Contos : 

Num frio natal

 
Eram oito horas na noite de consolada.
Ele tinha um mau pressentimento, então decidiu sair de casa.
- Vou dar uma volta e já venho. – Disse ele.
- Não te demores, daqui a pouco vamos servir o jantar. – Respondeu uma voz vinda da cozinha.
E saiu de casa.
Ele sabia onde tinha que ir.
Era uma noite fria.
Depois de andar por cinco minutos a pé, chegou ao seu destino.
Uma casa sem nenhuma decoração e iluminação de natal.
Mas havia uma luz acesa.
Bateu à porta, mas ninguém abriu, insistiu e insistiu até que a porta se abriu lentamente.
Detrás da porta surgiu uma jovem mulher, vestida com um pijama.
- Daniel! O quê estás aqui a fazer? – Perguntou ela surpreendida.
Ele olhou para ela, sentia um ligeiro cheiro a álcool. Ela tinha umas grandes olheiras, tinha estado a chorar.
- Vim ver se estava tudo bem. – Disse ele. – Não dissestes que ias passar o natal com uns amigos?
- Tive que cancelar, tenho que resolver uns problemas.
Ele sabia que ela estava a mentir.
- Posso entrar? – Perguntou ele.
- Agora não é uma boa hora…
- Porquê? Estás acompanhada?
- Não, mas…
- Então porque não posso entrar? – Perguntou ele carinhosamente.
- É que… É que… – Gaguejou ela quase a chorar.
Ele abraçou-a.
- Está tudo bem! – Disse ele – Vamos entrar que está frio aqui fora.
Quando entraram, dirigiram-se à sala. Junto a um sofá estava um candeeiro aceso e havia uma pequena mesa. Nela estava uma garrafa de uísque meia e havia duas caixas de comprimidos para dormir mais uma de calmantes ainda por abrir.
Ela rapidamente guardou as caixas dos comprimidos numa gaveta de um armário que se encontrava na sala.
Daniel sabia o que isso significava, mas não disse nada.
Ele a conhecera à pouco tempo. Era sua colega de trabalho. Ela andava sempre sozinha, por isso, a convidou para passar o natal em casa dele. Mas ela prontamente recusou e disse que ia passar o natal em casa de uns amigos.
- Já comestes alguma coisa? – Perguntou Daniel.
- Já! – Mentiu ela.
- Estás a mentir. – Disse ele. – Tens um péssimo hábito de quando estás a mentir, as tuas pupilas dilatam e olhas para a tua esquerda para o chão.
- Serio?
- Queres ir jantar a minha casa?
- Não! – Respondeu ela prontamente. – Daqui não saio e vai-te embora que tens a tua família à tua espera.
- Não te vou deixar aqui sozinha.
- Eu sei tomar conta de mim, não preciso de um “baby-sitter”.
- Eu sei, mas hoje apetece-me estar aqui contigo.
- Mas eu não te quero aqui.
- Queres, queres, vamos mas é fazer qualquer coisa para comer.
Daniel pegou no telemóvel e avisou a família que não ia jantar com eles. Depois foi para a cozinha e procurou uns ovos e fez uma omelete para os dois.
Depois de saciados foram para a sala.
Daniel sentou-se no sofá junto a ela, passou o braço por trás do pescoço dela e a aconchegou, ela pousou a sua cabeça no ombro dele e ficaram assim a ver televisão.
E assim adormeceram…
De manhã, Daniel acordou e viu pela janela que estava a nevar lá fora.
Eles ainda estavam na mesma posição em que adormeceram.
Ele olhou para ela e viu que tinha no rosto uma expressão serena.
- Luísa? – Chamou ele.
Ela não respondeu.
- Acorda Luísa!
Continuava a não responder
Daniel pegou no pulso dela, estava frio e não tinha pulsação…



José Coimbra

 
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Legan
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 22/12/2020 22:35  Atualizado: 22/12/2020 22:35
 Re: Num frio natal


Tanto sentimento, tanta emoção
neste pequeno conto
onde tantas vezes só olhamos para nos
esquecemos os outros

A quem não da valor a amizade


um abraço José (Legan)

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 24/12/2020 11:01  Atualizado: 24/12/2020 11:01
 Re: Num frio natal
A força enorme de um forte e envolvente sentimento, numa história real, emocional e triste, mas com a firmeza da verdadeira amizade e amor, pelo próximo, principalmente de que vive em solidão.
Bbem haja e um abraço poeta José Coimbra.
Boas Festas 🎄

António Fonseca