Preconceito
Então diz-me lá amigo,
Onde te leva tanto preconceito?
Aqueles que discriminas,
São seres humanos como tu
E a viver têm direito!
A caminho da escola,
Não dás uma esmola
A um pobre sem abrigo?
Ele não tem nada, perdeu tudo!
Poderia acontecer contigo...
Porque viras a cara à tua amiga
Que vês passar na rua?
Só porque é mãe solteira,
Não terá o direito
De ter uma vida igual à tua?
Pára de uma vez por todas de gozar
Com a rapariga gorda que vês passar!
Serás tão insensível,
Que não lhe consegues ver
A tristeza estampada no olhar?
E aquele rapaz a quem "deste" má fama
Só porque se veste de modo diferente?
Julgaste sem conhecer...
Será que pelo menos algum dia
Tentaste com ele conviver?
Porque carregas dentro da tua alma
Tanto ódio recalcado e revolta?
Carregas desde o berço um triste destino?
Será que tu também aguentarias
Apenas por um só dia vestir-lhes a pele?
Talvez assim reflectisses,
Sabendo como é duro,
Apenas por um só dia
Ser rejeitado, tal como eles...
Corpos Editora
Como que por magia,
O meu sonho amado
Renovou-se e tomou forma.
Perdida na emoção,
Os olhos rasos de água,
Senti bater o coração!
Entrei num mundo encantado, e
Deixei aberta a porta…
Inesquecível momento!
Tocou-me bem fundo na alma
Onde se solta o sentimento.
Recordo agora com saudade
A praia ao luar, eu e a eternidade.
Sina de amor
Apetece-me gritar pelas ruas
Teu nome, meu santuário.
E com palavras seminuas
Traçar um novo fadário.
Não quero mais ser tua.
Mas que mentira demente!
Por ti, roubaria a lua
E faria parar o tempo.
Que fantástico calvário!
Quanto mais tento apagar-te,
Mais te incendeias em mim.
Grito de amor
Queria dizer-te quanto te amo,
Quanto te venero e necessito,
Mas fazes parte de um mero sonho.
Um sonho bom, um sonho angelical.
Queria fazer música com teu corpo
E transformar tua voz em poesia.
O tempo, de atroz maldade,
Caminha lento sobre meus dias.
A minha voz passeia no vento
Buscando ardentemente a tua.
Preencher-me-ás o eterno vazio
Que enclausurou minha débil alma?
Beijarás o Sol para que volte a sorrir?
Meu amor: se imaginasses quão te anseio!
Não sonhas o brilho do meu olhar.
É como eterna ferida de amor
Na voz de quem ama e sente,
Pois quem ama jamais mente.
Será que me queres tanto assim?
Sou anciã de longas caminhadas.
Enfrentei várias vezes a noite,
Suportei sorrindo dolorosos dias...
Não me ofereças sonho e fantasia,
Pois eu apenas anseio certezas.
Não quero nunca ser uma rosa!
As rosas têm espinhos que ferem.
Serei sempre uma tulipa negra,
De acetinadas e misteriosas pétalas,
Reflectindo somente a escuridão.
Foi assim que vesti a minh’ alma
Na melancolia da tua ausência.
Vem! Sou eu quem te chama.
Vem! São duas almas lastimando
A dor de não ter alguém...
Helena sem nome
Por seres tão forte e corajosa,
Trazes no colo a amargura
De quem te quer mal. (Loucos!).
Esquecem que és quem nada teme,
Aquela que lhes ergueu monumentos
Com sonhos de bravura e dedicação.
A vida madrasta derruba-te,
Apenas para te voltar a erguer
Com muito, muito mais força!
Disfarças a guerreira
Debaixo de uma pele de mulher,
Como quem esconde do mundo
A sua enorme força de viver.
Não deixes nunca de ser quem és.
O teu ser em flor deu fruto
E é por ele que deves viver,
Para que nunca seque a seiva
Que te alimenta os sentidos.
Não importa o ódio dos outros.
Serás sempre a menina mulher,
De alma corajosa e intocável.
Isso, eles não podem mudar!
Porque a cobardia não tem nome,
Mas tem muitos rostos (os deles!).
Porque a frontalidade não tem medos,
Mas tem muitas vitórias (as tuas!).
Porque a amizade não tem fronteiras,
Mas tem muita cumplicidade (a nossa!).
