Poemas, frases e mensagens de Atrólogo

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Atrólogo

Em defesa das poesia

Nódoas e sinais

 
Um poema de Miqué Di L'Atrólloggus


Acessando o conjunto das chaves,
exibindo marcas de nascença,
serão os tempos dos desejos,
pensamentos tantos,
contíguos sonhos e sinais
confinados em cinza.
.
.
.

[Como fosse
profecia ...
afoga poesia
em orações
silenciosas,
expiando
de joelhos
a
solidão]
.
.
.

As cem mil moedas
da herança maldita,
não seriam suficientes
para afastar imprecações.
.
.
.

[Não pode
comprar
o céu,
nem
um
novo
amanhecer
na
sua vida.]
.
.
.

Afastar as coincidências,
o tempo amainando a execração,
costurando conchavos,
sob a prata do luar,
com sinos e amor.

.

...
[Não haverá
como apagar
da memória
os
laivos
das
sensações,
o sabor
de um beijo furtivo,
o calor no sangue.]

Volvendo ao ponto de partida,
restando indeléveis nos ombros,
os signos dos ancestrais,
nódoas e sinais,
nos pensamentos confinados.
 
Nódoas e sinais

Andarilho, não sinto o que não tem

 
Um poema de Miqué Di L'Atrólloggus

Enquanto eu andarilho
no mundo me comportei,
como peregrino na senda
buscando o santo graal,
dormias contemplativa
mesmo sabendo desde o início
que não deveria esperar
por anos melhores, nem milagres

Vendo nos bordeis
apenas as prostitutas
dançarem
não poderia mais
esperar tanto
como estúpido
no mundo
...
[não
encontrando
o
par.].
.
.
.

Talvez pudéssemos uma vez,
outra vez, mais uma vez ,
abrir os olhos dos anjos,
viver como nos contos de fadas,
mas estava distraído
quando a sorte apareceu.
Sei que fui um tolo
sujeito ainda ao mal maior.

.
.
.
...
[Então,
agora,
limpe-me
orgulhosa
de um floco
de neve
meio à nevasca
cruel,
sempre saberei
que posso
usar meu coração.].
.
.
.

Sempre andarilho,
peregrino de templos pagãos,
poli as pedras dos átrios espúrios
com sandálias de arrogância.
.

.
[Sempre
confiei que
ao longo
da vida,
preocupação
haveria
de existir,
alguma agitação,
sem reclamar
da dor
da solidão]
.
.
.
.

sem ter que chorar ou dizer em voz alta,
parecer frágil diante das pessoas,
para obter ou esperar benesses.
Jamais sentirei o que você não tem.
 
Andarilho, não sinto o que não tem

Pesadelos trôpegos dos bêbados náufragos

 
Um poema de Miqué Di L'Atrólloggus

Fique atento às nuvens, ouça pássaros,
se nada há de novo para o momento,
num piscar de olhos, passo a passo,
para espanto, num único momento
a alegria pode vir numa voz simples.
Então deve deixar de se atormentar,
e decidir sobre “ ser ou não ser”
pois as pessoas jamais poderão viver
para sempre só em dias ensolarados.

.
.
.
...


haviam
me dito
que há
sempre
janela
com vista
para o lago
indefinido
estagnação
infame,
vala de ilusões.
...
.
.
.

Não que quisesse sempre mar de rosas,
assim com as asas do anjo da guarda.
Não minto, pois nem tudo segue os padrões,
caminhando por círculos evasivos,
ascendendo pelas escadas dos porões.

.
.
.

[Sequer
uma chama
no firmamento
como tela
luar pintado
com tinta invisível
adicionado
em jogo de luz e sombra
do cogumelo
de Hiroshima]

.
.
.

Verdadeiros pesos nos ombros trôpegos,
pesadelos cruel dos bêbados náufragos,
meu anjo saiu pela tubulações de escape
exarando um jato real de atribulações
numa esteira plena de purpurina fedida.
 
