Poemas : 

o vento treme de frio

 
................................
................................
................................
................................


o vento treme de frio
o marujo em seu poleiro
do topo da gávea via

um vulto de terra firme
um risco de terra fêmea
em sua forma curvilínea

o marujo em seu poleiro
já não se tremia de frio
mas do luxo da gravidade

e grávido de esperança
aos berros ele afirmava
terra à vista, terra firme

seus camaradas de posto
do topo de lá da gávea
juntaram-se à gritaria

terra à vista, terra firme
e a nave no mar queria
terra à vista, terra firme

e o capitão se agitava
aos quatro ventos dizia
ser esse o fim da viagem

terra à vista, terra firme
no ventre dessa paisagem
a âncora enfim cairia

com esses bons pensamentos
mais ninguém pensou no vento
que as velas soprava à margem

a essa mensagem de terra
o vento declara guerra
disfarçando-se de brisa

nada mais de água rasa
nenhuma miragem de chão
a tripulação fica míope

terra à vista, terra firme
e a nave no mar jazia
no meio da calmaria


alguns anos de solidão - blogue

"ah, meu deus do céu, vá ser sério assim no inferno!"
- Tom Zé


 
Autor
Caio
Autor
 
Texto
Data
Leituras
1534
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
5 pontos
1
2
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 30/06/2020 11:40  Atualizado: 30/06/2020 15:44
 Re: o vento treme de frio
Fernando Pessoa

Leve no cimo das ervas
O dedo do vento roça...
Elas dizem-me que sim...
Mas eu já não sei de mim

Nem do que queira ou que possa.
Fica no ar a tremer...
Parece que me enganaram
E que os ventos me levaram

O com que me convencer.
Mas no relvado das ervas
Nem bole agora uma só.
Porque pus eu uma esperança

Naquela inútil mudança
De que nada ali ficou?
Não: o sossego das ervas
Não é o de há pouco já.

Que inda a lembrança do vento
Me as move no pensamento
E eu tenho porque não há.



Open in new window