Poemas, frases e mensagens de lpaulo

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de lpaulo

Queria tanto ser poeta,
Falar do mundo, do amor,
Porque não da dor? Do sofrimento...
Da injustiça então,
Enfim, falar do meu sentimento...

Amar em Silêncio

 
… Sentei-me a descansar um pouco onde nos sentávamos meu amor.
Sim, eu sei que prometi não voltar,
mas o dia estava tão lindo, o sol brilhava, e há tanto tempo que não saía de casa.
Construí um pequeno passeio a caminhar um pouco.
Depois…
Depois, ouço meus passos ecoar no silêncio frio do meu coração e lembro-me que foste o meu caminho…
Desculpa meu amor,
mas sem ti não sei que fazer,
para onde ir.
Assim,
sento-me aqui e escrevo.
Não!
Escrevo apenas palavras que vagueiam soltas e que o meu coração já não consegue segurar,
Escrevo os teus gestos,
as palavras que revelavas, tão doces que me adormecia a noite
o teu amor, que me fazia esquecer o medo
Além disso meu amor,
é aqui sentado que me sinto mais perto de ti,
olho o passado,
vejo as tardes onde passeávamos de mãos dadas, a tua voz, tão clara, tão meiga, o teu sorriso desafogado que abraçava o mundo
Ah! Se pudesse emoldurar o tempo!
O tempo em que eras a minha estrofe,
meu oboé de Chopin
Ah! Se pudesse,
pendurava aquele tempo no meu quarto e tinha-te todas as manhãs!
Estou a ficar velho meu amor.
E agora…
que me importa o tempo que me sobra?!
Tu eras o hífen que me juntava á vida,
vida que ainda me autorizava sonhar, e que agora é um fardo que carrego sem esperança.
Há esperança na morte?
Por vezes dou por mim a invejar quem morre,
Hoje, a minha esperança é que a usura do tempo seja veloz e me leve até ti!
“Prometes que vais ser feliz?” Dizias
Prometi que sim, nunca te negava nada.
Menti!
Não aguento mais a promessa,
não consigo ser feliz sem ti,
não consigo amar-te mais tempo em silêncio,
não consigo morrer meu amor!

Queria tanto ser poeta,
Falar do mundo…
Do amor
Porque não da dor?
Do sofrimento?
Da injustiça então…
Enfim, falar do meu sentimento
 
Amar em Silêncio

Saudades

 
Hoje, vou descansar as saudades fora de mim...
Não quero pensar em nada.

Luís Paulo

Queria tanto ser poeta,
Falar do mundo…
Do amor
Porque não da dor?
Do sofrimento?
Da injustiça então…
Enfim, falar do meu sentimento
 
Saudades

És Rosa

 
És rosa

Tu és rosa,
És poema,
Poema, D`um poeta maior
Esboçada em alegria,
Tracejada com muito amor
És pétala colorida,
És vida que invade a minha vida,
És verbo de menina
És essência de mulher
És fragrância no teu âmago
És perfume que embriaga
És tudo o que um homem quer
Os montes
Os rios
Os vales
E até mesmo os mares
Prostram-se perante ti
Porque és rosa
Rosa,
Nascida p`ra mim

