Sonetos : 

MEUS SONETOS VOLUME 050

 
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01


Desejo que incendeia; acesa chama,
Que toma nossos corpos, nos invade.
A tua voz sedenta já me chama,
Não posso resistir. Amor quem há-de?

Enveredar meu mundo em tua trama
Vem logo, não permita que se tarde
Tanta alucinação em nossa cama,
Amor que nos sustenta, queimando, arde...

Vestidos da nudez tão desejosa,
Amor tão envolvente e vigilante,
Na forma sensual e tão gostosa,

Da fêmea tão esguia e delicada,
Vivemos neste templo, amor bacante
Minha alma na tua alma seqüestrada...



02


Desejo que este amor invada o coração
E marque carinhoso, em cicatriz risonha
Deixando para trás qualquer desilusão
E a glória- ser feliz - nos teus braços se ponha,

Desejo que o sorriso, em mansa sensação
Afaste do caminho a dor fria e medonha
Desejo, minha amiga, o lume do perdão
Que ensina ao caminheiro o rumo em que se sonha.

Que a vida te proteja ou sempre te alivie
Que o mundo a cada dia ensine a ser feliz
Que mesmo num inverno o tempo sempre estie

Que saibas enfrentar o riso e a tempestade,
Que o manto da verdade afaste a falsidade
Desejo, finalmente, a ti, tudo o que eu quis...


03


Desejo que esta festa seja eterna
E traga sempre a luz que me irradias,
Enquanto existirem poesias
Uma alma encantadora não se inverna.

No teu aniversário, amor lanterna
Guiando cada passo em alegrias,
Sabendo decifrar, caminhos, vias
Que levem à paisagem calma e terna.

Vencer em paz qualquer dificuldade,
Cevando a cada dia esta amizade
Que traz a quem conhece-te o prazer

De ter a luz suprema feita em glória,
Razão de se poder crer na vitória
Do amor e num louvor o enaltecer...
Marcos Loures



04


Desejo que a verdade te agracie
Com os beijos delicados deste amor
Que nada neste mundo te resfrie
Intensos os desejos com fervor...

Acostumaste a voar sem ter as alas
Que, em veros versos sempre mentes.
As luas que pretendes açoitá-las
Penetram calmamente nossas mentes.

Mas foges destes brilhos sem saber
Embora somos feitos deste sal,
A vida que transtorna cada ser,
Em dívidas da sorte, no final...

Na dúvida que corta nosso canto,
Abrace nosso amor, em puro encanto



05


Desejo o teu sorriso, o teu prazer,
Com toda sutileza necessária.
Salivas e suores vou beber
Na fonte delicada e temerária

Embalsamando os sonhos de alegria,
Vertendo em gozo pleno, com preguiça.
Vivendo esta fantástica euforia
Rasgando a tua roupa, o fogo atiça.

Balanço destas ondas, teus quadris,
Encaixes tão perfeitos, prazerosos,
Repito e novamente peço bis
Usufruindo assim de loucos gozos.

Desejo tão somente eternidade
Nas tramas deste amor/felicidade...



06


Desejo tão profano que nos move
Nas línguas que se buscam, destempero.
A vestimenta inútil se remove
Neste carinho enorme, com esmero.

Exploro cada ponto, sem perguntas,
A silhueta exposta, nua e bela.
As mãos que se percorrem, leves, juntas,
Toda a loucura em gozo se revela.

Degusto cada gole do teu ser,
Entranho teus mistérios e segredos.
Nesta cascata amada, teu prazer,
Delícias que me encharcam, boca e dedos...

Em cada gota encontro tal magia,
Inundação divina de alegria...



07


Desejo tão profano e animal
Tomando nossos corpos, vou faminto...
Sorvendo este prazer de mel e sal,
Em cores variadas eu me pinto
E sinto o teu perfume sensual,
Me inebriando sempre teu absinto...

Tu danças, cavalgadas, noite ardente.
Na febre que nos toma, loucas horas...
Sentindo em tua boca cada dente,
Carinhos, mais carícias, tu me imploras...
E a cama se tornando mais fervente
Mais vezes, muitas vezes... me decoras...

E sinto tua gula mais audaz
No amor que a gente fez, e quero mais...



08



Desejo tão errante te procura
Estamos tão parceiros e distantes.
Na borda do caminho da amargura
Nas curvas das montanhas deslumbrantes...

Devíamos amar tão simplesmente
Quanto respiramos, sem perguntas...
As mãos se deslocando totalmente
Seriam bem mais fortes, quando juntas...

As pedras que carrego tão pesadas
Entranham em meus ossos, não me largam.
Os sonhos de manhãs mais orvalhadas
Em tantos palavrões mordem, afagam...

Mas saiba que eu te amei, porquanto te amo,
Por isso, dessa ausência, eu te reclamo!



09


Desejo tão aflito de te ver
Sentir o teu perfume nas narinas,
As minhas mãos suadas; te estender,
Nesta delícia sempre me alucinas;
Meus lábios te querem percorrer
Descobrir belas grotas, fontes, minas...

O calor que me invade, tentação,
Nesta angústia gostosa, te sentir.
Do teu corpo no meu, sofreguidão,
Um desejo tão grande a prosseguir
Nessa noite extasiada de paixão
Nossos gozos a ponto de explodir...

Esperando tão tenso; meu desejo
Só se acalma no teu primeiro beijo...
Marcos Loures



10


Desejo tanto este amor
Que se faz a cada dia
Transformado em poesia,
Traz somente a bela flor,

Vou contigo aonde for
O meu sonho, a fantasia
Verso a verso recompor
Todo o canto que existia

E que o vento da saudade
Muitas vezes, tempestade
Fez virar areia e pó.

Sinfonia feita encanto
Espalhando canto a canto
Não quer ninguém mais só...
Marcos Loures



11


Desejo que tu venhas já sem medo,
Com toda uma explosão em fogo intenso.
Ardendo no teu corpo, faço enredo
Do amor que tanto quero, sempre imenso.

Não deixe pra depois, vem logo agora,
Não quero mais deixar de ser feliz.
Se tantas vezes minha alma inda chora
É por que não teve amor que sempre quis.

Arder em tuas chamas, ser teu homem,
E penetrar teus sonhos com vagar,
Eu quero que meus braços já te tomem
Prometo uma alegria assim te dar.

Deixando as diferenças para trás
Querida, o que eu mais quero: amar demais...
Marcos Loures



12


Desejo nesta espera ser feliz
Esparso meus delírios pelo vento...
De tudo que na vida sempre quis,
Eu guardo teu amor no pensamento...

Espero tanto bem, nosso futuro,
Em flóreas sendas tramo meu caminho,
Amor que sempre fora assim tão puro,
Não posso permitir ser mais sozinho...

São tantas ilusões aqui cravadas,
Esplendorosamente, meu tesouro...
As horas sempre vãs, desesperadas,
Aguardam outro tempo, pleno em ouro...

Amada me perdoe se não traço
As letras deste amor em pleno espaço..



13


Desejo meu querido companheiro
Que o mundo se aproxime do teu sonho.
Num gesto mais sincero e verdadeiro,
Meus barcos nos teus braços sempre ponho.

