Sonetos : 

MEUS SONETOS VOLUME 044

 
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Culminam no prazer de assim contê-las,
Esperanças rondando quais falenas
Em procissão; constelam tais estrelas
Sidéreas emoções restam serenas.

Num sonho em fluorescências posso vê-las
Às vezes gigantescas ou pequenas
Revelam em seus mistérios, rotas, velas
Ao fundo, sorridente, tu me acenas.

No imenso tombadilho, a tua imagem
Reflete em multicores fantasias.
O barco ao engendrar esta viagem

Percorre este oceano, o pensamento.
Percebo: ao mesmo tempo em que sorrias,
Mais forte, com certeza, vinha o vento...
Marcos Loures


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Cumprindo o meu papel, eu muitas vezes,
Pensei poder sair de peito aberto.
Porém ao perceber tantos reveses
Da vida que eu queria, já deserto.

Procuro o teu carinho, mas há meses
Não tenho mais ninguém aqui por perto.
Porteira escancarada perde reses
O amor se maltratado resta incerto.

Parágrafos diversos, tolas frases,
Tu falas com sarcasmo serem fases,
Depois em gargalhadas ris e zombas.

Um dia ainda irei, eis a verdade,
Poder imaginar a liberdade,
Usufruindo enfim, minhas kizombas.
Marcos Loures


4303


Cumprindo em nossa vida, o paraíso,
Papel primordial, insuperável.
No toque mais audaz, sempre preciso,
Bebendo a fantasia inigualável

A fonte do prazer inesgotável,
Transtorna num segundo o meu juízo
O amor que a gente faz, doce e potável
É feito deste jeito mais conciso.

E quando a noite chega de mansinho,
Trazendo os astros vários, claridade
Contigo o tempo inteiro bem juntinho,

Encontro o que sonhei, felicidade
Enquanto no teu corpo o meu aninho,
Recolho a desejada divindade...


4

Cumprindo a profecia que um oráculo
Há tempos proferiu como um enigma,
A sorte deslindando o seu tentáculo,
Marcando o nosso sonho em duro estigma.

Primando por saber ser oprimido,
Não vendo nem desvendo esta ilusão,
Entre os meus pesadelos comprimido,
O que restou de tudo? Nem o chão.

Pereço ao mesmo tempo em que renasço,
Morrendo nos teus braços, ressuscito,
E mesmo que pareça tão escasso,
O que inda sobra aqui é tão bonito.

Se eu fosse pelo menos um resquício,
Não buscaria sempre o precipício...


5


Cultura brasileira foi pro saco!
Inteligência é coisa nauseabunda.
Ao enfiar cabeça no buraco,
A minha paciência já se afunda.

Da parte que cabe nenhum naco,
Vazio, o pensamento se redunda,
Meu canto na verdade, eu sei que é fraco,
Agora vou cantar somente a bunda.

Quem sabe me ouvirás em teu radinho,
E chegue junto a mim bem de mansinho,
Tocada pelo encanto da canção.

Num bonde mais gostoso iremos nessa
Que o amor sem interesse se confessa
Nos braços tatuados do Tigrão!
Marcos Loures


6

Cultuo nosso amor de tantas prendas,
Deitado em teu remanso, celebrando
Amor nesta mistura, sedas, rendas;
O gosto de teus lábios, manso, brando...

Eu sinto que te tenho mais que pude,
Te vejo neste espelho junto a mim...
Amor que tanto quero, em plenitude,
Vivendo deste amor, que não tem fim...

Quem sabe se tomando nos meus braços,
Eu possa compreender a minha sorte.
Estreito, em nosso amor, os nossos laços;
Meu barco já encontra o rumo norte.

Depois de tanto amor que não entendo,
Viver tão belo amor; não me arrependo...

7



Cultivo tantas flores no jardim,
Um jardineiro sempre cuidadoso
Prepara com carinho e sempre assim,
Encontra este canteiro tão formoso.

Assim como acarinho por inteiro
Mulher tão perfumada e mais gostosa,
Sentindo de mansinho este bom cheiro,
A primavera em ti, maravilhosa...

Eu quero o teu perfume delicado,
Com jeito de desejo e de pecado,
Usufruindo sempre que puder

Até que a manhã chegue e traga o sol,
Pois sendo, meu amor, teu girassol
Eu quero ter nas mãos a flor mulher...
Marcos Loures


8


Cultivara em meus sonhos; diamantes,
Safiras, esmeraldas e cristais.
Prazeres e delírios abundantes
Distante das matilhas, dos chacais.

Estrelas que pescara por instantes
Perdidas não encontro nunca mais.
Os olhos da pantera, deslumbrantes
Levaram as estrelas dos bornais.

O vento que chegara do Planalto
Matando os meus prazeres nascedouros
Somente na frieza do basalto

Na inerme sensação deste granito
Que seca e que renega tais tesouros
Apenas me restando um vago grito...


9


Cuspindo a labareda, fogo intenso.
Paixão desarvorando faz a festa,
Vereda percorrida, sol imenso,
Gestando a vida nova na floresta

Do peito que se embarga, quente e denso,
Num ar que sem limites tudo empesta,
O passo caminheiro, segue tenso,
Sabendo do que o tem e do que resta.

A morte chegará mais cedo ou tarde,
Porém a prata cai em lua cheia,
Na labareda fátua que incendeia

Deixando o peito amante em puro alarde,
Nas asas afiadas da incerteza,
Amor sem ter aviso e nem defesa.


10


Curvando ao peso desta sina, dura
Vagando pelas ruas sem ninguém.
A noite que esperava em lume, escura
Distante das clemências deste bem.

Procuro insanamente por alguém
Que possa me trazer e com fartura
Sorriso precioso. Nada vem,
Restando tão somente uma amargura.

Mas sei que talvez trace um novo plano,
A sorte que bem sei não ser madrasta,
Meu sonho por teus passos já se arrasta

E moldando um futuro soberano
Percebe que terei felicidade
Nos braços tão leais de uma amizade...

Marcos Loures



11

Curtindo o pancadão num sacolejo,
Requebros e quadris, noites sedentas.
As bocas que se mordem violentas,
Mergulhos em lençóis, dor e desejo.

A fome aproveitando o louco ensejo
Misturas de vontades entre mentas,
As horas vão inúteis e sangrentas,
Vendeta de ilusão a cada beijo.

Barriga de tanquinho, sem alertas
As pernas tão famintas quando abertas
Metáforas engolem com ardência.

Assim entre falsários e farsantes
O gozo por gozar; mais provocantes,
Matando em nascedouro a adolescência...
Marcos Loures


12

Curar uma saudade é muito fácil
Não deixa de ter suas maravilhas
Por mais que amor passado seja grácil
Melhor seguir decerto em outras trilhas.

Fazendo da saudade um amuleto,
Figa, galho de arruda, uma guiné,
Depois olhar pra frente, eu te prometo
Saudade vai largando do seu pé.

Mas se isso não der jeito, minha amiga
Eu tenho uma mandinga que não falha,
Misture pó de mico com urtiga
E jogue no focinho do canalha.