Luís Paulo
 
És Rosa

A promessa

 
Entardecia,
Olhavas-me de sorriso aberto… exausta, suada, o corpo nu espalhado na cama, de peito ofegante, viraste-te de costas a espreitar a rua. A noite principiava a acontecer… o tempo junto a ti, fugia depressa, falecia veloz… como sempre, tinhas que partir. Eu sabia… todas as tardes era assim, voltavas para casa, para os teus… os teus olhos, agora tristes, pediam um último beijo…
Enleei-te nos meus braços, beijei-te devagar, a saborear-te, a usufruir o momento… os nossos gestos foram ganhando formas, ritmos, e amei-te uma vez mais, quase á pressa, a aproveitar o tempo que restava, como se fosse a ultima vez,
Das nossas gargantas, escapavam gemidos roucos, incongruências lascivas, palavras absurdas, sem nexo. Os corpos em incandescência ingressaram em combustão, e terminámos em espasmos cadenciados, num êxtase profundo. O teu coração batia desordenado, tinhas a respiração arquejante, irregular… agarraste-te a mim a chorar.
Senti que havia chegado o momento… afinal, ambos sabíamos que iria suceder, pertencias a outro, “vou amar-te sempre, juro, mas não posso mais voltar aqui, não me perguntes porquê, agora não, por favor, não me faças perguntas, já me é tão difícil.”
O meu coração quase que parou, tinha passado quase três anos, tantas tardes juntos, tantas… como esta, de amor intenso… havia aprendido a amar-te, dava por mim a esperar aquela hora, a hora que surgias, avistava-te ainda longe… nunca irei esquecer o teu porte, a graciosidade do passo, os teus cabelos ao vento… sabia que iria sentir muito a tua falta, a tua ausência iria magoar, tinha consciência, que na inconsciência dos dias voltava para te esperar, e, saber que não vinhas, que não aparecias, dilacerava, despedaçava o meu coração já ele frágil. Imaginar-te nos braços de outro… embora eu fosse o outro, era atroz, cruel. Não chorei, fiz-me forte, não disse nada, o nó na garganta não autorizava.
Pediste-me que se te visse na rua, acompanhada… para não te falar. “Prometes? Finges que não me conheces? Não tomes a iniciativa, prometes? Se achar ser possível falarei eu, sim?”
Tentavas minimizar a despedida, o adeus… mas ambos sabíamos que o adeus era definitivo… senti que tremia, não queria que me visses chorar, engoli as lagrimas… a chorar por dentro, no meu íntimo, sem forças para falar, acenei a cabeça, prometi em concordar

Luís Paulo

Queria tanto ser poeta,
Falar do mundo…
Do amor
Porque não da dor?
Do sofrimento?
Da injustiça então…
Enfim, falar do meu sentimento

http://luisfilipepaulo.blogspot.com/
 
A promessa

Miseráveis

 
Miseráveis
 
Hoje amanheci angustiado…
Tive um sonho atribulado
De misérias engastado…

Vi idosos a chorar
Não tinham dinheiro para comprar
Os medicamentos necessários para tomar…

Governos e seus lacaios
Com seus cúmplices algozes, ensaiados…
As leis fazem assentar…
Monstros fabricados, juízes mandatários
Certificam-se em concordar…

Miseráveis empossados
Corja nojenta ensanguentados
Alimentam-se do amargurado.

Seu alimento é carne temperada
Sangue é a sua bebida adubada
Eles não comem,
Devoram, o já mortificado

Fazem das palavras,
Palavras faladas, inúteis, enganadas
Palavras, essas, que por poetas são embelezadas
Como nenúfares num lago espraiadas

Por isso, tu, poetisa impoluta
Tens de lutar nesta maldita vida puta
Os desfavorecidos tristes fados…
 
Miseráveis

Filhos do infortúnio

 
Filhos do infortúnio

Vivo em sonhos, como quimeras abstratas e inalcançáveis
Os dias correm, evoluem para lugar nenhum, como se parassem na hostilidade do tempo, em que ouço os gritos dos mudos em surdina e aplaco a ira divina. Contra seres existenciais estragados, fora de validade á muito e acorro a um deserto de opiniões, de pareceres, e tento mitigar a dor, no horror que alimentam, e parto, parto a um rumo insondado das levezas que o seguram
Sinto a paz dos homens que fazem a guerra, como dias negros de chuvas diluvianas, dias que transborda as misérias, na sensatez rara de mentes que prolifera,
Obliquamente a estrada segue numa aparente inocência, seres esquivos de silhuetas medonhas, fazem-se ouvir nos cantos do mundo e matam de fome os filhos do infortúnio.
Se o período morresse e a tempestade parasse, se o sol agisse e o mundo gritasse, se os pesadelos caíssem e os sonhos deleitassem, se os pérfidos tombassem e os leais se levantassem, o mundo agradecia e às crianças resolvia todo o mal que lhe aplicassem
Mas dias claros se aproximam, se avizinham velozes e inexoráveis, num assombroso amanhecer, Naquele que é a estrela-d’alva

Luís Paulo

Queria tanto ser poeta,
Falar do mundo…
Do amor
Porque não da dor?
Do sofrimento?
Da injustiça então…
Enfim, falar do meu sentimento

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Filhos do infortúnio

Quero-te

 
Estou aqui sentado,
Ouço o crepitar da lareira e penso em ti,
naquelas chamas procuro os olhos que procuro
ainda ardes em mim
Como pintar em palavras esta chama?
Agitas-me a recordação,
procuro a razão, o porquê…
Porque me ardes, se foi tão efémero o momento?
Quero ter-te outra vez
tenho a certeza,
longe de ti, a minha vida é um tormento