Pesadelos trôpegos dos bêbados náufragos

Poltergeistes nos círculos celestes

 
Nos círculos celestes
cada vez mais vastos
e distante de nós,
além das estrelas,
anjos presenciaram
um poltergeist inusitado.
Esperaram pela tempestade
para espantar os abutres
e devolver das cinzas
as joias eternas da coroa
que adornavam umbigos
e nádegas lascivas das ninfas.

Até que a alma
angustiada
encontrou refúgio
neste vale
de lágrimas
esquecido pelo mundo.
vivendo
como a grama
e as árvores
ciente contudo
que a
ventura
é a
chama
de
uma
lâmpada
a
óleo
curvando
sob
o
vento.

Das explosões triviais
multiplicaram-se os acenos,
brandindo bastões de beisebol
os ninjas baixaram os capuzes
e enfrentaram lideres tribais
portando pistolas automáticas
disparando morteiro e obuses
depositando moedas raras
nas máquinas de refrigerantes.

Aos trancos das correntes de aço
os trapos de plástico carregados
cada vez mais espessos e envelhecidos
que uísque doze anos engarrafado

Correndo
desordenadamente
nas
ruas
surgem
apenas
lágrimas
e
silêncio
aterrador.

Mas se ainda havia bom capim no pasto
e pulgas atrás das orelhas
já se podia piscar aliviado
ante a demência contida artificialmente
no ser demoníaco que saltava
deixando de lado a simplicidade
de passos normais como os mortais
saltando e pulando até o extremo
de um mundo extraordinário
para encanto das musas prostituídas.

em 10/03/2016, por Miqué Di L'Atrólloggus
 
Poltergeistes nos círculos celestes

Dicas para um adeus

 
Você...
seus segredos,
minhas preocupações,
algumas sem sentido.
Sempre foi
mistério desde o início,
quando inquieto eu seguia atrás,
o coração e a mente
eram suas, mas...
Não, acho que não deu!

A vida e nada,
que é para você?
Ouço o mistério
em torno de respostas,
maquinalmente
ao longo de perguntas prontas,
quando não está disposta a responder.

Não, acho que não deu!
Não sou surdo
para algumas questões,
ouço rumores no escuro,
deste mundo,
do outro mundo.

Seus mistério
não são bem conhecidos,
ambos sabemos
pelo menos um.
Sabemos que no mundo
não vai ficar
logo não estará por perto,
mas não vá para o céu.

Com esforço,
entusiasmo de apaixonado,
para mim você partir é problema,
deixa na consciência
o amargo da impotência,
quando diz que se vai,
nas cinzas que caem sem desculpas.

Se nossa vida
nasceu do acaso,
não podemos esquecer,
tudo que foi utilizado
no mundo de sorrisos
não teria sido possível
rir sem sair do chão.

Mas, enfim,
a alma vagueia
mais nobre,
entre raves
e corações em sonhos,
desespero entra,
tudo cobre,
paira à vista do amargo fim.

Não, acho que não deu!
Não sei conter lágrimas
fazer ouvidos moucos
aos adeuses.

Desculpe- amor,
acho que está partindo
sem coragem de me dizer
que o fim foi antecipado
e uma nave chegou
antes do dia marcado.
Então, é o adeus?
 
Dicas para um adeus

Não há censura quando se permite a besta

 
Um poema de Miqué Di L'Atrólloggus

A vela vai queimar,
deixando o cachorro latindo
divertindo-se com prostitutas;
talvez tenha sido decisão errada,
matar e roubar sempre serão pecados...
Dizem que é uma matrona venerável,
a mãe dos que estão no poder.
.
.
.
.
...
eventos trágicos,
emoções gloriosas,
aquecem
temores:
paixão,
desespero
e esperança ...
loucura,
sorrisos trágicos
um brilho
incrível alegria.

.
.
.

Tédio e sangue correm nas veias,
líquido azul escuro causa angústia;
tanto sentimento de impotência,
como motor diesel de barco velho,
falhando, vendo desesperado timoneiro,
aproximarem-se recifes e o inferno,
removendo restos da maquiagem.
.
.
.
...


Quando o pai
cortou
o fio de cobre,
a quinzena
estava no início.
Ninguém
conduzia
alegremente
os bondes
e a luz
não acendia
em casa.


.
.
.