Ou então cai fora e desentoca,
Beijando tão gulosa uma outra boca...
Marcos Loures



13

Cupido que é moleque bem sacana
Apronta suas artes e não pára.
De vez em quando chega e logo espana
E nada de livrar nem minha cara...

Cansado de tamanhas traquinagens
Eu falo com menino prá parar.
Useiro contumaz em sacanagens,
Disparando outra seta sem mirar.

Atinge o atingido coração
Que fica paranóico de verdade.
É tanta e tanta flecha meu irmão,
Como posso ter tranqüilidade?

Tá bom que sempre eu viva para amar.
Aliás, manda flecha sem parar!


14

Cunhando uma esperança em cada frase,
Falando da alegria de poder
Durante a minha vida perceber
Algo que em ternuras sempre apraze.

Não tendo, em alegria, mais entrave.,
Eu posso caminhar, cabeça erguida,
Mudando a direção de minha vida,
Sabendo dos segredos, cada chave.

Na gleba dos meus sonhos, o cenário
De intensas maravilhas, borbulhando,
Percebo a farta glória desde quando

O amor que outrora fora temerário,
Adentra com firmeza, o coração,
Cevando das tristezas, solução...
Marcos Loures


15


Cumprir nosso ideal de ser feliz
Em vôos pelos céus da liberdade,
Forjando nosso medo em cicatriz
Rondando cada luz desta cidade,

Falenas destes sonhos, aprendiz,
Do brilho de teu rosto, esta verdade
No seio mais formoso que já quis
Amar é pertencer felicidade.

Em teus olhos reflito os meus desejos
Volteios e caminhos ensimesmo.
Roubando os teus ares, mil lampejos

Refletem em palavras primavera.
Depois deste mergulho em que fui esmo,
Te encontro redentora desta espera.


16

Cuidar do coração, uma rotina,
Que deveria, sempre, ser constante.
Regar com melhor água, cristalina,
Fazendo amor ficar bem mais vibrante!

Cuidar de uma esperança sem temor,
Regando com mil beijos, sem ter fim...
Na lavra tão feliz de um grande amor,
Certeza de mil flores, dentro em mim...

Cultive o sentimento, vale a pena.
Amar é se entregar sem ter segredos,
Distante, no horizonte, a vida acena
Impede que tenhamos tolos medos...

Eu quero estas sementes, meu amor,
Brotando no meu peito, lavrador!


17

Cuidar desta amizade
Como quem lavra a sorte,
Fazer com qualidade
O rumo, o nosso norte,

Salvar da tempestade,
Jamais deixar que o corte
Afaste da verdade,
Um braço amigo e forte.

Não tema, então querida,
Contigo irei sem medo,
Toda a razão da vida

Se mostra num segredo,
Estrada assim cumprida,
Louvando cada enredo...



18

Cuidando deste amor com fino trato
Fazendo da esperança um instrumento
Que traga uma alegria, no contato
E nunca mais se faça um juramento...

Eu te amo, isso me basta. É meu retrato
O rosto pleno em gozo, um sentimento,
Amar é mais que um sonho, já é fato
Que traz ao meu cantar, contentamento...

O canto derramado em minha voz
É canto de alegria em toda a glória,
Olvido o sofrimento mais atroz

E sigo meu amor qual peregrino
Refaço, desta forma a minha história,
E volto nos teus braços, qual menino...


19

Cuidando com carinho deste sonho,
Mortalha da tristeza abandonada,
A vida por teus braços é guiada
Enquanto um raro dia eu te proponho.

Na cena que em delírios eu componho
Seguirmos tão juntinhos esta estrada
Há tempos, com certeza desejada,
Levando a um novo dia, mais risonho

Não quero e nem preciso de porquês
No amor mais delicado em que tu vês
O brilho anunciado deste sol

Que sei, virá trazer tanta magia,
A cada novo verso que se cria,
O lume toma em paz, este arrebol...
Marcos Loures


20


Cuidado, minha amiga, com que dizes;
Palavras engatilham tempestades.
Na arte de conviver, as cicatrizes
Ressurgem simplesmente de verdades

Salgando nossos dias infelizes,
Lembrá-las é ferir com crueldades.
As almas tantas vezes são atrizes
Que escondem essas tais fragilidades...

Portanto vê se esquece o que passou,
O que feriu demais, cicatrizou,
Apenas quero olhar daqui pra frente...

Não ceda à tentação de maltratar,
Permita que eu refaça o meu cantar
Em outros rumos breves, mansamente...



21


Cuidado que a parede tem ouvidos,
Comadres e compadres que não tendo
Nada para fazer vão se metendo
Nos versos que cutucam as libidos.

Olhares esticados e compridos
A turma fofoqueira assim nos vendo
Invejosa e canalha, não compreendo,
Começam novamente os seus latidos.

Que se danem! Façamos muito amor,
Com jeito e com carinho é bom demais,
Eunucos e mocréias tão boçais

Não podem impedir que nasça a flor,
Ao menos nos seus cérebros percebo
O esterco que em bom grado eu já recebo..
Marcos Loures



22


Crocita em noite imensa um negro corvo,
Vasculha cada ponto do passado,
Tornando-se depressa um grande estorvo
Não cansa de seguir-me lado a lado.

Gargalha em ironia, faz a festa
Nas garras e no bico, uma altivez
Do que já tive quase nada resta,
Somente a mais venal estupidez.

A juventude morta, a porta aberta
A minha mocidade está perdida.
Apenas a saudade inda me alerta
E traz algum motivo para a vida.

O corvo não me larga e sempre volta,
Dos sonhos e esperanças, triste escolta.
Marcos Loures




23


Cristais do teu sorriso me tragando
Nas loucas vibrações de nossos beijos
Por rios, oceanos, vou vagando,
No céu destes teus olhos, azulejos...

Fulgindo nosso sol em plena noite,
Reflete no teu corpo em cada raio.
Promessas que em teus braços já me acoite
Na sensação divina de um desmaio.

Os turbilhões girando sem ter nexo,
Nesse canibalismo prazeroso,
Na noite de desejos e de sexo
Neste tropel infindo, nosso gozo.

Te quero minha amada que me afaga
Curando com ternura cada chaga...


24

Crisálidas se abrindo em tal beleza
Enaltecendo aos deuses criadores.
Formando com amor mostra a destreza
Da natureza plena em seus fulgores.

Da larva que já foi, sequer notícia.
Alçando espaços, lépida figura
Que entregue à maravilhas em carícia
Voando em perfeição, uma escultura.

Eu quero esta crisálida comigo,
Refeita em borboleta maviosa,
Que não teme mais qualquer dor ou perigo
E destemida, sabe quando goza...

No gozo que esta vida já conceda
Teu corpo, meu altar, bela vereda
Marcos Loures


25

Crisaldálias e jasmins, nosso jardim...
As crisálidas presas, borboletas
Prometidas. Guardado tudo em mim,
Estrelas, meteoros e cometas...

Ah! Porque foste embora? Vou assim
Como presas crisálidas, repletas
De esperanças. Mas nada mais, enfim...
Inda são borboletas incompletas...

Eu quero liberdade em pleno vôo,
Quero poder sentir o manso vento.
Meu canto livre pelos céus escôo...

Mas a garganta fecha e nada sai...
Escravo, liberdade é pensamento
Simplesmente. Saudade nunca vai...
Marcos Loures


26


Criaturas insólitas se amavam!
Num turbilhão de necessários medos
Reconhecendo sempre os teus segredos
Os meus olhos, o teu calor; buscavam,

Por vezes tantas pedras encontravam
Reconstruindo sem ter paz, enredos
Angústias insolentes tramam dedos
Em temporais as solidões se davam.

Incrível sensação de poder ver
E a desdenhosa derrocada ter
Matando em aridez nosso jardim,

Mesmo sabendo que te quero tanto
Trouxeste simplesmente o desencanto,
Roubaste o meu sossego mesmo assim.
Marcos Loures



27

Criar constantemente uma ilusão
E dela ser servil o tempo inteiro,
Arcando com meus medos, solidão,
Não sinto da alegria sequer cheiro

Rasgando os teus espaços, amplidão
Gastei todas as cores do tinteiro,
Somente recebi dor, decepção,
O sonho que me resta, derradeiro,

Permite algum resquício de esperança
Nas chamas da amizade em temperança.
Quem sabe inda terei alguma chance

Mesmo que tão somente num nuance
Felicidade mostre a sua face,
Na estrada que amizade em paz mostrasse...


28

Criados, no Princípio, Céu e Terra
Disforme e tão vazia, sob trevas,
No frio que cobria fartas glebas
A escuridão tomando vale e serra.

A luz então se fez em pleno dia,
As águas apartadas do oceano,
Nas mãos de um Pai supremo e soberano,
Toda vegetação então surgia.

A vida povoando este vazio,
Nos céus, mares e terras, pares seres,
Multiplicando assim a criação

No outono, inverno, primavera, estio,
Até chegar aos homens e mulheres
Semente derradeira, último grão...



29





Criados pelos sonhos, loucos cios
Dourando nossos dias, ronda explícita
A vida se mostrando em vários fios
Da forma vezes sana outras ilícita

Pecados profanando cada altar
Do amor que outrora fora ingênuo e calmo
Agora que começa a maturar
Do corpo desta deusa cada salmo

Permite em louvação que se dedique
O quanto deste amor eu já desejo.
Rebenta com vontade cada dique
E o gozo sem igual cedo despejo

No corpo da mulher que é fonte e mina,
A fixação me toma e assim fascina...


30

Crepúsculo dos sonhos, duro inverno...
Num céu avermelhado, eu me perdi.
As rédeas do futuro não mais vi,
A vida se tornando amargo inferno.

Distante do sorriso frágil, terno
Daquela que eu quisera estar aqui,
Estrela que se foi. Não sei de ti,
Delírio em sofrimento, vão e eterno...

Num último suspiro, quem me dera...
Voltasse a tão sublime primavera,
Mas nada, simplesmente, por resposta.

A vida vai aos poucos se esfumando,
Ao vento da agonia, duro e brando
Deixando a minha carne nua e exposta.
Marcos Loures


31


Crepúsculo caindo, a noite chega
E velho a maravilha do sol-pôr
Chamando e nos mostrando o bem do amor
Que em corpo sensual, cedo navega.

O vento que na pele, assim se esfrega,
Num arrepio imenso e sedutor,
Promessa de loucura insana, ardor,
De noite sem limites, pura entrega.

Cascatas e montanhas, rios, fontes,
Açudes e lagoas, mar e lua.
Viajo em sonhos belas paisagens,

Nas cores que matizam horizontes,
No brilho da mulher/sereia nua
E o sonho transbordante em mil miragens...
Marcos Loures



32


Crepuscular presença desta agônica
Esperança que, atroz, fora um sudário,
No embuste de uma vida outrora harmônica
A falsa sensação de algum sacrário.

Mas, torpe caminheiro em alma afônica
Não vê além do passo necessário
Rolando entre os cascalhos, segue atônica
Silenciado encontra um estuário

Aonde precipita a foz que um dia
Viera em voz mordaz, vã fantasia
Tingindo em vivo sangue o sonho exposto.

Da antiga sensação já nada resta,
Senão esta alegria que, funesta,
Expõe cada pedaço, decomposto...
Marcos Loure


33


Brados descomunais, noite pujante.
No ganido longínquo, sofrimento...
Disforme sentimento dum gigante,
A vida se refaz cada momento.

Melancolia chega, estonteante,
O vento se resume: açoidamento.
Na lápide dos sonhos, minha amante.
A dor em mim procura alojamento...

Soberba e soberana, lua atroz...
Não sabes nem sequer minha existência!
Um brado delirante, tão feroz;

Percorre por espaços siderais...
Quem sabe, enfim, terás santa clemência
Cremilda, ouvindo o brado e os meus ais!



34


Cremei as ilusões em fogo brando,
Incêndios e explosões: tolo alarido,
Dos erros cometidos, convencido,
Contra a maré terrível navegando.

Vazio toma as rédeas e o comando
Inda sinto o convite da libido,
Mas tudo que tentei foi esquecido
E o mundo que busquei se desmanchando.

Tu trazes um perfume delicado
Deixando alvoroçado o coração,
O amor que se escondeu noutra estação

Apenas por herança deixa enfado
Politraumatizado pela vida,
Há muito obliterada; uma saída...



35


Criando um personagem, o poeta
Emerge das tempestas e se afoga
Destarte a fantasia tanto roga
Que nada do que penso se completa.

Com toda mansidão e fúria flerta
Janelas adentrando, um passarinho,
Que segue quase sempre tão sozinho,
Ao mesmo tempo adentra a porta aberta

E fecha com mil chaves cofres íntimos
Os versos da verdade bebem pouco,
Sentidos tantas vezes são tão ínfimos

Nesta esquizofrenia, sigo louco,
E embora siga à risca as instruções
Vivendo a brisa espalho furacões...
Marcos Loures



36

Criando um formidável mar medonho
Meu verso nega a sensação de estio
Ao emergir conceberei tal frio
Que mesmo em luz convergirá tristonho.

O quanto em ilusão não mais proponho
Traduzirá o que jamais eu crio.
Não quero nem saber se fantasio
Quando mergulho insanamente em sonho.

Meu passaporte para amor, vencido
Demonstrará o que pensei perdido
Na forma mais cruel de negação.

Agricultor que se perdeu da ceva
Contigo eu sei que mesmo em plena treva
Lavramos na aridez de um duro chão.
Marcos Loures


37

Criando o descampado no meu peito
Espero por posseira, uma alegria,
Nefasta solidão por heresia
Da lágrima caída faz seu pleito.

É claro que a saudade ainda aceito
Mesmo que venha ao fim de um belo dia,
Enquanto uma ilusão se fantasia
Das cores mais sombrias, morte espreito.

Apartam-se de mim as esperanças,
Entoam carpideiras tristes danças
Meu cadáver exposto na ante-sala.

Brindando com venenos e cristais,
Sorvendo o que vivemos, desiguais,
A voz do meu passado não se cala.
Marcos Loures



38

Criando meus castelos, descobri,
Os olhos desta calma criatura.
Por vezes procurei. Estava aqui
A mansidão que salva e me traz cura.

Por tanto sofrimento que vivi,
Por tantas punhaladas da tortura,
Nas vezes em que distâncias percorri
Buscando a claridade em noite escura.

Agora que te encontro, sou feliz.
Encontro a principal finalidade
De tudo que sonhei, do que já fiz.

Meu coração pesando aqui do lado,
Encontra, no final da tempestade
Em Helga o sol que brilha e é sagrado!


39


Criança que brincava, fundo corte.
As mãos tão carinhosas, pois maternas.
Num tempo que me achava, fosse forte,
Nas horas que passei, serenas, ternas...

Passados tantos dias, vejo a morte
Espero as ilusões, vidas eternas...
Não creio que ninguém vivo se importe,
As dores das lembranças que me infernas...

Chegando na metade do caminho,
O resto desta estrada é só descida...
Inverno que maltrata passarinho,

Cabelos, rugas, marcas não me deixam...
Epílogo fatal do que foi vida,
Meus olhos embaçados não se queixam...
Marcos Loures


40


Creia que nosso beijo já nos cura
De toda uma amargura e da tristeza.
Nas mãos que se buscando com ternura
A fonte mais sublime da beleza.

Na boca permanece essa secura
No corpo inda me resta uma incerteza
Se tanto maltrataste, esta tortura
Acaba com o que resta de leveza.

Mas tenho uma esperança em nosso beijo
Marcando o meu sorriso com prazer.
Futuro que sonhava não prevejo

Somente com carinho e emoção
A sorte benfazeja de viver,
Na boca que me negas, salvação...


41


Cravejando os teus olhos, diamantes
Melenas escorrendo sobre o colo,
Permito-me sonhar e por instantes
Levito me ascendendo, além do solo.

O amor que nos tornou tão fascinantes,
Agora sem retorno, mostra o dolo
De Eros que em suas flechas mais vibrantes
Não deixa nem saudade por consolo.

Revejo cada dia que passamos,
Quebramos da alegria, vários ramos
Remamos contra a sorte, vãos, cruéis...

Seguindo cada brilho, falsa estrela
Tornando amarga e escura a nossa tela,
Os dedos já se foram, sem anéis....
Marcos Loures



42


Coveira dessas minhas ilusões,
Uma atroz serviçal das negras trevas...
Dilapida sem medo os corações,
Onde fora verão, sem perdão, nevas...

Fizeste minhas deusas, simples servas...
Trazes torpes problemas... Soluções
Ocultas; velha chaga, podridões!
Cadáveres de amores, sempre cevas...

A sórdida lembrança que deixaste
Reproduz fielmente meu tormento...
Nas pútridas manhãs que me beijaste,

As horas se verteram em lamento...
Não te quero mais, suma! És podre traste.
Deixe-me então em paz, por um momento....



43



Cortaram tuas asas, anjo amado?
Fecharam os teus olhos, sonhos, brilho...
Desmoronando o monte do passado
Rompeu esta barragem, fecha o trilho
Tomando numa enchente todo o prado
Matando este desejo, nosso filho..

Amada não permita que esta amarra
Limite cada passo em rumo à sorte.
Apare em mansidão a dura garra
Cravada em teu pescoço bem mais forte
No corte da navalha e cimitarra
Promessa de vingança, dor e morte....

As asas renascendo a recompor
Os vôos sem limites deste amor...



44

Cortado pelas cruzes que me pregas,
Das urzes semeadas no caminho
Entrando em minha pele, sigo às cegas
Sabendo ser feliz mesmo sozinho.

Cansei de ser babaca e tão piegas,
Não quero o teu amor nem teu carinho.
Românticos, meus versos soam bregas,
Prefiro quando eu canto em desalinho.

Não quero mais palavras tão tranqüilas,
Venenos que me trazes e destilas
Já não conseguem tantos sofrimentos.

Teu nome eu rabisquei de minha agenda,
Tirei a carapaça e rasgo a venda
Agora vou liberto e solto aos ventos...


45

Cortado pelas cruzes que me negas,
Nas urzes que deixaste meu caminho,
As cores que pintei, formando pregas,
Não posso ser feliz assim sozinho...

Vencido pelas noites sou piegas,
Covarde não consigo ter meu ninho,
Nos mares onde vivo não navegas,
As roupas que me deste, puro linho...

Quebrei tua mordaça, te dei fala,
A morte conseguida faca e bala...
As alamedas mostram meu destino.

Te fiz a poesia mais tranqüila,
Venenos tua boca já destila,
Quem dera se pudesse ser menino!
Marcos Loures


46

Corsários da ilusão, na estupidez
Naufrágios entre esparsas emoções.
Vencer com galhardia esta altivez
Da amarga negação dos vendilhões.

Perceba no cenário em que tu vês
Os corpos furiosos, nas paixões
Deitando sobre a cama em languidez
Delírios desejosos, uniões...

E siga sem temer este inerente
Incêndio que domina dois amantes,
No olhar ensandecido se pressente

Um rito interminável, gozo e dor.
Por mais que se pareçam fascinantes,
Amores cevam trevas, colhem cor...




47



Corsário coração, navega e voa..
Procura por navio que me leve...
Vasculha tantos mares, segue à toa...
Gaivota livre, canto belo, breve...

Meu navio, convés, âncora e proa
Canto desesperado não se atreve
O medo do naufrágio me abalroa,
Icebergs me lembrando tanta neve...

Corsário coração, destemperado,
Nas correntes marinhas se perdeu...
O solo que precisa, despraiado,

O mundo que pensava fosse seu,
O tesouro perdido, vai ilhado...
Coqueiro tão saudoso, já morreu...

As ilhas que deixaste, coração,
Não sabem das procelas nem perdão...
Sorrindo, o sol vigia na amplidão!
Marcos Loures



48


Corro a te encontrar, triste como o vento...
As tortas caminhadas, céu de prata.
Perfazem meu telúrico lamento...
As flores se perderam. Leda mata...

No pranto prosseguindo o novo invento,
As várias compleições dessa cascata.
Não quero saber pátria nem apascento...
Não tenho mais sustento nem bravata...

Todo meu canto, faca, enxada e foice,
Perdido navegante sem ter praia.
As hóstias enganadas; tudo foi-se,

Restou tal solidão que já se espraia.
Venha depressa ouvir o trem chegando,
Corro a te encontrar, estou te amando..



49


Correntes que nos unem, frases soltas,
Ondeiam entre luzes discrepantes,
Os sonhos tantas vezes galopantes
Permeiam em procela almas revoltas

Os passos vagamundos sem escoltas,
Metáforas esgrimam, torturantes,
Colhendo a liberdade que em rompantes,
Não sentes, mas depois de creres soltas.

