A-dor-no
A dor no
sono
Sonha
dor
A dor
no mar
Pesca
dor
A dor
no amor
Ama
dor
A dor na
morte
Arpo
a
dor
A porta
importante
é a porta
que aporta
entradas
e saídas
importa
muitas chegadas
exporta
muitas partidas
neste
vai e vem
a porta sempre
está dividida
só é selada quando
a morte
decide selar a vida
Clausuras abertas
As sinuosidades dos momentos
fogem da reta da visão.
Dessas curvas nascem poemas;
concavidades de solidão.
noturnianos
Gostava de ver o vento
na madrugada tocar
o corpo suado de sereno.
No silencio violeta'zul
estender os olhos em busca
de pássaros insones
que pousam nas imediações
do ilusório
para dizer que noites
não são apenas açoites
de solidão
coisas de cais e outros quintais
um corte no coração solta ancora esquecida
resistente na ferrugem
e na esperança engatada
a argola de ligação nos quilômetros
do tempo foi rompida
todas as margens que
acolheram tiveram braços de partidas
de sentir água nos pés,
e o coração, a maresia
maré baixa maré cheia
o peito sempre molhado como tábua
de convés
sem nunca fazer parte
do veleiro assoprado
nos olhos a tela do cais
traços tem borrados
porto que é porto vive de agitação
inconsciente de que tábua à tábua
imprime-se solidão
se no ar um vento chora
com o alto balanço da mão
Sangue verde
No chão de cicatrizes o vento varre flores. Sigo rastro de pétalas que não dão afeto pro caminho. Sinto a saudade do vento verde e meus pés desnudos lembram tristes da sombra dos Ipês refrescando o destino
com promessas de raízes e sementes.
Sem destino vou, que meus pés não querem parar. Não enquanto o céu espalhar no ar o canto do sabiá. Sabiá que voa livre, pousando de rama em rama. Terra aonde a seiva escorre doce das mãos do homem que ama.
Quase obscuro
Tens de mim uma figura que de mãos dadas dão-lhe silhueta
letras do meu surgir.
Dentro da ciranda de palavras feitas
pra fingir
move-se a gravura cheia de nadas pra prosseguir.
Tens de mim uma procissão que não sabes pra onde vai mas não te importas
de seguir.
Tens de mim um artifício
da solitária inspiração nascido e abandonado no mover de páginas
que puxam outra pra insistir no ofício
de entalhar um rosto equilibrando vários corpos
livre mente
Sem fundo e sem paredes.
no abismo caio,
depois do mostruário dia,
Apago a matéria,
que tudo agarra
tentando sobreviver,
pela liberdade
de nada pertencer