SER É COMEÇAR
Ser
é procurar
a verdadeira razão
mas nem sempre se é
o que se pensa Ser
às vezes Ser
é uma questão
de parecer
parecer é sobreviver
mas sobreviver
não é suficiente
porque Ser suficiente
não é Ser demasiado
e Ser demasiado
não é sinal de crise
já que tudo é crise
crise é Ser
Ser é
a única verdade
pela qual
vale a pena
Ser aquilo que se É.
Neno
Searas de Solidão
Searas de Solidão
Perco-me nas searas de trigo maduro,
já o sol incendeia o meu corpo por dentro.
Não lobrigo vivalma,tudo dorme
nesta terra de ninguém.
No horizonte errante dos meus dias,
um abraço firme e solitário no meu prazo:
eterna solidão. À minha volta os pássaros
bailam como folhas mortas,
e a seara está pronta para a ceifa.
Eu,espero que o sol me ilumine por dentro.
neno12119
A Folha em Branco
A Folha em Branco
Um dia igual a tantos outros:
um amargo de boca que me queima
os lábios e esvazia o peito.
A fala é simplicidade no labirinto:
amar a quem não ama, sem esperança,
expropriado de tudo.
Sou a porta, entreaberta.
Como posso existir na penumbra dos meus sonhos?
Sou velho, de face enrugada.
Tu resplandeces!
Aura flamejante!
O mundo cai a teus pés,
como eu caí aos teus.
Neno
Amor é dor
Se existir é alma
Amar é pensar a dor
Que o meu coração não me atormente
Com a existência da ausência em ti
Quem me dera que a mágoa
Fosse flor
E o amor nascesse em mim.
Não é o amor que me atormenta
Mas o ter que dói a que não tem.
Poesiadeneno
Tragédia
Tragédia
Canto a lúgubre toca onde se esconde,
a esmola negada na rua onde sempre viveu,
o aspecto andrajoso e sujo de cidadão ignorado,
a tragédia da vida puxada a ferros
por mãos conspurcadas.
Canto as palavras que lhe negam na cara,
o desdém de animal ferido
de animal magoado.
Canto a incúria de uma sociedade
que abandona os seus filhos,
à miséria sangrenta das cidades
onde choram suas mágoas,
e maldizem a luz que os viu nascer.
Neno 488
Um Provérbio dos Diabos
Nota: estamos perante um provérbio popular bem português.
Um provérbio dos diabos!
«Deus é bom, mas o Diabo também não é mau.»
INsana Vaidade
Insana Vaidade
Venho do fundo da dor
Não sei onde quero ir
Perdido no mar imenso
Esconjuro o infinito.
Sem destino perco o rumo
Sem bússola perco o destino
Nas palavras que não digo
Por querer o infinito.
Ah!Que insana vaidade
De querer o infinito
Perco o rumo perco o dito
Sou um mendigo da idade.
No poema e no oculto
Sou um barco à deriva
Nem sei o sol que me fita
Nem (o que eu penso do mundo).
Nada quero do teu mundo
Porque não tenho ambições
Apenas sinto o desejo
Que prende como grilhões.
Nem sei da alma que prende
(A raiz ao pensamento)
Corto o amor corto o momento
(Venho do fundo do tempo).
(Eu nunca guardei rebanhos)
Porque havia de os guardar
Falta a experiência da vida
Falta a vida para os guardar.
Neno
O Templo
Do Templo, sabemos que era grandioso e sublime. A porta principal, desenhada por um arquitecto de nome desconhecido, estava voltada para poente,e era uma fonte de interesse, demasiado evidente.
Em 1877, Frederic Cornwell,falava de um deserto imenso, onde existia uma encruzilhada com uma bifurcação, e em cujo caminho que seguia para oeste era visível uma Pirâmide, de dimensões colossais. Algo de misterioso encerrava esta sua descrição de uma das muitas viagens que Cornwell fizera a África, mais precisamente,ao Egipto.
Nesse mesmo ano, morre F. Cornwell , de uma forma que podemos considerar desprezível: batera-se numa luta sem história, por uma mulher de comportamento duvidoso. Conta-se que antes de morrer, as suas últimas e derradeiras palavras foram:todos os caminhos são apenas a Luz de um único caminho que conduz ao Templo e à Pirâmide.