Carcaças de ilusões, golpe funéreo
Que molda do vazio o verso etéreo,
Ferrenhas, as batalhas com mim mesmo.

Nas vezes que eu andei, alheio, a esmo
Talvez tenha criado um morto vivo,
Que volta e meia surge, e dele eu vivo...
Marcos Loures



50


Correndo vem meu anjo pros meus braços
Tremendo neste amor sem ter tardança,
Percorro calmamente nos teus traços
O brilho angelical duma esperança...

Avivo teus vigores violentos
Que de anjo te transformam de repente
Tão loucos os delírios mais sedentos,
Venenos e lascívia de serpente...

Teu rosto de marfim enrubescido
Em vivo carmesim já transtornado,
Pudor que nesta cama está perdido,
Encontra nosso amor, louco tornado.

Tu temes este amor, mas por fim goza,
Nos braços que te esperam, anjo e rosa...



51

Correndo sempre atrás de uma ilusão
Espelho a natureza desumana,
No falso amor que sempre nos engana
A dor retornará em profusão.

Distante da amizade e do perdão
O peito que em riquezas já se ufana
Encontra glória inútil soberana,
Comendo a podre carne de um irmão.

Amigos, na verdade são comparsas,
Desfrutam das iguais e cruas farsas.
Melhor é caminhar sempre sozinho!

Estúpido capacho da esperança
Espalho nas calçadas da lembrança
Parceiros que se foram no caminho.
Marcos Loures


52


Correndo pelas ruas, harmonia
Do canto desses pássaros formosos,
Andando vou forjando a fantasia
Que brilha noutros olhos radiosos...

Seguindo desditoso, companheiro,
Preciso que me escutes, por favor,
Vagando pelos mares, tempo inteiro,
Deitando sobre as ondas desse amor.

Se fui o que pensara não mais sou,
Amigo necessito deste abrigo,
De tudo o que já tive, o que restou.
Porém eu desconfio que consigo,

Da brusca solidão, a primavera,
Na volta da magia da pantera!



53

Correndo pelas águas deste rio,
Em volta das montanhas dos meus sonhos.
Vivendo em tão completo desvario
Temendo pesadelos mais medonhos.

Eu risco teus espaços com meus beijos,
Penetro nas cascatas mais divinas.
Inundo esses teus lagos dos desejos
Com águas do meu rio e te alucinas.

Correndo tantas vezes, não me canso,
Espero teu prazer em cada curva,
Os pontos mais ocultos, quando alcanço,
Arrebenta as barragens, tanta chuva...

Num remanso, descansos do depois,
Entregues neste mar que é de nós dois...


54


Correndo pela praia, uma sereia,
Os seus cabelos soltos, o meu desejo...
Aranha não percebe e tece teia,
Ansiedade... Louco por seu beijo,

Amor vem transfundindo minha veia,
Na vida que me deram, só pelejo...
A crina que de leve, despenteia...
Distante, tão distante... Eu sonho, almejo...

Nos risos, gargalhadas, inocência,
Meus olhos vão pedindo por clemência,
Jamais perceberás meu sofrimento...

Essa praia deserta, a crina o vento...
Eu vejo aproximando essa demência,
Ao ver assim correndo, e eu vou tão lento...



55


Correndo no quintal em laranjeiras
Mal sabe que desenha uma obra rara.
O tempo lhe trará outras bandeiras
Aos poucos solidão se mostra cara.

Estas montanhas tão distantes beiras
No fundo do que quis e que sonhara.
São sombras definidas, verdadeiras
Do tempo em que feliz, nunca pensara...

Mulheres, filhos ruas e botecos,
O paletó reflete o desamor.
As laranjeiras morrem sem ter ecos,

O gosto do azedume, verde fruta,
Reforça um paladar tão sedutor.
O amor se transformou em morte astuta...


56


Correndo entre montanhas e cidades,
Trazendo num vagão este menino
Que um dia, bem distante destas grades
Nas quais eu me degrado e me alucino

Sonhava a liberdade sem fronteiras,
Olhando a lua cheia sertaneja,
Nas mãos das esperanças feiticeiras
Colhendo da alegria o que deseja.

A cada novo dia uma estação
E o peito caipira diz ponteios,
E quando a vida muda a direção,
Moleque bebe o sonho sem receios.

Porém, descarrilado, perco o trem,
Enquanto a realidade amarga vem...



57


Correndo contra o vento qual criança
Que brinca no quintal do meu passado.
Quisera num momento estar ao lado
Do gosto de uma infância que me alcança.

O tempo todo corre e não se cansa
Sorrindo sob o céu todo estrelado.
Um gesto de alegria, extasiado
Rondando minha vida traz lembrança.

E vejo-te mulher, menina moça;
Arisca a se escorrer entre as estrelas.
A lua refletida na água em poça

Clareia qual lanterna tuas pernas.
Delícia de poder sentir e vê-las
Nas noites que passamos, belas, ternas...


58


Cordilheiras gigantes, montes, cumes...
No salto extasiante da pantera,
Num laivo mais sutil, tantos ciúmes...
A febre desejosa da quimera...

Na mão que me açoitava, teus perfumes,
Os vértices, os prumos, minha espera,
Deliro mas não ouves meus queixumes.
Ah! Se tu fosses minha... Quem me dera...

Nos olhos vaticínios indefesos,
Traduzes as visões destes profetas.
Cativos meus amores morrem presos

Nos desejos ferozes, domadora...
Porquanto meus martírios quis ascetas,
Desmaiam em teus gozos, redentora!
Marcos Loures


59


Corcel no qual a vida; logo atrelas,
Estrelas vai transpondo num galope
Repondo neste céu as velhas velas
Não quer pastor, nem padre ou mesmo pope

Arcanjos em arranjos mais diversos
Não tendo ortodoxia se faz terno.
O quanto cavalgar teus universos
Permite ao terno um corte mais moderno.

No inverno eterno sonho, eu ponho em ti,
Reponho todo estoque e recomeço.
Partindo do princípio que eu venci
Comemorando tive o meu tropeço.

Se eu peço e não impeço o novo dia,
Estendo no varal farta alegria...
Marcos Loures



60

Corcéis entre brilhantes e cristais
Marcando cada noite que tivemos,
Enlanguescida em ritos sensuais
Do fogo e da luxúria, nós bebemos.

Teu corpo em minha tez já tatuado,
Em tua cútis vejo o meu retrato.
Ao Éden, nosso sonho agalopado
Transporta num momento mais exato.

A vida quando manda o seu recado
O faz por tantas vezes em enigmas.
Ao teu desejo sempre quando içado
Esqueço, abandonando outros estigmas.

Pendões e maravilhas; somos um,
Olhar que se reflete aumenta, zoom
Marcos Loures


61

Coragem não deixa pistas
Nos olhos dum cantador.
As noites servem conquistas
Conquistas do nosso amor.

Amor, nunca me resistas,
Espinho trazendo a flor
Não sei se são comunistas
As mãos que tinham pavor

Aportei numa saudade
Deixei de lado a maldade
Fiz meu ponto de partida

Nas horas tristes da vida
Nunca mais tranqüilidade
Nunca mais a tal ferida...
Marcos Loures



62

Coração vigilante não se cansa
Faroleiro dos sonhos e vontades,
O velho timoneiro da esperança
Expande em destemor, as claridades...