Luís Paulo

Queria tanto ser poeta,
Falar do mundo…
Do amor
Porque não da dor?
Do sofrimento?
Da injustiça então…
Enfim, falar do meu sentimento

Luís Paulo
 
Quero-te

Natal

 
Aí está mais um natal,
A época é de frio… em alguns lugares a neve dá um nardo especial á quadra…
O burburinho corrobora a ocasião,
Filas para as compras… para os presentes… correria para bacalhau… o marisco, os doces
Caixas ATM sem dinheiro
Desfralda-se o amor …
O bom natal… as boas festas, retinem no ar
Posteriormente, este hálito de amor passa, as quezílias retornam, as aversões soltam-se, volta as antipatias… as guerras entrincheiram-se e é um safe-se quem puder, cada um por si nesta guerra de interesses.
O resto do ano esgrima-se conveniências, lucros, ganhos … seguidamente vem Dezembro mês do armistício… a hipocrisia regressa e o amor espalha-se…
O Pai-natal, gordo, empanturrado de bacalhau, de marisco... doces… avança a entregar os presentes aos meninos ricos… presentes caros, esquecendo-se das crianças pobres que passam frio, que passam fome, dos desfavorecidos e dos que nada têm…
Com tantos milhões, mas tantos milhões que se gastam, podíamos melhorar a vida de tantas…mas tantas crianças.
Não solicitam computadores… não imploram consolas… não rogam telemóveis ou bicicletas… bradam, com o silêncio do seu sofrimento, apenas um casaquinho… um cobertor… meias, sapatinhos para os pezinhos… e uma sopinha quentinha para aquecer a alma.
E o superior e preferível presente que lhes poderíamos dar… é o Amor

Temos de fazer com que o natal seja possivel todos os dias...

Por isso, vamos todos juntos... não digo este natal, mas todos os dias... combater… travar a verdadeira batalha… pugnar mesmo, a insensibilidade dos nossos corações.
 
Natal

A nume do luar

 
A noite tocava a hora do pousio.
As searas dormiam… enroscadas… ora viravam para a direita, ora para esquerda, conforme a brisa lhes dizia.
Os ulmeiros, lá no alto, pareciam dançar ao som do coaxar das rãs, que numa fraga, pareciam namorar ao luar, num riacho que passava ali perto…
Percorri-te a distância de um olhar… as searas, continuavam para lá de ti, pareciam sorrir na maciez do toque, no manso e delicado roçar de corpos, no enlace apaixonado em que se aqueciam… ou talvez, apenas sorrissem o descanso, da espera de um novo dia.
O luar, profanamente ténue, apático, avivava indiferente a capa insípida do teu olhar. Elegias as sombras, olhavas furtiva… àqueles… cujos olhos te fitavam ébrios de desejo, teatralizavas mais os gestos, provocavas mais o andamento do passo, adocicavas as formas, os sinais, e mostravas a nume que existia em ti. O luar ganhava vida, e até mesmo o poente, parecia virar-se no inverso para te observar.
Querias ser as tardes de domingo, o destino do périplo dos sem destino, ocupar o pensamento vazio, querias viver, amar, adormecer, acordar, no empíreo, no profano, querias ser Deus, o diabo, a bênção, o pecado. Querias morrer, ressuscitar, querias ser todos, a todos te dar, querias ser os rios e no mar desaguar, querias repartir, ser mil, em todo o lado querias estar…
E saías vagueando, pelas sombras do luar…

Luís Paulo

Queria tanto ser poeta,
Falar do mundo…
Do amor
Porque não da dor?
Do sofrimento?
Da injustiça então…
Enfim, falar do meu sentimento

