Prosas Poéticas : 

A morte é um lugar exacto, o choro é um lugar disperso.

 

Cansada de esperas inúteis reencontro a vida, sentada a um canto sacode o pó da mesa com a mão pálida. Vaguear insólito por ali e por aqui. Um sorriso triste inunda-me a face e choro com o riso quebrado no horizonte, antes que a manhã se principie apago a luz da alma para respirar o eco absurdo dos gestos amados. A vida poderia findar, se assim fosse não restariam os beijos dados à socapa nem o desejo de morrer agarrado a muito. Se a morte é a única certeza que temos porque havemos de viver?
Intoxicação?! Porque não? Respiro só mais um pouco antes de me ser diagnosticada a tristeza crónica. Distúrbios, queixumes, uma alma à tona de tudo como se a água fossem os momentos desgraçados que passamos sem nos darmos conta.
Vidas! Pessoas! Soltam-se os braços em filosofias de abraços que não se deveriam contar, solta-se o mundo ao avesso do que somos transpirando na minha pele, solta-se tudo antes que se acabe a voz dos gestos inacabados.
Tremo. Respiro devagar, pau-sa-da-men-te, reclamo, proclamo o nome do choro que sei que me acompanha e antes que a verdade me mate de uma vez por todas já nada me faz sentir viva.

Morro!


. façam de conta que eu não estive cá .

 
Autor
Margarete
Autor
 
Texto
Data
Leituras
904
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
2 pontos
2
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Pedro.Pinto
Publicado: 11/04/2008 12:41  Atualizado: 11/04/2008 12:41
Participativo
Usuário desde: 08/03/2007
Localidade: Leiria
Mensagens: 28
 Re: A morte é um lugar exacto, o choro é um lugar disperso.
Encontro-me nas tuas palavras...

Adorei.

Enviado por Tópico
Alemtagus
Publicado: 11/04/2008 14:20  Atualizado: 11/04/2008 14:20
Membro de honra
Usuário desde: 24/12/2006
Localidade: Montemor-o-Novo
Mensagens: 3100
 Re: A morte é um lugar exacto, o choro é um lugar disperso. p/ Margarete
Cada palavra tua é uma imagem que envolve a minha leitura, vejo-te a escrever e sinto-te a respirar... pau-sa-da-men-te! Mas sempre viva.

Magnífico.

Beijo