Há um lugar onde os passos não ecoam,
Onde a brisa fala em línguas esquecidas,
E o tempo não sabe morrer.
Sonho-me ali,
No mesmo limiar de uma porta que não se abre,
Perseguindo rostos sem nome
E vozes que sussurram promessas
Que evaporam ao toque da memória.
É um véu que nunca se rasga,
Uma névoa onde tudo é quase.
Quase verdade, quase fuga,
Quase eu.
Ali, durmo de olhos abertos,
E a realidade se curva como um espelho gasto.
Não sei mais se respiro ou apenas imagino o ar,
Se vivo ou apenas me repito
Em um ritual sem fim.
Porque há sonhos que não pedem licença,
Nem têm hora de partir.
Eles fincam raízes em nossa carne adormecida
E florescem — eternos,
No jardim do nunca acordar.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense