cala-te oh língua de fogo mordente
faz a cruz no peito como a morte que te vive
enquanto calares o veio que te segue
jamais verás a sede da saudade
jamais purificarás a corda que desune
deixa esse canto bruno brunir
a escapar-te até aos sóis qu'inda não vês
e se sombra sobra brilhará no viés
quando de pé surgir um rasgo de visão
em deserto sem miragens a olhar oásis
sou aquele que te cala numa ponta apontada
enquanto a corda se estica desejante
entre um verso e um cigarro desguarnecido
lambo os dedos e passo um passo à frente
lambo as rémiges como quem dá de alma
o peso certo às direcções de saber ventos
e é tudo sopro o que larga a mão
até voltar a lamber os dedos
29-10-2025