Na rosa que plantamos num canteiro
Promessas dum porvir bem mais risonho.
Que o amor este divino feiticeiro
Afaste a solidão. Eu te proponho

Que leve bem mais leve a tua vida.
Num mundo mais gentil e sem segredos,
Distante das tristezas, velhos medos...

Na sorte que desejo repartida,
Um tempo assim refeito e sem maldade,
Em todo este poder de uma amizade.


14


Desejo mergulhar meu corpo em ti,
Usufruindo o gozo mais audaz.
Colhendo este prazer que enfim senti,
De tudo o que quiseres ser capaz.

Alçando meu desejo em tuas fontes,
Umedecidas ávidas, sedentas,
Entrando em grutas, furnas, belos montes,
Fornalha em explosões tão violentas.

Fazendo de teu corpo, o meu altar
Aonde possa sempre desfrutar
Do paraíso em vida toda noite.

A fogosa amazona galopando
Corcel que na loucura se entregando
Sentindo tua boca como açoite...



15



Desejo mais profundo e sensual
Roçando o nosso corpo, devagar,
Não tendo sequer pressa de chegar
Adentro este caminho sem igual.

Quem dera se pudesse um imortal
Tivesse eternidade a me tocar,
Voando em liberdade até chegar
O gozo mais perfeito, triunfal.

Sementes espalhadas pelo chão,
Causando ao reflorir, revolução,
Tomando num momento, céu e mar.

Arando com carinho cada lavra,
Usando o dom do sonho e da palavra
Sabendo quanto é bom, decerto, amar.
Marcos Loures



16



Desejo já pedindo que te veja
Batendo na janela do meu quarto.
Além de todo o bem que se deseja
Se faz assim desejo sempre farto.

Não vejo outro caminho que não seja
Aquele que me leva ao mesmo fato
Não falte esta vontade onde sobeja
Imagem resguardada num retrato.

No afeto que nos toca, não se engana,
É feito de carícias com certeza.
Desejos que se mostram deste jeito,

De forma mais audaz e soberana
Na certa se entregando cama e mesa,
No fundo o que desejo? Satisfeito...
Marcos Loures



17


Desejo esta nudez que sem receios
Adentra no meu quarto em noite mansa.
Com túrgidos mamilos, belos seios,
Nas tramas enlouquece em cada dança.

Aos poucos percorrendo os teus veios
Prazer inigualável já se alcança,
Com força e com ternura os meus anseios
Sobre tua nudez, amor descansa.

Qual Vênus maviosa, que em Carrara
Com mármores e perlas esculpida.
Em tua beleza alva, fina e rara

Trazendo para a Terra argêntea lua,
A boca te procura, distraída,
E louca, se estremece ao ver-te nua...


18


Desejo encontra em ti um manso albergue
E enquanto tu não vinhas eu sonhava
Com toda a fantasia que persegue
Aquele que sem gêiser quis a lava.

Asperges teu perfume por aí,
Dos ais que tanto faz ou pouco fez
Buscando o que deveras não perdi
O coração cedendo à insensatez

Mergulha nos ciúmes, tramas falsas,
O cais segue distante, frágil porto,
Não tendo mais cargueiros nem as balsas
Descalço esta emoção, e semi-morto

Abranjo com meus olhos o infinito,
E volto à sensação, frio granito...
Marcos Loures



19


Desejo desvendar cada mistério
Que escondes entre as pernas bronzeadas,
Fazendo deste gozo, ministério
Em meio a mil lambidas e chupadas.

Alçando a cada orgasmo um mar sidério,
Deixando tuas minas esporradas,
Na foda mais gostosa, um caso sério,
As horas vão passando assim, safadas...

Eu quero ter teu grelo em minha boca,
Sarrando o teu rabinho, meu caralho,
Sabendo cada ponto, cada atalho

Entrando mais faminto em cada toca,
Vem logo que eu te quero toda minha,
A deusa sem vergonhas, bem putinha...



20


Desejo desse amor tão mais bonito
que trama tantas noites sem receios,
ardendo tanto amor, em manso rito,
beleza, tanto beijo, ardentes seios.

o sol riscando brilhos neste azul
percorre tantos sonhos mais felizes.
estrela que navega norte e sul,
tramando desta vida seus matizes...

eu quero ser feliz, não mais me importo
com tempos, tempestades e temores.
apenas me entregar ao manso porto
que mostra tanto brilho nos amores.

amada como é bom estar contigo,
proteges destas dores, do perigo...



21


Desejo desnudar teus belos seios,
Intumescidos, loucos e sedentos,
Nos toques mais suaves, meus anseios,
Fragrâncias delicadas, pensamentos...

Entrar por tuas minas e teus veios,
Calando meus caminhos mais sedentos,
Deitando em teus cabelos, meus enleios,
Meus dedos te percorrem, calmos, lentos...

Nos rumos que me levam aos mistérios
Que tento desvendar, tua nudez...
Sabendo desfrutar gozos etéreos.

Carnais estes meus sonhos mais intensos,
Sangrando assim, total insensatez...
Momentos deliciosos, livres, tensos....



22


Desejo o teu desejo desde agora,
Melífera esperança de prazer.
Delírios que sobejos posso ver
No corpo que em ternuras já se aflora.

Beijar a tua boca sem demora
Sentir a tua pele, posso crer
Que mesmo tão distante te saber,
O fogo anunciado revigora.

Ao ter tua nudez, ser todo teu
O gozo deste encanto se verteu
Nas veias deste insano trovador.

E quando em explosão, num frenesi,
Orgástica loucura vejo em ti,
Derrame prazeroso de um amor...
Marcos Loures



23



Desejo o que desejas; meu amor.
Verter nosso prazer no mesmo jogo,
Que é feito sem vergonha e sem pudor,
Ardendo com certeza, insano fogo.

Do amor que a gente faz, encantador,
Na sanha de te ter, mas venha logo,
Não quero te perder, quero propor
Se necessário, falo mesmo em rogo

Que seja a companheira inseparável
Nas noites, madrugadas e manhãs,
Na fonte do desejo inesgotável,

Palavras e delícias, bons afãs
Suores, ferormônios, loucos cios,
De beijos e carinhos mais vadios...
Marcos Loures



24



Desejo o que desejas tão somente,
Vivendo cada sonho em luz intensa.
O amor quando promete a recompensa
Valoriza decerto esta semente

Plantada em nosso peito, toma a mente
E nela com carinho a gente pensa
Ganhando esta alegria que é imensa,
Do fruto magistral que se pressente.

Vieste harmonizando os meus caminhos
Usando como adubo, amor, carinhos
E sabes que cevaste muito bem

Mudando a direção da minha história,
Encontro nos teus braços luz e glória
Preconizando a luz que o dia tem...
Marcos Loures



25



Desejo nos tomando em tempestade,
Das gotas desta chuva, um rio intenso,
Formado em caudalosa imensidade
Que faço se somente em ti eu penso?
Amor vai me tomando de verdade
Num temporal divino, louco e denso...