http://luisfilipepaulo.blogspot.com/
 
A nume do luar

Ser audaz

 
Ambicionava tanto que estivesses aqui.
Olhar-te nos olhos…
Ver-te sorrir…
Quando me lembro, das tuas palavras segredadas… Que saudades meu Deus!
Teus abraços, são como um cachecol, que me envolve e aquece no inverno mais frio…
Recordo, francamente, a última primavera. --- Testemunhámos o aparecer das primeiras andorinhas… Olhámo-nos sorrindo sob o Sol de Abril… Falaste que adejavam baixo… Um adejar meio atabalhoado, mas único e de uma grande beleza, adicionaste.
Interpretámos nesse momento, momentos ímpares… excepcionais, de uma grande singularidade e cumplicidade…
Lembro, que toquei teus lábios carnudos e aveludados. --- Beijei-te ao de leve, com medo de te magoar… Depois mais enérgico… Com fome de ti, sôfrego, saciei-me num sabor a pétalas açucaradas… Teus lábios eram como deliciosos gomos, que se abriam como uma flor diante do Sol.
Nada mais existia, apenas nós dois e aquele instante. --- Com os corpos colados, fundimo-nos num só e amámo-nos toda a noite…
Hoje. --- As minhas noites não são mais ditosas.
Tenho sonhos. --- Tenho pesadelos… Sonho que te afastas… Primeiro afastas-te devagar, muito devagar … Tento alcançar-te. --- Quanto mais me aproximo mais tu te afastas… Corro… Corro desesperadamente… Chamo por ti… Quanto mais corro, mais longe estás… Estou cansado, sinto dificuldade em respirar… Corro… Meus pulmões, não aguentam tanto esforço… Sinto-me desmaiar de cansaço… Mas, vejo-te cada vez mais longe… Vejo-te desapareceres… Vejo-te esfumares, como uma bruma…
Então, quando desapareces… Quando deixo de te ver. --- Acordo… Acordo aflito, alagado em suores frios, num leito intranquilo… Inquieto… Desassossegado.
Lentamente e quando me apercebo que não passou de um sonho… De um pesadelo… Quando a respiração começa a normalizar… A pacificar… Sou confrontado com a dura realidade.
Onde estás tu minha querida?
Levanto-me da cama, sento-me e então choro. --- Choro de saudades… Das primaveras passadas… Dos teus olhos… Do teu sorriso… Dos jantares á luz das velas… Das conversas… Das noites de amor… De ti…
Hoje, no meu quarto. --- Espraiado… Taciturno… Afiguro esses instantes cingidos nesse amor intenso.
E audaciosamente tomei uma decisão…
Vou lutar por ti… Vou parar de ter pena de mim mesmo… Vou lutar contra os pesadelos… Vou lutar contra o mundo… Vou lutar contra todos os opositores… Vou lutar contra o sofrimento… Vou conquistar-te outra vez…
Vou olhar-te nos olhos… Vou ver-te sorrir… Vou passar muitas primaveras contigo… Vou amar-te de novo.
 
Ser audaz

A voz do Silêncio

 
É neste silêncio que ouço a tua voz,
Sussurro cálido que chega do frio escuro do meu quarto e invade a minha alma. Palavras simuladas, deléveis, de promessas que segredavas que ficaram por realizar.
São quatro da manhã e não me deixas dormir. Do relógio, ouço os passos quietos do amanhecer, suaves, como cristais, que brilham a memória do tempo: Memórias diluídas em meras lembranças, mas que a tua voz remexe e não me deixa esquecer.
É assim desde á muito,
A tua voz vem continuamente no silêncio da noite. Avizinha-se devagar de início… muito devagar… melíflua, com timbre agradável e harmoniosa antes de conquistar a minha mente numa gritaria guerreira. A tua voz vasculha os meus pensamentos, e num diálogo mental, atiras a desordem, o caos e a guerra é estabelecida na minha alma. A minha noite calma é interrompida e o meu sossego vandalizado. A tua voz é como um nó górdio que me fere e me rouba a paz. No meu leito inquieto, sinto o sabor a sangue de dor do meu coração, e o meu corpo deitado é terra queimada.
Ainda ontem o silêncio teve este simpósio comigo. Nesta dicotomia… nesta guerra do pensamento, peço-te sempre que me exorcizes de ti.
Venho a repetir-me.
Gostava tanto de olhar o teu rosto, olhar os teus olhos e dizer as coisas que ficaram por dizer…
Se um dia voltares, trás contigo a justiça, ou então, vem calada com o silêncio dos íntegros.
Porque eu de ti quero apenas o que me roubaste: os meus sonhos, a minha alegria, a minha paz.
Pensas devolver-me as noites que não dormi? A verdade? Pensas devolver-me a verdade? Não! Eu sei que não! Não existe em ti verdade. Nunca foste amiga, foste apenas alguém com curiosidade, querias saber como amanhecia, como eram os meus dias na minha intimidade.
Tenho esta luta comigo, e a merda das lágrimas não param de cair. Sim choro! Choro, mas não sei que choro é este, não sei que indefinição é a minha alma. Não sei se é um choro de algum resto de amor que guardo por ti, se é um choro de raiva, ou se choro apenas com pena de ti. Mas choro publicamente, porque tu um dia foste as margens do meu rio.

