Prosas Poéticas : 

NOVE DE AGOSTO

 
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NOVE DE AGOSTO

Acabou. Será que eu não entendo?
Será que o amor me faz capaz de desinteligências?
Às vezes, o amor dá medo... Passionais têm sido as atrocidades dos tabloides. Tantos têm matado e se matado por amor, que não duvidaria se algum epidemiologista declarasse ser a paixão a mais letal das doenças da actualidade...

Eu me afasto; meus pés querem correr para longe. Talvez sobre outro solo; sob outro céu... Desejo um lugar onde não me sinta idiota por ter acreditado na mentira que insisti em contar para mim mesmo: Tudo uma hora dá certo... Não, não é assim! As pessoas não mudam.

Foi tolice confiar em quem não confia. De resto, tampouco eu confiava. Percebo-me, afinal, o meu pior inimigo. Fui eu mesmo que permiti que me fizessem tanto mal. Minha confusão é tamanha que como se dentro de mim fragmentos da personalidade lutassem uns contra os outros, sem descanso.

Amo? Odeio? Quero? Deploro?

A esta altura não me restam ilusões. Já não espero pela redenção tardia de nossas afectividades ora desoladas. Não quero mais esperar. Tudo o que conheci como esperanças foi autoengano. Não deveríamos esperar por dias melhores, mesmo que eles venham. Não deveríamos nos iludir com promessas improváveis.

Ninguém deveria esperar pela volta do pródigo ou coisa que o valha. Aquele que volta como um derrotado miserável sequer é sincero em seu arrependimento. Seus lábios se movem numa ladainha de meias verdades, segredos e omissões.
Pouco importa.
A verdade verdadeira, se houver, não nos é compreensível. Tampouco é desejável. Melhor teria sido restringir meus anseios à promiscuidade, ao alcoolismo e à indiferença.

Lamento se esperam pelas árvores que não plantei, os livros que não escrevi ou pelos filhos que não tive... Não fui alguém. Não sou nada. Nunca serei ninguém.

Contento-me em apenas não pretender ser; não fingir o que não sou. Eu me aceito ainda que seja um bosta. Não vou me justificar: Sou mediano. Não venci guerras, certames ou sequer duelos: Fui parasitado por vícios e ilusões! Meus amores foram tênias que não contentes em sugar meu sangue espalharam ovos pela minha cabeça, tornando-me incapaz de razões e verdades... Não tenho senão pensamentos imperfeitos; sentimentos conflituosos; ideais perdidos... Afastai-vos, Valquírias do Walhala! Não há guerreiros aqui.

Capitulo, fraco, à mesa dum bar qualquer com uma garrafa qualquer. Danem-se as moralidades lendárias! Danem-se os fodões corporativos e seus bilhões! Danem-se os que hão-de herdar essa terra estéril onde deitam esgotos de caixas de óleo diesel.
Ah! Essa terra salgada dos malditos, dos proscritos, dos vencidos!

Meus olhos têm lentes de vidro e refletem o brilho baço de copos vazios.

Betim - 2016


Ubi caritas est vera
Deus ibi est.


 
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RicardoC
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Enviado por Tópico
Jmattos
Publicado: 11/08/2016 18:17  Atualizado: 11/08/2016 18:17
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 Re: NOVE DE AGOSTO
Forte!