Poemas : 

Pausa

 
Sorvi o último sumo do cálix da vida.
Jamais do cale-se da boca
Ou do cale-se d'alma
Como a calma que já me anda pouca.

Três pontinhos...
- Travessão
Pausa:
Dois pontos.


Consegue ouvir o canto?
Conhece a nova canção?
Será um Salmo santo?
Cera nos ouvidos
Eliminam a tensão
Entretanto, alimentam a tentação.



Para todo defeito uma causa.
Para todo efeito uma pausa.
Para cada ato uma tola consequência
Que anda me furtando a calma
E o pouco que restou da minha pouca paciência.

(A espada quando exposta à carne
Sabe bem quem será a derrotada).


Ouça o que te fala a consciência.
Lembra-te da nossa canção?
Lembra-te do adágio que diz
Que onde anda o cavalo de Átila
Não floresce mais jardim.
Não ressuscita Jesus
Tampouco Machado de Assis.


Onde toca a mão humana
Algo se apaga e reluz
Algo seduz e se (te) engana.
Tipo assim,
Algo se contradiz
Quando o coração pulsa pus.

(O homem que não deseja nada
Não merece ser feliz).

Sinta o gosto do fel
Daqueles filmes ruins
Em tvs de tubo
Sobre obesas geladeiras
Em quartos de motel
Mas de motel chinfrim
Que não tem papel
Que não tem jardim
Só alguma coisa cruel
Que me morde o rim
E o mais de mim.

Lembranças das primeiras alegrias,
Dos primeiros atos falhos
Das bandeiras hasteadas
Pela arraia miúda
Em dias de glórias,
Nas frias noites de fúrias.

Reminiscências das primeiras poesias,
Dos amantes das vogais
Do descobrimento acidental
De um encontro consonantal
Da recusa do próximo
Da trajetória dos ímpios
De todos os defeitos
Dos deuses do Olimpo
Da Dieta Germânica
E dos esquecidos no limbo.

(No universo do tudo
Inveje o mundo dos mudos).

Que saudades que tenho
De quando éramos lenho
E das antigas moradas
De paredes caiadas
Em varandas com varais
Pés de jaboticabas
Folhas do Buritizeiro
Esparramadas
Entre as flores dos quintais
Rescendendo nas laranjeiras
Quando o vento beijava
As folhas dos laranjais.


Da levada da chuva
Escorrendo pela vala
Violando a calçada
{"A favela é a nova senzala"}
Do céu coberto de raios
Que desabavam
Derrubando estradas
E os sonhos de quem sonhava
Seus sonhos de merda
Que em nada davam.

Davam em noites de desesperos
Madrugadas sem sono
Em dias de sofrimentos medonhos,
Ensolarados
Ou extremamente feios
Ou dias de geada
Que queimava a planta
Que matava a mata
Juntamente com o gado.


E eu chorava quando lembrava
Que quem acusa, defende.
Que a boca que beija é a mesma boca que ofende.
Que a mão que bate é a mesma mão que afaga.
Que a boca que beija é a mesma boca que escarra.

Pausa! Pausa! Pausa!

Redescobri as amizades estéreis
E as ilusões perdidas
Num livro de Balzac.

Os primeiros passos,
Os primeiros beijos,
Os primeiros amores...

Ah, moun amour!
Definitivamente a vida não é feita para amadores!

O mundo é feito de tudo
Principalmente de dores.
Crescemos como crescem os cães e as magnólias.
Cada um de nós é de si os próprios atores
E os próprios roedores.

Derrota é quando vencemos os outros e perdemos a própria vitória
Já que muitas vezes derrotamos a nós mesmos
Porque quando derrotamos alguém Perdermos também
Perdemos tamanho.


Quando achamos que foi grandeza
Perdemos nossa divindade
Nossa crença e nossa arrogante humanidade.

Quem deixa de amar o outro, deixa de se amar.
Quem promete perdoar e não perdoa
Se torna água parada
Se torna árida lagoa
Se torna porta fechada

Porta fechada de casa não arejada
Se torna escada que não leva a nada
De casa de empresária psicopata
Que vive atormentada por fantasmas
De rainha portuguesa louca
Entre gritos palacianos
De Maria vai com as outras
Dos desejos republicanos.

E haverá um dia,
Depois destes bombardeios,
Que se extinguirá, afinal,
Toda espécie viva
E só restará
A estampa de um animal
Tatuada em uma nota falsa de quem só visa trinta dinheiros.





Gyl Ferrys


Gyl Ferrys

 
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Gyl
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