaros na disputa de voos mais céleres e rebuscados para vasta contemplação.
 
Sob os olhos do silencio

Braços e pássaros

 
Braços e pássaros
 
Triste, como triste é o ocaso,
cheia de estampas eu vou
em cores vivas e em cada passo
marco o descer do sol
em plenitude despedida.

Meus braços abarcam o céu
e anoiteço em pedaços,
vou c' os pássaros pela noite
derramo meu sereno, lances de
dualidades; antídotos e venenos.
 
Braços e pássaros

mil tons de azul abaixo da superfície

 
mil tons de azul abaixo da superfície
 
Fechou os olhos e equilibrou o sentimento para tocar a linha esticada e poída quase ao ponto de se romper. Assim, de olhos fechados, se sentia mais confortável para melhor sentir a extensão da fragilidade do afeto. Talvez a causa do desfio tivesse nascido de si por não ter aprendido a transmitir a intensidade do que lhe residia ou, tenha sido pela insatisfação do elo que segurava o outro lado da ponta, por querer tramas grossas e coloridas. É certo que nunca fora de carregar ramalhete de flores e nem tampouco sobejar mel das palavras...Mas será que nunca foi percebido o bater de quatro asas durante os voos dentro dos círculos de cada abraço... Nunca foi observado o marulhar do mar, as praias e o azul no alto esticado ao máximo para se estampar de todos os alados imagináveis, quando labios se queriam e se juntavam? Nunca foi sentida a brisa fresca, ainda úmida da madrugada, quando olhares, pelas manhãs, se misturavam? Então assim, de pálbebras descansadas naquela introspecção, entendeu que doces palavras não requerem esforços para compreensão e... Como são bem vindos os imediatos afagos banais ... Como é difícil captar as profundezas de um sentimento que só quer bem. Não, não iria engomar a linha para dar impressão de resistencia. Se do lado outro o puxão se detivesse firme restaria o rompimento da ligação e seu próprio mergulho para os reinos abissais.
 
mil tons de azul abaixo da superfície

Pacificantes

 
 
Para o reino des-humano fugir irei,
fugir iremos,
para beber da inocência
dos irracionais animais .
Dos sentimentos humanos,
distanciarei,
distanciaremos,
como pássaros em debandadas
deixando para trás
o chão das humanas mãos
que dilaceram tudo
com espadas
 
Pacificantes

Coração Alado

 
 
Abriu a janela quando a madrugada se vestia de púrpura.
Ergueu a face e recebeu a brisa e a cortina de cabelos voou liberdade infinita;
um quadro se pintou no tempo quando ela percebeu que também era universo.
Grávida, instantaneamente, de tanta luz, quis sorrir e sorriu.
E aquela vontade louca de soltar fitas e laços tomou conta de si levando-a a desabotoar,
meticulosamente, o peito, até fazer o coração saltar, como um pássaro entranhado
na consciência de voar, para arrebanhar a felicidade, antes dali, nunca vista.
 
Coração Alado

Quem deveria mudar?

 
Ele era céu relampejante. Sua voz estremecia o chão e o seu coração quando queria acariciar
galopava desenfreado à beira mar querendo se misturar em altas ondas de espuma. Ela era folha deitada no vento. Seu caminhar era o deslizar no lago, o cisne, desenhando ondas no silencio. Ela era a quietude prateada caída da lua. Ela era a valsa da poesia discreta porém, nua. Ele tateava o tempo atrás de um vulcão. Do vermelho quente consumindo carvão. Ela dedilhava harpa recostada em nuvens. Ele queria as curvas venenosas da serpente. Ela queria apenas amar, amar suave, para sempre!
 
Quem deveria mudar?

Descarrilamento

 
Descarrilamento
 
A medida da ponte , devaneio transgredia
palmo a palmo, falsos eram os percalços desconstruindo a ilusão...
Empedrava nuvens - agressiva arma da saudade - falta que nunca acabava
e por onde os passos iam, tristeza ecoava
compassando com o descarrilar do peito;
açulava daquele jeito os passeios da solidão.
Nas calçadas, bares e ruas -
debaixo de sol, noite e chuva, não havia qualquer supressão; o distanciamento
da causa sempre perdurava.
Se cada erguer dos olhos fosse
ponte construída, nem um oceano provocaria
separação.
 
Descarrilamento

à deriva, às vezes

 
Em algum momento a bolha estoura e já não existe a redoma macia e colorida para as mãos massagear ou ali desenhar o que a ilusão permitia.
A realidade é uma loba na caça de alimentos para suas crias, com os caninos de fora no aguardo da presa estatelando-se gorda, suculenta e macia, no seu habitat.
O que fazer quando os rabiscos ilusórios se desmancham no ar e o chão duro e áspero é a melhor recepção; aquele que dá a escolha para se andar ou correr, ficar ou fugir?
Às vezes deixo-me ser nada além que um caule seco caindo em queda d' água; para não saber onde irei chegar ou que me engolirá.
 
à deriva, às vezes

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De indumentária comum
de quem trabalha na terra
com a atenção voltada apenas para o céu
e para o arado
sabendo que pelo menos uma semente
germinará para alimentar a pretensão
do futuro.

Trata-se de um poema que veio
com o vento e chegou porque tinha
que chegar

Trata-se de um poema que quer apenas
brotar, como arbusto na beira
do caminho
ou nuvem que surge no horizonte
onde não lhe impõem obrigação de chuva.

Sem brasão de renome
em broche de poeta
trata-se de um poema sem nome

Lu
 
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