Poemas : 

,estilhaços, desaparecem incólumes os fogos

 
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,e estilhaço-me pelas sucessivas vagas em que repito algumas palavras silêncio sombras areais ou mesmo mar sem saber ao certo o que me leva ao arrepio de outras tantas falas nem tudo o que se escreve é a língua dos poetas nem tudo é porque escasseiam os tempos
e sobram os tempos de subir as montanhas que escondem as orquídeas brancas pelas trilhas das pedras em círculos como caminhos desconhecidos bafejados pelas nortadas em redemoinhos
e mesmo que o corpo que se arrasta atinja o limite nunca é chegado o tempo de parar sossegar adormecer ao som de uma velha música repetida vezes sem conta como se uma partida fosse um dado eterno sem regresso talvez me morra pelo sono mas
nunca é altura para se fazerem as mudanças nem sentir as breves sensações de outrora e fala-se de vulcões furacões como danos colossais de loucuras breves e não sei onde a rota acaba se nunca começa ou se apenas se atrasa porque o deserto mar continua irado com os adormecidos adamastores ou musas bebendo vinho tinto com navegantes solitários num bar de cais desconhecido pela noite de invernias extremas
e caminho pelas águas que silenciam o uivar dos lobos os gritos tantos dias ensombrados pelas conquistas sem artifícios ou pelo cantar das nuvens carregadas de cinzentos querendo ver mais além desta cegueira que tende a ser apenas um cometa pelo breu do céu
estilhaços

,desaparecem incólumes os fogos

I

se nesse mesmo dia
um simples desejar
que seja o dessas palavras que rasgam poesia,
e que depois desaparecem incólumes,
visões,
sonhadores,
navegadores.

,aspiram eternidades poetas, meretrizes, mendigos, bêbados,
de nada servem as ruas escuras, as docas invisíveis,
ou as visões que acordam a noite.

,desaparecem incólumes, nas lamas dos cataclismos,
proteções, grades, e do barro se fazem as esculturas,
livres,
nessa liberdade que aprisiona,
aprisionou.

,dos pássaros que morrem em voo, se cantam odes ao mar,
apenas descansam nos cirros,
momentaneamente,
e a vista não os alcança,
jamais.

,desaparecem incólumes os fogos,
esqueço-me do ontem, propositadamente,

então,
sigo rotas imaginárias.

,desaparecem incólumes alguns pirilampos, diz-se
que adormeceram iluminando
a face visível do sol.

,seja dos tempos sem tempo,

seja-me a mim possível, apenas ir,

[tão somente ir ao impossível ir...].

,estilhaçando-me.


[,fim de um ciclo, apenas isso, dir-me-ás]


(Ricardo Pocinho)



"Floriram por engano as rosas bravas
No inverno:veio o vento desfolha las..."
(Camilo Pessanha)

http://ricardopocinho.blogspot.com/
ricardopocinho@hotmail.com

 
Autor
Transversal
 
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Enviado por Tópico
Nanda
Publicado: 24/10/2013 20:56  Atualizado: 24/10/2013 20:56
Membro de honra
Usuário desde: 14/08/2007
Localidade: Setúbal
Mensagens: 11076
 Re: ,estilhaços, desaparecem incólumes os fogos
Ricardo,
Deixei-me levar por esse ritmo desconcertantemente belo.
Bj
Nanda

Enviado por Tópico
gil de olive
Publicado: 24/10/2013 23:09  Atualizado: 24/10/2013 23:09
Colaborador
Usuário desde: 03/11/2007
Localidade: Campos do Jordão SP BR
Mensagens: 4838
 Re: ,estilhaços, desaparecem incólumes os fogos
Se nome na tela significa bons textos, nunca me enganei.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 25/10/2013 01:01  Atualizado: 25/10/2013 01:01
 Re: ,estilhaços, desaparecem incólumes os fogos
* a língua dos poetas...infinita.
sem mais palavras, só sentindo o privilégio de te ler.
beijoka*

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 25/10/2013 01:35  Atualizado: 25/10/2013 01:35
 Re: ,estilhaços, desaparecem incólumes os fogos
Então sigo as rotas imaginárias, mesmo com os cansaços nos pés porque os sonhos ganham asas. Sabe,eu que devo agradecer-te por seres quem és, pela poesia que faz, pelas asas que ganho quando leio os teus versos. Pela luz que transmites.Obrigada poeta, belíssimo demais.
beijo grande.

Enviado por Tópico
Jmattos
Publicado: 25/10/2013 02:00  Atualizado: 25/10/2013 02:00
Usuário desde: 03/09/2012
Localidade:
Mensagens: 18165
 Re: ,estilhaços, desaparecem incólumes os fogos
Poeta
Perfeito! Um convite à reflexão!

não sei onde a rota acaba se nunca começa ou se apenas se atrasa porque o deserto mar continua irado com os adormecidos adamastores ou musas bebendo vinho tinto com navegantes solitários num bar de cais desconhecido pela noite de invernias extremas
e caminho pelas águas que silenciam o uivar dos lobos os gritos tantos dias ensombrados pelas conquistas sem artifícios ou pelo cantar das nuvens carregadas de cinzentos querendo ver mais além desta cegueira que tende a ser apenas um cometa pelo breu do céu
estilhaços

,desaparecem incólumes os fogos



Beijos!
Janna

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 25/10/2013 13:45  Atualizado: 25/10/2013 13:45
 Re: ,estilhaços, desaparecem incólumes os fogos
Maravilhoso!

Uma leitura que 'estilhaça' a mente e a sensibilidade em mil pedaços, para logo recompô-los na fruição imediata que acontece... é sempre prazeroso ler-te , caro poeta.

Agradeço a partilha e o deleite! Parabéns!

Um abraço,


ALICE

Enviado por Tópico
MarySSantos
Publicado: 25/10/2013 14:03  Atualizado: 25/10/2013 14:03
Usuário desde: 06/06/2012
Localidade: Macapá/Amapá - Brasil
Mensagens: 5735
 Re: ,estilhaços, desaparecem incólumes os fogos
... e a gente se debruça na boca desse vulcão
que espirra palavras e a vontade que dá
é de lançar-se no redemoinho explosivo...
e acabar por ser tão e só... um ciclo.

obrigada