E mesmo quando a treva imensa alcança,
Vencendo em calmaria, ansiedades,
Sob o estelar fascínio, o peito dança
Desconhecendo enfim, algemas, grades...

Estando sempre atento às virações,
Enfrenta os mais diversos furacões,
Sabendo do viver, quais os segredos,

Castelo sobre rocha, estruturado,
Jamais será por certo destroçado,
Conhece o mar bravio e seus penedos...



63

Coração venturoso precisando
De alguém que lhe arranjasse companheira
Vasculha todo espaço e não sei quando
Encontra nova sorte mais certeira.

A vida se mostrando curta e magra,
Amigo camarada, necessito
Contato com Santíssimo Viagra
O santo mais potente que acredito.

O casamento/vinho é um vinagre
Sem chances nem de cura ou esperança;
Por isso estou pedindo este milagre,
Ao Santo curador de uma aliança.

Em preces e louvores, decididos,
Ao Santo Protetor dos já caídos...


64

Coração vagabundo, sem pudor,
Não espera sequer saber o nome,
Vai logo declarando seu amor,
A chama qualquer uma, me consome...

Depois fica chamando tanta dor,
Não quer nenhum banquete e passa fome,
Não cheira nem abelha e pede flor.
Mas vê se toma jeito enfim, se dome...

Coração sem vergonha e sem juízo,
Não deixa de fazer estripulia,
No fundo sabe tudo que preciso...

Não pode perceber sequer um dia,
Depois, vai torturante ao paraíso,
Batuca tão feliz, é fantasia...
Marcos Loures



65


Coração vagabundo sem juízo,
Esperando este amor que nunca vem.
Aguarda um teu sinal, simples sorriso,
Para ser contemplado, ser teu bem...

Coração que na vida, em prejuízo
Jamais teve a alegria, ser de alguém,
Aos poucos vai morrendo sem ter siso,
Nos olhos tão distantes, sem ninguém...

Meu coração, criança maltrapilha
Que vive na esperança, ser feliz.
Perdendo totalmente rumo e trilha,

Não sabe mais viver sozinho, o mundo,
Eterna sensação: ser aprendiz...
Que faço coração tão vagabundo?


66

Coração sertanejo pede à lua
Que vem já polvilhar todo o sertão
O amor que tão distante inda flutua
Perdendo cedo o rumo e a direção.

Deitando farto brilho continua
Vagando solitária na amplidão,
Olhando dos espaços chega à rua
Espalha-se por entre a multidão...

Na prata em que se emana o seu olhar,
As sombras argentinas refletindo
O lume sensual, deveras lindo

Roubados de seus raios, do luar.
Sonhando com o amor, vital partilha,
Mal vê num manso beijo, uma armadilha...
Marcos Loures


67

Coração taquicárdico menino
Que faz estripulias no meu peito.
Batendo em descompasso e desatino
Deixando o meu viver mais satisfeito.
Nestes momentos todos; me alucino,
E nem mais sei pensar certo e direito...

Às vezes fugidio, outras tão fácil,
Coração descompassa e perde o rumo.
Não pode ver mulher mais bela e grácil
Não pode ver a fruta quer o sumo...

Se faz de uma esperança mais sombria,
Nas asas da ilusão vai decolando,
Forrando o meu espaço em fantasia,
Feliz dentro do peito, está pulsando...


68


Coração sem juízo perde o senso
Fazendo da esperança o seu dossel.
O amor, este temível carrossel
Além do que desejo ou mesmo penso.

Sentindo o seu pulsar num fogo intenso
A cada novo tempo um fogaréu
O amor desempenhando o seu papel
Enxuga a vida inteira olhar e lenço.

Mas sei que vale a pena e sou teimoso
Aventurado sonho diz do gozo,
Rescaldo da emoção, ponto final.

Duetos que maltratam, mas que curam
São bocas que se querem, se procuram,
Num bálsamo sagrado, mas letal...
Marcos Loures



69


Coração sem juízo e tão teimoso
Não deixa de querer quem não me quer,
Às vezes mais singelo ou majestoso,
Envolto pelas tramas da mulher

Que um dia prometera farto gozo
E agora noutro braço. O que vier.
O rumo em desvario, caprichoso,
Aonde a solidão quer e puser...

Não tendo outra saída ou solução
Eu vago pelas noites, frio intenso,
Distante deste amor, ainda penso

No que me reservou meu coração,
Quem teve um sonho claro e cristalino,
Morrendo pouco a pouco em desatino...
Marcos Loures


70

Coração passarinho nesta rua
Vislumbra da janela a bela prenda,
Deitada em sua cama, quase nua,
Na transparência linda, seda e renda.
Quem dera passarinho fosse a lua
Que todo o seu segredo já desvenda...

Trazendo no seu bico uma flor rara,
Olhando apaixonado, tal cenário.
Com pés no teu beiral, ele se ampara,
E fica extasiado, esse canário...
Coração passarinho já dispara
E beija tua boca, temerário...

Assusta-se depressa com o beijo,
Na rosa ali caída, o meu desejo...


71

Coração quis isenta uma saudade
Nos versos que compunha em ousadia
Viver sem conhecer a liberdade
Que mata e que morde todo dia...

Coração se despede do meu peito
E voa sem saber para onde vai
Agora coração ‘stá satisfeito
Mas se fizer besteira logo cai,

Depois não reclama coração,
Moleque tão traquinas bem levado...
Agüenta com firmeza essa emoção
E nada de ficar meio de lado...

Agora que procura sempre amor
Não venha reclamar se espinha a flor!



72

Coração que se fia em vã promessa
Um dia sofrerá, tenho certeza.
Envolto nos abraços, pobre presa
Da dor que se refaz bem mais depressa.

Amor que tanto eu quis não se confessa
Pois traz o sofrimento e a tristeza.
Cortando tão profundo, assim despreza
Sangrante coração. A dor tem pressa...

Madrasta sorte, lívido destino,
Escrito em ilusão, desde menino.
Morrendo; em outra face ela renasce.

O ferro que nos fere deixa muda
A vida, prisioneira, de um disfarce
Que, em pedra, um coração cedo transmuda..


73

Coração passarinho cantador
Buscando, da gaiola, a liberdade
Que somente se encontra em pleno amor
Sinônimo real: felicidade.

Menina teu olha tão sedutor
Bagunça o coração, eis a verdade;
Que faço se me entrego ao teu calor,
Vem logo todo o frio da saudade...

Amada vou contigo em pensamento
Tentando ser feliz, por isso vem.
Não deixo de querer nenhum momento.

O gosto saboroso do teu beijo
Maltrata o coração tamanho trem,
Saudade vai roendo! Eu te desejo!




74



Coração navegante que sem rumo
Aporta vez em quando em ledo cais,
Quem sabe desse jeito eu me acostumo
E deixe de sofrer. Querer demais!