Sonho
Lembrei-me hoje de ti, amor,
Como quem lembra da infância.
Senti nos pés as ondas do mar
E na cara, o sol quente de Julho.
Sentei-me então na fina areia,
Dei por mim errante, a chorar...
Por esse poema inacabado
Que a vida não me deixou recitar.
LES (Lupus Eritematoso sistémico)
Borboleta que não voa,
Incerteza e desilusão.
Vaguear num mundo à toa,
Entre a dor e a solidão.
E nesses dias passados,
(Criança por Deus magoada!)
Viste o teu mundo ser mudado.
Instalaram-se em ti as trevas,
Amaldiçoas a luz que te fere
E odeias a vida que levas!
Clamas aos céus por justiça,
Buscando uma força divina.
O mundo perdeu-te nas voltas
E fez a poetisa, ainda menina
Para cantar tamanha revolta.
“Porquê eu? Porquê vocês?”
Pergunto a minh’alma dolorida,
Tentando manter a lucidez.
São tantas as portas que nos fecham,
Sem aviso prévio, nem motivo.
Quase como flechas que atravessam
Um pássaro que tomba, ferido.
Resta-nos somente a fé inabalável,
De Anjos de Luz, por nós velando.
Operando milagres no impensável,
Nos hospitais, as dores acalentando.
Sou menina mulher, louca e incompleta,
Que já não sente vontade de sonhar.
Lúpus: tens asas de borboleta,
Mas nunca me fizeste voar...
Um pensamento
Pecamos quando rimos e
Só nos apetece chorar.
Pecamos quando choramos
Para esconder um sorriso.
Pecamos quando desistimos de tudo,
Deixamos de lutar pela vida e
Pelos nossos sonhos...
Pecamos quando atiramos a primeira pedra para destruir,
Quando deveria ser usada para construir.
Pecamos quando deixamos que nos calem a voz,
E quando deixamos que outros amem
O que deveria ser amado por nós!
Em memória de mim
Abram-se as portas de par em par!
Tenham misericórdia... deixem-me passar...
Quero ser livre para voar,
Tomo em meus braços a liberdade.
Abram-se as campas de par em par!
Tenham piedade... deixem-me entrar...
Venha até mim o Anjo da Morte,
Findada a vida,acaba a má sorte.
Abram-se as campas de par em par!
Tenham piedade... deixem-me entrar...
Ao amor da minha vida
Esperei toda a vida por ti, e agora que chegaste já te perdi...
Dizes que jamais esquecerás "aquele" abraço. Eu digo-te que jamais esquecerei a primeira vez que te vi, o primeiro beijo trocado, o bater descompassado do meu coração antes de cada encontro, como se cada um fosse o primeiro e sentir-me uma miúda sempre que estava contigo. O teu lindo sorriso, as tuas doces palavras e a tua compreensão.
Jamais esquecerei que foste o primeiro que viu para além de tudo, que viu a minha verdadeira essência, a minha alma inteira, desnuda e transparente. Como esquecer as longas conversas ao telemóvel, os assuntos inesgotáveis, o quanto temos em comum? Esquecer os abraços, a tua voz serena, as juras de amor trocadas, os planos? O que fazer com tudo o que foi dito, sonhado, sentido? Se soubesses como me dói, como me fazes falta!
Agora encontro-me perdida e mais vazia que nunca. As lágrimas caem sem parar, a dor é terrível, devastadora! Sinto que mais uma vez me é arrancado um pedaço de mim, e apesar de pensar que não merecia isto, talvez esteja errada...
Não vou conseguir esquecer-te. Não vou! Não sei como ultrapassar isto. Só sei das tardes passadas contigo, de cada pôr-do-sol perfeito, da doçura dos reencontros e das tristes despedidas, do calor dos teus braços e o aconchego do teu peito. Dizias que quando me despedia eu virava costas, baixava a cabeça e seguia sem olhar para trás. Sabes, não conseguia sequer ver-te partir, ainda que soubesse que voltavas. Resta-me saber como seguir agora tendo consciência que não voltas.
Guardarei comigo cada momento precioso passado a teu lado e morro por dentro só de pensar que aquele dia foi o último toque, o último beijo, a última despedida, que a tua mão largou a minha e nunca mais voltará a chegar a hora de chegares... Amo-te...
Paula Correia (23/10/2007)