José Maria trabalha noite e dia
E nunca sai da agonia.
Qual é a graça da desgraça?
Por onde andam os valores que não estão na praça?
Onde o trem parou?
Não sei onde eu estou.
Onde foi parar o quadro que eu sonhava?
Engole-se o choro e as palavras.
Infelizmente dessa safra
Eu não sei qual a semente que se safa.
Há vidas por um fio,
Derretendo-se no calor do mundo frio,
Definhando e causando calafrio.
Há vidas em um fio
Enchendo o mar e esvaziando o vazio.
O que é a minha vida diante do diamante?
De amante da vida não há nada
Nos que surfam na onda dominante.
A minha vida não passa de uma escada.
Uma escada descartável
Sem nenhuma chance de ser reciclável.
Até a garça ri da raça
Voando perdida.
Até a garça acha graça
Da vida derretida, sumida na fumaça.
Qual passarinho passaria fome
Vigiando a comida de quem come?
Pobre José Maria,
Nunca sai da agonia,
Pobre homem, obedece sem ser obedecido,
Esquece que é esquecido e constrói sendo destruído.
Ele sabe que foi jogado para escanteio.
Ele sabe que o negócio está feio.
Mas esgotado, bico calado, nada de freio.
E nesse estado, nesse cercado,
Se frear será esmagado.
Sem movimento,
O pobre homem se transforma em um instrumento.
Uma ferramenta, uma escada, um lombo de jumento,
Um ponto para um pronto atendimento.
O pobre homem sempre paga o pato.
O pobre homem não sabe beliscar o prato.
Só sabe beliscar o prato quem não paga o pato.
Oh Pai! Se eu vir quem paga o pato no pulo do gato, ficarei grato.
Dessa força que a gente bota, brota o que a gente quer.
Se a gente se junta quem sabe assunta e de repente bate o pé.
Magno Ferreira