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O grande caderno azul - XXXIV

 


XXXIV

Sexta-feira , sétimo dia. Manhã na oficina com o mestre da Galery, um pequeno sem -teto que prefere dormir ao relento do que na casa da mãe. Tem Problemas especiais. Seu Pietro amanheceu dormindo no sofá grande da pequena sala, mas a minha solicita cunhada o chamou e mandou-lhe deitar na cama dela. A garganta continua apresentando aquele enjoo, sinto o corpo febril e o pior passar uma semana sem dinheiro, o que não é novidade para ninguém. A pequena reserva monetária esta quase exaurida, mas amanhã vou fazer uma caminhada até o deposito. Estou chateado com essa situação vexatória,logo no primeiro trabalho para a minha bela e simpatia vizinha da Rua 23. Continuou lendo o Aurélio para aumentar o meu pobre vocabulário, mas minha mente corroída pelas drogas e álcool que consumi abundantemente durante a metade da minha idiota existência não retém os dados necessários e constantes lapsos de memórias, não lembrar-me nome de determinadas pessoas ou situações.. O problema é serio.Para amenizar a minha eterna fome,bebi café au lait avec un petit morceau de gâteau du chocolate qui la tante de monsieur Carl a fait à lui.
Minha cabeça esta no ponto de explodir de tanta preocupação,que até esqueço os outros problemas.Uma porta que se fecha, um sonho nunca realizado, o amor que nunca vou encontrar - assim é a minha pobre vida, quando estou preste a realizar alguma coisa boa , pimba, ocorre um evento negativo que muda todo o curso já traçado. Então vou começar tudo outra vez e dar no mesmo.. A minha sorte é a sagrada literatura onde me refugio para escapar das mazelas exteriores. Nazario,o empreiteiro apareceu e o ferro acabou de chegar e vou corta-los.
11:00 - Meu coração esta no ânus, em frente uma viatura da Blitz Urbana, temo que eles venham interditar a oficina e forçar-me a sair. Mas eles medem o prédio da frente da vizinha Loura. Cortei as barras do quadro, mas não adianta, por mais que eu me esforce não dará para terminara amanhã, espero que ela entenda.Mas se não entender paciência. Ela vai se descabelar, pode até me bater, mas não posso fazer nada, a culpa não foi minha. Clemencia, senhor! Dores velhas dores ciáticas de sempre. A viatura vai embora, a garganta irritada e o céu encoberto de nuvens plúmbeas.. Acabo gozando com as fodas mirabolantes do sacana mestre Miller, um exímio garanhão que não encontrava dificuldades para praticar seus atos sexuais. Será verdade essas peripécias que narra com tanto fervor? Não coloco em duvidas, ele é um grande e o respeito por ser franco e aberto, sem medo e nem escrúpulo de narrar os acontecimentos passados -sexuais. Quando li "Crazy Cook" a primeira vez não havia prestado muita atenção na historia do trio amorosos. Ele, June e Jean. Poucos teriam a coragem de relatar algo semelhante e o pior aceita-los tal com foi vivenciado. Mas nem por isso se abateu, pelo contrario sobre aproveitar o drama em proveito próprio e exorcizar os seus demônios. A linguagem é poética e surrealista ao mesmo tempo,isso prende leitor, por não saber o que vai acontecer, assim como Kerouac em "Pé na Estrada". O corpo todo dolorido, principalmente quando estico as pernas. Sinto muito a falta de uma companheira como amiga e amante para vivermos a nossa solidão . Mas tudo esta contra mim, não tenho dinheiro para adquirir boas roupas, nem fazer um tratamento dentário adequado aos meus dentes, frequentar bons ambientes e assim por adiante. E lógico que tenho que me acomodar e sonhar com um livro que ninguém lerá. Mas vivo e tenho esperança que ainda vou encontrar e viver uma grande amor, assim como foi com Dona Vani - uma branca, loura e independente. Vivo agora enclausurado nessa cúpula chamada Vila Embratel que gosto - de casa para cá ( a oficina da vida) e vice-versa. Banho-me, almoço e deito-me no velho sofá pequeno e vou ler a tarde toda. as vezes vou a lan-house ou comprara os pães para o meu frugal jantar, volto estarro-me no sofá e leio até as onze e pouca da noite, depois cama onde os gatos passam a noite toda azucrinando-me fazendo-a de trampolim para galgarem o alto o guarda-roupa e o pior é a volta quando num pulo cego caem quase sobre mim. estou terminando de digitar o romance, acho que hoje devo finaliza-lo. Vou reescrever o capitulo final. A Sra. Lacerda com uma sombrinha passa alegre levando o almoço do marido, o Capitão La Sierra que esta na loja ao lado do mercado. Essa é minha vida sem retoques e nem enxertos, assim que deveria escrever o meu próximo livro. Por enquanto tenho que aprender mais com os meus mestres,não vou me afobar.estou quase alcançando o meu nirvana literário, a apoteose da boa escrita - ainda não estou preparado. Desde a minha infância sempre quis ser um escritor, mas nunca o assumi como deveria, era fraco e receoso e nunca sabia por onde começar, mas aos meus cinquenta e poucos anos me sinto quase pronto para enveredar nessa nobre função, me espelho neles todos de Cervantes, Voltaire, Balzac, Dostoiévski, Hemingway, Miller, Kerouac - sempre estou relendo-os com a máxima atenção para decifrar esse código da boa narrativa. E não tem melhores mestres do que eles. Ultimamente estou tendo aulas com Miller "Tropico de Capricórnio", com Dostoiévski "Crime e castigo"; com Kerouac "Pé na estrada" e o Bitov "Casa de Puchkin" que acho meio filosófico existencial, comprei enganado pensando que relatasse a vida desse grande mestre da literatura russa. Vou me arrastando aos poucos paginas por paginas. Também tem Dickens "As Aventuras de PIckwik" que esta de licença, o permutei por Miller. Nesses últimos dias li Guerra e Paz

