Teu poder
Vera Cabalini
Prazeres sentes tu,
quando me fazes cair
nas frias malhas da
insignificância!
Alegra-te o coração,
saber-me curvada
face aos silêncios
das tuas distâncias!
Tens tu,
o dom de revestir-me de fraquezas e,
diante da tua nobreza,
sou ingênua criança!
Ocultas tu,
o semblante da própria face e,
implacavelmente,
comigo rompe alianças!
Mas como podes tu,
recitares minhas demências e insanidades
se, tampouco, o meu amor alcanças?
Cumpre-me ressaltar,
que não quero lágrimas na tua linda face,
para não saber violada
a tua elegância!
Não me revelarei em preto no teu espelho
Também, não é vermelha a minha fragrância.
Buscarei em outros mares,
o verde da minha esperança!
Quase nada
Vera Cabalini
Minha vida de repente
virou roupa surrada
no varal dependurada
sem vida e sem cor!
Minha alma adormecida
não encontra mais guarida
na alegria ou na dor!
Sou quase indiferença
cabeça que já não pensa
coração sem amor!
Sou parte desinteressada
sou apenas quase nada
ou o começo do FIM!
Sou canção desentoada
desafinando a madrugada
com as sobras de MIM!
O último dos sonhos
Não era dia e nem era noite em minh' alma
Não era frio e nem era quente o meu ser
Assim, encontrei-te na brisa branda e calma
No singelo acaso, do meu insignificante viver!
Pulsou-me no peito o velho coração sonhador
Saltou-me aos olhos uma ponta de felicidade
Eras tu, o meu mais lindo e insensato amor
Sem que eu soubesse, se sonho ou realidade!
Mas um dia me descobri muito distante de ti
Tanto e tão longe... que não tive como voltar
O momento da tua chegada, era o meu de partir!
Agora distante de ti posso pensar, ver e sentir
Que foste tu, uma linda miragem a me afagar
E o último dos sonhos a me perseguir!...
Por onde pisaram os meus pés
Por onde pisaram os meus pés
houveram espinhos e flores
Alegrias e dores!
Por onde pisaram os meus pés
houveram ausências e saudades
mentiras e verdades!
Por onde pisaram os meus pés
houveram fé, descrenças, vaidades
amor, ódio e falsidades!
Por onde pisaram os meus pés
houveram jogos, azar e sorte
tristeza, vida e morte!
Por onde pisaram os meus pés
tornou-se caminho sem volta
sem atalhos, sem portas
Por onde pisaram os meus pés
ficaram glórias e fracassos
meus sonhos e pedaços!
Temporal
É noite, chove lá fora
Entre relâmpagos me vejo
Nos soluços que trovejo
Nas águas que derramo
Nos raios que inflamo
Nas solidões que vomito
Nos ecos do meu grito
Nas dores do meu pranto
Nos desafinos do meu canto
Nem a última esperança no varal
Nem a mais singela flor do meu jardim
Poderão resistir ao temporal
que ora explode em mim!
Confissão cega
Em agonia, meu coração aguarda
Um único gesto teu que me confesse amor
Os teus sentidos parecem adormecidos
Eternizados entre os cobertores da indiferença
Sento-me a conversar com meus pensamentos
Necessitada da urgência de respostas
Tentando entender os teus silêncios
Mas há uma dúvida a ser esclarecida, desnudada
Difícil entender esta tua apatia
Que me faz frágil feito criança
Quando me tomas o pensamento da dúvida
E essa maldita dúvida derrama-se
Para o além do aceitável
Há uma verdade a transbordar
Invadindo-me a alma, o olhar, o peito
Resta-me entender a tua linguagem
e abraçar o teu abandono
como uma confissão cega
De que já não me amas!
Eu nasci sozinha
Ora sou uma santa
ora Madalena
ora sou veneno
ora cibalena!
Sou eu quem me faço
Se quiser me mato
A vida é minha
Eu nasci sozinha
ora sou o peixe
ora sou anzol
ora sou a lua
ora sou o sol!
Sou eu quem me faço
Se quiser me mato
A vida é minha
Eu nasci sozinha
ora sou a fraude
ora sou a lei
ora sei de tudo
ora nada sei!
Sou eu quem me faço
Se quiser me mato
A vida é minha
Eu nasci sozinha
ora sou o vinho
ora sou o pão
ora sou Maria
ora sou João!
Sou eu quem me faço
Se quiser me mato
A vida é minha
Eu nasci sozinha
OBs. esta letra foi musicada pela autora. Se quiser, pode ouvi-la acessando google- recanto das letras- autores: vera cabalini- audios-