ALMAS GÊMEAS
Na hora que meu peito ensandecido,
pelas mágoas vividas na jornada,
procurava sem rumo a paz sonhada,
foi muito bom eu ter te conhecido...
Fiquei assim com a alma fascinada,
como se Deus ouvisse o meu pedido.
Quem tinha à noite o coração partido,
amanhecia de força renovada.
A juventude é sonho e fantasia...
Mas veremos; há de chegar o dia,
nossas faces cansadas, consumidas.
Mas certamente ainda apaixonadas.
Na esperança, as dores transformadas,
e no perdão, as mágoas convertidas.
A SEITA QUE NINGUÉM ACEITA
Obviamente, quase ninguém aceita
estranha seita secreta que eu sigo;
não há temor, nem céu, nem inimigo,
mas a porta é muito mais estreita.
Sem despesa qualquer e sem receita,
nosso culto é feito ao desabrigo
e como a escritura inda não foi feita,
ninguém precisa de crer no que eu digo.
Ao comungarmos juntos ou dispersos,
o nosso templo é todo o universo,
pois um amor espontâneo é a base.
E quando quero cultuar sozinho,
o sentimento flui, que nem o vinho,
na vastidão do meu pequeno oásis.
A RUA SEM FIM
Eu caminhava pela rua, quando,
naquela rua onde eu caminhava,
seguia em busca de mim me procurando,
e na procura meu “eu” se extraviava.
Enquanto eu ia pela rua andando,
o som dos passos, longe retumbava,
e essa rua sem fim se prolongando,
e essa busca por mim me escravizava.
Imerso nesse mundo entorpecido,
maldisse a essa rua, que tornou a mim,
um caminheiro eterno e dividido.
Mas do estado onírico, o despertar,
mostrou-me que era justamente assim,
que eu seguia no mundo a procurar...
DITADURA DO APAIXONADO
Eu não afirmo que a lei é desumana;
essa que anda na vida a me acusar
e conduz lentamente à dor tirana,
na punição de sempre te adorar.
Tua lei no meu mundo é soberana
e eu prometo jamais me rebelar,
e só enxergo prazer na idéia insana,
de ir de rastros a ti, pra me entregar.
Sendo impossível uma revolução,
na ditadura da tua sedução,
sou um súdito fiel, conservador.
Num momento de greve, de repente,
que tua lei me conduza firmemente,
para a perpétua prisão do teu amor...
Poeta nascido em João Pessoa, Pb, transita no mundo dos versos desde tenra idade, tendo um livro de sonetos publicado; O INCONSCIENTE COLETIVO DE CADA DIA, com a apoio da Lei de Incentivo à cultura do estado do Acre. Foi classificado no concurso POETAS DO BRASIL, patrocinado pela Arte Bahia, com o soneto intitulado NADA SE COMPARA. O poeta desenha seus pensamentos e sentimentos sempre usando o soneto como tela. Possui atualmente 100 sonetos inéditos, metrificados e prontos para edição em livro, faltando apenas um apoio que viabilize tal empreitada.
CATEDRAIS
Numa visão de priscas catedrais,
imensa paz eu senti no meu espírito.
Sob a penumbra em cores dos vitrais,
elevei o meu cântico ao infinito...
Perante o templo de eras ancestrais,
de translúcidas cores, tão bonito,
num retinir de taças e cristais,
Postei-me em oração; olhar contrito.
Nesse êxtase de funda devoção,
plena quietude e paz no coração,
eis que me perdi em doce labirinto...
Ao soar de um sino vi uma saída;
de belas catedrais eu voltei à vida
e me restou somente a dor que sinto.
CERTAS CARÍCIAS
Certas carícias muito nos maltratam,
pois sentimos na pele a falsidade.
Certos abraços asfixiam e matam,
porque plenos de possessividade.
Muitos falsos amores só retratam,
nosso desejo de crer na inverdade
e quando sonhos bons nos arrebatam,
ficamos cegos para a realidade.
“Rolando” a química, ao primeiro abraço,
estamos prontos pra cair no laço,
de um sinônimo eterno da loucura.
Ninguém sabe o destino reservado,
mas para o pobre amante enfeitiçado,
é impossível fugir do que procura.
AS PORTAS DA PERCEPÇÃO
Há algo de eterno na efemeridade,
como se o brilho fatal da ilusão
ofuscasse as portas da percepção
para a miséria da ruga e da idade.
Há algo de efêmero na eternidade,
quando envolta nas brumas da razão,
pois o "homo sapiens" desta dimensão
é um escravo da temporalidade.
Na delirante procura do eterno,
as projeções dos seres merencórios,
forjam os deuses, os céus e os infernos...
Mas o poeta vê, ao meditar profundo,
que nas asas de um verso transitório,
pode voar e pisar em outros mundos.