Contudo, jamais tente sair,
nem queira divertir-se com prostitutas.
Mesmo olhando fixamente nos olhos,
não há saída nem escapatória,
não há censura, quando se permite,
uma besta dentro do mundo humano
- talvez seja melhor nem pensar nisso...
 
Não há censura quando se permite a besta

Ao terceiro sinal

 
Um poema de Miqué Di L'Atrólloggus

Mais uma madrugada inteira
acordei como suando no Alasca
uivando tal vento na nevasca,
palhaço de trágica pantomima
observando a vela de cera
queimar de baixo para cima
talvez sob efeitos do ayahuasca
vendo-me no andar superior
debaixo de telhado vítreo cristalino
sem ter atravessado o mezanino.
.
.
.
...
[Ao
terceiro
sinal
quando
badalavam
frenéticos
os sinos
da despedida
o poeta
foi ferido
acidentalmente
por um
motorista
bêbado
de um Camaro
automático
que não era
amarelo.]
...
.
.
.
Enquanto prosseguia a vela
no queimar diferente,
acordando de mais uma fantasia
indiferente era só mazela
despertava todo mal latente.
.
.
.
...
Procurei
mesmo
no escuro
onde
apertar
o botão
que aciona
a despedida
para morrer
quando ainda
era noite,
alguma alegria
no peito havia,
acalentado
pela brisa
maliciosa
acariciando
levemente
o rosto.
...

.
.

Afinal, mesmo no final do dia,
nenhuma estrela sequer se via,
retornando de outra viagem
amargando o gosto do tanino
estranhando o sonho sem sentido
sem ter obtido sequer vantagem
ignoro a lua com olhar ferino
tanta atribulação, tanto percalço
deixo me envolver pela madrugada
para afinal morrer descalço
no caminho da eternidade almejada.
 
Ao terceiro sinal

Almoço espiritual em salva de prata

 
Um poema de Miqué Di L'Atrólloggus

Quando a dor começar aguilhoar
continue murmurando.
Não tente retroceder, contemporizar,
olhar para trás... não, não tente...
Murmure alguns mantras antigos,
olhe o céu, [seja paciente,
talvez encontre entre os amigos
forças para uma corrente.].
.
.
.
.
.

A ser
altivo,
orgulhoso,
talvez
um pouco
pedante,
na escassez
de objetivo
sonante
deixando
respingos
e forte cheiro

.
.
.

Acomodar-se sem se mover,
ceder às pressões absurdas;
como agarrado ao escaler,
imprecações soam surdas.
Logo soprarão ventos amenos
drapejando cortinas
abalando espelhos.
Logo desvanecerão venenos
descerão pelas latrinas
as palavras dos escaravelhos.

.
.
.
.
.
.

O carvalho ainda cresce à noite,
[sobrevive dias sem luz solar],
enquanto... morrem ervas daninhas.
O junco suporta o açoite,
o vento sopra e muda de lugar;
dedos sobrevivem sem anéis
homens podem meditar
sem precisarem... de tonéis.

.
.
.
.
.
.

Um sonho
pode ser
escuro,
enfadonho,
sem barcos
brancos,
num mar azul,
singrando
francos
ondas anis,
sem mudar
a realidade.
.
.
.
.
.

Formigas serão atraídas
sempre pelo torrão doce
a traça prefere o tuide;
convenções estatuídas
versam sobre a razão precoce
da coisa mais interessante.
Vou continuar intangível,
ativista dissonante...
pessimista incorrigível...
se apagado o forno de criatividade,
espero que a verve rebata,
seja servido em salva de prata
o almoço espiritual[e corporal.].
 
Almoço espiritual em salva de prata

Desde o terceiro sinal

 
Um poema de Miqué Di L'Atrólloggus

Desde o terceiro sinal,
antes do ponto final,
deuses encanecidos,
de cabelos longos,
balançam as caudas,
agitam penas.
Descem dos céus
em romaria,
ao som de sinos
tocados das estrelas
pelos pastores da noite.

[...Depois
do silêncio,
anjos
de pedra
fumam
escondido
em volta
da lareira.]

