As minhas mãos
Por vezes, as minhas mãos cedem ao impulso
de passear fora dos meus pensamentos
e, desvairadas, procuram descobrir-te a forma:
as curvas, os declives, os cumes,
como se o meu desejo fosse expulso
por tão louco anseio tornado tormento!
E elas escapam-me numa avidez
não planeada, tateando em suspiros
o teu gozo sem fingimento
numa libertinagem sem ar, nem timidez!
Arranham-te o ego, cobrem-te de luxúria…
E por fim…devolvem-te o êxtase
que andas a perder…em fúria…
num arroubo de sensações
por entender…
São elas, as minhas mãos…por ti…
a ceder…
mãos sem nada
hoje não me lembro onde deixei as mãos
queria tanto baloiçar nelas os sonhos
escrever sentimentos ao rubro
lapidar emoções
acreditar que o sol, ainda é sol
que no meu peito ainda há fogueira
soltar gritos, como ave nocturna
disfarçar as rugas desta casa velha
- a minha cabeça é um baú de memórias
que as minhas mãos vão bordando no silêncio
frio da insónia
mas hoje minhas mãos não têm poesia
refugiaram-se nesse silêncio
a noite morreu, e eu não as reconheço
talvez queiram que enlouqueça em paz
com saudade a viver dentro de mim
e a boca cheia de palavras saudosas
porém inaudíveis...
que se vá a noite, que as sombras
se vão e, a cada palpitação
floresça de novo, poesia
mãos sem nada...impossível a esperança!
natalia nuno
Afago dos palatos
Olhos nos olhos
e o sorriso nos lábios
A pressa das mãos
se encontrarem nas costas
Um único peito
batendo descompassado
Os sentidos vibrando
- como sei que gostas -
O beijo nascendo
afagando os palatos…
Fantasias aos milhões
segurando os teus retratos
sentindo o sabor
a antigas recordações!
Enquanto o tempo passa
ENQUANTO O TEMPO PASSA
Pouco a pouco a calma de dias vulgares
O sol aparece entre nuvens leves
O silêncio envolve os campos,
Banhados de raios solares breves.
Tenho minha melancolia azeda
Sentada no mesmo sítio há horas
E a tarde corre leda
Tras a noite sem estrelas, nem demoras.
Descanso as mãos, fecho olhos fatigada
O tempo passou, o silêncio desceu
E eu aqui sentada!
Dentro de mim o coração se abateu.
Fico impaciente
A satisfação se esvai
Palavras de Amor e Amizade na mente
E mais uma noite cai.
Passam as noites longas sem fim
Eu incapaz de traduzir em palavras sentimentos
Tudo na memória se reduz e a mim,
Vêem as recordações, umas felizes outras tormentos.
Deixo-me embriagar!
Com os sentimentos engolidos
Oiço um rouxinol cantar
Assim adormecem meus sentidos.
rosafogo
Nascem flores nas minhas mãos
Toco a tua pele macia.
Sinto que nascem flores
Nas minhas mãos.
São pétalas perfumadas
Com odores
Do teu corpo
Após ser inundado
Pelas ondas tresloucadas
Da minha paixão
Vadiando em ti,
Sem rumo
E sem razão.
Poema do meu 2º livro: "azul que não se sabe se é de céu ou de mar"
AS MINHAS MÃOS
AS MINHAS MÃOS
As minhas mãos são moinhos de vento
Que moem incertezas
Saciadas momento a momento
Por avalanches de sonhos e fraquezas.
No papel em branco baloiçam
Correndo, correndo sem destino
Às vezes lhes peço que me oiçam
No tempo partem cada vez com menos tino.
Nunca sei o que as move
Voam, voam como pássaros loucos
Numa ânsia que até me comove
Por vê-las a morrer aos poucos.
São como flecha estes meus dedos
Neles solto meus olhos de menina
E no soltar dos meus segredos
Fico assim gaiata, traquina.
Solto palavras nesta folha em branco
E a saudade me baila na memória
Abro as portas ao meu sorriso franco
E vou desfiando o terço da minha história.
Sem paragem, entre a saudade e o que me dá frio
Fica o testemunho dum longo passado
Nas veias o sangue corre ainda como rio
Chegando à foz, dum coração, com a vida reconciliado.
rosafogo
“Detrás dos óculos, tanta vida... ”
“Detrás dos óculos, tanta vida... ”
Meu rosto é palco de todos os mundos...
