Luar apagado da morta lua,
Nevoeiro quinhentista e cegante,
Chuva crepitante na vaga rua,
Olhos que olham com olhar trespassante.
Vede, mundo! Mais hábil que Bramante,
Esbelta efígie que se insinua,
Num odor quimérico e inebriante,
Corpo de flores que veste a alma nua.
Falai, alma! O que senti e quereis,
Com voz de povo, fidalgos ou reis,
Em qualquer timbre de bom português…
Tudo começa e acaba uma vez,
Desde que o universo existe e se fez;
Tu és Saturno e eu os teus anéis.
17 de Dezembro de 2002