És um brilho num olhar que te apaga,
A nuvem desfeita no azul já gasto,
A onda órfã da sua querida vaga,
A rota errada num trilho sem rasto.
És a papoila num campo sem pasto,
A resposta da questão que se indaga,
A sevícia no corpo mais casto,
A gangrena do sentimento, a chaga.
És o músculo forte e descarnado,
O tendão dos movimentos quietos,
Os ossos do esqueleto predilectos…
És o sol que se põe tão atrasado,
A vista de quem te vê cego e achado,
Num horizonte só de ângulos rectos.
21 de Maio de 2010