Poemas : 

Porque Atiramos Pedras Em Lagos (PAPEL)

 
O seixo certo na mão errada vai ao fundo.
Assim é o mundo.
A mão certa com uma pedra pesada,
voa, ou não?

Então quando saltita duas e vezes três
ganha corpo de ave, de peixe voador; deixo
assim um seixo.

Quando um calhau afunda
no alto levita e de chapa beija a tona,
a onda, rotunda, abona.

Ondula, toca uma irmã que ondeia, toca outra que onda,
mais vaza, mais cheia, serpenteia, redonda
chã.

No leito do lago cai uma rocha, cai, deposita
há cardumes nervosos, algas sem correr,
lodo e verdete, quase corais.

Tão simples
quanto és uma pedra
e num lago cais.


Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.

Eugénio de Andrade

Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.

Título inspirado na assinatura duma poeta daqui que aprecio muito, MarySsantos.

Também foi o comentário a um poema seu, chamado "preenchimento", que recomendo.
 
Autor
Rogério Beça
 
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