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leva-me pela mão até onde as roseiras bravas
tapam as trilhas empedradas. Leva-me
até ao rio que dizias nascer no salso mar,
onde as lágrimas ficavam à superficie,
e um solitário arco-íris escondia os cintilantes refúgios lá longe.
Leva-me assim.
Deixa este corpo exausto, tão singrado sem rota,
arrojar-se do cendrado promontório
sentindo os aljôfares da fria noite.
Leva-me assim.
Quão longe hoje sou dos nossos sonhos pela excelsa
primavera algures no tempo,
e se conseguisse regressar-me um segundo que fosse,
pedir-te-ia:
- leva-me até onde as roseiras bravas libertaram
o aroma teu, que ainda hoje me inunda.
[Leva-me contigo, assim, só].
experimental, palavras rabiscadas numa Moleskine com prazo de validade.
Há textos que se compactam num determinado ponto, que depois pode ser seguido até ao principio ou até ao fim. E tudo muda então “deixa este corpo exausto... leva-me pela mão”, ou “deixa este corpo exausto... leva-me contigo”
Sim, perco-me, tão ali, por vezes tão cendrado, assim, só (ou somente assim)
“Cendrada luz enegrecendo o dia,
tão pálida nos longes telhados!
…
Perdem-se as letras
…
E a dor é evidente – libertada”
(“Evidências, XXI” Jorge de Sena)
singrar – velejar
arrojar - precipitar-se
cendrado – da cor da cinza
aljôfar – (gosto imenso desta palavra pelos significados que transporta) orvalho, lágrimas. Sinceramente podem ser os dois significados depende do sentir de cada um.
ah.... e como as roseiras bravas são perfumadas.
…
[“do ciclo, as palavras não têm prazo de validade. “ Riva la filotea. La riva? Sa cal'è c'la riva?” (Está a chegar. A chegar? O que estará a chegar?)]