Ardeu, queimou-se; a vida são dois dias,
Meio-dia de noite, outro de nada,
Volta a Maria à casa abandonada,
Com o corpo em sangue e as mãos vazias.
Vendeu-se a vendilhona entre as judias,
Abriu-se como terra desbravada,
E cobriu de pó a pele esfolada,
Espojando-se pelas lajes frias.
Mas da porta entreaberta, na soleira,
O íncola com mau trato e má maneira,
Bradou-lhe com lúcida bebedeira:
Irra! Saíste ainda agora e já cá estás?!
Só leio nesses olhos de goraz,
Que nenhum tempo volta para trás!
15 de Março de 2011