Luís Paulo

Queria tanto ser poeta,
Falar do mundo…
Do amor
Porque não da dor?
Do sofrimento?
Da injustiça então…
Enfim, falar do meu sentimento
 
A voz do Silêncio

Um Novo Natal

 
Havia despertado cedo.
A noite tinha sido inquieta e o sono agitado.
Acordara cansado, possuía o rosto suado, os sulcos violáceos á volta dos olhos acusava a fadiga da noite desassossegada. Levantou-se com dificuldade. Subiu o estore da janela do quarto e olhou o céu. Surpreso, viu que o sol brilhava já o começo do novo dia.
Intuía que alguma coisa de anormal estava a acontecer, era como se um sexto sentido lhe acenasse algo de invulgar. E este sol, este estio, testemunhava a sua incerteza.
Era Natal, época comummente de frio, em alguns lugares inclusive a neve dava um perfume especial á quadra, mas, invulgarmente ao habitual estava uma manhã de estival.
Intrigado e curioso, arranjou-se e saiu á rua. O sol ainda jovem acariciou-lhe o rosto barbeado, o que lhe despertou maior apreensão. Estranhou também a ausência da neblina causada pelas chaminés e da essência frequente das lareiras.
Iniciou a caminhar pelo passeio a descer a rua. Preocupado, olhava furtivo ao seu redor. Todo o seu rosto era incredulidade. Tudo era silêncio. Não acontecia aquele burburinho das filas para as compras, para os presentes, para o bacalhau, para o marisco e para os doces. Ao contrário do que era prática, nas caixas ATM não faltava dinheiro.
As pessoas passavam e desejavam bom Natal… boas festas. Mas não era aquele retinir de bom Natal hipócrita usual, em que o hálito de amor passava e o resto do ano esgrimiam conveniências, lucros e ganhos desonestos. Não era aquele desejar falso de Natal, em que as guerras de interesses se entrincheiravam, em que as quezílias retornavam, assim que a quadra passasse. Depois, seguidamente chegava dezembro, o mês do armistício, a hipocrisia regressava e o amor espalhava-se. Não! Não era esse desejar de Natal! Era um Desejar de Natal franco, sincero e cheio de amor.
Caminhava pelas ruas e o desconforto inicial principiou a falecer. As pessoas falavam-lhe de uma forma franca, leal, de uma forma afetuosa, com sentimento puro na voz. O dia pareceu-lhe mais limpo, o sol pareceu-lhe brilhar com um brilho diferente, começou a sentir-se bem, sorriu, pareceu-lhe que respirava autêntica paz.
Foi com gáudio que contemplou que o Pai-Natal não vinha gordo, empanturrado de bacalhau, de marisco e de doces. Não aparecia carregado, com dificuldade em andar para entregar os presentes aos meninos ricos, presentes caros, esquecendo-se das crianças pobres, desfavorecidas, que passavam frio, que passavam fome e que nada tinham. Crianças que não imploravam consolas ou computadores, não rogavam telemóveis ou bicicletas, bradavam apenas em silêncio um casaquinho, um cobertor, meias, sapatinhos e uma sopinha para aquecer a alma.
O que viu foi um Pai- Natal isento, um Pai- Natal que não diferenciava os ricos dos pobres, um Pai-Natal que em lugar do saco dos presentes, trazia o coração cheio de amor, e oferecia esse amor com a mesma simetria para com todos.
As pessoas acercavam-se dele e mostravam-lhe um mundo novo. Um mundo onde a ganância, o odio, as aversões, as antipatias, as lutas e as guerras de interesses haviam sido descontinuados. Um mundo em que todos juntos haviam extinguindo a pobreza, a fome, a violência. Um mundo em que a lei era o amor. Um mundo em que as coisas anteriores haviam passado.
O coração encheu-se-lhe de gratidão e alegria. Sorrindo, com as mãos nos bolsos, seguiu a assobiar uma canção de Natal.