Talvez ventos dispersem
a aparência
de esboço de meteoros,
miniaturas de ilhas
salpicadas de mostarda,
esparsas em terrenos baldios,
ocupando lugares insalubres,
excedendo o tempo regulamentar
das aulas após a chuva.

[...Da janela,
qualquer
um
pode
ver
dentro
de
si,
como
se
olhasse
ao
longe
montanhas.].

Esboço de meteoritos em miniatura
caídos em terrenos baldios insalubres,
segundos depois do terceiro sinal
de um ponto final repleto de candura.
 
Desde o terceiro sinal

Tons de preto na ceia de Tintoretto

 
Um poema de Miqué Di L'Atrólloggus

Não vou dizer que não sei. Sei bem,
sei quem fez as cores todas que vejo,
posso dizer agora com mais certeza,
havia mais de cinquenta tons de preto.
na “Tristitiae rerum” de Villaespesa,
também na ultima ceia de Tintoretto.
No final do oitavo mês reviveu a luz
que havia inventado abrindo a janela,
trazendo raios pululantes de carmim
antes da degeneração integral do sol.

.
.
.
...

[Hannibal,
com um
bando
de elefantes cansados,
não estudou balística,
nem sabia rimas,
afinando palavras
na ponta do sabre,
resistindo
a cercos
e emboscadas.
metendo
um
aríete
nos
portões
de Roma.]
...
.
.
.

Temos vivido como poltronas na sala,
com um piano de cauda entre nós,
martelando desafinado “ Le Lac le Come”.
para desespero dos vasos chineses
em repouso nos pixixés pintados à mão.
Nós dois, sós em nosso insosso palácio,
rodeado de margaridas e bocas de leão,
teleguiados pelo som de celulares,
gemidos roucos em sustenidos e bemóis,
vendo com suspeita a proibição da bebida
nos estádios servidas em garrafas de vidro.

.
.
.
[Persuasão
e
estratégia forte,
arrojo desprendido
nas táticas
e
Roma
será
capturada.]
Mas,
nesta tragédia
e funcionamento
perdas passadas
e futuras
sendo realizadas,
como um sonho
de
infância,
me
salvando
o
intervalo.
...
.
.
.

A muito custo aprendi o “ Cair de Lune”
assim como é por todo aluno desejado,
aos olhos da mentora por cima do ombro,
mantendo simultânea a mente ocupada.
Olhando janelas tão vazias quanto o céu,
ainda suspirando, vendo o arco do violino,
pendurado num prego servindo de enfeite.

.
.
.
...

Prefiro
passar
o resto
dos meus dias
em Veneza,
ou
em Genebra,
vendo
a neve
a cada
mês
de
novembro.

.
.
.
...
Mas sei que devo encontrar
prazer perto do mar,
na distância segura das águas rasas,
onde os cadáveres dos afogados vêm boiar,
enfeitados com rosas murchas de Iemanjá.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . .
 
Tons de preto na ceia de Tintoretto

Presságio

 
Mesmo no frio do outono não cessam as raves,
nem a palha do milho polindo a pedra,
retirando suor e musgo,
prestes a fundir-se com o solo,
recebendo energias
dos totens erguidos em lugares ermos.

Um toque no céu rouba o brilho
de um sol ainda frio e apático,
cedendo céu à chuva e flocos de neve
temeroso do trovão sorumbático.
Bem sei que não bastará tocar as árvores
para enlouquecer os sentidos tortos,
mortos sob as asas do corvo
mesmo por que as bagas dos parreirais
jamais enfrentem com denodo
a força da mó dos lagares.

Então, digo isso e vou saindo
deixarei uma trilha de impressões pessoais
dois pulmões como vales negros
impregnados por camada de alcatrão
do fumo do tabaco.
.
.
.
.

na
trilha
maltrapilha
não

antídoto
contra
a
tristeza
detesto
números
maçantes
mas
esqueci
de
renovar
o
seguro
da
alma.

.
.
.
.

Entretanto vou partir mais cauteloso,
lembrando estar no meio da poeira
impregnando a jaqueta com a terra
que devolverei à terra logo mais,
restando nos olhos ledos,
lembranças...
esperanças...
inseguranças

.
.
.
.
.
.
.
.
e
todos
os
medos.
 
