Lua amiga
Lua, velha companheira
De noites frias e cerradas.
Velha feiticeira,
Que nos faz adormecer
Na calma das madrugadas.
Que fado é esse que cantas?
Porque nos enfeitiças
Com perfume de luar?
És rainha da noite,
A pérola mais brilhante
Que até hoje vi!
Olho-te maravilhada,
E tu aí no alto,
Resplandecente e majestosa,
Deixas-te admirar.
Só é pena que o teu encanto,
Me faça adormecer e não me deixe
Contemplar-te por mais tempo.
Velha amiga: Faz-me sonhar!
Mulheres que amam demais
Mulheres que amam demais
São perigosas, inseguras,
Desenham amarguras
Em noites sem dormir.
Mulheres que amam demais
São violentas tempestades,
Os mais furiosos furacões,
São forças da natureza!
Essas mulheres são sofridas,
Vividas e loucas.
São pássaros sem ninho,
Mendigas de carinho…
Mulheres que amam demais
São ciumentas, descontroladas,
Não confiam em ninguém!
São mulheres sem auto-estima,
Não têm verso, nem rima,
Apenas prosa sem rumo.
Mulheres que amam demais
Vivem em eterna agonia,
Choram sozinhas no escuro,
Sempre com medo de perder.
São dependentes viscerais!
E, “mea culpa”, eu confesso!
Num caminho sem regresso,
De guerreira sem rivais…
Eu também sou uma dessas
Mulheres que amam demais!
A nossa madrugada
Ainda permanece em mim o teu sabor,
O teu fervoroso toque, o teu cheiro...
Sinto em minh’ alma vigoroso fervor
De um amor, mui puro e verdadeiro.
As minhas delicadas mãos nas tuas,
O teu forte e impulsivo corpo no meu,
Foram belas quadras, soltas e nuas,
Foi doce poema que nos envolveu.
Amor, único e inesquecível amor!
Não mais sentirei temor em dize-lo:
“Amo-te perdidamente e com ardor.”
Nesta pálida e gentil madrugada,
Murmurou-me o vento em tons de gelo:
- Serás p’ra todo sempre a mais amada...
Nos braços de Morfeu
Conhece-me o sabor das lágrimas
Quando a noite silenciosamente cai
Salpicando meus prantos de diamantes e prata.
A cabeça deitada em linho molhado,
O cabelo enfeitado de luz de luar…
Vem pois, Morfeu de mansinho,
Acalmar meu peito agoniado.
E os tristes olhos, marejados,
Gentilmente me fechar.
Então, finalmente sorrirei.
Dormindo, sou livre para sonhar!
Mágoas
As lágrimas escarlate que correram,
Não eram mais que todo meu pesar.
Nas asas douradas que se quebraram,
Foi deslizando o teu meigo olhar...
Perdi-te! Perdi-o! Perderei sempre!
Um e outro e outro… Perderei...
Nunca eu encontrarei o tesouro,
Que tanto nesta vida procurei.
De luto vestirei a minha alma,
De versos, o meu peito rasgarei.
Se não me mereceram os amores,
Então, só de poemas viverei!
LES (Lupus Eritematoso sistémico)
Borboleta que não voa,
Incerteza e desilusão.
Vaguear num mundo à toa,
Entre a dor e a solidão.
E nesses dias passados,
(Criança por Deus magoada!)
Viste o teu mundo ser mudado.
Instalaram-se em ti as trevas,
Amaldiçoas a luz que te fere
E odeias a vida que levas!
Clamas aos céus por justiça,
Buscando uma força divina.
O mundo perdeu-te nas voltas
E fez a poetisa, ainda menina
Para cantar tamanha revolta.
“Porquê eu? Porquê vocês?”
Pergunto a minh’alma dolorida,
Tentando manter a lucidez.
São tantas as portas que nos fecham,
Sem aviso prévio, nem motivo.
Quase como flechas que atravessam
Um pássaro que tomba, ferido.
