mil tons de azul abaixo da superfície
Fechou os olhos e equilibrou o sentimento para tocar a linha esticada e poída quase ao ponto de se romper. Assim, de olhos fechados, se sentia mais confortável para melhor sentir a extensão da fragilidade do afeto. Talvez a causa do desfio tivesse nascido de si por não ter aprendido a transmitir a intensidade do que lhe residia ou, tenha sido pela insatisfação do elo que segurava o outro lado da ponta, por querer tramas grossas e coloridas. É certo que nunca fora de carregar ramalhete de flores e nem tampouco sobejar mel das palavras...Mas será que nunca foi percebido o bater de quatro asas durante os voos dentro dos círculos de cada abraço... Nunca foi observado o marulhar do mar, as praias e o azul no alto esticado ao máximo para se estampar de todos os alados imagináveis, quando labios se queriam e se juntavam? Nunca foi sentida a brisa fresca, ainda úmida da madrugada, quando olhares, pelas manhãs, se misturavam? Então assim, de pálbebras descansadas naquela introspecção, entendeu que doces palavras não requerem esforços para compreensão e... Como são bem vindos os imediatos afagos banais ... Como é difícil captar as profundezas de um sentimento que só quer bem. Não, não iria engomar a linha para dar impressão de resistencia. Se do lado outro o puxão se detivesse firme restaria o rompimento da ligação e seu próprio mergulho para os reinos abissais.
Pacificantes
Para o reino des-humano fugir irei,
fugir iremos,
para beber da inocência
dos irracionais animais .
Dos sentimentos humanos,
distanciarei,
distanciaremos,
como pássaros em debandadas
deixando para trás
o chão das humanas mãos
que dilaceram tudo
com espadas
Coração Alado
Abriu a janela quando a madrugada se vestia de púrpura.
Ergueu a face e recebeu a brisa e a cortina de cabelos voou liberdade infinita;
um quadro se pintou no tempo quando ela percebeu que também era universo.
Grávida, instantaneamente, de tanta luz, quis sorrir e sorriu.
E aquela vontade louca de soltar fitas e laços tomou conta de si levando-a a desabotoar,
meticulosamente, o peito, até fazer o coração saltar, como um pássaro entranhado
na consciência de voar, para arrebanhar a felicidade, antes dali, nunca vista.
Quem deveria mudar?
Ele era céu relampejante. Sua voz estremecia o chão e o seu coração quando queria acariciar
galopava desenfreado à beira mar querendo se misturar em altas ondas de espuma. Ela era folha deitada no vento. Seu caminhar era o deslizar no lago, o cisne, desenhando ondas no silencio. Ela era a quietude prateada caída da lua. Ela era a valsa da poesia discreta porém, nua. Ele tateava o tempo atrás de um vulcão. Do vermelho quente consumindo carvão. Ela dedilhava harpa recostada em nuvens. Ele queria as curvas venenosas da serpente. Ela queria apenas amar, amar suave, para sempre!
Descarrilamento
A medida da ponte , devaneio transgredia
palmo a palmo, falsos eram os percalços desconstruindo a ilusão...
Empedrava nuvens - agressiva arma da saudade - falta que nunca acabava
e por onde os passos iam, tristeza ecoava
compassando com o descarrilar do peito;
açulava daquele jeito os passeios da solidão.
Nas calçadas, bares e ruas -
debaixo de sol, noite e chuva, não havia qualquer supressão; o distanciamento
da causa sempre perdurava.
Se cada erguer dos olhos fosse
ponte construída, nem um oceano provocaria
separação.
à deriva, às vezes
Em algum momento a bolha estoura e já não existe a redoma macia e colorida para as mãos massagear ou ali desenhar o que a ilusão permitia.
A realidade é uma loba na caça de alimentos para suas crias, com os caninos de fora no aguardo da presa estatelando-se gorda, suculenta e macia, no seu habitat.
O que fazer quando os rabiscos ilusórios se desmancham no ar e o chão duro e áspero é a melhor recepção; aquele que dá a escolha para se andar ou correr, ficar ou fugir?
Às vezes deixo-me ser nada além que um caule seco caindo em queda d' água; para não saber onde irei chegar ou que me engolirá.
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De indumentária comum
de quem trabalha na terra
com a atenção voltada apenas para o céu
e para o arado
sabendo que pelo menos uma semente
germinará para alimentar a pretensão
do futuro.
Trata-se de um poema que veio
com o vento e chegou porque tinha
que chegar
Trata-se de um poema que quer apenas
brotar, como arbusto na beira
do caminho
ou nuvem que surge no horizonte
onde não lhe impõem obrigação de chuva.
Sem brasão de renome
em broche de poeta
trata-se de um poema sem nome
Lu