Presságio

Fantasiar, presumir e amar

 
Siderado fantasio
inusitado encontro com Cupidos,
a meio caminho exato
das portas de um paraíso sem aldravas.
Lépidos largam arcos e aljavas,
correm comigo
até a borda da terra mágica.

Então,
arquiteto ver que há um céu,
berço de inconcebíveis recursos
onde os limites são tênues,
avisando secretamente a lua
que venha leda
embelezada com cílios de prata.

Visualizo presumindo o silêncio
entre carícias e acenos,
imagens aparadas de toda acrimônia,
talvez emanadas dos vapores do vinho
bebido serenamente sem parcimônia.
Presumo que de tudo
que há nos nós emaranhados,
às vezes,
pela complacência somos governados.

Cogito amar simples e serenamente
concebo sonhos prevendo a luz,
imaginando jamais haver a destruição
até que entenda o que represento
acima e além da própria vaidade vazia
quando ao teu lado atua quem ama.
 
Fantasiar, presumir e amar

Abrigo seguro da chuva e do vento

 
Um poema de Miqué Di L'Atrólloggus

Queria ter conseguido construir
abrigo seguro da chuva e do vento
em vez de apenas me iludir,
cavar um poço para minha sepultura
exposto inclemente
ao fogo que não se apaga
no meu coração que não bate mais.

.
.
.

... lamentos
do
céu torvo
sufocado
no negrume
e o sol
na escuridão
sufocado
-é o inferno
na terra]
.
.
.

arrebanhando
pesadas
nuvens
de
tempestade
o
vento
morre
afogado
.
.
.

Não haverá abrigo
do brilho da lua que não incomoda
das estrelas que não caem
de um o sol que jamais aquece
deste vento que nunca me toca
a da chuva que não molha
não temo a morte
mas os dias que a antecedem

.
.
.

[não tome
meus versos
como eco
dos golpes
de um machado
na madeira
destruindo
a vida.
sou poeta
canto a vida
que vejo
na morte fria
na escuridão total
do colapso
de ilusões]
.

.
.

Agonia depois de dias de pesadas,
há nuvens de tempestade.
Continuo surdo ao chamado
dos pingos que batem na vidraça
sem ver os pássaros sem nomes que não voam
através de janelas fechadas que não refletem o exterior
.
.
.

[sempre
sorrio
quando
a palavra
é séria
ao luar
se chover
a alma
pressionada
por uma pedra
faz esquecer
quem fui
para lembrar
quem sou]
.
.
.
.

Apenas um sol negro e frio do tempo da escuridão nasce,
e da escuridão e frio sem abrigo para sempre será.
27052016
 
Abrigo seguro da chuva e do vento

Alguns pedaços dos sorrisos de amanhã

 
Refuto sempre ser apenas,
ou mesmo tão somente
escravo das palavras.
Minha poesia incita almas rebeldes,
sou trovador improvisado,
mas há alma em mim,
quando o canto da tua alma
inteirada e perfeita
verte-se em versos;
.
.
.
.
.
.
.
.

quando
a poesia
finge-se
inspirada
cometida
de
grandeza
que
presunçosa
reputa
ímpar
.
.
.
.
.

querendo fazer o mundo
soluçar consternado,
até provocar lágrimas nas nuvens
como gotas dos lamentos da alma.
.
.
.
.
.
.
.
Então,
às vezes
eu
acalmo
a alma
contando
sozinho
à noite
as gotas
de chuva
fria!
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
Invade-me a tristeza, lágrimas vêm
alegrias vão, deixam alguns pedaços
dos sorrisos de amanhã,
tudo para que eu possa estar preparado
para os sofrimentos reais.
 
Alguns pedaços dos sorrisos de amanhã

A ficção a partir do senso de não ficção

 
Um poema de Miqué Di L'Atrólloggus

Quando ainda era peixe pequeno,
um dia deixou que as escamas
brilhassem ao luar mais ameno,
aproveitando o descuido do duende.
Foi flagrado olhando de relance
os seios flácidos da lua já matrona,
mas não havia grades nas varandas
nem nas beiras dos abismos recende,
odor de rosas rubras e rouxinóis suicidas,
saturando petas e poemas no ar.
.
.
.
...
[Podem
não
acreditar,
mas
estarei
feliz
apenas
por poder
ver
outra manhã
ensolarada]
...