Queria tanto ser poeta,
Falar do mundo…
Do amor
Porque não da dor?
Do sofrimento?
Da injustiça então…
Enfim, falar do meu sentimento
 
Um Novo Natal

Palavras Retidas

 
Olho os teus olhos,
Avassala-me o azul do teu olhar
Fico preso, acorrentado
E as palavras não saem
Meu imo vacila… fica mudo,
No teu encanto me desnudo
Como imberbe inexperiente
Taciturno
E há tanto para dizer,
Falar da chama que aguilhoaste em mim,
Declamar… patentear o que senti
Segredar no âmago em ti…
Quando te tive,
Te possuí…
Na noite adiantada,
Enleados no luar á beira-mar
O areal, um lençol de cetim
Segredar,
O sentir-te arrepiar,
O rubor do teu rosto
Os fluidos do teu corpo
O etéreo desejo
O aveludado das tuas palavras
A ária do teu suspirar…
Sim,
Amei-te…
Como a noite ao luar
Mas as palavras não vão…
Prisioneiras de ti,
Ficam por ditar
 
Palavras Retidas

Os Mediocres

 
A manhã principiava triste, fria, chuvosa, escura… o termómetro não passaria dos três graus célsius.
O crepúsculo espreitava timidamente no horizonte. --- Cinzelando… prateando as águas da baia
O homem não ambicionava tugúrio. --- Tingido da chuva copiosa… enregelado até aos ossos… permanecia ali… parado… contemplando o vazio.
Tinha um cariz necessitado. --- O sobretudo sujo… esfarrapado… mostrava alguma negligência… as calças, compridas, deixavam aparecer uns sapatos censurados pelo uso… na camisa incolor, sobrevinha uma gravata desmaiada pelo hábito…
Na penumbra. --- Seu rosto curtido pelo sol apresentava docilidade… os lábios finos, rectilíneos, davam-lhe um aspecto nobre. --- Os olhos, pretos, inexpressivos, inabaláveis não contemplavam ponto nenhum… como que olhando para si mesmo…
Como pode o falaz pedir a inteireza? --- Considerava ele com sofrimento…
Era tão bom que praticasses a verdade --- Diz delicadamente o enganador! --- Primeiro para contigo próprio, depois para os outros…
Seu rosto agora era completo de amargura, de uma total ausência, numa luta desigual entre o bem e o mal. --- Como é possível tamanha hipocrisia? --- Pensava. --- Pessoas de quem gostamos e queremos bem, serem assim tão dissimulados?
Então terminantemente considerou. --- Porquê calar a revolta? --- Perguntava-se. --- Porque não exteriorizar o que me consome?
Porque não dar voz ao repúdio inerente em mim?
Será que os medíocres compreenderão? --- Noto-os demasiado incultos.
Seriam palavras deitadas ao vento… ou deitar pérolas a porcos…
São miseráveis na forma voluntaria. --- Humanos imprestáveis… sujos nas suas acções.
Definitivamente, não lhes darei vitória com minhas palavras.
Ficarão com o silêncio do meu repúdio.
O homem de aspecto necessitado pegou no seu alforge, onde carregava seus poucos pertences. --- Com os olhos fustigados pela dor… decididamente, abandonou o local afogando os pensamentos nas águas prateadas e, confundindo-se na madrugada, tornou-se invisível á luz do dia.
 
Os Mediocres

Os canibais

 
 
Fantasiados de boas criaturas. --- Bons humanos… alguns lutam activamente num desespero animal, por prazeres imediatos, qual quimeras verdadeiras… verbalizam que querem ser felizes, como se a “felicidade” fosse uma palavra, subordinada a viver um dia de cada vez, abastecido de prazer licencioso…
Meus Deus, como engrandecem robustamente seu périplo sem destino…
Falseiam a vida. --- Como se fossem vigaristas, trapaceando os mais incautos. --- Vida tão despida de vida… despovoada … inexistente mesmo… Vida que parece, mas, vida desaparecida…
Não se apercebem que são escravos da podridão. --- E, onde um escravo… dependente… serviçal, é feliz? Terminantemente, na mente insalubre desse alguns procuradores do levianismo.
Bipolares, que atraiçoam o companheiro sem escrúpulos, parafraseando pausadamente á mesa o amor ausente.
Deambulam carregando um vasilhame apetecível, mas com conteúdo apodrecido, a concluírem nojo.
Estéreis miseráveis e deploráveis criaturas. --- Trazem na carne, fome carnal, que como canibais de nutrem das almas instáveis
Ser feliz, é ser superior a prazeres escondidos… ser feliz, é ser limpo de alma e mente… ser feliz, é falar a verdade… ser feliz, não é viver para hoje, mas, viver a vida para toda a vida.
 