As águas vão rolando em cachoeiras,
Inundam arrebóis, vales e margens,
As noites mais vorazes, sem geleiras
Permitem calorosas, as viagens,
As bocas se procuram sorrateiras
Invadem outros rumos e paragens...

E nesta enchente louca do desejo
A paz tão esperada, já prevejo...
Marcos Loures


26


Desejo neste teu aniversário
Felicidade plena em mansa paz.
Do mundo que se mostra temerário
Espero que consigas ser capaz

De ter amor, que é sempre necessário,
E quando em perfeição nos satisfaz.
Um dia a dia calmo e solidário
Trazendo a imensidão em sonho audaz.

Presente em tua vida uma alegria
Que viva, já permite um sonho brando.
A sorte renascendo a cada dia

E os lumes da esperança decorando
O céu com harmonia em azulejo,
É tudo, minha amiga que eu desejo!



27


Desejo aos meus amigos muito amor
E a paz tão redentora enquanto vida.
Antes do final, sempre um sonhador;
Quero felicidade dividida

Entre todos aqueles cuja dor
Por um momento cala uma saída,
Numa delicadeza, mansa flor,
Em perfumes e luzes revertida.

Que não se preocupem mais comigo,
Carrego minha cruz e não reclamo.
A vida, com certeza é um perigo

Inda mais se negamos dono ou amo.
E saibam, companheiros, fui feliz
Das chagas e feridas, cicatriz...



28


Desejo a ti: feliz aniversário
Que a vida te sorria mansamente.
O mundo tantas vezes temerário
Talvez se modifique totalmente

O sino rebimbando, o campanário
Está comemorando, pois pressente
Que este dia trará ao calendário
A marca de mudança e de repente

Se o homem perceber que nesta data
Alguém já poderá nos mitigar
A dor que se demonstra todo dia,

Assim a vida mostra e me arrebata
Trazendo mil motivos pra brindar
Com toda uma emoção, tanta alegria...



29


Desejo à flor da pele nos tomando,
Entregues ao sabor do forte vento,
Dando vazão assim ao sentimento,
Querida com certeza estou te amando...

Perdendo a direção e sem comando,
Nem mesmo alguma fuga ainda tento,
Bonança feita em forma de tormento.
Um vendaval fantástico audaz e brando.

Teu corpo como um cais tão aguardado,
Delírios cometidos sem pecado,
Da carne, seus apelos e vontades.

Farnéis abastecidos de prazer,
Sacias minha fome, posso crer
Que enfim conhecerei felicidades...
Marcos Loures



4930


Desejar cada momento
Do teu lado, meu amor,
Coração batendo lento
Descompassa em tal fervor

Tanto amor que me atormento,
No teu verso encantador,
Vou sentindo a mão do vento
Balançando cada flor

Ser só teu em noite clara,
Nosso amor que se declara
Ninguém pode mais calar;

Ao te ter bela e desnuda,
Meu amor: um Deus me acuda!
Dá vontade de te amar...



31

Desejo desfrutar da mesma fonte
Que tanto me seduz quando me excita
Descendo pêlos, montes, horizonte
A fonte tanto doce quão bonita..

Mergulho nesta fonte com vontade
De estar por todo o tempo com você,
Vivendo meu prazer com liberdade,
Liberto, lhe procuro mas cadê?

Dançando nossa dança mais profana
Na cama que queremos neste instante.
Amada como é boa dor que explana
E trama tanta fonte delirante...

Entrando nessa fonte sem pedir,
Vivendo nosso amor, neste ir e vir...



32


Desejo de te ter inferno e céu,
Cravando em tua boca meu carinho
Com fome e com ferrões te dou o mel
No látego desejo, de mansinho...

Respiro-te veneno e clorofila,
Sugando todo o doce que amargaste,
Na guerra, em plena luta, vais tranqüila
Do jeito em que na paz me infernizaste...

Somas que dividem, multiplicam,
No prisma genial da sedução,
Contradições fantásticas explicam
O fogo da loucura e da paixão...

Meu bem, na calmaria desta noite,
Te quero mel e fel, num doce açoite...


33

Desejo de ser teu; bela menina,
Na força soberana deste amor
Que espalha em nossos sonhos, mar e flor,
Ao mesmo tempo sangra e nos domina.

Intensa fantasia a se compor
Além do que a razão já determina.
Mudando a direção, transforma a sina,
Deixando uma emoção solta ao sabor.

Nos ventos que se fazem temerários,
Nos olhos que compõem uma alegria,
O quanto este querer demais se urgia

Demonstra quão possível ser feliz.
Buscando comum foz, mesmo estuário,
Contigo eu tenho tudo o que bem quis...
Marcos Loures



34


Desejo cada parte do teu ser
Embora tantas vezes nada eu diga.
Se trazes teu carinho com prazer
Certeza de que em mim amor se abriga.

Não posso e não consigo te esquecer
E quero que esta vida assim prossiga.
Bebendo desta fonte, podes crer,
Mas venha, por favor e então me diga

Se queres meu carinho e meu desejo
Na cama, no quintal ou neste quarto
Amor não é somente um relampejo

Precisa de constância e, na verdade,
Contigo todo o sonho que eu reparto,
Trará para nós dois; felicidade!
Marcos Loures



35



Desde a primeira vez quando te vi,
Desejo alucinante me tomou.
Ao te encontrar, em ti eu me perdi
Meu mundo nos teus braços, naufragou...

Eu quero-te, não nego esta vontade,
De ter teu corpo nu junto comigo,
E desfrutar prazer, felicidade,
Tendo em teu colo, todo o meu abrigo...

E penetrar teus vales devagar,
Teus seios em meus lábios... mansamente...
Descendo minhas mãos até chegar

Tua umidade amada, sempre quente...
Beber desta fonte, assim, termal...
Sorvendo cada gota, sensual...



36

Desculpe se te ofendo, minha musa;
Por vezes me esqueci do teu ciúme.
Não fiques assim tonta, tão confusa;
Não posso mais viver sem teu perfume.

A noite se demonstra cega, obtusa
Se não estás. Me perco num queixume,
Se foges de meus braços. Ó cafusa ,
Meus olhos necessitam do teu lume!

Tens no sangue, beleza duma Iara,
De princesa africana esta linhagem.
Rainha dos desejos, da coragem,

A vida te ilumina, jóia rara!
Amar e desejar-te: doce sina!
E m’honras com teus beijos, Albertina!


37


Desculpe se repito o mesmo tema,
Falar de amor parece ser bem fácil,
Embora, necessário ter, da gema
A sensação dourada de ser grácil.

Não vejo amor tão simples como um lema
Por mais que tantas vezes eu disfarce-o
Não mudo, nos meus versos, nem um trema,
Nem quero e nem permito que isto embace-o;

Portanto, meu amigo, mil escusas,
Se tantas vezes canto em mesmo tom,
Prefiro me encantar com belas musas,

E demonstrar, sem medo, as emoções;
Não digo que isso seja ruim ou bom,
Que responda Vinícius ou Camões!



38


Desculpe se pareço-te sarcástico,
Sou fruto deste mundo que me deste...
O rosto que fingiste segue plástico,
O medo de viver gerou a peste.

