Caro poeta
Caro poeta,
Ao trazeres caneta em punho
Atente ao papel em branco
Logo ele vai se revelando
Portas abertas de um novo mundo
Adentre sem ter receio
Pois sabemos bem a razão
A liberdade que não tem o corpo lá fora
Tem aqui a imaginação
Nos permitimos voar
Alem da materia, alem do tempo
Voamos tão longe aqui dentro
Que nem precisamos saber voltar
Por este universo imenso
Onde todos somos capazes
De dar vida as frases
Que nascem quebrando o silêncio
Por vezes iluminadas, alegres
Correndo soltas
Outras vezes tão escuras
Que nem o medo ousa
Mas nós sabemos poeta amigo
O quanto nos da prazer
Poder viver por este mundo
O mundo do escrever.
Saudações!
Um brinde aos que escrevem de coração!
Viuvinha
Viuvinha por que choras?
Nem o sol quis te ver
Vestida em luto
Afogando flores em lagrimas
O tempo fechou
Lá vem tempestade
Um copo d'àgua rasga a garganta
Apertas ao peito um retrato
O passado não mais existe
Não voltou para casa
Desde a antevéspera
São só lembranças
Nunca foi tão imenso o vazio
Nem tão frio o silêncio
Piora quando a noite chega
Sem forças os joelhos dobram
E ao chão
Palavras se perdem em soluços
Até adormeceres
Ainda inquieta.
Duas Torres
Era uma vez, duas torres gêmeas
Uma chamava-se Hiroshima
A outra se chamava Nagazaki
Julgavam-se maiores que as demais
Até que um dia apenderam uma lição
"Aqui se faz, aqui se paga"
FIM
Cerca elétrica
Do jeito que anda a cidade
Fingimos não ver nada
População atrás das grades
E muros de suas casas
Policia presa, medo na rua
Cada um na sua, porta fechada
Janela lacrada, cerca ligada
Nada se sabe, tudo se cala
Aviso aos desavisados
Atente ao sinal vermelho
Pois não é dificil vê-lo
Simplesmente ignorado
Motorista movido a álcool
guiando irresponsabilidade
É como bala perdida
Do jeito que anda a cidade.
Seu Bebeto
Seu Bebeto quiz me ver
Mas nao sabia o endereço
Perguntou ao Seu Manoel
Que estranhou tanto adereço
Analisou, analisou e prefiriu não dizer nada
Mandou perguntar pra Dona Marina
Do outro lado da calçada
Mas ela estava mau-humorada
E prefiriu ignorar
Ele avistou Dona Augusta
E logo foi perguntar
Seu Bebeto é persistente,
Facil ele não desiste
Dona Augosta quando olhou
Pensou que ele fosse hippie
Menos mau hippie do que pensou o Seu João
Que olhou de canto de olho
Pensou que fosse ladrão
Seu Bebeto andou, perguntou...
Subiu até o céu
Procurou, procurou...
e ainda não me encontrou
( Singela homenagem ao meu Pai, SAUDADES! )
A Bodega
Mais baratas que cadeiras
Menos ar do que poeira
Pelo chão, lixo.
Pelo lixo, ratazanas
Ambiente cheira a bicho
Atendente banguela e manca
Radio de pilha ( ligado na A.M.)
Tocando Altemar Dutra
Tanto chiado que faz
Quase não se escuta
A alegre solidão do mendigo bebado cantando
Cebolas em conserva
Cigarros de contrabando.
Foi amor a primeira vista!!!
Verso, independentemente, meu verso
verso meu, que te gosto
filho torto
aleijado
do ventre podre
saiu a fórceps
sem aval dos bacharéis
criado nos becos,
bares, sujos lares
entornos de cabarés
em conversas de fé,
com pessoas sem fé...
sem cabeça, nem pé
chegou a mim,
no triste fim
de berrar, sem falar nada
de raiva!
em labutas, fajutas
sarjetas,
onde a barata tem melhor conduta
teimosamente vivo
em mim, até ti
verso meu, que te mostro
sou teu pai
é meu tudo
verso meu que te entono
no sarau da rua,
fostes mais que filho
foi CURA do abandono
São Ninguém