Enquanto os patos seguem pelo rio
Não me apoquentam
As essências livres e sujas que fazem plágio,
Nem as serpentes vivas
Sem garrote.
Apoquenta-me,
Isso sim!
Neste fim do mundo
Para onde partirá
Tanta gente assim,
Enfim.
Pássaro do azul
Leve sonho de praia
Para lugar certo,
Aquele sopro interno sentido na pele.
Nunca me aplanei
Sem por ti voar,
Pássaro do azul
Sargaços e sal.
Pousado na areia
Em leve vendaval
De Norte
Para Sul.
Meu ponto de luz
Vestido a lume,
Daquele mar que venta
Hidratando a derme
Combalida e seca
Desnudas-me a alma
Como um vaga-lume,
Traz-me o rio (e o mar) que acalma
Levando o queixume.
Hieróglifos
Aquele meu medo de gatos enrolados ao pescoço, enquanto tu ias atrás de gatas.
Pobres animais,
A água sempre foi a sua sentença,
Todos os gatos são pardos.
Predadores
Hórus do horizonte em nossos olhos
Egípcios.
Como as cobras que se enrolavam
Pela cama. .
Nos hieróglifos que nos ficaram tatuados,
Hoje já escritos em livros de luz
Esqueci
Hermesetas
Das conversas prolongadas
Chegam as conclusões,
De nada vivo ilusões.
O relógio na parede
Reflete o tempo lá fora,
Quando passa não diz nada
Rasgo da alma
Que chora.
Uma velhinha sentada
Ali contando as suas histórias
Fala muito mais das dos outros
Que das suas perdeu as memórias.
Uma caneta apontada
Para a caixa de medicamento,
Hermesetas e tantas tretas.
Hermenêutica
Para o ceguinho que se perdeu
Num concurso de performance
De ciúmes, de queixumes, de juízos
e de vergonhas.
Padres nossos
Dos enterros
Dos pecados e das glórias.
Já te sabia as lágrimas
Naquela passagem
Em que me deitei sobre o teu corpo
No calor dos signos que se trocaram
Onde em meiguices
Temperámos o sangue que nos fluía
Nos descobríamos
Sem os olhos dos enganos
Pelo meu largo vestido azul que nos cobria.
Voaste para mim em passos largos
Daquela escada, onde de outrora análogo amor
De outros júbilos, também sorria.
Sorrateiramente já te sabia as lágrimas dos enganos,
Mas, jamais as imaginava a fluir de tão tristes
Por negros dias.
Esqueci
Poema antigo
Faz de mim os farrapos da tua história
Os quiosques, as verrugas,
Inventa-me como quiseres
Impele-me para fora da tua boca
em desejo,...
Escreve-me como delito
Afoga-te de mim num grito.
Despede-te
e volta,...
Com a revolta.
Manda-me embora
de raiva
Não me respondas,
Fala sozinho
e grava
Depois, empurra-me a ir para não ir,...
Afoga o teu choro senil
Entre o ficar e o partir
O amar e o ferir
E paga a tua conta.
Farta
Esqueci
Arrumo a casa como gostas
Enquanto tu maquilhas o poema
Eu arrumo a casa como gostas,
Fujo às obrigações mais chatas.
Já ninguém reclama!
Aqui instalou-se a monotonia há muito
E nada é como se possa imaginar .
Embora a perseguição em algumas coisas seja obsessiva…
O inconformismo obedece em cada canto a outras dores…
Respondo à tua ironia
Abstraída de tudo
E vou ficando…
Na utopia da escrita
Que não lês
E onde ainda te encontro.
Voltarei sempre
Gelei
E não vou conseguir mencionar
Nem mais uma palavra,
É duro o gelo que me envolve
Por mais que o coração aqueça
E sonhe …
O gelo que me cerca
Guardou o irremissível
Por isso,
Não acredites em mim,
Voltarei sempre aquele último olhar
Que não esqueço.
Sólido e pérfido sem lacrimejar.
Nos meus cadernos
Nos meus cadernos
O meu maior poema era o teu nome,
Grafitei-o como as luas em tamanhos,
Com a bic fiz castelos e dragões, estrelas e flores
e tantas coisas,...
Nos intervalos, por entre o giz e o apagador
e as gargalhadas,
de uma laracha que alguém me dava com humor,
Cresciam as paredes
Lá me sentia um gnomo cheio de calor.
Desenhei o teu rosto e fui gozada,
Escrevi nele as minhas frases meio maradas
Colei-o ao lado da minha cama sem corretor,...
Sonhei-te meio doida e meio calada
Assustava quem me queria com desamor.
Quando te via lá ficava atrapalhada
Fugia, e até escondia os meus calores
Do resto tu já sabes, falam as escadas,
Os brincos que perdi
Os medos ofegantes e os glamoures
As músicas
As danças
As pastilhas e os cigarros
Os ciúmes, os beijos dados,
Nas ruas estreitas, nos cantos mais apertados dos amores.
Numa terra em ebulição
Encontro-me nos escombros das palavras, aqui o silêncio é de horrores,
este mundo cheira a mortes e a dores.
A loucura é o meu porto favorito, o meu barco uma caixa sem ter remos, levando uma mulher que não
chega ao cais,
sufocando hipocondríaca por entre as fissuras das dores carnais, também estas sem
guerras...que supostamente são por
causas naturais.