Silenciar e perdoar
A ti, só a ti revelei,medo de ventos, tempestades,
vestindo camisola branca fina,
desejosa de amor, enquanto em meus cabelos
teciam caracóis tuas mãos.
Guardei-me do sono até amanhecer,
tua alma riu brincando,
sinto a provocação, amargo ressentimento,
escondido num sorriso nas rosas entre espinhos.
Inclinando-me ainda mais, acalma-me o toque do sino,
meu coração é sensível, ela sabia,
sabia bem como fazê-lo para murchar, jogar fora, impiedosa.
Lealdade será mistério, silenciar não é perdoar,
talvez estejas esperando, sinos dobrarem vez mais,
haja flores sob o sol.
Esperando a leitura das cartas,
sobre o destino da alma que procuras vão.
Fiz-me amanhecer quando a noite acercou-se de ti
Fiz-me amanhecer quando a noite acercou-se de ti,
para que soubesses que sempre terias apoio,
um ombro no qual pudesses recostar a cabeça,
confiando-me teus íntimos sonhos mais ousados.
Aqui poderias inclinar os ombros e descansar,
tua dor acalmar-se-ia na profusão das madeixas,
amainaria teu sofrimento, ouviria as tuas queixas,
da minha boca não exalaria um só sequer lamento.
E fiz-me anoitecer quando, um dia, te afastaste,
como o luar meus olhos brilharam na noite profunda,
para que soubesses que sempre haverá um caminho,
no final do qual sempre encontrarás refúgio e abrigo;
para tuas dores sempre... sempre encontrarás ombro amigo.
Júbilo das flores
Júbilo
das flores
rosas lindas
infinitas
em celebração.
rodeadas de pássaros
alegres gorjeios
acolhendo concisos
meus risos fáceis
frutos maduros
desta paixão
Vou viver te de esperar
Eu te amo tanto,
mais do que ninguém ...
Sinto tua falta ´
junto ao meu corpo
encostado em meu ombro,
roçando meu rosto
com tua barba mal feita.
Vou te esperar,
jamais irei te trair.
Tratarei as cicatrizes
onde doem,
estarei com o corpo quente,
a te esperar... sempre...
Te amo tanto,
como ninguém te amou,
nunca...
ninguém fez
minha pele arder
e odeio dizer adeus ...
Por alguma razão
não choro,
será que sei
que vai voltar?
Sinto falta,
de sentir
borboletas no estômago,
vou esperar... sempre...
Vou viver te de esperar.
Ressentimentos da alma em ti
Tua alma carrega ressentimento ansiosa,
embora a remissão em ti seja dolorida,
deixe-a se desvanecer na luz maravilhosa,
haverá nos caminhos um outro na vida.
Nela despertou forte um ressentimento,
poderá querer encontrar a paz no âmago silente,
cerrados os olhos baixos não será lamento,
subterfúgio a evitar ser o espelho refringente.
É dela o coração escurecido de nuvens ameaçadoras,
semblante pesado como que ofendido caminho,
anseia a indulgente cumplicidade de um raio de sol nas sombras vindouras,
pode voar mais alto, mas não poderá esconder o sentir num escaninho.
A lágrima maldosa
Num sonho,
noite passada
rostos colados,
a pele ardente,
dançamos calados
uma balada lenta.
O tempo
parecia parado,
congelado,
no êxtase do momento,
quando no final da música,
baixei os olhos,
para que não visse
o rosto ornado
pela lágrima maldosa,
que veio me acordar.
Diante do espelho
Poderia viver com o coração partido,
quebrado aos pedaços, mesmo moído.
Sorrindo disfarçada, mas dolorida
como criança numa rua perdida.
Poderia viver com o coração partido,
dissimular, mesmo envergonhada,
quando na sala solitária
diante do espelho refletida
vejo uma imagem distorcida
que não me faz sentido.
Sobre uma porta sem chaves
Abres a porta só com um amor, creia por ti, e para ti.
um dia adentraste, furtivamente, sem fiança,
movimentando gonzos enferrujados.
parecia que tinhas a chave mestra, chamados de amor e confiança.
sem resistência me abrias - não, não era minha a leviandade,
até que cerrastes dissimulado,
em silêncio saíste, a suspeita instalada deixaste, pura maldade.
Se te afastas da tua alma, abre a porta, entres, deixes fora o ar grave,
mas tenhas cuidado.
hoje sou porta para a qual não tens a chave;
Sobre passos e ecos da meia-noite
Melancolicamente assenti,
pior não poderia estar.
Ouvi passos surdos afastando-se de mim,
caminhando a noite toda como ruídos no telhado.
Não tenho armas, não saberia reagir.
Tenho só o coração. E lágrimas que correm cegas,
sem respostas e já não perguntam mais.
Resta fugir com olhos turvos, rosto desbotado,
esperando que os ecos da meia-noite depois da aurora vinda,
se espalhem através das vidraças.
Sobre silêncios que te revelam
Tantos os beijos escaldantes, quanto gestos beirando a rudeza;
braços em torno do ombro
-esse abraço repentino, sequer uma palavra pronunciada.
Ardem velas, efêmera paixão libertina, fogo extinto,
promíscuo,
devasso,
deixaste faíscas de desejos insanos.
Nós dois sós, nós no fluxo de ebulição,
relâmpagos, paixão, eflúvios perfumados,
do corpo branco brilharam, recenderam,
até te embebedares exausto de poder;
promíscuo,
devasso,
deixaste abismos de tremores silenciosos.
Acabou - tudo afogado - raiva em meu peito,
quadris balançando sem teu peso,
tentando confirmação se o demônio dormia,
quando o cérebro já não mais ouvia
a vergonha vituperada, triunfantes laivos da luxúria;
promíscuo,
devasso,
deixaste meu corpo desnudo rasgado.
No amanhecer de preitos rejeitados não gritam águias,
rastejam serpentes ondulando pelo pescoço antes voluptuoso.
Num abismo frio de escuridão régio,
risos do diabo num repente soaram.
Mais uma vez meus silêncios te revelaram
cegado pela visão da tua alma, embriagada da presença de ti;
promíscuo,
devasso,
deixaste a chama acesa no escuro.