Os canibais

Efemeridades

 
Principiava as primeiras horas do dia, daquele mês de maio,
As andorinhas madrugadoras, adejavam já num bailado ao tom do aroma primaveril,
Aparecias com passo pouco firme, como de uma criança, cingida de inocência… de inculpabilidade…
Mas, um brilho de aventura nos olhos denunciava essa aparência, essa aragem inócua
Penetravas na alcova, e esse mundo impoluto, de candura, de castidade, de lisura tombou. Caiu quando te entregaste abrasada, embriagada de paixão, num amor intenso. Amavas num compasso enérgico, quase violento, num ritmo entusiástico como um faminto á procura de alimento.
Gostavas de viver no limite, a maior parte do tempo no inverso da verdade.
Os poros do teu corpo transpiravam falsidade para com o teu mais próximo, a quem devias lealdade e na cama deitada com a cabeça no peito dos teus amantes, praticavas o teu sorriso tímido, impoluto e dizias ao telemóvel com aquela voz frágil que estavas a trabalhar, “não esperes por mim que vai durar até alto da noite”- mentias… “vou passar o dia com uma amiga”
… Um, falou-te do incómodo que era para ele ouvir essas falsidades, que devias atender o telemóvel e falar noutro local e a sós. Dizia-te que as tuas palavras eram punhais cravados nas costas de quem em ti confiava, porque as anunciavas á frente de um terceiro. Revelou inclusivamente que iria ter dificuldades em confiar em ti, sentiu vergonha de si e do que fazia e das tuas mentiras sem fim. Mas tu rias-te, - “que disparate” – dizias. Mas nunca mais confiou em ti e nunca mais te quis ali.
Há quem recorde francamente aquele dia que te viu na praia. Semblante carregado, indiferente ao mar, às crianças que chapinhavam na água, ao sol que tão generosamente brindava todos os veraneantes, até o cheiro delicado do mar, a maresia, parecia ser-te detestável. Não fizeste um esforço, não te mostraste agradável ao teu mais intimo, ar carrancudo, pesado, que indiciava bem o que te ia na mente, pensamentos espúrios, como águas que correm para um mar de pecados, noites voluptuosas na cama com os amantes
Nessa tua imagem distante, desligada, ficou bem patente, ficou bem assente, que sonhavas apenas com amantes e no prazer prepotente, mas eras apenas uma mulher amarga, infeliz e com amor ausente…

Luís Paulo

Queria tanto ser poeta,
Falar do mundo…
Do amor
Porque não da dor?
Do sofrimento?
Da injustiça então…
Enfim, falar do meu sentimento

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Efemeridades

Éden

 
O teu olhar,
reflete o jardim do éden
Importas dos montes um aroma selvagem
Teu corpo nu, sinuoso,
implode de desejo,
cegas de paixão!
Teus lábios são como pétalas de amendoeira em flor,
que me roçam em blandícias ardentes
És a estro da noite,
sereia do meu mar
és fragilidade dum poema,
és a estória por inventar,
A lua
olha-nos,
cobiça-nos,
Nadamos nus na enseada,
amo-te na noite.

Luís Paulo

Queria tanto ser poeta,
Falar do mundo…
Do amor
Porque não da dor?
Do sofrimento?
Da injustiça então…
Enfim, falar do meu sentimento