Coração vai e bebe todo o sumo
Correndo, depois cansa e não quer mais.
Demora muito tempo já sem prumo
E vive sem comando, só dor traz...

Abandonando o mar que se propunha,
Um dia naufragou em outra areia
Sozinho, não queria testemunha...

Agora que se pensa vencedor,
Envolto nos cabelos da sereia,
Coitado... Virou vítima do amor...



75

Coração ganhando espaços,
Onde outrora nem entrava
Se os meus erros foram crassos
Solidão agora agrava

Os olhares sendo baços
Encobertos pela trava
Do passado nem mais traços
Nos teus braços encontrava.

Se não sou o que querias,
Tu também nunca será
Neste amor alegorias

Eu desvendo desde já,
Nossas noites sendo frias,
O sol nunca nascerá!
Marcos Loures


76

Coração não tem mais jeito,
Vagabundo sonhador,
Disparando no meu peito,
Todo dia um novo amor.

Mas se amar for um defeito,
Que defeito encantador!
Vivo sempre insatisfeito
Colibri de flor em flor

Vou colhendo cada gota
Com minha alma estropiada,
Sem valor, andando rota

Segue tonta vai ao léu,
Todo tempo alvoroçada
Abelha fazendo mel...
Marcos Loures



77


coração lateja em sonho insano,
Distante das loucuras que fizeram
Os olhos de quem ama, em desengano,
Rumando por estrelas, já tiveram

Momentos de carinho, mas temprano,
Os medos/sofrimentos que vieram
Mudando a direção em outro plano
Carícias e delírios se esqueceram.

Cobrindo de tristezas, negra manta,
O brilho das estrelas logo espanta.
Porém tudo ressurge novamente

Nos beijos carinhosos de uma prenda
A vida em alegrias traz por prenda
Amor que assim domina toda a gente.
Marcos Loures



78

Coração dum minêro apaxonado
Pércura pela moça mais bunita
Rainha do sertão e do cerrado,
Por isso, sem juízo ele parpita.

Trazeno as dô dus dia do passado
Agora num amô ele cridita
Vem logo lá di riba pru meu lado,
Um sonho mais facêro num ivita.

De tanto que eu quiria um bêjo ao menos
Da moça com quem sonho e num me canso.
Travesso tanta noite nos serenos

Viola punteando, de mansinho,
Nus braço da morena, o meu discanso,
Certeza de num sê jamais sozinho....
Marcos Loures


79

Coração desfraldado, catedrais...
Seus olhos vasculhando namorados...
Os medos se transformam em banais
Sentimentos que trazem velhos fados...

A menina crescida, são vestais
Os desejos ardentes, pedem prados,
Os amores distantes perdem cais,
Carrega nos seus braços seus amados...

O seio exposto, vida se renova...
A mulher explodindo na menina.
A lua vem surgindo, bela, nova...

As claras fantasias iluminam...
Desejos e delírios tontos, minam
A dor de ser feliz, mansa, termina...
Marcos Loures



80


Coração depois de tantas tempestades
Simplesmente padece, desfolhado
Em meio a dores tantas, falsidades,
O fardo de viver fica pesado.

Dos ninhos que tivera; coração,
Nenhum sobreviveu ao vento frio.
Deitando tão somente em solidão,
Seguindo sem destino, vai sozinho.

Um dia já soubera ser feliz,
Taquicárdico sonho se esvaindo
Por entre minhas mãos. Tantas já fiz
Pensando que este amor seguisse infindo.

De todo um arvoredo, nada resta,
Nem mesmo algum resquício da floresta...
Marcos Loures



81

Coração de um simples Zé
Disparando sem juízo,
Vou a gosto, vou de à pé
Encontrar o Paraíso.

Neste amor eu ponho fé
Diz de tudo o que eu preciso,
Tanto amor sabe quem é
Quem desejo, sem aviso.

Ser teu par bela gaúcha
Numa dança sensual.
Se o teu pai tem a garrucha

Eu não levarei à mal
Coração já diz, na bucha
Nosso amor é sem igual!
Marcos Loures



82


Coração beduíno, meu deserto...
Nos oásis buscando pela vida,
Cansado de sofrer, da despedida.
Vontade de estar longe, estando perto.

Coração, navegando em mar aberto,
Distâncias que percorre a nau perdida.
Cansado de bater, pede guarida.
Cruel busca incessante, vive incerto...

A cada batimento vai mais fraco,
O espelho em que te miras, mais opaco.
A vida não convida para a festa!

Nas tuas rebeldias, foste herói.
Agora a tarde vinda e como dói...
Nada, nem coração, enfim me resta!


83

Coração batendo forte
No meu peito quando eu vi
Recebendo lá do norte
Tanto amor que existe em ti.

Venha logo, ser a sorte
Deste amor me convenci
Cicatriza todo corte
Teu remédio encontra aqui

Vou te fazer cafuné
E carinhos de montão,
Dar beijinhos no teu pé,

Com vontade e com tesão
Vem comigo, tenha fé,
Pro resto? Não liga não...




84


Coração apaixonado, capitão
Que deixa o barco, logo naufragar,
Nas ondas violentas da paixão
Não tendo outro lugar para aportar,
Ao canto da sereia em sedução
Mergulha se esquecendo de nadar.

De tudo o que quisera, sem mistério,
Afunda em água rasa e cristalina.
Naufrágio de um amor é caso sério,
Depressa maltratando, me alucina,
Cortando a minha carne sem critério,
O coração refém não se domina

E deixa-se levar, apaixonado,
Nos braços da menina, naufragado...



85

Coração bate faceiro
Na procura de outro bem
Quando amor é verdadeiro
Estrelinhas já contém

Entrelinhas, alinhavo
O que ouvi de um seresteiro,
Quando o mar ficar mais bravo
Vento se faz mensageiro

Vou contigo, minha amiga,
Não me canso de sonhar
Coração quando periga
Já começa a maltratar.

Nos teus versos a saudade
Nunca traz felicidade...
Marcos Loures



86


Coração amanhece em pleno fogo
Saudoso da morena tão faceira
Quem dera se ela entrasse no meu jogo,
E fosse sempre a minha companheira.

Aqui, na Conchinchina, até no Togo,
A vida enfim seria alvissareira.
Eu quero estar contigo, então vem logo
Acenda, pois faz frio, esta lareira

Eu tenho brincadeira pra ensinar
Eu tenho tanto amor para aprender
Debaixo deste sol, sob o luar

Do jeito mais gostoso, podes crer.
Morena; estou aqui a te esperar
E louco de vontade de te amar...
Marcos Loures



87


Coração alvinegro tão sofrido
Lembrando de outras dores do passado,
Durante tanto tempo condoído,
Pesando aqui do lado e magoado.

Por mais de duas décadas sem nada,
Sem ter sequer a comemoração
De um título, minha alma maltratada
Caindo pra segunda divisão...

A vida tantas vezes vem cobrando
Os erros do passado, companheiro.
Mas logo te verei recuperando
O rumo que perdeste por inteiro...