New York, (1917) - Truman Capote vagueia numa rua sombria, sem conseguir escrever algo de memorável no seu livro de contos, " Música para Camaleões".
Não muito longe do lugar onde se encontra, num quarto de hotel M. Monroe conversa sobre algo efémero, com Henry Miller.
A uma grande distância dali, em pleno deserto abrasador, junto ao que restava de uma antiga parede e não muito distante do Templo jaz um corpo. Permanece ali não se sabe como nem porquê. O seu rosto apresenta um olhar tão assustado, que dir-se-ia ter visto algo sobrenatural.
Os anciãos daquelas paragens dizem pertencer a F. Cornwell. Dizem, que o tempo tudo apaga: velhas recordações, conhecimentos e factos que não voltarão a repetir-se. Na planta da sua mão direita são visíveis alguns traços impressionantes, que fazem lembrar um caminho para um Templo e uma Pirâmide.
O seu corpo, foi enviado para o Cairo para investigações.
Muitos anos se passaram desde esse memorável momento, escrito a fogo sob o céu estrelado do deserto.
New York, (Março de 2008) - um homem vestido de negro entra na Biblioteca Municipal e pede de uma forma quase inaudível um livro ao bibliotecário.A resposta não se fez esperar:- aqui tem o seu livro,Sr. Cornwell.
Neno*
*Singela homenagem a Jorge Luís Borges
Fala-me de Amor, sim, Fala-me de Amor!
“ Não acreditas? Vamos,
Velho urso! Pois também eu – sou profeta!”
F. Nietzsche
Fala-me de amor, sim, fala-me de amor!
Quando o meu fardo de tão pesado,
Trouxer à memória recordações vagas,
Apagadas pelo tempo que nos embalou
Da meninice aos cabelos alvos como a neve.
Tempo
Para rir, chorar, amar e ser amado.
Dar e receber...descobrir.
Palavras que ficaram por dizer,
Por cobardia ou ossos do ofício.
Nem eu sei! Como se a vida não fosse,
Um cordão umbilical
Que nos liga à Terra Mãe.
Houve lugar para a angústia e para a dor,
Entes queridos que ficaram
Nesta longa maratona, das Termópilas a Esparta.
Julguem-me os que calcorrearam
Os caminhos do desespero e da glória!
Nem todos navegaram em águas turbulentas,
Nem apanharam o mesmo vapor.
Aprendíamos à medida que íamos navegando.
Soubemos perder, para nos encontrar, de seguida.
E, quando isso não aconteceu,
Chorámos lágrimas de sangue.
Vendemos a alma, quando o álcool
Se apoderou dos nossos sentimentos,
Verdade!?
A mentira engana o mentiroso.
Pelo Nome, pela Palavra dada,
Não existe dinheiro que a pague.
Valores? Sim, intemporais e sagrados.
O mundo ao contrário: o Ser pelo Ter.
Fala-me de amor, sim, fala-me de amor!
Quando o nosso fardo
De tão pesado, trouxer à memória
Recordações vagas,
Do tempo em que éramos crianças.
Neno
Poema Hiper Realista
QUE ESPERAM AINDA DE MIM?
[Alerta a toda a Humanidade]
Fiz tudo o que havia para fazer
Transgredi todas as regras sociais
Apunhalei pelas costas amigos e inimigos
porque não fui capaz de os distinguir
Fui preso por consumir drogas
Satisfiz os caprichos mais hediondos
Utilizei todos os meios
para alcançar os meus objectivos
Fui um dealer inveterado e sei que morreram
muitas pessoas por minha culpa
Bati em todos os familiares
que se atravessaram no meu caminho
Na guerra matei e mandei matar
só por mero prazer
Fiz todo o tipo de experiências
com animais e pessoas
para satisfazer os meus caprichos
Fiz pactos com Belzebu e todos os diabos
que por aí andam
para chegar mais longe
Finalmente fui político
e a bem da Nação
engordei as minhas contas bancárias
A psicopatia esquizofrénica idiótica
é pouco para descrever a minha loucura
A palavra Monstro é sombra
para me descrever
Digam!O que esperam ainda de mim?
Neno