Tarde
13:45 - Almocei nIzzin Niojo com ervilha, arroz e caldo de galinha. Seu Pietro no computador,já almoçou e vai jantara tranquilamente, ainda vai beber cafe com leite com pão ou bolacha.
16:10 - Os olhos irritados, a garganta também - minha cunhada e sua cachorra abusada - os meninos abusados e suas vozes irritantes jogando bolinha de gude na rua - O cheirinho do meu calção.
- Levanta, levanta Chambinha! - - Grita minha cunhada para sua cadela,isso é todo dia - Senta, Chambinha.
16:35 - O olho esquerdo arde mais, vejo o filme clássico dos anos 80 "Flashdance" - li algumas paginas de Bitov parece que nunca sai do lugar,é uma lenga-lenga - não entendo a critica o elogiar. Talvez seja um livro para leitores com mais QI que o meu - mas leio, é a minha obrigação, diferente dos seus conterrâneos tão maravilhosos . Escreve bem, mas é enjoado. Um passarinho com um canto simples gorjear no poste, no fio de alta-tensão. Gosto de Nova York de Miller é viva espontânea,pujante com seus bairros de judeus, italianos,alemães, russos vivendo lado a lado no luxo de suas avenidas, de sua putas, os dancings, a multidão espremida nas calçadas, o trem elevado - O Brooklyn querido onde se criou. ..

Noite um pouco fria
Vesti a camisa polo e uma camiseta por cima - Como sempre acontece quando penso em fazer algo de importante, há um imprevisto. Depois da compra do pão,o banho da tarde, enganeleie-me com a minha surrada bermuda jeans e na camiseta preta e grande que ganhei de meu amigo Junior, futuro psicólogo por ter participado de uma Feira de Inclusão Social na Universidade do Ceuma-Renascença onde fiz uma palestra sobre mim no auditório Jarbas Passarinho e sai feliz para a Lan-house de Doredson em cima da mercearia da esposa de Seu Loyola - entre pelo estreito portão da estreita escadaria que dá acesso ao andar. Todo alegre pensando positivamente no que iria eu iria realizar ou seja digitar o ultimo capitulo e imprimir umas vinte folhas. Mas para minha tristeza a lan estava deserta e fechada. Dei um tempo na sacada, vendo o movimento de cima e o irmão hortigranjeiro trabalhando cobrindo os canteiros.Desci e fui conversar com o mesmo, advertiu-me que iria chover e não demorou caiu a chuva. Resolvi me abrigar na Lan-house da esquina do mercado com a Praça do Bacurizeiro. Temeroso resolvi acessar, mas cabreiro porque a ultima vez que fui lá não conseguir acessar nada. Sentei-me e para minha surpresa tive acesso ao You tube, imediato coloquei o Réquiem de Mozart, abrir o meu e;mail, mas não conseguir postar o capitulo.Fiquei deliciando-me ouvindo sob a regência de Karl. Depois a quinta e a nona de Beethoven, então responsável resolveu fechar .Paguei e dirigir-me novamente para a lan-house de Doriedson, dois rapazes estavam na porta, debruçados na sacada. Ainda estava fechado. Desci chateado, caminhei pelas calçadas desertas do mercado passei pelo primeiro portão e entrei no outro da Maycar. Passei pelo comercio de Seu Lacy e em rente as bancas das verdureiras encontrei com o velho parceiro de garrafa e sem teto,Seu Domingo em pé observando alguma coisa, parei e ficamos conversando um pouco. Sai pelo portão em frente ao Comercial do Capitão La Sierra. Contornei o canto do mercado na calçada do sacolão de Berreta com suas gôndolas cheias de frutas, legumes e etc. Entrei no Waldecir e comprei um queijo na porta encontrei com Locutor,um habitué da Lan, disse-lhe que a mesma estava fechada. E vim para casa. Um gato miando alto.Agora vou ler.O corpo pede descanso. Hesito entre Kerouac, Dostoiévski, Miller e BItov. Enquanto ouvia essas pérolas da musica clássica, lia sobre a biografia de algum desses autores, inclusive o doente do Proust,que assim que terminou um desses quatro vou reler "Sodoma e Gomorra". Bocejo, espirro duas vezes.
21:06 - O escolhido foi o mestre Dostoiévski,mas a fome falou maior e fui preparar ma souper.
22:50 - Obrigado Senhor! Amanhã serei execrado pela dona do portão que não fiz.

 
Autor
r.n.rodrigues
 
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