Banhando o coração pleno de glória,
Mudando com vigor a triste história

PARA O MEU GLORIOSO BOTAFOGO!



88

Coração acerbado, dolorido...
Fugindo das procelas, dos tritões...
Cativo, por teus olhos vou contido,
Me prendo em tuas fímbrias: ilusões!

Ah! Delirantemente qual bebido,
Hirto, sombrio, loucas convulsões!
Caminhos pétreos, frágil, perdido,
Envolto nos insanos turbilhões!

Meu coração simbólico, contristo.
Nos teus lábios melíferos, divinos.
Mergulho vacilante, não resisto.

Me aprisionaste, sigo em desvario...
Perdendo minhas bússolas, meu tino...
Coração: angustias, vão, vadio...
Marcos Loures



89

Coração aboiado em sofrimento
Procura uma invernada em esperança.
Cansado de entornar tanto lamento,
Espera que esta noite venha mansa
Carpindo toda dor nesse momento,
Os braços da mulher que eu amo, alcança...

Coragem pra poder dizer do amor
Que foi a perdição deste meu peito.
Um boiadeiro em canto sofredor,
Espera seu amor que é um direito
De quem espalha a vida em destemor
E vive tanto tempo insatisfeito...

Eu quero o teu olhar de pão de mel,
Estrela radiosa do meu céu...



90



Coprófagicos versos que a ti faço
Ora são os retratos de um amor,
Sem ter sequer caução como um pedaço
Da carne que percebo decompor.

Se às vezes eu pareço, inerme e lasso
É culpa do banquete ao meu dispor,
Romântico senil, velho palhaço
Gananciosamente vai se expor

A merda que se espalha, aculturada,
Vendida como hambúrguer ou hot dog
Neblina, na verdade chama fog

Londrina paisagem paulistana,
Enquanto o seu rabinho, o cão abana,
Da brasilinidade sobra nada....
Marcos Loures



91

Copo
Plástico
Loto
Mágico

Golpe
Baixo
Chofre
Acho

Acha
Caixa
Falsa

Traça
Caça
Fáscia.



92


Convoca à mesma queda em vão tropeço,
O olhar desta morena inebriante.
Além do que confesso, não mereço
O véu se mostra sempre deslumbrante.

Amor tem na alegria um adereço
E muda a fantasia num instante.
O mundo eu vou virando pelo avesso,
Mas vejo este sorriso tão constante.

Constato que não tenho outro caminho
Senão a palidez do amor inglório.
Não acho mais carinhos neste empório

Empoeirada estrada se repete.
Quem dera se eu pudesse; passarinho,
O dia-a-dia cala e me arremete.
Marcos Loures



93


Convites que te faço neste instante
Chamados para a festa multicor
Aonde se mostrando fascinante
O bem que nos domina – o pleno amor.

Teu corpo sensual e provocante,
Tocado pelo brilho encantador
Estende-se desnudo e radiante
Levando ao paraíso num torpor.

Teu olhar faiscante beladona
Aos olhos de quem ama se abandona
E deixa-se levar na correnteza.

Deitando sobre ti minhas vontades,
Encontro o paraíso em deidades,
Hipnotizado agora em tal beleza..



94


Convites de alegria e de bailado
Encontro em teu sorriso e sem descanso
A noite inteira vibro enquanto danço,
Estando, meu amor, sempre a teu lado.

Por anjos, meu caminho iluminado
Eternidade busco quando avanço,
Sabendo no final, este remanso
Há tanto em belo sonho, anunciado.

Estrada margeada por cristais
Em flóreas cercanias magistrais,
Decifro teus enigmas e me embrenho

No doce emaranhado, teus cabelos,
Com raios tão sublimes a envolvê-los,
Mostrando do bom Deus, seu raro empenho...
Marcos Loures



95

Convido-te, querida para a dança
Que é feita em fantasia e sempre traz
No bojo da alegria uma esperança
E torna a nossa vida em pura paz.

Sentir o paladar dos belos lábios
Além de teu carinho e teu afeto.
Encontro nos teus versos astrolábios
Levando ao rumo certo, o mais correto.

Eu enfatizo sempre que o amor
Que é nosso companheiro vida afora,
Moldado em amizade tem vigor
De eternidade intensa quando aflora.

Os passos, feitos versos; compartilhas
Trazendo para nós mil maravilhas...




96

Convido Sebastiana pro forró
Dançando a noite inteira sem parar,
Não cansa de gemer e de cantar
As pernas se misturam dando um nó.

A moça balançando sem ter dó
A dança diferente é de lascar,
Fazendo toda gente suspirar
Levanta no salão poeira e pó.

Mistura de xaxado com baião,
Causando reboliço e confusão,
Acende o coração, velha fogueira.

E assim sem ter remenda nem juízo
A gente já se emenda num sorriso
Dançando sem parar a noite inteira...
Marcos Loures



97

Convido para o enterro de um amor,
Féretro sairá de um coração
Cansado de sofrer só decepção
Nas mãos carregará um velho andor.

O corpo já começa a decompor
E cheira, na verdade à podridão.
Debaixo de maus tratos foi ao chão
Agora enterro simples, vou propor...

Sem luxos, nem sequer fita amarela,
Sem nome do defunto na capela,
Nem rezas, nem tampouco flor, desejo.

Depois de tanto tempo do teu lado,
O amor vai sem velórios, enterrado
Num clima de alegrias e festejo..
Marcos Loures


98

Ao ver um cidadão ser agredido
De forma tão covarde, por tal arma,
A sorte se demonstra além do carma
De um tempo mais feroz já percorrido.

E quando nos meus sonhos eu lapido
A imagem onde o todo nos alarma
De um mundo mais difícil que desarma
Uma esperança além da própria vida.

Um atentado destes nos assusta,
E a fúria se mostrando além, robusta,
Sabendo dura Lex onde é sed Lex

O pobre do senhor, hoje senil,
Demonstra a que anda o Brasil.
Num violento ataque com durex.

99


Um pobre cidadão
Que sempre foi tranquilo
Em seu suave estilo
Marcado a bofetão,
Batendo em professor
Gerando esta notícia
E nela da sevícia,
Um cálido senhor.
Cristão até medula
Um homem muito honrado
Caráter ilibado,
Que à burguesia adula,
De um povo tão safado
Terrível atentado!



4400

É fato que envergonha uma nação

Um homem de caráter como o Serra

Numa agressão covarde já se enterra

O que podia ser uma eleição;

Enquanto o Bush toma sapatada,

O nosso companheiro de leilão

Nos dias mais bonitos que virão

Na entrega do País anunciada,

Ao ser tão agredido por um povo

Que apenas passou fome noutros tempos

Já não sabe lidar com contratempos,

Ainda bem não foi vítima de ovo,

Pela primeira vez, repito e brado,

Seria; com certeza, ovacionado!



ESCLARECENDO SÃO VOLUMES DE 100 SONETOS CADA QUE ESTOU OFERENCENDO PARA A COMUNIDADE LUSÓFONA.SEM NENHUM FIM LUCRATIVO
 
Autor
MARCOSLOURES
 
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