Luís Paulo
 
Éden

Melancolia

 
A tarde ia avançada,
Envelhecia
O Sol,
Decidido que havia brindado o dia, deitava-se agora no crepúsculo, estreitando de laranja o horizonte
Débil,
Desmaiado, acamava-se lentamente
Como tela dúplice numa beleza plangente
Sentado,
Defronte á angra,
Alheado,
Á maré crescente
Ali estava eu, desfalecido… vencido p`lo presente
Olhos marejados,
Vil sofrimento,
Nem a perfeição da paisagem me dava alento
Ergui o olhar,
O Sol cedia lugar á Lua,
Sedutora,
Vestida de luz
Aprontava-se ao espelho d´agua, refletindo sua beleza como vela a bruxulear
De ombros caídos,
Melancólico de saudades
Recordei lugares…
Etéreos Luares
A suave maresia,
O sulcado do teu respirar
O indizível do teu amar
A fragrância do teu corpo suado…
Então,
Abatido,
A cabeça sobre os joelhos cansados
Espreitei um ultimo olhar ao horizonte,
Também ele mostrava ser triste… sorriu para mim
Sorriso, que além de triste, vinha meigo… Com bonomia, numa autorizada empatia
Elevei um pouco mais os olhos, vi num traço da lua, uma pincelada tua…
Paixão despida, chama apagada…
Lágrimas sofridas, por tua alma caídas.

Luís Paulo
 
Melancolia

O teu amor

 
Olhas-me com olhos de ternura,
e roças-me de gestos sensuais,
Teus lábios têm um gosto felino,
Desmaio a vida nos teus braços, e sonho-te medusa do meu mar,
anémona do meu jardim,
Trazes pendurado o carinho, o amor que reside em mim,
De passos vagos perfumas o ar a silvestre e jasmim
Todo o teu rosto é sorriso
e nesse sorriso tenho também o teu amor,
O quanto me baste
O quanto me é preciso

Luís Paulo

Queria tanto ser poeta,
Falar do mundo…
Do amor
Porque não da dor?
Do sofrimento?
Da injustiça então…
Enfim, falar do meu sentimento

Luís Paulo
 
O teu amor

Iguais num mundo desigual

 
Inconscientemente, transitava uma vereda sinuosa…
Uma estrada larga, com permissividade excessiva.
Iterenário opaco, abastecido de obstáculos. --- Antagonismos humanos… Com valores mortos, onde permutam a verdade pela mentira… Que trocam conversa saudavel… educativa, por conversas obscenas… Espúrias…
Metamorfoseiam o Amor, a essência da vida, por sexo animalesco… Suas actividades são tão repulsivas, que transportam no hálito cheiro a excremento…
--- Era um mundo asqueroso… Abjecto… Imundo… Onde me encontrava aprisionado, acorrentado… Como os condenados às galés com as suas correntes e grilhões.
Ambicionava fugir deste trilho. --- Mas, uma voz macia… Sensual… Lasciva… Lúbrica… Ardilosa… Conduzia-me contínuamente com linguagem de engano, como se recruta um touro ao abate. Elas próprias reconhecem que são desprezíveis. --- Mas gostam e persistem nos seus actos ignóbeis…
São estas pessoas. --- Que insistem, em transformar o mundo num lago de aguas paradas… Fétidas… Podres, a cheirar mal
E ali residia eu. --- Neste abismo… Neste mundo fétido… Adulterado… Até que te vi. --- Ao longe é verdade, a tua imgem ainda estava indefenida… Mas assim, como o dia clareia mais e mais, até estar firmemente estabelecido, assim tu vieste a mim, mais e mais até a tua imagem estar defenidamente descoberta…
Lembro que falei dos teus olhos. --- Olhos brilhantes… Radiantes… Expressivos… Tu? Tu adocicaste as palavras com a verdade… Com ternura… Com amor.
Pedi a tua mão. --- Olhaste-me com surpresa… Com perturbação… Não esperavas este meu absolutismo… E timidamente pousaste a tua mão na minha… Foi o momento aureo do nosso encontro…
Desataste teu coração. --- Onde entrei… 0nde penetrei até ao fundo do teu mais íntimo, e descobri um planeta novo. --- Com caminhos sensatos… Harmoniosos… Aprazíveis, que se respira autêntica paz…
Universo de imperturbabilidade. --- Com belos jardins… sebes podadas, formam artisticamente desenhos labirínticos. --- Relva com um verde fresco, saciado de irrigação… Lagos, contendo peixes de várias cores… repuxos, flores são das mais variadas, com sua fragrância a ressuscitar no ar… Pavões com sua plumagem de cores luxuriantes… Na área envolvente, várias árvores formam uma floresta exuberante, onde o sol côa nas suas ramagens. --- O chilrear e o volutear dos pássaros, é mais um elemento, para reforçar a ideia de que esta parte do mundo, não mudou muito desde o éden.
 
Iguais num mundo desigual

Luis Paulo