Nos saltos que tentei, pareço elástico,
O franco atirador, foi simples teste...
O prazo já venceu, isso é fantástico,
O tomo que hoje li, foi inconteste...

Recebas um carinho como um tapa,
Dilaceres a mão que não te roça,
Dos livros que te dei, sabes a capa,

As hortas se definham, sem verduras...
A casa que vivemos, é palhoça,
As noites que me deste são escuras...
Marcos Loures



39



Desculpe se pareço sensual,
Amiga, na verdade eu nada sinto,
Senão uma certeza aonde minto,
E faço por fazer meu ritual

De simplesmente andar noutro bornal,
Aconchegado ao corpo onde pressinto
Calor que se quiser, virando absinto
Trará um longo porre genial.

Porém como um falsário que se entrega
Aos mares de um corsário sem pudores,
No fundo minha amiga, as minhas dores

Caminham sem destino em rota cega.
A par do que não sou eu reconheço
Que a falta de visão gera o tropeço.



4940

Desculpe se o lirismo te incomoda,
Estúpidas palavras que eu te digo,
Num canto que faz fora de moda
Encontro ainda um resto, um fim de abrigo.

O tempo não descansa e sempre roda
Não tendo mais o visgo em que me ligo
Talvez a solução se faça em poda
Matando um verso inútil, tão antigo.

Mas teimo nessa imensa babaquice
Que sei que te incomoda, minha amiga
De tudo o que eu disser e já te disse

No romantismo tolo me arremeto
E falo desta forma vil e antiga
Fazendo um arremedo de soneto.



41



Desditas esquecidas no passado,
Em noites que vieram; mas não foram...
Querendo teu amor sempre ao meu lado,
Meus dias, t’as promessas comemoram...

Não vejo mais ausências nos meus passos,
Nem vejo mais as trevas que vivíamos,
Nem temo mais dilúvios nem fracassos;
Amores que, te juro, nem sabíamos...

Eu sinto remoçar meu coração,
Depois de tanto tempo sem ter nada...
Vivemos nosso amor, sem solidão,
Entregue nos teus braços, minha amada...

Eu quero o gosto doce do prazer
Que nos teus lábios sei reconhecer...

42


Desdita
Azar.
Se dita;
Sangrar.

Maldita;
Teu mar
Reflita
Luar...

Que a sorte
É vária;
Meu Norte

Verdade
Hilária...
Quem há de?



43

Desdenho esta notícia que me trazes
Falando de um momento que passou,
A lua se derrama em quatro fases,
Porém a nossa lua já minguou

Enquanto em outros sóis te satisfazes
Eu vejo em que buraco amor entrou
Os gestos muitas vezes são falazes,
Atesto o que decerto não mais sou.

Retenho as tuas marcas tatuadas,
Somente cicatrizes, nada mais.
Decoro dos amores tabuadas

E tenho a solidão por sobremesa.
Por mais que estes meus versos são banais
Não quero ser somente caça e presa...
Marcos Loures



44


Desdenhei os teus sonhos e recados...
Pela vida, cruel e indiferente...
Os olhos que te viram, vão cansados
A morte se aproxima, lealmente...

Os bosques do prazer, incendiados...
Sobraram carcará, lobo, serpente,
Vivendo nas penúrias destes cardos.
Sonhar deixou de ser vital, urgente...

As asas do albatroz não mais sustentam
Meus braços, sem querer perdendo o vôo.
Os medos que tivemos não agüentam,

Os erros cometidos, não perdôo...
Desculpe, por favor, tanto desdém...
Os restos que carrego, sou ninguém!
Marcos Loures



45


Desde que em mim nasceste simplesmente
Eu cuido com presteza e sentimento.
Não quero te perder tão de repente,
Só quero proteger-te deste vento...

Nasceste flor bonita do cerrado,
Granaste nesse amor num novo fruto,
Tu sabes como estou apaixonado,
Do amor e do desejo, sim, desfruto...

Ó flor que imaginei, flor ideal;
Não deixe que esse frio despetale;
És bela e teu sorriso divinal
Que o amor que já brotou nunca se cale!

Do fruto que colhemos, nossos sonhos,
O gosto de outros dias mais risonhos...



46


Desde que ela se foi não tenho vida,
Escute, por favor, amigo meu.
Aquela que eu pensava tão querida
Aos poucos, no meu mundo, se perdeu...

Levada pelo vento da paixão,
Deixou aqui por dentro quase nada,
Não creio que eu encontre solução,
Minha alma aqui ficou, abandonada...

Não vejo mais prazer e nem vontade,
Nas coisas que fazia com prazer,
Amar como eu amei, tanta verdade;
Perdido nesta angústia vou morrer...

Desculpe se me mostro por inteiro,
Amigo é pr’essas coisas, companheiro



47


Desde a primeira vez, quando te vi;
Percebi que jamais te esqueceria...
Depois, vivendo amor tão grande em ti
Conheci, com certeza, uma alegria.

Em todo o teu carinho percebi
Que a vida, neste instante, sorriria.
Pois todo o bem da vida estava ali,
Ao lado da mulher que eu bem queria...

Nossa primeira noite num motel,
As roupas espalhadas... Belo sonho
Levando em fantasias para o céu...

Os corpos misturados... Que prazer!
O dia mais feliz e mais risonho...
Nossa primeira vez; como esquecer?



48



Desculpe se eu pequei, foi erro meu
Assumo meus defeitos, mas te adoro!
Meu barco no teu cais já se perdeu
Amor que tanto quero; agora imploro.

Quem dera se pudesse ser Romeu,
Defeito que carrego; isso eu deploro,
Impedem que a pureza invada o céu.
Amor que tu declaras, comemoro...

E sinto bem mais próxima uma esperança
De ter um dia, enfim, felicidade.
A noite em poesia já se avança

Riscando o véu das nuvens um cometa
Traçando neste espaço a claridade.
Trazendo pros meus sonhos: Julieta.



49



Desculpe se eu errei; minha querida,
Não posso mais ficar sem ter teu canto.
Teu brilho em si, redime minha vida,
Tu és toda a certeza de um encanto.

Não penso numa triste despedida,
Te quero, muito além das forças. Tanto!
A mão que te acarinha, distraída,
Perdeu-se... O que fazer deste meu pranto?

Amar também se faz no perdoar,
Os erros cometidos, tão imensos,
Servirão p’ra aprender a te adorar

De forma contundente, muito além...
Meus dias vão passando mortos, tensos,
Até à morte luto por teu bem!

4950


Desculpe se demoro meu amor
O medo de temer a tempestade
Na peste que repente já me invade
A morte se repete sem pudor.

Nas hordas espalhando tanto horror
Que nunca mais terei a liberdade
Sem ter a lua vago na cidade
A mocidade traz prazer e dor.

