Poemas, frases e mensagens de Amanayara

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Amanayara

Pr' agora as horas são

 
Pr' agora as horas são
 
Teus lábios no abrir da tarde tem uma prece
abençoando o dia seguinte
como se esse dia já estivesse
concluso estando o hoje ainda inacabado.
O tempo bem arrumado corre veloz
sem dar-te tempo de te arrumar.
Teu peito ainda está nu enquanto
os sonhos amarrotados te espreitam
de dentro do cesto. Olha teus pés
descalços dos caminhos enquanto
torces para abraçar precoce destino.
Tuas mãos já têm anéis e nem
amadureceram os dedos para suportar
a dor da rejeição e o amor que está na concha
é esboço de semente numa palma nem
fria e nem quente. Queres abrir os braços
para libertar tua ansiedade quando ainda és a gaiola
aprisionando o pássaro que não
alimentas para fuga e se assim o permitir
será um voo faminto devorando
todos os desenganos até
um céu onde tudo grita e nada responde.
Deixa que tua prece
seja pr' agora, agora, agora
pelo que sentes
e vives na hora
 
Pr' agora as horas são

assim como noz

 
assim como noz
 
Preservando
a cor, sabor
e essência
sem facilitar a invasão
feita por nós,
veste-se de
rústica casca,
a noz
 
assim como noz

praiamar

 
praiamar
 
A marola
amaria
a Maria
amante
amadora
amorosa
amansando
a maresia
que amacia' mar ?
 
praiamar

Fúria

 
Ar
em combustão

Aquele ponto
onde se deu
a fuga da razão
 
Fúria

resiliente

 
resiliente
 
Em tudo que a vida mareia, afoga-se
e às vezes pede socorro.
Em outras, deixa-se afundar até alcançar
o leito do morro. De repente,
surge o impulso de vir à tona e revive
para marear momento novo.
 
resiliente

Marcas

 
Marcas
 
o alto relevo das cicatrizes sob a chuva do tempo,
não se apaga
.
sempre um desbotado mapa
de caminhos tortos
balança no vento
.
como gotas de orvalho,
o contraste é um diamante
levando dentro
eufóricas tatuagens
que bateram asas
nos traçados rotos
 
Marcas

colorido fugaz

 
Sopra mais intensa a brisa.
o colorido frágil das borboletas
indomável no provar do pólen
não se abaterá na conjectura de saber breve instante.
No primaveril instante
sabe-se lá ou cá se
alguma
alguma
flor alcançará.
Asas tremeluzem
misturas no ar;
liberdade
suavidade
efemeridade
 
colorido fugaz

sobremar

 
Aquela ponta do tempo,
um cabo estendido sobre o mar
onde se senta
e não se pode demorar,
breve instante
para se especular -
como não viver morrendo
para em tudo se ajustar
e como não morrer
vivendo querendo tudo abandonar?
-
E aquela onda de mar
que o sonho movimenta
e o tempo não deixa navegar
 
sobremar

A-dor-no

 
A dor no
sono
Sonha
dor

A dor
no mar

Pesca
dor

A dor
no amor

Ama
dor

A dor na
morte

Arpo
a
dor
 
A-dor-no

A porta

 
A porta
 
importante
é a porta
que aporta
entradas
e saídas
importa
muitas chegadas
exporta
muitas partidas
neste
vai e vem
a porta sempre
está dividida
só é selada quando
a morte
decide selar a vida
 
A porta

Clausuras abertas

 
As sinuosidades dos momentos
fogem da reta da visão.
Dessas curvas nascem poemas;
concavidades de solidão.
 
Clausuras abertas

noturnianos

 
noturnianos
 
Gostava de ver o vento
na madrugada tocar
o corpo suado de sereno.
No silencio violeta'zul
estender os olhos em busca
de pássaros insones
que pousam nas imediações
do ilusório
para dizer que noites
não são apenas açoites
de solidão
 
noturnianos

coisas de cais e outros quintais

 
coisas de cais e outros quintais
 
um corte no coração solta ancora esquecida
resistente na ferrugem
e na esperança engatada
a argola de ligação nos quilômetros
do tempo foi rompida

todas as margens que
acolheram tiveram braços de partidas
de sentir água nos pés,
e o coração, a maresia
maré baixa maré cheia
o peito sempre molhado como tábua
de convés
sem nunca fazer parte
do veleiro assoprado
nos olhos a tela do cais
traços tem borrados

porto que é porto vive de agitação
inconsciente de que tábua à tábua
imprime-se solidão
se no ar um vento chora
com o alto balanço da mão
 
coisas de cais e outros quintais

Sangue verde

 
Sangue verde
 
No chão de cicatrizes o vento varre flores. Sigo rastro de pétalas que não dão afeto pro caminho. Sinto a saudade do vento verde e meus pés desnudos lembram tristes da sombra dos Ipês refrescando o destino
com promessas de raízes e sementes.
Sem destino vou, que meus pés não querem parar. Não enquanto o céu espalhar no ar o canto do sabiá. Sabiá que voa livre, pousando de rama em rama. Terra aonde a seiva escorre doce das mãos do homem que ama.
 
Sangue verde

Quase obscuro

 
Quase obscuro
 
Tens de mim uma figura que de mãos dadas dão-lhe silhueta
letras do meu surgir.
Dentro da ciranda de palavras feitas
pra fingir
move-se a gravura cheia de nadas pra prosseguir.
Tens de mim uma procissão que não sabes pra onde vai mas não te importas
de seguir.
Tens de mim um artifício
da solitária inspiração nascido e abandonado no mover de páginas
que puxam outra pra insistir no ofício
de entalhar um rosto equilibrando vários corpos
 
Quase obscuro

livre mente

 
Sem fundo e sem paredes.
no abismo caio,
depois do mostruário dia,

Apago a matéria,
que tudo agarra
tentando sobreviver,
pela liberdade
de nada pertencer
 
livre mente