Hieróglifos
Aquele meu medo de gatos enrolados ao pescoço, enquanto tu ias atrás de gatas.
Pobres animais,
A água sempre foi a sua sentença,
Todos os gatos são pardos.
Predadores
Hórus do horizonte em nossos olhos
Egípcios.
Como as cobras que se enrolavam
Pela cama. .
Nos hieróglifos que nos ficaram tatuados,
Hoje já escritos em livros de luz
Esqueci
Pedido de desculpas
Que nome é este tão estranho em mim
Se ainda me recordo,...
Do bom,…
e do mau,…
Quando me esqueço,
Ainda me atemorizo
E volto a recordar,...
Mas, a essa fragilidade
Não me quero agarrar,
Porque se bem me recordo
Há coisas que não entendo
Embora não vá nelas repisar
Por isso;
Deixo aqui um pedido de desculpas
Autografado pelas insónias
Que me fizeram passar
Selado com um beijo
Num envelope de desejo
Carimbado de perdão
Por neste sobrado andar,
Se um pombo o quiser levar
Pelo céu a voar.
Esqueci
Pássaro do azul
Leve sonho de praia
Para lugar certo,
Aquele sopro interno sentido na pele.
Nunca me aplanei
Sem por ti voar,
Pássaro do azul
Sargaços e sal.
Pousado na areia
Em leve vendaval
De Norte
Para Sul.
Meu ponto de luz
Vestido a lume,
Daquele mar que venta
Hidratando a derme
Combalida e seca
Desnudas-me a alma
Como um vaga-lume,
Traz-me o rio (e o mar) que acalma
Levando o queixume.
Diz-me
Diz-me…
O que é que eu faço?
Acordei igual ao tempo
Com a chuva no telhado
Pelas janelas a escorrer.
A idade não perdoa
a dor aperta
magoa...
A rima branda
Corta os pulsos
e tem cheiro de café.
Molho os lábios um no outro
O café sabe-me a pouco,
A rima está a ferver.
Rasgo a alma a ir embora,
Silencio o meu padecer
Esta aqui não é a mesma,
é outro farrapo qualquer.
Pedra de luz
O que é uma pedra
Com uma mão
E uma fisgada?
O que é uma pedra
Ali ao fundo
Parada?
Uma pedra, pode ser uma palavra,
Ora escrita, ora falada.
Uma pedra lapidada,
Diamante,
Ou pedra de água.
Com o toque torneada
Coberta de terra disfarçada…
Pedra de luz
E Fogo
Se friccionada.
Nos meus cadernos
Nos meus cadernos
O meu maior poema era o teu nome,
Grafitei-o como as luas em tamanhos,
Com a bic fiz castelos e dragões, estrelas e flores
e tantas coisas,...
Nos intervalos, por entre o giz e o apagador
e as gargalhadas,
de uma laracha que alguém me dava com humor,
Cresciam as paredes
Lá me sentia um gnomo cheio de calor.
Desenhei o teu rosto e fui gozada,
Escrevi nele as minhas frases meio maradas
Colei-o ao lado da minha cama sem corretor,...
Sonhei-te meio doida e meio calada
Assustava quem me queria com desamor.
Quando te via lá ficava atrapalhada
Fugia, e até escondia os meus calores
Do resto tu já sabes, falam as escadas,
Os brincos que perdi
Os medos ofegantes e os glamoures
As músicas
As danças
As pastilhas e os cigarros
Os ciúmes, os beijos dados,
Nas ruas estreitas, nos cantos mais apertados dos amores.
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Retrato
Correm-me as lágrimas
Como um rio
A lavar a saudade.
Cristalino é o sol lá fora
E nada vejo!
Queria escrever nos montes
Com todas as certezas,
Abraçar as nuvens coladas aos teus olhos
E deixar-te ir para onde tu quisesses em liberdade.
Mas agora, pouco tenho para te dar
Só um grito
Cego,
Que apalpei agora mesmo com todas as letras
Seguindo todas as linhas retas
Que não soube pronunciar.
Peço desculpa
Por levar estes meus dedos
Magoados
e leigos a escrever
À tua boca
E nessa mesma
Erguer uma onda de sal.
Igual aquela mesma que me deixaste um dia
Tão Infernal.
Porque amanhã posso não estar
De escrever nada entendo,
O que escrevo é pura alusão,
Comecei a escrever quando olhei para ti,...
e aqui estou eu sem saber a razão.
O teu rosto
É a minha criatividade,
Nele vi as estrelas,
E a lua a me beijar
Vi nas ondas dos teus cabelos
A maresia e o nadar.
Nas tuas mãos descobri as sensações
No teu corpo o meu despertar.
Perdi-me em deslumbramentos
Inventei tantos momentos
Sem os conseguir desenhar.
Nos teus passos a leveza
Que me deixou a chorar.
Não sei se escrevo a tristeza,
A alegria, a fantasia ou o amar.
Vá para norte
Ou vá para sul
Encontre eu
O que encontrar
Gosto de tudo o que é teu.
Volto sempre
(por te amar)
A te sonhar.
Guarda em ti este poema
Penses tu o que pensares,
Sinto em mim o teu dilema
Não te quero ver a chorar.
Sou a fuga do sistema
Aquela que pouco sabe falar,
Mas sei sentir o poema
E a morte se a encontrar.
Se me odeias
Tenho pena,
Pois por mais
que a raiva aqui me entre
Nunca te vou conseguir
Odiar,
És o verbo do poema
Que nasceu para me inspirar.
Canto lírico do meu respirar
Nada perdi
Talvez o tempo por onde se tenha demorado.
Talvez o tempo por onde me demorei
Por tentar em espaço ser correta,
Talvez o mau carácter
Dele,
Ou, de uma outra qualquer pessoa,
Se tudo isso,
Se nada assim,
Não percebi.
Mas, não importa.
O tempo tudo cura, tudo decide,
Tudo nos vai ensinando.
Mesmo que a loucura dos outros nos emane
Maldade, falta de discernimento, ódio e marcação cerrada. Fingimento.
Eu sou o que sou
Nunca serei alguém, que um dia alguém inventou ou quis fazer de mim.
Se um dia não me viram
Ou, em mim não acreditaram
Nada perdi
Como quem lê um livro
Gostava de ser eterna
Para te ver,…
De agarrar no céu a lua, o mar
De ser horizonte em claro véu
De pipilar ao céu meu peito farto
Gostava de te espelhar mais de mil tempos
Correndo em prados pelos eflúvios,
Ver-te abraçado ao céu anil e às minhas flores
Beijar-te pelos jasmins e as madrugadas
Tornear teu corpo ao meu
No amanhecer.
Cantar alegre tão de gente
Como quem lê um livro
Em pele romã,
No tímido que mata a flor secretamente
Dando vida ao holocausto em pleno amor.
Mas não sou eterna infelizmente;
Um dia vais acordar e eu não estou cá,
Nesse dia quero que vivas
Agarrado aos poemas que me deste.
Com todo o amor que neste poema deixo cá.
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