Se bebo não concebo nem recebo
Amor que se traduz em tanto sebo
Meus livros esquecidos para espanto

Depois que tu vieste, na fogueira
Se todo dia for segunda feira
Prefiro demorar um outro tanto!
Marcos Loures



51


Desculpe se chamei-te de criança,
Defesa, simplesmente, nada mais,
Guardando o teu sorriso na lembrança
Com medo de, na vida, perder paz,

Chamar-te para a festa e para a dança
Que à gosto a nossa vida sempre traz.
Só sei que há tanto tempo amei demais
Vibrando no meu corpo uma esperança

De ser além de tudo, teu amado,
É sonho que trará um sofrimento
A quem por tanto amor já foi marcado.

Propostas amorosas? Por favor; não!
Eu sei que a solidão, este tormento,
Maltratará demais o coração...



52


Desculpe por amar-te tanto, tanto.
Às vezes te sufoco, me perdoe.
O amor que nos recobre, doce manto,
Permite que esta voz, ao longe, ecoe.

Assíduas emoções que nos libertam
Sentidos aguçados, gozo pleno.
Enquanto vãs tristezas nos desertam
Eu obedeço ao teu sublime aceno.

Carrego nos bornais do pensamento
Estrelas fascinantes que ora espalhas
Vencer com alegria tal tormento,
Sobejas fantasias nas batalhas.

O amor que causa sempre este alvoroço
Transmuda o meu destino outrora insosso...



53


Desculpe meu amor, mas acontece...
Depois de tanto tempo eu percebi
Que a vida em nosso amor já se esvaece
E longe, bem distante, estou de ti...

Não adiantam rogos, sonho e prece
O amor que sempre tive, enfim perdi.
Somente este vazio agora cresce
Tomando o coração. Eu te esqueci...

Se pudesse mentir e te enganar
Mas não creio ser justo. Estou tão frio.
É duro te dizer: não sei amar...

Por isso meu amor, eu vou-me embora
Levando este meu peito tão vazio,
Bem sei que em tanta dor o amor já chora...



54

Desculpe meu amor se te mostrar
A face que não sabes que inda tenho.
O gosto da amargura em meu olhar
Mostrando a realidade de onde venho.

Eu venho dos famintos campos tantos,
Nas terras das Gerais, exploração.
Sem seca mas distintos desencantos
Mostrando essa dureza em nosso chão.

Do povo tão sofrido, quase gado,
Vivendo na cruel semeadura.
Achando que viver é triste fardo,
A pedra que cultiva, sempre dura.

Eu venho das montanhas brasileiras
No sonho e na minha alma, as trincheiras!



55


Desculpe companheiro se inda insisto,
Falando deste peso feito cruz,
Eu na verdade tento, e assim resisto,
Mostrando este caminho pleno em luz,

Dizendo deste irmão, querido Cristo,
Aquele que chamaram de Jesus,
Por quem em desamor foi tão malquisto
E ainda depois disso me conduz

Marcado pelas chagas da vingança,
Trazendo para todos, esperança!
Fazendo da amizade o maior pleito

Em voz tão mansa a todos Ele disse
A vida sem amor, leda tolice.
Felicidade plena é um direito
Marcos Loures



56

Desculpas pra poder te ver de novo,
A cada dia invento, e não me escondo.
Às vezes sei que causo algum estorvo
Depressa, vou meu mundo recompondo.

Meus olhos te procuram pela casa,
Na sala, no banheiro, em nosso quarto.
Ao vê-la tal loucura vem e abrasa
Não largo um só segundo, não me aparto.

Eu quero estar bem perto nunca nego,
Tu és minha vontade de viver.
Sem ti, caminho a esmo, quase cego,
Tu és a claridade. Como ver

Se não te tiver aqui teu brilho e lume.
A flor que nasce em ti, puro perfume...


57

Desculpa se não tenho tal doçura
Nem a brandura sempre requerida
Por quem sonhando sempre com ternura
Encontra tal rudeza em sua vida.

Embora radical com alma pura;
Espero que a palavra proferida
Não trague nos teus olhos amargura.
Perdi minha finesse de saída...

Sou qual um lavrador, mão calejada
Foram tantos espinhos recebidos
Minha alma em sangue e dor foi destilada,

Não tenho a maciez que tu querias.
De tanto que meus pés foram feridos,
Te falo deste amor, sem poesias....



58



Descubro; estou por ti, apaixonado
Sentindo esta presença pela casa
Além de um simples sonho que me abrasa,
Um lago em mansidão glorificado

Andara em solidão; preocupado
Porém uma alegria não se atrasa
A vida finalmente já me apraza,
Sabendo que terei sempre a meu lado

A boca desejosa em lábios quentes,
Os braços em carinhos envolventes
Servindo como guia e bom suporte

Contigo eu já me sinto descoberto,
Nos laços desta trama em passo certo,
Eu não quero sequer medo de morte.
Marcos Loures



59


Descubro por que ganhas e dominas
Os jogos sensuais que te proponho,
Bebendo fartamente dessas minas,
A vida vai passando como um sonho.

As rotas da esperança, peregrinas
Afastam qualquer dia mais medonho.
No quanto com meus lábios tu combinas
Um quadro mais sublime em ti componho.

Distante das ferrugens dos salões
Desfila em passo manso pelas ruas.
Sabendo conquistar sem ser esnobe.

O coração balão em festa sobe,
Vagando por espaços, ganha luas
Soltado pelas mãos feitas paixões...
Marcos Loures



4960


Desculpe se não tens por mim, amor,
Bem sei que tantas vezes me enganaste
Dizendo que em teu peito sonhador
Meu sentimento intenso era guindaste

Que te elevava ao céu com esplendor.
Mas cedo, esta cascata que turvaste
Em todas as mentiras, sem pudor,
Que logo, muito cedo me falaste.

Mas mesmo assim te busco em cada sonho,
Meu versos sem resposta fica triste,
De amar; jamais, meu bem, eu me envergonho

Pois sei que mesmo em tanta ingratidão,
Um resto de emoção inda persiste,
Pois é teu, sempre teu; meu coração!



61



Desculpe se não tenho um palacete,
A casa na verdade é de sapê
Meu verso às vezes chato, é um cacete,
Mas canto meu amor, e ele é você;

No amor é necessário um capacete,
Procuro pela casa, mas cadê?
Não tendo outro caminho que eu encete
Confete, eu te confesso, ninguém vê.

Aceita um pré-datado? Ou no cartão,
Quem sabe mesmo um vale-refeição,
Perdoe, mas não tenho nem trocado.

Esmolo este carinho que não dás,
Apenas desejava alguma paz,
O amor que a gente fez, foi mal-passado...
Marcos Loures



62



Desculpe se não creio em teu narciso,
Espelhas os defeitos e mentiras...
A cor desses acordos não preciso,
As sedas desfarei todas em tiras...

Por vezes mais sincero e tão conciso,
No campo das estrelas não atiras.
Nas verves e nas lavras perco o siso.
Esqueço dessas musas e das liras...

Deliro nos meus cantos? Falsidade...
Meus versos imprecisos e falsários...
Vendetas e conchavos: claridade?

Não sei se me pressinto ou desfaleço.
No mundo dos poemas, meus armários...
Não falo dos amores: não mereço!
Marcos Loures



63


Descreve o pensamento um ato nobre
Que mostre qual poema, o meu destino,
Sonhando com palavras descortino
O sol que com prazer já nos recobre.