.
.
.

Brandindo ferozes longos báculos,
vão todos já que os arquitetos cegos
diuturnamente inflando os egos,
não projetam casas para um avestruz,
nem gradis de varandas em pináculos,
que poderiam ser ocupadas
pelos jovens de moletom e capuz,
pois não há edifícios altos flutuantes
no fundo das ravinas verdejantes.
.
.
.

Se caminhar
pela rua
deserta
na noite
do nevoeiro,
poderá reprimir
alguns desejos,
já que a outros
desperta;
e acalentar
doces enganos,
num alongamento
dos músculos,
pedindo palmas
para as sopranos
com a impressão
de ter visto
polichinelos mancos
e um pierrô
vigiando
o fantasma da varanda
decorada inteira
em art déco.
...
.
.
.

Ruas encravadas nas encostas
seriam intransitáveis,
paralelas ou mesmo justapostas,
difícil discernir se acontece
em sonhos ou realidade,
o que a parca do destino tece
alternando em sonhos precoces
a obviedade já pré-existente,
não há ficção crível senão
a partir do senso de não ficção ...
 
A ficção a partir do senso de não ficção

Entre paredes nuas

 
Entre as paredes nuas
há objetos purificados,
adornando os átrios dos templos
onde as ninfas não pisaram.
Dentro do cofre,
atrás do portão,
entre os quatro cantos,
em silêncio profundo,
tudo se transforma em pedra.

Há uma pedra no horizonte,
há fogo na banheira,
há água
no abismo da memória,
há hipocampos cegos nos abissais.
Ofuscam a mente momentaneamente,
mas, na maioria das vezes
parecem ser nada,
apenas reflexos.

Entre as paredes nuas,
entre os quatro cantos,
equilibrando-se no teto,
entre os espaldares das cadeiras,
navegar é preciso
e necessário,
olhando Pégasus ao sul
em direção à Andrômeda.

No limite da carne,
no cerne liso suberiano
do sangue pulsante,
silenciando
sentimentos mundanos.

Na corrente de pensamentos,
silenciar
sentimentos terrenos,
para ver
e ouvir,
sentir a gosto,
cheirar
e tocar
em dias alternados,
imutável
na invariabilidade
sensível
da fidelidade
das cordas de varais aos toldos de lona.

Imóvel em Alfa Centauro
escondendo a face
num cobertor de estrelas refestelado.
Olhos fechados para o mundo,
reunindo o poder da vida
nas palavras
e nas folhas brancas,
resumindo a existência
numa única palavra em mente,
antes da explosão final
de fogos de artifício.
 
Entre paredes nuas

Cogito se morrer é bonito

 
Um poema de Miqué Di L'Atrólloggus

Valentemente à beira do abismo,
cogito se morrer é bonito,
habitualmente não teria prazer,
mas a labuta me pesa desesperada.
Então compensaria ser herói,
blasfemar zombando de Deus
despir-se da decência.
.
.
.
.
.
.
.
.

[...a natureza
da saída,
inquietação.
a recusa,
o destino...
costumava
também amar...]
.
A resposta,
à chamada
à mútua
liberdade.

Ao chamado
acoplado,
sem amigos,
ao abrigo
de
cobertores
num
canteiro
de flores.
.
.
.
.
.
.
Franquear o peito sob a jaqueta
resfriar o sangue abrasado,
a umidade vernal então respirar,
para desanuviar o rosto queimado.
Afinal, num salto precursor,
com denodo mergulhar,
flutuar poucos instantes.
.
.
.
.
.
.
.
... sem amizades,
em queda livre,
da liberdade,
caindo só.
.
.
.

Ao
redor,
despencando,
ao mesmo tempo,
peito aberto,
olhos francos,
a cerrarem
num instante,
apagar-se,
apegar-se
às criaturas
da vida
de todos,
diante
de todos.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.

