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. setenta e três .

 


. façam de conta que eu não estive cá .


a sala é enorme. um corpo estacionado ao canto com um copo de gin e um sorriso melancólico. a sala é enorme e se fecho os olhos, vazia. como eu. como tu. se não existes não és memória, e se te lembro, quando o faço - ou porque sim, ou porque mo obriga o coração - é porque há em mim o desejo de me partir ao meio. se te acompanho, se me acompanhas, não interessa, é como ser manhã, ou tarde, ou noite. quero lá saber que tempo faz, ou quem o faz. hoje, e por respeito ao corpo na sala estacionado, ou não, fecho os olhos e reprimo as memórias. a sala é vazia. queria respirar os teus olhos até o serem na minha boca, fechá-la depois, para sempre, tê-los comigo, quentes, na rés da língua. não haveria memória, não. ou haveria nela um par de olhos, enormes, a expiar o amor que trago preso à perpendicular do corpo.
 
Autor
Margarete
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Enviado por Tópico
Moreno
Publicado: 21/12/2009 21:23  Atualizado: 21/12/2009 21:23
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 Re: . setenta e três .
soberbo retrato desse enorme vazio que se apodera do corpo...

beijo

Enviado por Tópico
RoqueSilveira
Publicado: 21/12/2009 21:26  Atualizado: 21/12/2009 21:26
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 Re: . setenta e três .
Boa ideia, quando puder como os olhos de quem eu quiser que goste de mim, que assim só olha o meu amor e mai nada...
Sem brincar, o texto é excelente
Beijinho

Enviado por Tópico
António MR Martins
Publicado: 22/12/2009 20:19  Atualizado: 22/12/2009 20:19
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 Re: . setenta e três .
Mar,

Mais um belíssimo exemplar da tua extraordinária escrita. E há tanta gente a espiar (e com tanta inveja...) o amor que trazemos junto de nós, mesmo preso numa qualquer posição perpendicular...

Beijinho