E tendo esta certeza, mesmo pobre
O velho coração vira um menino,
Por mais que tantas vezes me amofino
Enfrenta o campanário em triste dobre.

Ariscos os meus dedos no teclado
Falando deste sonho abençoado
De ter a maravilha de poder

Usando desta força mais tenaz
Que o verso em seus detalhes já nos traz
Aprendo finalmente o que é viver...



64


Descrença traz no bojo esta tristeza
Sem ter algum alívio que permita
Alguma imagem lúdica e bonita,
Embora a vela permaneça acesa.

A sorte desdenhosa me despreza
Ulula a ventania, o mar se agita
A lúbrica sonata já me incita
E em pesadelos, bebo a correnteza.

Corpo inerte, viúvo da ilusão,
Das procelas soturnas da saudade,
Apenas desespero e nada mais.

Entregue aos dissabores da paixão,
O sol me transportando à realidade,
Naufraga uma esperança, nega o cais...
Marcos Loures



65



Descoradas roseiras, vã procura...
As trevas negrejando toda luz...
Não posso completar a noite escura,
O campo da discórdia serve a cruz...

Nossa bandeiras vestes da candura,
Nesse momento audaz, clamam Jesus.
O rumo dos remendos da ternura,
Não vencem nas estradas cada pus...

Mentiras e verdades são dolentes,
São plenas dos repastos dos demônios...
Nascemos navegando sim, mecônios...

Morremos nossos ares nos pulmões.
Os gestos mais noturnos, indecentes,
Soturnos, vasculhamos os porões...



66


descompassado e tolo coração,
refém deste desejo insuperável;
caminho que procura, interminável,
ao fim trará decerto a solidão.

eu vivo sem saber se é sim ou não
resposta que sonhei ser agradável,
do solo que pensara ser arável,
o tempo não deixou vingar um grão.

mereço, por acaso, tal destino?
os olhos mareados são sinais
do quanto se mostrando em desatino

os dias jamais foram favoráveis.
seriam mais amáveis rituais
se as águas fossem mansas e potáveis...
Marcos Loures



67


Descobrir as cascatas maviosas
Depois das curvas todas deste rio,
Se o jeito é sepultar as minhas rosas,
Jardim de outro quilate eu fantasio.
O quanto ainda sejam ardorosas
As noites que espantaram medo e frio.

No parto da ilusão, fórceps usei,
Abrolhos abortados, gestação.
Penumbra se tornando amarga lei,
O beijo da mulher, fornicação,
Mascaro o que em delírios resgatei
No fundo o barco perde a direção

E volta ao mar que um dia, revoltoso
Negou ao marinheiro porto e gozo...

68


Descubro os meus cadáveres nas ruas
Vagando pelas sombras tão silentes
Enquanto nas penumbras envolventes
As hordas tão funestas andam nuas.

Intensas gargalhadas continuas
E vestes garatujas impudentes
As esperanças sempre impertinentes
Naufragam frágeis naus, velhas faluas...

Neste arcabouço tolo, o ser humano,
Que teima em se sentir o soberano
Eu vejo retratada esta miséria

O fardo que trazemos pesa tanto,
E nele proferindo o desencanto
A estúpida paisagem vã e etérea...
Marcos Loures



69


Descubro a tua pele
Desnudo-te em completo
Vasculho e me repleto
Ao corpo que me atrele

E nua se revele,
Banquete predileto,
Eu sou o seu objeto
Cavalo que se sele

E monte sem descanso,
Bravio, louco e manso
Sereno ou insensato,

Galopando em estrelas
Nas ânsias, convertê-la
Raspando todo o prato...



4970


Descubro a bela fonte e seu segredo,
Tesouros escondidos sob a saia,
No samba de meus sonhos, tal enredo
Encontra a luz da lua que desmaia

Forrando meu caminho desde cedo,
Que a sorte deste jogo nunca traia
Do amor que se fez sonho, reza e credo,
Mulher deusa, cativa, rainha, aia.

Num esplendor o brilho do adereço,
Aplausos sempre fartos da emoção.
O quanto que eu te quero, não tem preço,

Revejo este desfile vencedor,
Nas cordas da guitarra ou violão,
O ritmo deste sonho, encantador.
Marcos Loures



71


Descrita há tantos anos, uma lenda,
Falando de princesas e castelos,
Amor que tudo sabe, já desvenda
Arando uma esperança em bons restelos...

Na aduana da vida, não sonega,
Dedicação perfeita que se exige
No amor quando em verdade e paz se entrega
A um mundo mais sublime nos erige.

Ebúrneo sentimento intransigível,
Amor não tem limites, segue à risca
Embora tantas vezes intangível,
Um vôo cego decerto sempre arrisca.

Eterno renascer da juventude,
Nas horas mais difíceis, meu açude...
Marcos Loures



72


Descrevo uma tangente pela vida,
Centrípetos desejos me atraindo
Enquanto pouco a pouco vou fluindo
Deixando esta esperança em despedida.

No vértice dos sonhos, me deslindo,
Do eterno labirinto, uma saída
Há tanto desejada, esvaecida
Refém destes caprichos da libido.

Prescritos, mas sensíveis, resolutos,
Ofuscam meus olhares, velhos lutos
Com qualquer ventania, estou em paz.

Querências se propagam nessas veias,
Que enquanto distraída me incendeias
Na chama que convida e satisfaz.
Marcos Loures



73



Descreveste o poeta como alguém
Que vive além da dor e da alegria,
Perfeito fingidor como dizia
Pessoa em sua trova, e muito bem.

Canteiros de saudade, a vida tem,
A mão que cultivava a fantasia
Irmã de uma palavra fugidia
Antevendo este vento que inda vem.

Plantando em raros versos framboesas,
Florindo em perfeição tantas belezas
Os sonhos, a amazona em glória encilha

Eu faço este soneto em homenagem
Àquela que dourando a paisagem
Virou sinônimo de luz: Cecília!
Marcos Loures



74



Descendo pela bela cachoeira
As águas tão cruéis deste meu pranto.
Inundam com certeza, todo canto.
E trazem solidão da vida inteira.

Na pedra que maltrata, a corredeira
Produz tanta beleza em seu encanto.
Porém amor se foi, e o desencanto,
Despenca nessa pedra verdadeira.

Rolando com as águas, que lagrimo,
Deveras não terei mais um descanso.
Meu sonho, ser feliz, já não alcanço,
Distante da mulher que tanto estimo.

As lágrimas escorrem com o rio.
E o que sobrou do amor, morre de frio...
Marcos Loures



75


Descendo o Pantanal numa chalana
Passando por remansos, corredeiras
Vontade de chegar é soberana
Saudades são cruéis e matadeiras.

Distância de quem amo, desumana,
Desejos em palavras verdadeiras;
Meu peito apaixonado não se engana
Encara; se preciso, cachoeiras...

Quem teve nesta vida uma paixão
Entende este meu verso enamorado.
Um coração ferido e maltratado

Por tantas desventuras. Solidão,
Já sabe quanto é dura esta demora
Na espera de rever quem tanto adora...