...
até o fundo
do abismo sem fundo
no fim do mundo.:
 
Cogito se morrer é bonito

Nem só de sal vive o homem

 
Um poema de Miqué Di L'Atrólloggus

Disse alguém uma vez a esmo, sem eixo,
que havia pássaros de fogo no Polo Sul.
e talvez algures homiziado em sinergias,
que para o poeta não existiriam alegrias;
nem separadas no meio das noites insones,
quiçá estivesse tão coberto de toda a razão.
Ainda não acordei, nem sei o que significa,
pois durante anos minha longa vida [ em vão],
pensei ver subirem algumas aranhas em teias,
pensei em você como arcaica imagem querida!

Doem os reflexos das agruras tão estranhas,
mesmo que alguns versos possam ser bonitos,
adornado com laços arredondados enfeitiçados.
Com fissuras, então, serei poeta, eternamente
atravessando a vida forte sofrendo por amores,
girando vez em quando sobre os calcanhares,
esperando terminarem logo as quartas feiras,
já que aos domingos sempre sou mais forte,
pois que nunca para mim elas serão possíveis.
Uma fragata pode navegar até os umbrais,
acredite em mim quando digo que não liguei,
apesar de não haver quase mais nenhum contato.

[...a sua boca
não diz uma palavra,
por medo das respostas,
ou pedir desculpas,
sempre me fez rir.
Eu sou
muito velho agora!
Talvez seja também
mais tarde, já
para compaixão
no olhar assustado.
E baladas da meia noite
encerrarão as gentilezas,
talvez mais uma vez
queira ouvir
a própria voz
afirmando o que nega.
Mas hoje ficaria mal,
suas ofensas
só me fariam rir.

Quando ainda presente havia a real possibilidade,
poderíamos talvez olhar o céu deitados lado a lado,
enfim, a vingança morna jamais fez parte dos planos,
as correntes nos pontos fazem parecer enlouquecido,
desse desejo de amor, destino com fragor incontido,
até ter as faces pálidas ou só vê-las enrubescidas.
Mais cedo ou mais tarde, deixará de ser adorada,
gostaria de ver a tristeza nos seus olhos frios,
eles que firmes rejeitam agora minha presença,
gostaria de ter certeza que vou vencer o jogo,
já que meu premio maior vai ser perder você

[... e um dia pensei,
que fosse
como a flor da manhã,
gentil a alma impoluta,
poderia até sem bonita
sem as artes da maquiagem
as eventuais falhas
do teu caráter
mesmo pontuais,
gritam mais alto]...

Como não saberia mais viver só, outra vez,
sonho que gostaria de escrever para você,
que posso ver todos os ícones radiantes,
jamais vou te esquecer o cheiro da neve,
nem que a lança lançada balançou o elfo.
Eu não sei se vai ler, nem jamais vai ter,
cabelos tintos loiros de ouro e voz de seda,
já que disse que não gosta de poemas,
não usaria roupa preta e um colar azul;
meras sombras quimeras desejos de ser,
ensejos tais também gostaria de escrever
na romaria que posso muito bem esquecer,
queria achar alguém aos menos simpática,
que não acha um saco ler meus poemas.

[...numa mulher bonita
seios de silicone
não deveriam ser precisos.
O encanto
que havia em mim
há de desaparecer,
minha mente
quer ter o poder,
maior desejo
a indescritível satisfação
de um dia qualquer
ver apagarem-se as luzes
e com elas
todas as imagens e lembranças
que um dia existiram.]

Celestial silencioso rasgado poema espinhando auto estima,
esmagado sob culpas vêm memórias me crucificar,
pensamentos banais, uma utopia vai nas asas de uma gaivota,
levando até o fim da ravina a ternura num sonho boêmio.
Deixe-me só com as recordações e imagens retintas,
guardadas na memória do pequeno pen drive azul,
e respirar o aljôfar de poeiras das estrelas,
curar a alma ferida e serei eternamente grato.

[...quero mais que sal,
cimento e a cal,
roupa lavada, mesa posta.
Quero palavras doces
para confortar. nada mais]
 
Nem só de sal vive o homem