Os lábios em batom cor de boca, esboça
um sorriso, ainda que triste...
Olhando-o através dos olhos daquela miúda
segura por tua mão...
Não consegue disfarçar a nudez desconcertante,
que da alma, traz outras versões.
Hoje seguro as tuas mãos, tentativa de trazer o ontem,
que estampa imagens que ao longe se movem,
soletram palavras quase inaudíveis,
como se escrevesse por linhas tortas.
Nos olhos uma sutileza que conheço bem,
mostrando-me novas versões de uma mesma verdade...
O exposto é o que menos incomoda.
A verdade dos olhos são os detalhes que leio.
Essa verdade sem códigos...
Da cadeira dessa varanda vê o mundo.
Teu olhar deixa minhas trilhas expostas,
me traduz, meu coração vira território aberto,
pastos verdes,e meus pesadelos abranda,
emprestando a frágil luz.
Não deveria ser o contrário?
Mas o frágil coração sabe...
Que seu olhar é remédio preciso e forte,
para curar ausências.
E suas palavras, ainda que as vezes sussurradas,
promessas de fartas colheitas.
Seguro tuas mãos...
Sentindo a força de um cavalo zaino,
cujo destino é vencer.
Nesse momento tenho a certeza de que o futuro,
mora detrás destes óculos...
"Ao meu pai."
Glória Salles
25 novembro 2008
Flórida Pt
regaço
Há um frio
árido,
esvoaçam as mãos
frias,
procurando o abandono
ao calor
desse teu regaço.
Toco a textura aveludada do pensamento e desço a avenida
O dia acorda e espreguiça-se num bocejo trémulo, as minhas mãos tocam o meu rosto, como se ao tocar-me fossem abençoar-me, e o toque das minhas mãos fosse o milagre da vida.
Faz tanto tempo que me vejo assim, como um milagre, todas as manhãs quando me olho, me levanto e comigo me encontro neste lugar de silêncio, sinto a paz que me envolve, os sons dos pássaros lá fora, são uma sinfonia aos meus ouvidos, anunciando o esplendor da natureza, enquanto o vento sacode as copas das árvores eu deixo-me ficar neste lugar mágico, aonde inspirar e respirar é como viajar e saborear os sentidos, é como beber o néctar da existência e degustar lentamente este cálice, num brinde a mim mesma em contemplação!
Toco a textura aveludada do pensamento e desço a avenida, como quem busca um caminho e toco as paredes das fachadas, como se ouvisse os sons por entre as paredes, e o bulício da cidade me convidasse a entrar e a sentar para ouvir outras vidas e outras histórias.
Em cada olhar, os meus passos dançam em sintonia com a textura das calçadas, cada passagem é uma coreografia íntima com a cidade.
As fachadas, são como as páginas de um livro urbano, revelam histórias ocultas, e eu permito-me ler por entre as linhas do concreto, absorvendo as narrativas que o tempo gravou. O bulício da cidade torna-se uma sinfonia, convidando-me a participar.
Ao sentar-me encontro outros capítulos, pessoas com histórias distintas, e em cada conversa, tecemos uma tapeçaria de experiências entrelaçadas.
Neste ritual diário, a vida desdobra-se numa poesia urbana, e eu sou a poeta, dançarina e ouvinte da minha própria história.
E escrevo como se viver fosse mais para além deste lugar, fosse mais para além da virtude de amar, e deixo-me ficar assim num vaivém a balançar o meu corpo ao ritmo desta melodia matinal que me envolve e me trás sempre cada vez mais para perto de mim.
Cada palavra é uma nota nessa sinfonia pessoal, onde a existência se revela como uma dança contínua, e eu sou a coreógrafa, moldando os passos no palco da vida.
Alice Vaz de Barros
Nada a dizer
O que dizer das mãos
se os dedos inábeis
já não tecem paixões?
O que dizer do sorriso
se afogamos nos lábios
nosso último gemido?
O que dizer dos olhos
se envoltos em inevitáveis fugas
já buscam abrigo?
O que dizer dos braços
se num caloroso abraço
te entrego à vida?
Restará, talvez,
o que dizer do lindo dia
que se fez à partida.