76


Descendo nas ladeiras da cidade,
Em meio aos casarios mais antigos.
O gosto benfazejo da saudade,
Passando pelas ruas e postigos,
Vivendo nosso amor em liberdade,
Os pesadelos mortos, sem perigos...

Atrás da porta aberta, escancarada
Encontro esta donzela que partiu
Em busca da roseira amargurada
Com gosto de vergonha em ser gentil,
Restando tão somente um quase nada
Daquilo que se fora mais sutil.

As nuvens que se formam em tormentas,
Traziam minhas tardes quentes, lentas...



77




Descendo esta ladeira da esperança
Vendendo amendoim em cada esquina,
O corpo ainda frágil da menina
Durante a noite; nu, prepara a dança

Vendido como bala, em bares trança,
A sorte se mostrando peregrina
Pedra de crack agora determina
O corte do futuro, podre lança.

Olhar que mira ao longe, louco, bóia
A mente se confunde em paranóia
E tudo o que pudesse morre em nada.

Milhares de cadáveres, sarjetas,
Expostas nas calçadas, as ninfetas
Moldando a juventude abandonada...



78

Descendo escada estreita, catedral,
Procuro por teus passos, minha amada...
Nas hordas que te cercam, festival
De flores primaveram tal escada.

Umbral entreaberto e colossal,
Deixando-me entrever manhã raiada...
Nos lagos um nenúfar tão banal
Demonstra u’a beleza na florada...

Nas selvas e florestas te procuro...
Encontro tão somente esse luar..
Criança que não tem medo de escuro,

Meus sonhos nessa estrela que te enfeita,
Não posso e nem consigo descansar,
Buscando t’a beleza, flor perfeita!
Marcos Loures



79


Descendo a correnteza da esperança
Uma amizade mostra-se potente.
Um sonho mais divino sempre alcança
Alçando um bom sorriso faz contente

Quem fora sofrimento sem remanso,
Quem fora só tristeza em agonia.
Um coração perdido sem descanso
Espera o renascer de um novo dia...

Por isso, meu amigo, esteja certo
Que todos nós aqui comemoramos.
Que bom que estejas sempre aqui por perto
Assim mais uma vez nós celebramos

O dia em que completas mais um ano
Conosco, com prazer tão soberano...



4980

Descobrem mil mistérios e segredos,
As ânsias que se moldam nesta entrega,
Ungindo com prazeres nossos credos,
O quanto que se quer jamais se nega.

Parceiros desta estranha jogatina,
Aonde não se sabe um vencedor,
Enquanto em doce insânia desatina
Componho em teu jardim espinho e flor.

No embalo desta festa anunciada,
O corpo que se entranha em belo porto,
Varamos sem limites, madrugada,
Até que ao recomeço eu me reporto

Farturas de colheitas, gozos, riso...
Expressão que me resta: paraíso...
Marcos Loures





81

Descobre no teu corpo; ancoradouro
Em doces aventuras juvenis,
Chamando por Tormenta o bravo mouro
Encontro nos teus lábios o que eu quis.

Em lutas tão diversas, meu tesouro
Está no teu olhar. Vou por um triz
No inclemente sol árabe me douro
Arabescos formando em bel matiz

Nos mares cipriotas, meu destino,
Voltando a ser de novo este menino
Que um dia imaginou tanta aventura.

Acordo e quando vejo tal beleza
Na vívida miragem, a princesa
Proporcionando enfim, rara ternura...
Marcos Loures



82


Descobre em tuas sendas, ricos veios,
Quem sabe a dançarina inesquecível
Bailando em liberdade, sem receios
Inebriando sempre em luz incrível.

Os passos desta dança bem ritmados
As coxas se tocando, mãos passeiam.
Desejos e vontades são rimados
O quanto que se querem; já se anseiam...

Revelações em formas tão iguais,
As línguas passeando, mais sedentas,
Os toques tão macios, sensuais,
Ao mesmo tempo negas quando atentas.

Depois as roupas viram testemunhas,
Dos versos que em loucuras tu compunhas...
Marcos Loures



83


Descerram constelares, cada véu
Os astros que invejosos tanto admiram
Um bardo sonhador, um menestrel
Na lira usando versos que te miram

E falam da beleza sem igual,
Divina perfeição em brônzea tez
Na terra descoberta por Cabral
O porto mais seguro? Insensatez...

Desvendo tuas trilhas, bandeirante
E vejo um Eldorado ao meu dispor.
A fonte que se entrega, deslumbrante
Já tem no meu prazer, seu tradutor.

O nó que nos uniu; se corrediço
Não nega nem impede o belo viço.
Marcos Loures



84

Descendo pelos rios caudalosos
Que levam da montanha para o mar
Prazeres que fizeram maviosos
O tempo de viver e de sonhar.

Eu quero ter comigo os mais formosos
Desejos que te aquecem, desfrutar
De todos estes sonhos deliciosos
De poder tuas matas desbravar...

Eu não somente quero, mas aflito
Espero ansiosamente cada toque
Que faça meu viver em novo enfoque

Por certo mais gostoso e mais bonito
Usufruir de cada sensação,
Trazendo para o mar, inundação...
Marcos Loures



85

Descendo pelas curvas deste rio,
Deixei meu coração em uma delas.
Agora com meu peito tão vazio,
Que faço com o amor dessas estrelas?

Não posso mais subir essa cascata
Nem posso navegar, perdi meu barco.
Talvez se eu penetrasse a densa mata...
Danado do Cupido entesa o arco...

Meus olhos cheios d’água, mais problema,
O rio vai se enchendo em enxurrada...
Que faço então Meu Deus desse dilema
Ou seco minhas lágrimas ou nada...

Querida vem depressa, vem amar...
Somente teu carinho vai salvar!



86


Descendo pela estrada tão umbrosa,
Hordas de passarinhos rumorejam.
As horas vão passando e se negrejam
Prevendo a noite imensa e tenebrosa.

Apenas pirilampos que vicejam
Tornado esta passagem luminosa
As cores tão distantes se desejam
Restando então espinhos, morre a rosa.

Solidão me encontrando em indolência
Moldando em meu caminho uma impotência
Capaz de não deixar restar mais nada.

Porém ao perceber tal soledade
Encontro todo apoio na amizade
E a vida se transforma, iluminada...


87


Descambo em outra andança por um triz,
Farrapos estendidos na janela.
Melífera ilusão não pede bis,
Nem mesmo esconde ausência de aquarela.

Das celas tão profanas, a masmorra,
Nas selas dos meus sonhos, liberdade,
Selando uma emoção que me socorra
Talvez insira enfim, tranqüilidade.

Iníquos quanto inócuos os meus dias,
Intactas maravilhas; não mais vejo.
Amor se vinculando às agonias
Ensangüentado vinho que porejo.

Dos louros da vitória, sequer sombra,
Fantasma feito amor, decerto assombra...
Marcos Loures



88



Desbravo mil caminhos em meus sonhos
Na busca pelo amor que tanto eu quis.
Quem sabe noutros dias mais risonhos,
Eu possa finalmente ser feliz...