Resta-nos somente a fé inabalável,
De Anjos de Luz, por nós velando.
Operando milagres no impensável,
Nos hospitais, as dores acalentando.
Sou menina mulher, louca e incompleta,
Que já não sente vontade de sonhar.
Lúpus: tens asas de borboleta,
Mas nunca me fizeste voar...
Um pensamento
Pecamos quando rimos e
Só nos apetece chorar.
Pecamos quando choramos
Para esconder um sorriso.
Pecamos quando desistimos de tudo,
Deixamos de lutar pela vida e
Pelos nossos sonhos...
Pecamos quando atiramos a primeira pedra para destruir,
Quando deveria ser usada para construir.
Pecamos quando deixamos que nos calem a voz,
E quando deixamos que outros amem
O que deveria ser amado por nós!
Em memória de mim
Abram-se as portas de par em par!
Tenham misericórdia... deixem-me passar...
Quero ser livre para voar,
Tomo em meus braços a liberdade.
Abram-se as campas de par em par!
Tenham piedade... deixem-me entrar...
Venha até mim o Anjo da Morte,
Findada a vida,acaba a má sorte.
Abram-se as campas de par em par!
Tenham piedade... deixem-me entrar...
Ao amor da minha vida
Esperei toda a vida por ti, e agora que chegaste já te perdi...
Dizes que jamais esquecerás "aquele" abraço. Eu digo-te que jamais esquecerei a primeira vez que te vi, o primeiro beijo trocado, o bater descompassado do meu coração antes de cada encontro, como se cada um fosse o primeiro e sentir-me uma miúda sempre que estava contigo. O teu lindo sorriso, as tuas doces palavras e a tua compreensão.
Jamais esquecerei que foste o primeiro que viu para além de tudo, que viu a minha verdadeira essência, a minha alma inteira, desnuda e transparente. Como esquecer as longas conversas ao telemóvel, os assuntos inesgotáveis, o quanto temos em comum? Esquecer os abraços, a tua voz serena, as juras de amor trocadas, os planos? O que fazer com tudo o que foi dito, sonhado, sentido? Se soubesses como me dói, como me fazes falta!
Agora encontro-me perdida e mais vazia que nunca. As lágrimas caem sem parar, a dor é terrível, devastadora! Sinto que mais uma vez me é arrancado um pedaço de mim, e apesar de pensar que não merecia isto, talvez esteja errada...
Não vou conseguir esquecer-te. Não vou! Não sei como ultrapassar isto. Só sei das tardes passadas contigo, de cada pôr-do-sol perfeito, da doçura dos reencontros e das tristes despedidas, do calor dos teus braços e o aconchego do teu peito. Dizias que quando me despedia eu virava costas, baixava a cabeça e seguia sem olhar para trás. Sabes, não conseguia sequer ver-te partir, ainda que soubesse que voltavas. Resta-me saber como seguir agora tendo consciência que não voltas.
Guardarei comigo cada momento precioso passado a teu lado e morro por dentro só de pensar que aquele dia foi o último toque, o último beijo, a última despedida, que a tua mão largou a minha e nunca mais voltará a chegar a hora de chegares... Amo-te...
Paula Correia (23/10/2007)
Perder-te
Se soubesse que para sempre te perderia,
Fincava bem fundo as raízes minhas
No solo desgrenhado do teu coração.
Sorrindo ao espelho, eu não te vi presente.
Tinhas partido de mim, meu amor.
Olha, ao longe se avistam as gaivotas.
Batem asas no silêncio vespertino
E apontam-me os nossos destinos,
Separados, murados, escondidos...
E eu que fujo dos braços da água
Para olvidar-me da tua voz de mar.
Doem-me os olhos de não te ver.
Esta luz do Sol que não me aquece,
É a ausência tua, um fruto amargo,
Que a vida ousou plantar dentro de mim!
(A beleza do meu Ser- Paula Correia)