
 
         
                                Acabo de ter um sonho.
Que mãos são essas? 
Ágeis, diminutas, que roubam-me?
Sobre minha cama, videiras. 
Sobre, encontrá-se um jovem. 
Seu rosto deixa que o veja. 
Lembra-me alguém, oras, mas quem?
- Não deve levar minhas uvas. - alerto, mas segue.
Sobre minha cama, videiras. 
Sobre a videira, ele.
Que pula sobre a cama e se aproxima.
Em seu rosto um sorriso.
Oras, aquele sorriso. Eu o conhecia.
"Novamente nos encontramos. Andas a fugir de mim.
Vagueia para longe, em espaços vazios.
Estou cansado, mas contento-me em revê-la"
Ele fala como se existisse. Como se real o fosse.
- Isso é um sonho. - garanto. Eu sei.
O ar é refrescante. 
Tenho a segurança de um lar, 
e sinto-me envolta de macieis difusa. 
"Sim. Sempre o é quando nos vemos.
O que foi ruim deixa-se ir assim" 
Ele estala os dedos e flores caem sobre nós.
De imaginação a sonho. Eu o imaginei. 
Um segredo egoísta de mim mesma. 
Mas era errado, eu sabotava-me. 
Por que quando eu acordasse 
Desejaria retornar ao sonho, 
E ele não o mais estaria. 
- Pois que sonho esperaria?
Seus olhos amarelos, de rosto sério.
" Eu estou sempre a esperá-la. 
Preso nessas paredes de ar, 
espero que morras lá e vivas aqui. 
Se sofres imaginas eu. 
Tens duas vidas, 
eu sento ao teu lado e espero. Espero. Espero"
Sobre minha cama, videiras. 
Sobre mim, ele.
Meus olhos pesam. 
O cansaço de mil corpos. 
Cada piscadela um retrato seu. 
- Ao acordar escreverei sobre você. 
Não desaparecerá.
"Estou aqui" - toca minha testa.
"Estás aqui" - pousa minha mão em seu peito. 
"Incrível não? Existo dentro de sua existência"