Às vezes mal percebo o quanto a vida
Se mostra dadivosa para mim.
Num labirinto imenso, uma saída
Parece que surgindo, até que enfim...

Ouvindo o teu chamado, largo tudo
E corro sem olhar sequer prá trás.
Rebentas armadura e sem escudo
Me entrego num segundo e sou capaz

De ver felicidade, finalmente,
Tomando o coração, o corpo e a mente.



89


Desbaratando a trama dos sentidos,
Erguendo as velhas taças neste brinde.
No encanto que este olhar manso deslinde
Destinos entre sanhas já cumpridos.

Assanham teus cabelos, doce brisa
Que enquanto me apascenta diz do amor,
Poder que sempre foi transformador,
Chegando mansamente, não avisa.

E toma toda a sala, quarto e copa,
Do barco sendo proa, vela e popa
Comanda, timoneiro, nossa vida.

A cada novo dia se renova,
E mesmo quando posto assim à prova
Demonstra em alegria a sobrevida...
Marcos Loures




4990


Desate a fantasia deste dia
Que finge que não veio nem virá.
Roubando se puder, qualquer magia
Da noite em que deixei amor por lá.

Receba nos teus dedos, poesia,
Preveja que a saudade chegará
Desarme, no final, tua alegria;
Que nada deste dia brilhará...

Mas sinto o teu sorriso companheiro,
Qual fosse algum resquício do que fomos.
Amiga. Se me entrego por inteiro

E não somente apenas partes, gomos,
É por que pressinto a salvação
Na face da amizade e do perdão...



4991

Desalentado, busco essa princesa,
Que me deixou tristonho há tantos dias,
Matando cruelmente, as fantasias,
Deixando assim nenhuma luz acesa.

Meu coração deságua na represa
Que construíste. Mentes melodias,
Deixando minhas noites tão mais frias...
Meus olhos se cegando em tal beleza...

Vagueio pelas noites sem luar,
A vida foi soturna, quero o mar;
Mas o mar tão distante, sem marés.

Nas ondas que me trazem tal saudade,
Desalentado, fujo; mas, maldade,
Meu barco naufragou, podre convés...



92


Deságuo nos teus cios, meus desejos
De toda a plenitude feita em gozo,
Dos deuses que nós fomos, mar formoso
Intenso em loucos, doces, raros beijos.

Os dias que se passam, mais sobejos,
Sabor que encontro em ti, sempre gostoso,
Teu toque tão gentil e carinhoso,
Distante de temores, duros pejos.

Vencendo a solidão, triste marasmo,
Desfruto a maravilha de um orgasmo
Em senda assim florida e majestosa.

Delícias de saber, mulher divina,
Que a noite em fantasia te domina,
E em cada beijo meu, a deusa goza...
Marcos Loures



93


Deságua nesta ausência, amor, de ti;
Um mar em esperanças navegado,
Do todo que buscara; agora eu vi
Um dia em claridade anunciado.

Teus olhos radiantes já me guiam
Levando por estradas promissoras,
Momentos prazerosos quês e criam
Palavras benfazejas, redentoras.

Vontade de querer e estar contigo,
Razão que agora eu vejo para a vida.
O quanto que eu te desejo e já consigo
Saber da fantasia amanhecida

Nos braços carinhosos deste alguém,
Felicidade, eu sinto e quero, vem...



94


Desafio um cantador
A cantar com tal encanto
Com seu canto encantador
Dominando cada canto

Se portanto tem valor
Não me esqueço do teu pranto,
Entretanto é tentador
Ter teu corpo como manto.

Se me espanto com teu verso
Sou perverso e já revido,
Se este som vaga disperso

Vou imerso na poesia
Que de noite, não duvido
Vira estrela que me guia...



95


Descanso em teu regaço meus anseios,
Inebriante oásis que encontrei
Tomando num instante a triste grei
Vertendo maravilha em belos veios.

Pousando o meu delírio em fartos seios,
O amor que procurava sendo a lei,
No mar deste regaço mergulhei
Tornando os sofrimentos vãos, alheios...

Numa explosão de gozos magistral,
Perfume delicado e sensual
Invade a nossa casa, a sala, o quarto...

E após esta fantástica viagem,
O sol vai dominando esta paisagem
E encontra-me deitado, lasso e farto...



96



Descansar em teu colo, minha amada,
Depois desta batalha; dia-a-dia,
Amiga, companheira e camarada,
Tu és meu par perfeito na alegria,

Na dor e na tristeza. Abençoada
A mão que me conforta em poesia.
Prossigo me encantando, na jornada
Que traz felicidade e harmonia...

Meus olhos tão cansados de um vazio,
Na busca por mim mesmo, autofagias..
Na mansidão serena, como um rio

Deságuo nos teus braços, és me mar,
É sol que me aquecendo em noites frias,
Permite que eu conheça o vero amar...



97


Descansando nos braços da morena,
Eu me lembro da loura que deixei.
Mulata, eu gostaria de ser rei,
Beijando essa boquinha tão pequena...

Amor, quando é demais, logo envenena.
A campina que passo e que passei,
Muitas vezes sem rumo, desviei;
A saudade, de longe inda me acena.

Tenho tanto perguntas sem resposta,
No fundo, todo mundo sempre aposta,
Num amor que era pouco e se acabou...

Mas não quero saber se estou ou vou,
Nem sequer me interessa o que passou...
Eu quero, tão somente, a quem se gosta...



98


Descansando no colo da morena,
Na rede de teus braços meu amor,
Vontade de ficar contigo acena,
Me perco em teu carinho tentador.

Saudade quando muito me envenena
Tomando da alegria o bom sabor,
Vem logo, que eu te espero, bem serena
Morena, com teu jeito sedutor...

Açucena bonita do jardim,
Morena meu amor é todo teu,
A cena que guardaste para mim,

Vem plena de calor de carinho,
Serena, do meu mundo se perdeu,
Que pena, mas voltei a ser sozinho...



99


Derramas teu prazer por sobre mim,
Nos lábios que se fazem mais abertos
Enceto esta vontade que é sem fim,
Alago com carinho tais desertos.

Os dias se mostrando sempre assim
Lençóis jogados longe, descobertos
Vivendo esta loucura quero sim
Que o tempo nos encontre bem despertos.

E que tomando o néctar, todo o maná
Que emanas de teu corpo deslumbrante,
Na fome que jamais se aplacará

Na silhueta esguia e provocante
Nudez imaginária em fantasia
Fetiches santa insânia em euforia...
Marcos Loures



5000


Derramas em total sensualidade
Vontades que extasiam e dominam,
Enquanto em ti encontro a liberdade
Desejos mais audazes alucinam.

Sem medo e sem pudores, na verdade,
Delírios os teus beijos determinam,
Do lado de quem amo, eternidade,
Em tramas sedutoras que fascinam.

Na mágica expressão de nosso amor,
Prazer que se mostrando em pleno ardor,
Império dos sentidos, mil ardis.

Arder em tuas chamas tão somente,
Vivendo o nosso amor imensamente
Dizendo ao fim de tudo: eu sou feliz!
Marcos Loures
 
Autor
MARCOSLOURES
 
Texto
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